46 - O peixinho azul.

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Kyara.

Sempre achei o Gustavo o típico "certinho", nunca cheguei a imaginar que ele já tinha passado por tudo aquilo que me contou.
Eu não sei se minha maior surpresa foi ele ter tentando se matar, ou o fato dele ter se cortado.

Mas uma vez o placar estava 0x1 pra ele, por conseguir me mostrar que existem pessoas piores que eu,  e que Deus pode fazer milagres na vida delas.

- Eu ainda não intendi porque você se cortava. -falei colocando pipoca na boca.

- Foi uma época da minha vida muito difícil, então eu achei que me cortando iria amenizar a dor.

- Nossa!  A gente tem mais em comum do que eu imaginava. - falei.

Ele riu e depois sua expressão ficou calma, porém séria.

- Você tem alguma ideia de quem seja o responsável pelo perfil?

Neguei.

- Não. Eu chutaria a Duda, mas ela não estava no hospital e ela já me pediu desculpas. -respondi. - Povo não tem o que fazer da vida,  e vem cuidar da minha.

- São fotos sérias, seus pais tem que procurar a polícia, isso é crime.

- Eu não preciso disso. Eu tenho o justo juiz ao meu lado. - afirmei. - Ele vai fazer justiça.

Ele assentiu e controlou o fofinho que tentava lamber seu rosto.

- Ele deve achar que eu sou sorvete. -brincou.

Sorri.

- É, deve sim.

Depois de uma olhada na tela do celular, o próprio apitou.

- Argh! Eu não aguento mais, essas mensagens. -reclamei. - não tenho mais sucego.

- Bloqueia.

- Não, deixa ai,  vamos vê ate onde vai.

Continuamos a assistir "Deus não está morto 2", ele no tapete e eu jogada na cama com a Bebel no meio das minhas pernas.

O Gustavo estava em casa fazia horas, estava quase anoitecendo. Nós conversamos muito e ele me contou como era a vida antes, como o pai dele decidiu voltar para a cidade, e o que mais me deixou de queixo caido, contou que ele já havia se auto-mutilado.
Pela primeira vez eu estava em uma situação idêntica a minha.

Ele passou por isso, sentiu tudo que eu havia sentido quando aquela lâmina cortou minha pele, sentiu o arrependimento e sentiu Deus te limpar e te livrar de tudo aquilo.

Mas ainda tinha mais, o perfil que espalhou minhas fotos para os alunos, a Karla e suas perguntas infinitas e o pior de tudo: A verdade.
Cedo ou tarde eu sabia que minha familia iria descobrir, so que eu pretendia contar, eu queria que eles ouvissem de mim,  soubessem por mim, não pelos outros.

- Eu to com medo. -confessei por fim. - Eu não sei como posso contar para os meus pais o que aconteceu. Eles só sabem uma parte, uma parte pequena.

O Snoop me encarou.

- Você só precisa contar a verdade. Não vai ser fácil, mas eles já sabem, e eu já acalmei os ânimos.

- Obrigado!

Aos olhos de DeusOnde histórias criam vida. Descubra agora