37- A Fé.

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Kyara

Nunca achei que me decepcionaria com alguém um dia. Principalmente de esse alguém começasse com a letra "G".

Mas o que dizer sobre o episódio da sorveteria?

Eu me senti tão idiota.

No prezinho fui ensinada a pedir desculpas quando machucava o coleguinha, ou dizia alguma coisa "feia". Mas na vida real e tudo completamente diferente... O "desculpa" já não faz parte do meu vocabulário.

Se até nos contos de fadas, que o final feliz já está garantido, existe vilões porque na vida real, que o "Feliz para sempre" é mais difícil, não teria? Porque seria diferente?

Mas eis a questão: Eu era a vilã da minha própria história. A culpada por tudo de ruim que aconteceu...

Um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim. Eu não conseguia desviar os olhos, e aos poucos minha visão embasou por causa das lágrimas.

Meu corpo pareceu não reagir aos meus comandos. Tudo aconteceu em câmera lenta, mas a dor, a mágoa, a raiva, o grito preso, a sensação de traição, de ter sido enganada, acertaram em cheio meu interior, como uma fecha acerta o alvo.

OK... Kyara, menos. Não exagera. Você só viu o Gustavo beijando a Duda. Nada de mais!

Nada de mais?

Aquilo doeu muito, mais do que eu imaginei ser possível.

Porque doeu tanto?
Porquê foi tão ruim ver eles tão "próximos"?
Porque me incomodei tanto?

Aaaanghhh!

Mas eu bem que mereci isso. Um choque de realidade é bom de vez em quando.

Bom, para que eu acordasse e desse de cara com a realidade de sempre, a que me rodeia e a que mais me da medo. A solidão.

Não existe amigo, não existe nada a não ser a Solidão. EU FUI UMA IDIOTA, acreditando nisso...

Mas que saber?

CHEGA.
CHEGA.
CHEGA DE TUDO.

Passei a mão nos olhos e sai correndo da sorveteria. Que minutos antes eu tinha entrado para me "divertir" com a Karla e a Vina.

Tudo que eu queria era minha casa, meu quarto e minha cama.

Estava tão fora de mim que nem liguei para as palavras da Karla. Ela segurou meu braço mas eu rapidamente me soltei e sai pela rua, esbarando em todo mundo que passava na minha frente.

.......................................

A vovó estava na sala quando entrei chorando, corri para o meu quarto e fechei a porta, apenas escutando ela perguntar se estava tudo bem.

Desabei na cama e abracei o travesseiro. As lágrimas rolaram quentes em meu rosto, sem parar, por longos minutos.

Meu celular tocou várias vezes, tendo certeza de ser a Karla não atendi.

Preciso ficar sozinha... Pensar...

Meia hora depois ela bateu na porta do meu quarto, e por conta da insistência e dos gritos desnecessário, fui para o banheiro e lavei o rosto, na tentativa de melhor a aparência dele. Porque o próprio estava vermelho e inchado.

Aos olhos de DeusWhere stories live. Discover now