Tempo de renúncia

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Sete dias depois do ataque, o Homem-Café convocou uma coletiva de imprensa. Estava no púlpito, cercado de câmeras, microfones e luzes. Era uma decisão muito difícil, mas ele já estava certo daquilo. Muitos estranhavam o fato dele estar vestindo a faixa presidencial para a ocasião.

"Povo brasileiro. Eu decidi fazê esse comunicado ao vivo, e não nalguma gravação. Vim aqui hoje para dizê que... Quero dizê. Primeiro, quero me desculpá diante da nação. Eu sempre lutei prá melhorá nosso pais, e depois que voltei, achei que poderia fazê isso através da política. Eu estava errado. Acho que meu governo, deu alguns passos corajosos e que espero que algo de bom fique de minha passagem, mas o que queria dizê mesmo, é que eu tô renuncianu ao cargo de presidente. Não estou fazendo isso por covardia. Não é preguiça, nem medo de trabalhar. Apenas compreendi que sendo presidente não é como melhor vou ajudar nosso país. Eu não nasci para ser político, nasci, prá ser um herói. Uma pessoa que usa seus poderes nas rua prá eliminá terríveis ameaças. O tráfico, vilões poderosos, alienígenas e outras coisas do tipo. Estou renuncianu, mas minha vice, Terezinha, vai continuar meu trabalho. Eu continuá lutanu do meu jeito, e tumbém, através da fundação Homem-Café. Os recursos que recuperei foram acrescidos num fundo internacional e iniciaremo muitos projetos sociais em diversos pontos do Brasil. É nisto que atuar. Quanto à política, discutimos muito nos últimos dias e o Brasil precisando é de união do povo e união na política. O novo vice-presidente, o atual presidente da Câmara José Rosário, concordou em assumir a vice-presidência e promover acordos que garantam a participação de todos os partidos interessados para tomar medidas efetivas e definitivas com apoio do congresso e do senado. Eu sei que vocês todos tem muitas perguntas e tudo isto sendo feito muito às pressas... Mas eu recebi um chamado urgente da LIS e, infelizmente, não terei tempo de responder a muitas perguntas. Uma ameaça à humanidade surgiu na Ucrânia, ainda não sei de muitos detalhes, mas..."

Um ruído ensurdecedor semelhante a da passagem rasante de um caça fez vibrar as janelas do Palácio.

— Olhem, olha lá! É o Sonicstar! — disse um dos repórteres.

Coffeeman! Come on, man! We've got no time to loose! — gritou o homenzarrão loiro lá de fora. Estava uniformizado. Todo vermelho, estrela amarela no peito e capacete em forma de ogiva. Ele pedia pressa e, realmente, não havia tempo a perder.

O Homem-Café passou a faixa presidencial para a vice, Terezinha, deu um beijo em sua bochecha e lhe desejou boa sorte.

— Boa sorte para você também, Homem-Café! Volte logo para nós! — ela disse.

— Desculpe! Mais uma vez, peço perdão a todos. Eu preciso ir agora.

Chegando lá fora cumprimentou Sonicstar com um abraço.

— Como vai essa força? — indagou Sonicstar.

— Tô legal, Sony. Tô envergonhado também. Eu falhei nessa coisa toda de presidente, mas agora que entreguei a faixa, sinto-me mais leve. Foi um grande alívio! Aguenta um minutinho, falta só mais uma coisinha para ficar leve de vez.

Tirou o paletó, gravata e calças. Por baixo daquela roupa, usava seu novo uniforme, que ganhara de presente da LIS, há mais de um ano.

— E por falar em leveza, vambora zunir prá Ucrânia, priyatel'. Precisam de nós por lá. — Sony falava inglês com forte sotaque russo, mas ele e Café se entendiam bem.

As câmeras captaram o Homem-Café voando para longe sendo carregado pelo herói estrangeiro. Depois disso, houve um silêncio e todos se voltaram para a nova presidente, Dona Terezinha. Choveram perguntas simultaneamente. Ela suou frio, engoliu seco e pediu calma.

— Um de cada vez, por favor. 




Homem-Café - Politicamente IncorretoWhere stories live. Discover now