Tempo de debate

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(musiquinha alegre) Pã-pã-pã-pãã-pã-pããã, Tcharanã-Tã-Tã-Tã-Tcham!

Câmeras circulam pelo estúdio da TV Bangi e focalizam no famoso jornalista Leonardo Boi de Sá. Muito simpático, porém neste momento, compenetradíssimo, ele olha para a câmera e nos olhos dos brasileiros e brasileiras e fala.

— Boa noite, estou muito honrado em fazer a mediação deste primeiro debate dos presidenciáveis que ocorre, como todos vocês sabem, fora de época devido ao Impeachment do Presidente Vilmo Roseberg. Sejam bem-vindos candidatos, peço que respeitem as regras do debate e que este possa transcorrer de um modo tranquilo, e que possa dar chance aos nossos telespectadores de conhecer melhor os senhores, senhora e suas propostas. No primeiro bloco um minuto para cada candidato se apresentar e em seguida, candidato pergunta para candidato. Quem for sorteado escolhe para quem vai perguntar, mas cada candidato só pode responder a duas perguntas. Candidata Florinda, a senhora é a primeira.

— Boa noite, Boi de Sá, boa noite candidatos, boa noite a você que me assiste aí de casa. Eu sou Florinda da Silva e venho aqui hoje, humildemente pedir seu voto. Me considero uma candidata capaz para governar este país de maneira responsável, sou honesta e acima de tudo, precisamos nos unir para enfrentar a crise que está instalada no país e também lutar contra a crise climática global. O Brasil é um país grande e precisa contribuir para o futuro da humanidade. Precisamos preservar as nossas florestas, reservas de água e lutar para garantir um futuro para nossos filhos, netos e futuras gerações.

— Muito obrigado, candidata Florinda. Candidato Laércio Médici.

— Boa noite Boi de Sá, caríssimos candidatos e telespectadores. Sou Laércio Médici, o único candidato com experiência comprovada para tirar nosso país dessa grave crise criada ao longo de muitos anos pelo mau governo do Partido dos Operários. Tenho todo respeito e admiração pelo Sr. candidato Homem-Café, mas penso que o Sr. não está preparado para a tarefa de governar este país. O Sr. pode ser um herói nas ruas, mas é preciso habilidade e experiência para governar este país, ainda mais num momento de crise tão grave quanto essa que atravessamos.

— Muito obrigado, candidato Laércio. Candidato Polvo Marusco.

— Boa noite a todos. Todos sabem que Laércio e a oposição possuem um discurso complicado, privatizações e que defende interesses de grandes empresários, ricaços que só querem se aproveitar do povo. Meu discurso é muito simples. No meu governo, as pessoas comeram mais, as pessoas construíram mais, as pessoas tiveram mais trabalho, viveram com mais dignidade, os pobres deste país deixaram de ser coadjuvantes e passaram a ter acesso a coisas que eles não tinham. Reconheça isso Laércio, o Sr. é um homem informado, isso não custa nada para você. Não venha com esse discurso de ficar reclamando. Eu fiz muito e posso fazer mais. Acredito num Brasil cada vez maior e mais capaz. Um Brasil sem fome, sem miséria, um Brasil de pessoas com acesso a educação de qualidade. E Homem-Café, meu amigo, seu lugar é nas ruas combatendo monstros e alienígenas. A presidência deste país é uma coisa séria, então, por favor, não brinque com isso.

— Obrigado, candidato Polvo. Candidato Homem-Café.

Para a surpresa de todos, Café não falava, ele metralhava.

— Muito boa noite, seu Boissá, boa noite candidatos, e boa noite, povo desse Brasil que eu amo muito! Bem, eles aqui acham que eu num dô conta de ser presidente. Que se eu ganhá, não vou pudê gorverná direito. O que eu tenho a dizer é: falar é fácil. Eu sou gente humilde, do povo, lutei muito nas rua prá melhorá este país. Prendi muito bandido, derrotei muito monstro. Mas enquanto fazia tudo isso, ficava muito triste. Por que igual a vocês tudo, não parava de ver a realidade. Político promete, promete e o povo continua sem esgoto, sem hospital direito, sem escola digna, sabe purquê? Purquê tem muito ladrão no governo, tem muito sanguissuga dipindurado num tanto de ministério, secretaria e o iscambau que num serve para quasi nada, ou melhô, ser sim, para disviá dinheiro do povo, para empregá uma bando de vagabundo, iéu num sozinho aqui não, tem muita gente boa da minha equipe e que fez um belo plano de governo. Prá começá, só vamos ter 12 ministérios. Cargo comissionado? Só cinquenta. Vamo mudá as leis, com coragi e apoio do povo, prá fazer o serviço no governo, vamo substituí vagabundo por gente séria e concursada. E um dos ministérios, o da Gestão Integrada, vai capacitá servidor, objetivos e metas e fazê processo e expulsá funcionário encostado. Prá mudá esse país precisa tê coragi, e coragi não me falta.

Homem-Café - Politicamente IncorretoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora