21.

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Cristal

As aulas acabam e eu sabia o que estava para vir. Eu tinha feito uma promessa e por mais que eu quisesse evitar, não podia faltar à minha palavra. Mas... podia adiá-la. 

Existem muitos cenários que são perfeitamente possíveis para que a conversa com o Jack nem seja realizada. Por exemplo, atrasar-me a arrumar as coisas da sala e possivelmente adormecer no processo. Okay, é estúpido mas poderia acontecer! Ou então não.

Ou então, eu simplesmente procurá-lo e não o encontrar. Isso já é mais credível! E é exatamente o que eu vou fazer, vou procurar em todos os sítios que ele provavelmente não estará e depois é só dizer ao Alex que fiz de tudo para o encontrar, mas que infelizmente isso não aconteceu. 

- Tu até és inteligente Cris...- eu digo para mim mesma enquanto acabo de arrumar o estojo e o caderno na minha mochila.- Okay. Vamos a isto.- eu continuo a falar e solto um suspiro profundo antes de caminhar em direção à saída da sala de aula.- Primeira paragem: biblioteca. 

Começo a caminhar para lá, controlando a minha respiração. Muito provavelmente ele não estará lá. Não é muito estilo dele ir estudar para a biblioteca. Quem é que eu estou a enganar, o estilo dele não é definitivamente estudar, ponto. Ando mais confiante pelos corredores e agarro com uma mão a alça da mochila para que esta não voe do meu ombro com os encontrões dos adolescentes sorridentes e sem preocupações. Reviro os olhos. Sortudos.

Ao fundo do corredor vejo uma porta consideravelmente grande e com uma placa a dizer: Biblioteca, um pouco amarelada e gasta do tempo. Empurro a porta com algum esforço e logo o cheiro papel e o silêncio abrupto em comparação ao corredor envolvem-me. As paredes à prova de som é uma das coisas que só a biblioteca têm em toda a escola.

Sinto-me relaxar. O silêncio é uma coisa que admiro muito e uma das únicas coisas que me é difícil pôr em prática. Mesmo não tendo ninguém para falar, a minha infância foi passada comigo a tagarelar para mim própria, o que assustava os meus colegas de turma. Quando me fui apercebendo do "problema", deixei de o fazer e as pessoas começaram a aproximar-se de mim de novo.

- Cristal.- ouço um sussurro e olho em volta para ver de quem pertencia a voz.- Aqui.- apercebo-me da presença de Gaby numa das mesas à minha direita e vou a seu encontro.

- Hey Gaby.- eu murmuro, numa tentativa de não interromper o silêncio instaurado.

- Não te vi o fim de semana todo. Onde andaste?- ela pergunta e vejo pelo canto do olho a funcionária de serviço a inspecionar-nos.

- Por aí.- eu respondo simplesmente e a funcionária mexe-se desconfortável atrás do balcão.

- E não me convidaste? Traidora.- ela diz na brincadeira e nesse momento a funcionária lança um "caladas" irritada, pelo que eu aceno levemente e caminho de volta para fora da biblioteca.

Puxo a porta e parece muito mais pesada que à um minuto atrás, fazendo com que eu faça figuras a tentar abrir a porta. Mas também pouco me importa. Finalmente ela abre-se e nesse preciso momento desejo que estivesse fechada. À chave. Com cadeado. E código de segurança. Sabem porque? Porque naquele momento eu dou de caras com o Jack. Que raio ele está aqui a fazer?

O meu plano era simples. Ir a sítios que ele não estivesse de certeza a fim de evitar uma conversa constrangedora e que iria mudar tudo em que eu me sustentava desde à dois anos. 

- Tu.- eu digo e vejo a boca dele a abrir-se mas depois logo fechar-se, arrependendo-se.- Não devias estar aqui. Não. O plano era... arrgg!- eu digo e avanço para fora da biblioteca ouvindo a porta fechar-se atrás de mim.

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