[17] - Duelo de Gigantes

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O dia já havia amanhecido, abandonando uma madrugada turbulenta, mas as ruas ainda estavam vazias quando Ana estacionou o carro com habilidade próximo ao restaurante que conhecia muito bem. Ela encarou Matteo através do retrovisor e apertou o volante entre os dedos, raspando as unhas longas no couro macio enquanto o assistia acender com dificuldade o primeiro cigarro do dia. Observou o semblante duro e a forma como a mandíbula se mantinha apertada enquanto a mão esquerda brincava com o isqueiro pesado, encarou com pesar os hematomas recentes na face cansada e a tipoia escura que sustentava o braço direito.

Então, ela suspirou e voltou a encarar o edifício residencial ao lado.

— O senhor tem certeza de que o Monsuta veio pra cá? – Matteo não respondeu, ele tragou demoradamente. – O ovo de dragão mora aqui e não faz sentido-

— Ele veio para se certificar de que Kei está bem.

— Oh. – assentiu. – Isso deve ter dado um susto no garoto.

— Não deu. Kei saiu antes de começarem o tiroteio, acho que ele vai saber mais tarde, quando acordar. – ele suspirou. – Kei não sabe que o Yan está aqui.

— Não? – Ana franziu o cenho. – Então?

Matteo afastou o cigarro dos lábios ressecados, Ana notou o tremor da mão tatuada e o olhar vago demais para a recente situação. Ela o pegou ainda de madrugada, preocupada com as notícias sobre uma possível emboscada e o tiroteio que matou muitos dos homens que trabalhavam para a TK3. Matteo estava aos farrapos e ferido, um tiro de raspão no pescoço e o ombro deslocado estavam longe de ser graves, mas ela não pode evitar temer.

Ana procurou por Susan e a fez jurar que Matteo ficaria bem, também o ajudou com o curativo grande na lateral do pescoço esguio. E, ainda diante do perigo iminente da morte, ela só o viu vacilar quando Oscar informou o paradeiro de Yan.

Existem dores que se tornam medíocres diante da dor de um amor unilateral.

— Então, morremos todos. – Matteo sussurrou, Ana não ousou indagar mais. – Me espere longe daqui, ligo quando precisar que venha. Fique atenta ao celular.

— Sim, senhor.

Quando ele saiu do carro, dois homens fizeram o mesmo no veículo que estava estacionado atrás, olhando tudo ao redor. Matteo apagou o cigarro antes de entrar no prédio, jogando-o no chão úmido para pisar com a ponta dos sapatos italianos. Ele não precisou se anunciar ou verbalizar para ter sua entrada autorizada ali, seus pés cansados deslizando pelo porcelanato caro do lugar, o olhar hesitante dos poucos funcionários e seu próprio coração batendo violentamente na garganta.

Então, morremos todos.

No elevador, entre Oscar e Tony, remexeu o ombro ferido, buscando dor física para sobrepor a dor latejante em partes emocionais que ele se tornou ingrato ao revisitar. Encarando o painel digital, se lembrou da mãe. Do sorriso generoso e da voz melodiosa. Depois, das lágrimas ingratas e os gritos agonizantes.

O fogo que a consumiu.

— Chefe, mandaram avisar que os dois caras que pegamos acordaram.

Matteo piscou algumas vezes para voltar à realidade. Assentiu.

— Eu os quero vivos. Diablo vai arrancar informações importantes. Oscar, verifique se Kei e Juan estão bem.

— Será um prazer. – o homem sorriu com o canto dos lábios.

— Pare de flertar com o moleque. Eu posso segurar o Sebastian, mas as coisas são difíceis com o Diablo. – avisou. – Se ele me pedir a sua cabeça, não vai se importar caso eu a negue. Ele vai arrancar.

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