[9] - Conflitos Silênciosos

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Aos catorze anos Liam teve alguns problemas escolares.

Ele era muito bom nos esportes, mas sua aparência e forma de se vestir renderam a atenção negativa dos idiotas de sua turma. Certa vez, depois de sua mãe levar o problema até a coordenação do pequeno colégio católico da cidade, três garotos tornaram a intimidação verbal em importunação física.

Liam levou uma surra no vestiário depois da educação física.

Até aquele momento o acontecido se destacava como o mais intimidador de sua vida, mas aqueles três garotos magros e salpicados com espinhas da puberdade não eram nada diante de Yan Satoru e seus quase um metro e noventa de músculos, tatuagens e cara de mau no estacionamento abandonado do lado obscuro de Palo Alto.

Liam se encolheu dentro do enorme moletom e apertou as mãos em punhos nervosos enquanto trocava o peso do corpo de um pé para o outro. Nem mesmo quando foi levado para se encontrar com um suposto investidor, sentiu tanta vontade de correr. Um pouco de instinto e muito medo.

Yan, observando-o em silêncio, massageou o queixo com a ponta do polegar e gesticulou em seguida, mostrando que sua paciência não era das mais resistentes.

— In-in-in-intenções? – O garoto repetiu, a voz quase um fio medroso. Yan assentiu. – Como assim?

— O meu irmão gastou uma grana do caralho para contratar sua companhia nesses negócios de investimento cruzado. – Gesticulou com o cigarro entre os dedos. – Para passar um tempo contigo. Sei muito bem que tipo de entretenimento se oferece nisso. Então, me diga, Liam: você está trepando com o Kei?

— Tre-tre-trepando?! – De olhos arregalados, Liam quase gritou. – O que?!

Yan suspirou.

O motorista, ao seu lado, segurou a vontade de rir.

— Chefe, o garoto vai se mijar inteiro. – Luigi sussurrou. – Coitado.

— Qual o problema dessa geração com a palavra "trepar"?! – Respirou fundo. – Certo, vamos ser mais românticos e bonitinhos: Kei está te deflorando em uma cama coberta com pétalas de rosas ao som de Harry Styles, pequeno príncipe encantado?

— Não!

Liam gritou, sacudindo a cabeça para os lados só para enfatizar sua resposta. Yan, com a sobrancelha arqueada, esperou. Sabia muito bem como lidar com gatinhos medrosos como aquele. O jovem modelo baixou os braços, agarrando com força a barra do moletom que carregava o perfume de Kei.

— E por que não?

A pergunta inesperada fez Liam arfar. Ele piscou algumas vezes os lábios macios abertos com a confusão de sua mente diante das perguntas de Yan.

— Eu... Eu... O Kei não gosta de homens! – Gritou, ainda sem pensar direito. – Ele é meu só amigo! O Kei me ajudou, eu tinha de sair e fazer coisas com homens que não conheço a mando da agência! Para conseguir investidores porque o meu contrato foi bem caro e ainda não deu o retorno esperado! Ele me ajudou, mas eu prometi pra ele que vou pagar tudinho! – Yan sorriu com o canto dos lábios. – O Kei não gosta de homens, ele nunca fez nada comigo, por favor... Acredita em mim! Não o machuque!

— Machucar? – Franziu o cenho. Em meio a todo medo explícito nas palavras apressadas de Liam, Yan sentiu a proteção reativa do garoto em relação ao seu irmão mais novo. – Tá doido é, moleque?!

— Ele é um bom amigo e me trata bem! Sempre compra o sorvete que eu gosto e me deixa escolher os jogos. – Liam estava murmurando, parecia envergonhado ou choroso. Yan, um pouco confuso, jogou o cigarro no chão e pisou com a ponta do sapato. – Ele foi ao desfile de ontem e levou flores. Até me pediu um autógrafo! O senhor pode não entender, mas o fato de ele ter ido por minha causa me fez perceber o aumento dos views no meu portfólio e isso impulsiona meu score...

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