Capítulo 1

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Eu caminhava pela estrada de terra, após uma longa viagem de carro. As diversas sensações que brotavam em mim, eram estranhas, porém boas. Arrastando minha mala preta de rodinhas, senti meu celular vibrar pela décima vez no bolso do longo casaco bege que eu usava. E pela décima vez ignorei a mensagem do meu chefe.

Coloquei o celular de volta no bolso e levantei minha cabeça vendo que o interior de Aspen, onde morei por alguns longos e difíceis anos da minha adolescência, não havia mudado muito. Movi meus pés continuando minha caminhada, até parar em uma casa de dois andares que reconheci ser do senhor Noah Stuart. Subi meus olhos vendo uma grande placa de madeira escrito à mão e vinquei levemente minha testa.

— Livraria Estrella? – indago surpresa. – Livros?

Recordo-me do nome Estrella. Era esposa do senhor Noah. Olhei em volta vendo poucas pessoas passarem por ali e segui de volta para a longa estrada de terra, arrastando minha mala enquanto observava o condado de Pitikin. A pista de patinação estava repleta de crianças, a neve de algumas noites passadas ainda estava intacta nas laterais da estrada. O sol da tardezinha, apesar de nos presentear com seu brilho, não conseguia esquentar o clima frio. Tirei da bolsa que carregava, um par de luvas de lã, colocando-as rapidamente, enquanto andava. Dez minutos depois, já estava abrindo a porta de casa.

— Tia? – falei sem obter resposta. – Olá, tia! Cheguei!

Falei novamente recebendo o silêncio. A grande casa estava exatamente do jeito que me lembrava. Escura e fria. Passei pela sala e cozinha indo subir as escadas. Com uma certa dificuldade, carreguei as malas até o segundo andar indo até o quarto de minha tia, encontrando-o vazio.

— Não tem ninguém mesmo em casa – afirmo.

Entro em meu quarto e a sensação de melancolia me invade. Assim como o restante da casa, meu quarto estava do jeito que deixei quando fui embora. Os móveis de cor marrom estavam um pouco empoeirados e minha cama estava sem a colcha. Deixei a mala perto do armário e fui até minha janela deslizando as cortinas para o lado. Minha casa ficava sobre uma colina meio alta, da janela eu podia ver todo o condado de Pitikin. A pista de patinação, a casa do senhor Noah, que agora era uma livraria, as grandes montanhas, o terreno de plantações e um pequeno mercado. Mais à frente, ao longe, estava a estrada que dava acesso à cidade.

Um bater de porta chama minha atenção e fecho a janela descendo as escadas a seguir. Tia Emma havia chegado. Seus olhos me encontram, mas não esboça nenhuma reação. Seus cabelos continuavam longos e ela ainda usava um lenço vermelho no pescoço. Nas mãos ela trazia umas sacolas que deixou em cima da mesa. Terminei de descer os degraus, me juntando a ela na cozinha.

— Por que está aqui, Lisa? Deveria ter me ligado avisando que viria – disse sem ânimo.

— Oi, para você também tia e até onde sei, eu moro aqui também – digo indo ajudá-la a tirar algumas verduras das sacolas.

— Faz tempo que você não vem aqui e não existe nenhum motivo para ter vindo agora. O que aconteceu? Resolveu passar as férias aqui?

Lembro-me do meu trabalho, do assédio que sofri do meu chefe, da denúncia que fiz ao presidente da empresa e de ninguém ter acreditado em mim. Resolvi ignorar sua pergunta.

— Como estão as coisas por aqui?

— Tudo igual. – Percebi sua fala um pouco mal-humorada, mas ignorei.

— Vi que o senhor Noah transformou sua casa em uma livraria.

— Sim... O filho mais velho dele é quem toma conta. Noah se mudou para uma casa menor onde mora com a filha.

Até Que O Inverno AcabeOnde histórias criam vida. Descubra agora