Capítulo XV

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[...]

Alguns dias depois de sua última visita à mansão Boorman, Dominic ainda não havia tomado coragem de voltar a visitar Annie. Ele sabia que o casamento se aproximava, sabia que precisava falar com ela e resolver as coisas de uma vez por todas, mas a verdade é que era um covarde.

Sua mãe e irmã, apesar de não lhe dizerem nada, lançavam olhares bem sugestivos toda vez que ele se arrumava para sair e ir à loja ou à fábrica. Elas pareciam sempre esperar pelo momento em que ele diria que visitaria Annie outra vez.

Mas a verdade é que tinha medo de ir até ela. Tinha medo do que ela lhe diria. Tinha medo de olhar nos olhos dela e deixar que ela enxergasse seus sentimentos.

Certa noite, chegou em casa sentindo-se exausto. O trabalho havia acumulado, porém sua cabeça ainda não conseguia focar no que precisava fazer, e isso o frustrava.

Não conseguia tirar Annie de seus pensamentos, mas também não tinha coragem de ir até ela e dizer tudo o que estava pensando e sentindo.

Estranhou sua casa tão silenciosa. Ainda era cedo, provavelmente o jantar nem havia sido servido, mas todos já pareciam ter se recolhido.

A única pessoa que apareceu foi o mordomo, que se aproximou para tomar seu casaco, seu chapéu e sua maleta.

– O senhor tem visita – murmurou e, tão rápido quanto surgiu, o mordomo se foi.

O maldito continuava com a mania de contar as coisas pela metade.

Dominic franziu sua testa, começando a caminhar em direção a seu escritório, onde pensou que sua visita provavelmente o aguardava.

Durante o caminho, massageou suas têmporas, sua nuca e seus ombros. Seus músculos estavam tão tensos que ele sentia dor ao mínimo movimento.

Abriu a porta de seu escritório e, assim que deu o primeiro passo para dentro, travou.

O cheiro no ar...

Era Annie ali. Sentada em uma das poltronas laterais, aquela bem ao lado de sua adega de whisky. Todas as velas do cômodo estavam acesas, provando que ela deveria estar ali há algum tempo.

– Annie – soltou, surpreso, dando um passo para dentro do escritório e travando mais uma vez – O que... O que faz aqui? Você deveria estar em casa se recuperando.

Ela se levantou. Parecia totalmente recuperada, sem nenhum tipo de dificuldade para caminhar ou se mover.

– Precisamos conversar – o tom de voz era sério, assim como sua expressão.

Dominic apenas assentiu, aturdido. Fechou a porta atrás de si e então foi em direção a sua mesa, sentando-se, já que sentia suas pernas um pouco bambas pela surpresa.

Observou conforme Annie se aproximou, sentando-se na cadeira em frente à sua mesa, o olhar fixo em seu rosto.

Por um momento, conseguiu apenas admirá-la. Não conseguia parar de olhar para ela, para seu rosto saudável. Não conseguia parar de puxar o ar com um pouco mais de força, sentindo o cheiro de lírio no ar, confirmando que ela estava mesmo ali.

Apertou os braços de sua cadeira com tanta força que achou possível quebrá-los.

– Sobre o que quer conversar? – resolveu perguntar perante o silêncio dela.

Annie o encarava como se o avaliasse.

– Sobre nosso casamento.

– Alguma coisa errada?

– Durante esses dias, estive pensando. Em nossa última conversa antes que eu adoecesse, o senhor me disse que era tarde demais para voltarmos atrás sem causar um estrago ainda maior.

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