DOCUMENTO 002: A RESPONSABILIDADE DOS HOMENS

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Eu precisava esboçar alguma reação.

         O homem continuava ajoelhado na clareira, enquanto as gotas de suor misturadas com sangue pingavam na árida terra daquele lugar. Busquei qualquer palavra de conforto para lhe dizer, mas diante daquela situação tudo o que me restou foi fazer uma única pergunta.

         - Por que Mesha'al? – Chamei-o pelo nome que era conhecido em nosso mundo. Compreendendo minhas dúvidas, o Soberano se pôs a falar, esclarecendo-me desde de suas primeiras palavras.

         - Você ainda acha que nosso Pai planejou tudo o que está para acontecer? Tudo isso é obra de alguns poucos homens que desejam minha morte. Os Seres que meu Pai criou para me auxiliarem jamais interferem na liberdade de agir dos homens e mulheres de Yuransha ou de outros mundos desse Universo o qual criei. Estas são as regras que inclusive eu estabeleci, senão a obra jamais será perfeita, assim como meu Pai é. – Disse o homem, tomando fôlego para falar. – Mas quero que registre em seus arquivos que minha morte jamais será fruto de algum plano de meu Pai. Sempre ensinei a todos que nenhuma pessoa pode pagar por erros cometidos por seus antepassados. Isso é mais do que lógico, é uma das muitas faces da verdadeira Justiça.

- Então por que está decidindo se entregar neste momento?

- Passei minha vida aprendendo com os povos desse mundo. Na época do último encontro com meu primo Yohannan,[1] às margens do Nehar HaYarden,[2] eu concluí minha missão para adquirir a experiência necessária nesse mundo material para governar melhor nosso Universo Local. Sem essa experiência não posso ser um Soberano de um Universo do tempo e do espaço. Se esqueceu de que todos nós estamos em constante evolução? Se vocês, seres mortais fazem a sua caminhada de modo ascensional, seres de minha ordem só podem evoluir descendo até o mais baixo nível da Criação, afinal estamos no Alto. De alguma maneira, mais cedo ou mais tarde, eu teria que me despojar deste corpo mortal. Poderia cumprir essa tarefa de inúmeros modos, sem que fosse necessário morrer executado por um tribunal romano.

- Tribunal romano? – Perguntei sem entender aquela previsão.

- Os sacerdotes judeus perderam seu poder sobre a morte desde que Roma dominou Yisrael. Se eu for condenado à morte, meu destino estará em uma cruz, como um criminoso político, não apedrejado por infringir a Lei da religião.

- Mas por que você está fazendo isso e ainda mais dessa maneira? – Perguntei, conhecendo a cruel morte que lhe esperava caso fosse concretizada.

- Porque o meu tempo aqui neste mundo acabou. Não há mais nada que possa ensinar à humanidade. Meus discípulos já estão instruídos como desejava, e a chama de minha sabedoria já está plantada em Yuransha. Se decidi ficar, foi por amor a este mundo que criei, mas que ainda caminha a passos lentos rumo à sua inevitável evolução.

- Mas e se eles deturparem a mensagem? E se ensinarem ou praticarem coisas que você jamais disse?

- Isso faz parte da evolução dos seres que criei. A todo o momento você, meus discípulos e todos os habitantes deste Universo estão aprendendo com seus erros e acertos. A experiência adquirida constantemente durante a vida jamais é frustrada pelo erro inerente à sua natureza mortal. Somente aqueles que nutrem dentro de si pensamentos e desejos destrutivos não percebem a sabedoria presente em cada aspecto da existência que vos cerca.

- Senhor, sei que conhece bem suas criaturas, inclusive a mim e minhas angústias. Sabes que eu e meus irmãos entramos em contato com os Superiores. E também sabes o que vimos. Você transcende o Tempo Mesha'al, tem consciência o que acontecerá após deixar este mundo.

Os Contos Perdidos de Yuransha: A Hora das TrevasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora