DOCUMENTO 001: A NOITE ESCURA

15 1 0
                                    

Havíamos recebido ordens precisas, tanto dos Superiores, quanto de nossa base, que se encontrava acima da atmosfera de Yuransha.

         Diferente do colossal cruzador em que viemos de Nemashi, aquele pequeno módulo de transporte era pilotado por outros três Sacerdote: Ozahrun Lizhes, engenheiro de navegação, Patmah U'hyman, engenheira de comunicações com nossa base e o controle de missão em Nemashi, e meu melhor amigo e grande piloto de nosso planeta, Yahron Helizuh.

         Segundo os dados que havíamos recebido, o Mestre, havia reunido seus discípulos naquela noite na casa de um amigo muito próximo chamado Markus. Após realizar um jantar em comemoração à festa da Páscoa judaica, todos eles o seguiram a um jardim chamado Gat-Semane,[1] conhecido também como Monte das Oliveiras. Todos menos Yehudah, que segundo nossos informantes, havia deixado a casa durante a ceia. Logo, nossas desconfianças quanto a este homem seriam confirmadas.

         O percurso demorou alguns minutos após nos desprendermos da nossa base-cruzador até alcançarmos a altitude necessária para realizarmos as operações de descida ao nível desejado dentro da atmosfera.

         - As telas de angulação confirmam a estabilidade do módulo, capitão. Quadrante oeste à frente e livre. 4265 demômetrons para alcançarmos o ponto de planagem. – Ozahrun, nos informou nossa posição, confirmando a ausência de qualquer pássaro que pudesse atrapalhar nossa navegação.

         - Dados confirmados pelo controle da base. – Patmah replicou.

- Confirmação recebida. – Disse Yahron, manuseando os painéis de pilotagem à frente de nossas poltronas. – Vou acionar os motores antigravidade para realizarmos nossa descida. – Disse, enquanto manuseava o maquinário. Naquele momento, o silvo dos motores do módulo aumentou, denunciando nossa manobra na vertical, cujo movimento rapidamente cessou, acendendo as luzes e dados nos painéis para que checássemos.

         - Confirmo nossa nova posição. Estamos a 873 demômetrons. – Disse Yahron, voltando-se para mim. – Está nervoso?

         - Fique quieto, não vê que ele está concentrado, esperando alguma ordem? – Lizhes censurou meu amigo e também Sumo Sacerdote da Ordem.

De fato, eu estava concentrado em meu silêncio, porém ouvia perfeitamente cada manobra anunciada pelo controle do módulo. Ao chegarmos ao nosso ponto de planagem, voltei a abri meus olhos, enxergando de imediato as telas de direcionamento, que projetavam diante de nós a visão que a frente do módulo tinha. Pude notar um conglomerado luminoso bem à nossa frente. Era Yerushalayim. Aproximando as lentes periféricas, para melhor compreender o terreno do qual nos aproximávamos, prontamente visualizei o núcleo murado daquela evoluída cidade. Para a época, era uma das maiores já construídas, misturando a rígida arquitetura executada pelos romanos, contrastando com o desordenado crescimento promovido pela população judaica em torno do centro político e social de seu reino: O colossal Templo, que se erguia de frente para nós.

O retângulo se erguia como uma fortaleza murada, que guardava Yerushalayim, ocupando pelo menos uma quinta parte da superfície da cidade. Quase ao centro do retângulo, outra pequena fortaleza guardava o local do templo que era considerado mais sagrado para os judeus. Dentro daquele edifício em forma de "T", se realizava as mais sagradas cerimônias de sua religião, local em que se acreditava que o Deus Supremo do Universo habitava pessoalmente. Próximos a ele, inúmeros palácios e casas suntuosas, se erguiam pelas principais vias da parte "romana" da cidade, sendo em sua maioria as residências dos sacerdotes líderes do Templo.

Já enquanto sede do poder político daquele lugar, dois baluartes se encontravam fincados no meio da cidade, como marcas da opressão e do descaso que aquele povo vivenciava. Olhando-se para o extremo oeste, o Palácio do antigo rei Hordos,[2] então sucedido por seu filho, se erguia em destaque naquela terra árida, tão distante quanto seu governo dos problemas do povo. Por sua vez, colado ao Templo, outra alta construção retangular se erguia no centro daquela sociedade, vigiando cada passo, palavra e pensamento da população. Era a Fortaleza Antônia, sede do governo provincial de Roma para a região. Naquele lugar, se desenrolariam um dos últimos e mais tristes episódios da vida de Yehoshua.

Os Contos Perdidos de Yuransha: A Hora das TrevasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora