Capítulo 57 - Um último obstáculo

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- Conseguimos... — desabafou Dario. — Superamos o que derrubou Meriedro.

Mesmo assim, nenhum dos membros do grupo parecia feliz.

- Qual foi o custo dessa vitória? — perguntou Adriel. Após a batalha, a imagem de Isa deitada sobre o chão de pedra o martirizava.

O pensamento era compartilhado pelos outros. Primeiro Gerolt, e agora Isa. Dois companheiros queridos, inestimáveis guerreiros e pessoas incríveis. Seria impossível recuperar perdas tão profundas na Armada Oficial de Mylstain. Ainda pior, como poderiam esquecer amigos como esses? Foram poucos anos, mas muitas experiências juntos.

- Não se culpe, Adriel. Meu pai e eu somos responsáveis por isso — falou Dario. — Kyrtoldrell não é um dos piores reis, mas a ganância sempre esteve em seu coração. Sua ambição por poder nos trouxe aqui, assim como minha incapacidade de negar seus pedidos. Por isso, se tiver que culpar alguém, culpe a mim antes de todos os outros.

- Não diga isso, capitão. Você está apenas seguindo ordens — maneou a cabeça. — É sua responsabilidade.

- Não, Adriel. Quando toquei no espelho agora há pouco, a lembrança do meu "teste" naquela sala me veio à mente. Diferente de você, não tive coragem de vencer meus medos e desisti do espelho — falou Dario, baixinho. Seus olhos pareciam voltar para o foco sem vida de quando deixara a sala dos espelhos. — Mas para que eu desisti? Para me lembrar de tudo agora. E, no fundo, agradeço, agradeço pela oportunidade de poder me lembrar. O velho me disse: "você criou suas responsabilidades"; e ele estava certo. Por mais que pareça o contrário, somos nós que escolhemos nossos caminhos e nossas responsabilidades. Em cada breve momento de nossa vida, podemos mudar nosso destino. Basta tomar a decisão; basta ter coragem para ela. Por outro lado, seguimos imutáveis, quase sempre estamos com medo.

Dario parou o discurso por um momento, e completou:

- Não sei mais o que faço aqui neste maldito templo. Entretanto, voltar agora seria atirar ao lixo o que fizeram nossos amigos caídos. Se desistirmos agora, o que eles pensarão de nós, sabendo que seus esforços foram em vão? Não, amigos. Peço a vocês uma última vez: vamos abrir a última porta e enfrentar o demônio que se esconde atrás dela.

Com a expressão revigorada, todos acenaram positivamente e juntos cruzaram a ponte.

Sem seu protetor, a porta abriu-se tímida e fragilizada, revelando uma pequena sala, agora iluminada pelas tochas acesas do espaço anterior. O cubículo de paredes velhas e carcomidas apresentava somente um único suporte de pedra no centro, um cilindro vertical que se levantava até a altura da cintura de um homem mediano; sobre o cilindro, um tampo de pedra circular fora alocado deitado, os dois formando uma espécie de mesa. Em cima da rocha, sozinha, uma varinha de madeira destacava-se.

- Esta deve ser a chave para abrir a porta sobre a escada no salão central — teorizou Mondegärd.

Adriel aproximou-se do objeto mas Dario segurou seu braço.

- Tome cuidado ao pegar ela, pois pode haver algum tipo de armadilha — preveniu Dario.

Adriel pegou a varinha e no instante seguinte todos escutaram um som vindo de trás. A ponte de pedra soltara-se e caíra sobre o veneno em vários blocos quadrados de pedra, que ficaram boiando.

- Teremos que pular... — começou a falar o capitão, quando um som borbulhante veio debaixo junto a uma fumaça verde.

- O veneno está derretendo as pedras! — assustou-se Mondegärd.

- Temos que voltar rápido!

Celine, a mais leve do grupo, foi na frente e saltou com graça, passando pelo obstáculo sem dificuldades. Do outro lado, avisou aos amigos:

- As pedras são bem resistentes; mas tomem cuidado, pois elas se movem graças ao peso do nosso corpo. Para quem passou por tudo que passamos e chegou até aqui, parece uma brincadeira.

"Seria complicado passar por isso sozinho e ferido após uma luta contra Holmër", pensou Dario.

Adriel foi o segundo e saltou entre as rochas, chegando do outro lado. A preocupação do comandante era com Mondegärd, que não era jovem e ágil como eles.

- Não se preocupe, senhor Dario — sorriu o mago, ao perceber a expressão de gravidade no comandante. — Posso me virar.

- Tome cuidado, Mondegärd. Adriel irá ajudá-lo a chegar do outro lado.

O mago preparava-se para saltar quando as rochas começaram a se partir em pedaços menores e desaparecer sobre o lago de veneno.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora