12 │ Ponto de Ruptura

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Viva para si mesmo; não pense nos outros.

Se você for tirar alguma coisa de importante da minha história, que seja isso. Ninguém viveu a sua vida; ninguém conhece o seu passado; ninguém carregou suas dores e seus traumas. Não existe verdade absoluta. Ninguém pode lhe julgar, só você mesmo.

Vernik havia me contatado no final da tarde. Queria se encontrar comigo na floresta congelada para conversar sobre um assunto que ele dissera ser de extrema urgência.

Agora já era de madrugada. A única fonte de luz por perto eram as luzes do acampamento, lá longe. Não fossem as nossas lanternas, mal poderíamos enxergar um ao outro. Nevava pouco, mas o vento era incômodo demais para conversar sem uma transmissão.

Conectei-me ao seu canal e esperei que ele começasse. Só consegui ouvir a respiração dele, nada mais.

— Você já pode começar — falei.

Mais alguns segundos de silêncio. Ele estava a uns dez passos de distância, longe demais. Eu sabia que ele estava planejando algo. Era a única explicação.

— Você vai falar?

— Farei o mesmo que fiz com Markussen — Vernik disse. — Você sabe o porquê de estarmos aqui, não sabe?

— Se eu soubesse, já teríamos começado a conversar.

— Samanta, você não precisa mais mentir.

— Não estou. Não sei por que estamos aqui.

Àquela altura, eu já sabia do que a conversa se tratava. Não havia muitos motivos para me chamar até ali no meio da madrugada. Os soldados já deviam estar me vigiando à distância.

— Você foi longe demais — Vernik disse.

— Ainda não entendi sobre...

— Sim, você entendeu. Entendeu tão bem que quase me enganou. Quase enganou a todos.

— E por que não enganei?

— Markussen.

Minha primeira hipótese foi que Vernik quisera entender mais sobre o que Markussen quis dizer sobre mim e, por isso, havia o interrogado. Mas nem tudo pode ser resolvido na lógica. Foi outro problema. Sempre esquecemos de algo.

— Markussen disse que você é a responsável pelas duas sabotagens. Me diga: ele está certo?

— O que você acha?

— Acho que, por causa de algum motivo que ainda não consigo compreender, você pensou estar fazendo a coisa certa. Não só acho, mas tenho certeza de que você fez as duas sabotagens e depois incriminou Markussen.

Pensei em mentir um pouco mais, mas sabia que não daria certo. Se Vernik estava ali, provavelmente tinha um bom motivo. Decidi apenas aceitar e ver até onde tudo ia dar. Admito que fiquei curiosa para saber o que tinha me entregado.

— O que deixei passar? — perguntei.

— Markussen jogar a bola para você foi bastante importante — Vernik disse. — Honestamente, era a última coisa que eu esperava, por isso pensei que ele estivesse mentindo. Como você disse na hora, era muito fácil para ele mentir.

— Então você foi falar com ele para saber mais?

— Claro que não — Vernik disse. — Infelizmente , nem precisei chegar a esse ponto. O seu modo de falar é marcante. Você tem uma opinião forte e gosta de defender o que é certo. Até consegui ouvir você conversando com Markussen. 'Você literalmente disse que não podia ficar parada', ele disse. Parece bastante você falando.

O QUE CAIU NO ESQUECIMENTOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora