09 │ Racionalidade Inesperada

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Sem dúvidas, fazer as coisas para Vernik nunca era algo fácil. Ele podia te entregar uma lista inteira e pedir que tudo fosse feito até uma certa hora, e você até que conseguiria fazer uma boa parte, mas ele sempre reclamaria do que faltava. Com ele, ou você fazia tudo — e do jeito dele, é claro —, ou não fazia nada.

Por conta disso, quando ele me entregou uma lista cheia de tópicos para repassar à equipe de mineração, apenas obedeci. Simplesmente não havia muito a ser feito. Eu precisava falar com Markussen, e a única maneira de fazer isso seria através do acordo que Vernik fizera. E vamos lá, motivar pessoas não é um trabalho tão difícil, ainda mais quando elas gostam de você. E boa parte da equipe de mineração gostava de mim. Imagino que eles odiavam Vernik, mesmo obedecendo às ordens dele à risca.

Acabou que a primeira parte da reunião foi suficiente para deixá-los animados com o retorno da mineração. Eu mesma não estava nem um pouco ansiosa por isso, mas trato é trato. O resto da reunião serviu apenas para repassar a lista de Vernik, e posso afirmar que fiquei mais estressada do que eles quanto às exigências. Vernik queria resultados ridiculamente impossíveis.

A parte boa é que esse assunto nunca foi da minha conta. Nunca contratei ninguém para trabalhar na Agência e nunca coloquei pessoas em risco em troca de um salário miserável. E como o assunto não tinha muito a ver comigo, não pude interferir muito. Os mineradores são pessoas normais, com total capacidade de deixar a Agência se quiserem. Mas é claro que, infelizmente, é o único emprego de muitos.

Era uma pena, mas eu tinha muitas coisas para resolver. Minhas ações contra o vielium corriam o risco de serem expostas, e não havia muito tempo para resolver isso. Eu tinha que chegar a Markussen antes de Vernik, por isso encerrei a reunião com a equipe de mineração assim que consegui. Falei com Vernik e disse para que ele enviasse Markussen ao lado de fora do acampamento. Longe de quaisquer tendas, o perigo de alguém ouvir a conversa era quase nulo.

Eu e Markussen nos afastamos um pouco da entrada do acampamento e chegamos perto da floresta congelada. Com árvores esbranquiçadas, finas e quase sem folhas, demos esse nome à floresta porque ela era exatamente isso: uma floresta congelada, sem vida; igual ao planeta. Àquela altura, Elprix-77 encontrava-se mergulhado na escuridão noturna, e a maior parte do acampamento já estava dormindo.

Markussen estava escorado numa das árvores, encarando a porta do acampamento, esperando que eu iniciasse a conversa. No lugar dele, eu faria mesmo. Era uma situação bem anormal. Ele já tinha se escorado em duas árvores diferentes. Estava inquieto e olhando para as saídas dali.

— Você está bem? — perguntei.

Markussen tossiu antes de responder:

— Acho que sim.

— Tem certeza? Quero dizer, você não parece muito à vontade.

— Sim, doutora, me desculpe. Eu não esperava estar aqui esta noite.

— Espero que Vernik não tenha lhe assustado — eu disse. — Estou aqui para resolver a situação.

— E por que eu estou aqui?

— Precisamos conversar sobre algo bastante importante. A detonação do centro de mineração trouxe muitas perguntas, e Vernik quer respostas. Estou aqui para tentar obtê-las.

— Comigo? O que tenho a ver com isso?

— Vernik acha que a explosão não...

— Eu ouvi as conversas — Markussen disse. — Sei que vocês acham que foi a explosão foi proposital. Só não sei o que tenho a ver com isso.

Naquele momento, refleti sobre os possíveis rumos da conversa e decidi que o melhor seria bater a real. Enrolar e triscar no assunto principal não daria em nada, e eu só perderia um tempo precioso. Eu tinha que fazê-lo entender minha parte o mais rápido possível.

O QUE CAIU NO ESQUECIMENTOWhere stories live. Discover now