Capítulo 42

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Alessia estava cansada. Exausta por fingir seus sentimentos, aborrecida pelas próprias mentiras que criara. 

A infelicidade cobria-a como uma sombra, pesando em seus ombros e em seu coração. Não estava mais disposta a aguentar aquela situação por muito tempo. Por fim, quando Arthur e Alden partiram naquele entardecer frio, sob o suave caimento da neve, Alessia acompanhou a partida deles, agitando o seu leque no ar, despedindo-se. 

— Venha nos visitar amanhã no Winter Valley, Srta. Kingstone — Alden disse da janela da carruagem. — Estaremos a esperando para o nosso baile de Natal.

A neve flutuava e grudava no tecido do vestido dela. Nicholas achegou-se para perto de Alessia, ainda com a mesma expressão no rosto, como se quisesse evitá-la, e ao mesmo tempo, dizer-lhe algo demasiado importante. Ambos estavam silenciosos debaixo da neve. De chofre, Nicholas falou, uma frase ao vento, sem importância.

— Acho melhor entrarmos — Nicholas disse baixinho. — Está frio aqui fora.

Como ele recusava-se a conversar com ela de forma apropriada, Alessia abriu os lábios, e de sua garganta, uma voz deprimida ressoou. 

— Eu estou machucada, Sr. Whitehouse, muito machucada — uma sombra cobria o rosto dela, escondendo suas belas feições.

Nicholas virou-se para Alessia, espantado com seus dizeres.

— Onde está machucada? O que a machucou, senhorita?

— O seu silêncio. 

Virou-se de frente para ele, encarando-o muito séria, os lábios rosados marcados em uma linha de desaprovação, as sobrancelhas tensas fazendo tempestade sobre os olhos que por pouco estavam marejados. Não era um aspecto costumeiro da mocinha. Era um rosto revolto cujo único culpado estava diante de si. Ela desviou a face do olhar preocupado dele. 

— Raio de Sol, juro que não estou entendendo.

— Você é idiota ou o quê, Sr. Whitehouse? — os olhos de Alessia estavam rasos de lágrimas, a voz rasgada em um timbre de fúria. — Está agindo pior que o deplorável Fred Blewett!

— Fred Blewett? Quem diabos é Fred Blewett?!

— Sim, está sendo insensível, cruel e tratando-me de forma injusta. 

— Qual o motivo para tanta irritação, senhorita? Se for para falar alto, logo eu estarei falando alto também, e no mais tardar, estaremos os dois gritando, tentando inutilmente entender o que o outro está dizendo. Agiremos ambos como dois irracionais, nos expressando aos gritos.

Com a voz embargada, que cismava em ondular em uma sinfonia de agonia, Alessia prosseguiu em seu monólogo taciturno. 

— Ignorou-me mortalmente depois do que fez. Um tratamento deplorável que aplicou a mim, tal como se eu fosse um reles pano de trapo. Nunca pensei que pudesse ser tão insensível. Como pode beijar-me e agir como se nada houvesse acontecido? E após, castigou-me com o seu silêncio e o seu desprezo.

— Eu não conseguia encará-la frente a frente. Acha que a ignorei depois de beijá-la por ser um canalha? Que somente a usei para satisfazer-me?!

— É isso que eu penso! — Alessia apertou com força o leque em sua mão, em uma tentativa de fazer a mão parar de tremer. — Estou aborrecida, isso é um fato. Beija-me e então ignora-me. Nem mesmo tenho direito a uma explicação sensata do motivo de fazer aquilo. 

— Não fui capaz de olhar em seus olhos depois do que fiz, pois pensei que me odiaria para sempre por beijá-la daquela forma tão repentina. Eu não conseguia agir da mesma forma que antes, porque senti que estraguei tudo.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now