Capítulo 23

783 131 102
                                    

Aproveitando aquela bela manhã com o sol a raiar no céu, Alessia resolvera passear em um bosque vistoso ornado por bétulas, acompanhada por Cecilia. O Sr. Parrish as levou de cabriolé, e ambas seguiram o caminho para o bosque, sozinhas. Naquela ocasião, Alessia trajava um vestido leve em cor creme, assim como o chapéu que levava na cabeça da mesma cor do vestido, com um laço de seda lilás que o prendia abaixo do queixo dela. Cecilia jazia formidável em sua vestimenta de costura simples, em verde escuro, com um fichu¹ em cor alva que cobria-lhe o decote e os ombros. Resolvera passear com a amiga, pois Alessia achava que não estava passando tempo o suficiente com ela, e também, porque almejava passear pelos arredores do vilarejo, espairecer e sentir um pouco do calor do sol em sua pele.

Andava de braço dado com Cecilia, que caminhava conforme Alessia podia. A mocinha olhava para além da urze e das bétulas, completamente aérea. O corpo estava ali, mas a mente viajava longe, sem freios ou limites. Depois do banquete do (não) aniversário de Nicholas e o presenteado com lembranças do passado, ela não conseguia deixar de pensar no gracioso beijo que o rapaz depositara em sua bochecha. Haviam mariposas em seu peito loucas para voar.

— Estive pensando, Srta. Alessia, uma coisa que tem me deixado apreensiva... — Cecilia falou para ela e a mocinha lhe deu total atenção. — Creio que esteja apegando-se demasiado ao Sr. Whitehouse.

— Que coisa, Ceci! Este cavalheiro e eu não passamos tanto tempo juntos. Verdade que ele deixa-me muito interessada nos eventuais mistérios que carrega, mas apenas isto.

— Mas fizeste um banquete para ele, justo na sala secreta.

— Só quis ser gentil com ele. Tem ajudado muito em minha mentirinha, e se comportado como um verdadeiro cavalheiro. Não há o que reclamar dele.

— E não pense que eu não notei, mas desde que viemos para o bosque de bétulas, estás com a cabeça flutuando nas nuvens. Além do mais, sei que o Sr. Whitehouse pediu uma mecha do seu cabelo como presente.

— Sim, e o que tem de mais? É apenas um pedido bobo. Por viés das dúvidas, digo-lhe que já cortei uma mecha do meu cabelo ontem mesmo, e tratei de trançar um singelo anel para ele.

Cecilia pôs dois dedos sobre a têmpora direita, massageando-a.

— Pelo que vejo, não sabe a gravidade de tamanha requisição. Um cavalheiro só pede algo assim quando está apaixonado por uma dama. Acaso vocês estão enamorados um pelo outro? Está gostando do rapaz, Srta. Alessia?

Alessia arregalou os olhos, estupefata com o anúncio da amiga. Seus sentimentos eram tão perceptíveis que até mesmo Cecilia os notou? A vergonha consumia-a por dentro. Molhou os lábios com a ponta da língua e pôs-se a mudar de assunto.

— Querida Ceci, acredito piamente que combinarias com um vestido de caxemira vermelha.

— Ora, não mude de assunto tão repentinamente, Srta. Alessia.

— Não estou mudando de assunto, Ceci, somente almejo falar sobre outra coisa que não seja sobre mim. Todas as jovens donzelas irão participar do baile da família Byrne, e, você mais do que ninguém certamente chamaria muito a atenção. Tem boa altura e belos olhos azuis. 

— Eu não poderia participar do  baile. Não sou nada íntima com os Byrne, e o constrangimento me mataria.

Alessia deu leves batidinhas no dorso da mão de Cecilia, e foi então que deram-se defronte com duas damas que estavam a passear pelo mesmo bosque. Era Alden Fitzberg, mais uma vez cruzando o caminho de Alessia, e acompanhando-a estava uma dama mais velha, mas ainda assim, sua beleza em nada denunciava a sua idade. Tinha maçãs do rosto altas, um sorriso conquistador, e olhos deslumbrantes, marcados em doce tom de castanho-claro. Os cabelos da outra dama misteriosa jaziam posto para o alto, em um penteado elevado, o que fazia-a parecer com uma dama aristocrata, e alguns cachinhos escapuliam cobrindo a testa e a nuca. Ostentava um vestido preto com alguns adornos em roxo, como se aquela mulher estivesse em luto por alguém. E mais tarde, Alessia descobriria que sim.

Colina dos Ventos VerdesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora