Capítulo 18

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— Ao que parece, perdemos a famigerada caça ao leitão. Uma lástima. — Arthur lamentava-se falsamente.

— Não faz mal, sempre existe o próximo ano — o Sr. Evans não tirava os olhos do céu cinzento com a chuva a cair. — Oh, raios! Meninos, tirem o clavicórdio da chuva — ordenava aos filhos. — Este instrumento foi um presente de um conde de uma província italiana para mim. Vamos, Srta. Kingstone e Sr. Whitehouse, apressem-se. A chuva não irá apiedar-se de vocês, ou acaso querem aproveitá-la?

— São chuvas de outono — Alden disse suavemente, como se não se importasse com as gotas de água. 

Nicholas permanecia petrificado, olhando abismado para a figura fantasmagórica de Alden Fitzberg, e teria continuado por uma boa parte do tempo inerte a olhá-la se seu braço não tivesse sido por puxado por Alessia, que o resgatava de impedi-lo de molhar-se no chuvisco. Os convidados, antes entusiasmados com o piquenique, correram para protegerem-se no lar da família Evans da traiçoeira chuva.

Todos os outros jaziam dentro da casa, inclusive Alden e Arthur. Alessia andava o mais rápido que podia, e conforme seus pés doloridos pelos sapatos apertados podiam, e sabia que sua demora em andar estava encharcando tanto ela quanto Nicholas. Porém, de repente, sentiu o corpo flutuar, e logo estava voando rapidamente. Percebeu, demoradamente, que Nicholas estava carregando-a em seus braços e correndo aquela distância até a casa da família Evans sobre os pingos implacáveis de chuva. Não que Nicholas estivesse impaciente por ela andar de forma lenta e quisesse fugir de qualquer maneira da chuva. Não. Ele fizera aquele nobre gesto por causa do que ouvira e testemunhara anteriormente — dos lábios cruéis de Felicia às atitudes descabidas de Hughes — tomado por um forte impulso de ajudar a garota. Um sentimento intrínseco e desconhecido de protegê-la.

A pôs no chão com delicadeza, os sapatos dela tocando com graça a escadaria de mármore da entrada da casa. A moça com o rosto ruborizado por ter sido carregada de maneira tão galante, que mal conseguia agradecer sem gaguejar. Nicholas não aparentava cansaço por carregá-la e nem mesmo parecia chateado por isto. Ele tinha os ombros molhados, enquanto ela, estava com as vestes completamente secas. Entreolharam-se, em silêncio, por alguns segundos até que a Sra. Evans surgiu, interrompendo os olhares nada tímidos dos dois.

— Oh, estão aí? Venham. Precisam imediatamente conhecer o neto do amigo do meu marido — a Sra. Evans enunciava com ânimo. — Sr. Whitehouse, venha secar-se perto da lareira. Ora, mas por qual motivo demoraram tanto para sair da chuva? Srta. Kingstone, como está avermelhada! Espero que não seja febre.

Adentraram a sala de estar, abarrotada de falas e risos, e em um canto da sala, estava Alden e Arthur a conversarem animadamente com o anfitrião e os convidados da casa. Fanny logo tratou de perguntar como o casal havia se conhecido, e nas entrelinhas de sua pergunta, havia uma pequena bravata exigindo uma história tão incessantemente romântica que a fizesse suspirar. Alessia ficou perplexa quando Arthur iniciou seu monólogo ao proferir que a sua companhia, Alden Fitzberg, não era a sua noiva mas uma querida amiga de longa data, o que fez com que Fanny e as demais espectadoras ambas ficassem desapontadas, mas esperançosas, pois havia um cavalheiro solteiro disponível.

E, naquele instante, Nicholas dividiria o mesmo espaço com seu amigo traidor e seu antigo amor.

Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios saltarão de prazer?¹, Assim ele pensou. Até quando eu serei feito de tolo?

Arthur mantinha o mesmo olhar cruel e soberbo no rosto. Seus olhos eram azuis e faiscantes transbordando arrogância e seu cabelo era castanho e ondulado. Trajava vestes escarlates, e ele era perfeitamente polido e estrategicamente agradável. Era um completo farsante.

Colina dos Ventos VerdesWhere stories live. Discover now