Capítulo 11

219 37 10
                                    

— Lavínia, se cubra, por favor — seu tom soou autoritário, mas ao mesmo tempo falho e impreciso.

Ele veio até mim, recolheu a toalha e me entregou. Rapidamente eu me cobri, mortificada e sem saber o que fazer ainda. Meu rosto queimava de vergonha e eu queria desaparecer daquele apartamento. Por sorte, Jong-Suk percebeu meu desconforto e saiu do quarto às pressas, deixando-me sozinha.

Tombei na cama, de barriga para baixo. Enfiei a cara no travesseiro, enquanto tentava respirar fundo e fazer aquela cena desaparecer da minha mente. Não fiz de propósito, eu fazia o tipo cão que late e não morde. Não apelaria para o: ficar nua na frente dele, sem nenhum pingo de vergonha na cara. E se ele pensasse que fiz de propósito ou me achasse uma tarada pervertida? Jong-Suk era coreano, se fosse um brasileiro, tudo bem. Mas os coreanos eram mais reservados com relação a esse tipo de intimidade e ele falou há pouco que não queria enfiar os pés pelas mãos. Era só o que me faltava, estragar tudo sem querer.

Não sei quanto tempo fiquei refletindo sobre minha existência naquela cama enorme, muito menos notei quando caí no sono. Acordei de roupão, embaixo do edredom, aquecida e descansada. 

— A bela adormecida acordou? — Ouvir aquela voz fez meu coração se agitar.

Ele não parecia bravo comigo.

— A vergonha me apagou — confessei. — Desculpe, não pensei em apelar daquele jeito.

— Pensei que não fosse conseguir sair desse quarto — informou, suspirando. — Assim já é covardia, precisei contar até dez mentalmente para não te agarrar.

— Por que não agarrou? — Droga, assim eu me entregava. — Desculpe, foi a força do hábito!

Jong-Suk riu, balançando a cabeça lentamente.

— Desse jeito eu não sei até onde resisto a você, Lavínia — respondeu, beijando demoradamente minha testa. — Quando acontecer, quero que seja especial. Então pode ser paciente, por favor? — Seu tom soou quase suplicante dessa vez.

Tomei seu rosto entre minhas mãos e olhei bem dentro dos seus olhos.

— Eu espero o tempo que for por você. — sussurrei em seus lábios.

Então ele me beijou apaixonadamente, bagunçando o restinho de raciocínio lógico que ainda me restava.

Nesse ponto meu celular tocou e, apesar de eu não querer cessar o beijo para atendê-lo. Jong-Suk decidiu que era melhor se afastar, aproveitei para puxar o ar e busquei o aparelho ao lado da cama.

Atendi, mesmo preferindo continuar de onde paramos.

— Alô.

— Senhorita Lavínia? 

— Sim. — respondi curiosa.

— É da embaixada do Brasil em Seul, tivemos um problema com o seu visto e…

Ah não, isso não.

Não, não, não!

(...)

Eu não estava acreditando que teria dois dias para voltar ao Brasil e resolver minha situação. Meu visto era de trabalho e como eu perdi o vínculo com o estúdio, não podia ficar por mais tempo na Coréia. Não importava o que eu fizesse, ir no consulado, na embaixada… Ninguém me ajudaria, mas eu não podia ir embora assim. Não agora, faltando apenas alguns dias para todo aquele caos acabar e podermos ficar juntos sem preocupações. Como Serena e Isabel disseram. Não era justo!

— Eu não quero ir embora… — choraminguei no colo do Jong-Suk.

Ele acariciou meus cabelos gentilmente, beijando o topo da minha cabeça.

— Você não vai embora, vamos ao Consulado e resolvemos essa situação. — afirmou convicto.

— Você acha? — perguntei, tentando parar de chorar feito uma descontrolada.

— Vamos sim, agora se arrume para sairmos. — Jong-Suk se colocou de pé, segurando firmemente minha cintura. 

Tomei fôlego e fiz um joinha com o dedão, indo para o quarto visando trocar de roupa. Daria tudo certo e em breve conseguiríamos vencer às coisas ruins que estavam acontecendo conosco. 

(...)

Não deu tudo certo, deu tudo errado!

Eu estava ajeitando minhas coisas aos prantos, nem a influência de ator renomado dele foi capaz de resolver o que aconteceu com o meu visto. Era realmente a força do caos agindo mais uma vez, como se eu fosse desistir.

— Não sei o que fazer, Serena — lamentei, minhas lágrimas molharam minhas roupas e eu achava que não tinha mais jeito.

Apesar de não pensar em desistir.

— Vocês chegaram tão perto, se ele gosta de você de verdade. Vai te acompanhar. — Serena tentou me animar, mas notei suas lágrimas brilhantes escorrerem também.

 — Serena, estamos falando do Brasil! — exclamei. — Jong-Suk é mais famoso lá do que aqui, se duvidar. Como posso cogitar a possibilidade de ele ir comigo? Mesmo que vá e se o avião cair? E se eu for a responsável por fazer que aconteça algo grave com ele? — Disparei, nesse momento Jong-Suk surgiu na porta.

— Lavínia, vem aqui — pediu, apenas ignorei.

Eu não queria que ele me visse naquele estado.

— Não precisa se preocupar comigo, talvez seja melhor assim. Foi bom esse tempo que passamos juntos, mas talvez seja melhor cada um voltar para a sua realidade. — informei desolada. — Obrigada por esses momentos incríveis e… — eu estava chorando muito.

Jong-Suk veio até mim rapidamente e enterrou meu rosto delicadamente em seu peito.

— Vai ficar tudo bem… — Sussurrou, beijando meus cabelos. — Não fique pensando que eu vou desistir fácil.

— Não temos outra opção — enfatizei, tentando me desvencilhar dele.

— Eu estou indo com você — afirmou firme. — Vamos juntos e depois que esse inferno acabar, voltamos juntos.

Abri um sorriso, apesar do aperto no meu coração.

— Você vem comigo de verdade? — questionei incrédula. 

— Não vou te deixar fugir de mim tão fácil. — respondeu, acariciando minha bochecha molhada.

Nem tive tempo de comemorar.

— Senhor Lee… —  A voz da senhora Ling soou atrás da porta. — Alguns policiais estão aqui querendo falar com o senhor.

— Boa tarde, Senhor Lee — Um dos policiais o cumprimentou seriamente. — Preciso que nos acompanhe até a delegacia, por gentileza.

— O que? — Jong-Suk franziu o cenho, como se visse uma miragem.

— Temos uma denúncia sobre sonegação de impostos e preciso que preste alguns esclarecimentos… — informou, tentando ser cordial.

— Eu não tenho tempo pra isso, estou de viagem marcada. — Jong-Suk contestou indiferente.

— O senhor não pode sair do país no próximo mês. — ordenou o policial, enfático.

Nesse momento eu descobri que meus planos foram novamente esmagados, seria realmente como Serena informou. 

Completamente impossível vencer o feitiço do caos?

A culpa é da fada!Where stories live. Discover now