Olhos de Vidro

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Embry torce a boca em confusão, não entendendo o que Andy queria dizer com àquelas palavras. Ela era perfeita, então que tipo de brincadeira era aquela? Ele olha ao redor, esperando que alguém saísse dentre as árvores e risse de sua cara de bobo, mas ninguém saiu...

― Ow, isso é algum tipo de piada? – pergunta confuso, um sorriso brincando em seus lábios.

― Não. – Ela ri, e seu nervosismo era evidente em sua voz. – Eu sou realmente cega, Embry.

― Que tipo de brincadeira é essa? – pergunta rindo.

Andy sente seu sorriso murchar e a confiança escorrer por entre seus dedos. Por que ele ria? Por que não acreditava? Talvez estivesse fingindo há tanto tempo, e tão bem, que esteja sendo difícil para ele entender e enxergar a verdade... Talvez devesse insistir!

― Não é brincadeira – explica –, minha mãe adquiriu rubéola durante a gravidez e isso me afetou ainda no ventre. Minha cegueira é congênita!

― Pare com isso, Andy, está perdendo a graça – pede em sua incredulidade, não rindo mais.

― Isso acontece, Embry, algumas doenças durante a gestação podem afetar o feto e causar a perda de visão. Foi o que aconteceu comigo, mas...

― E os livros? – pergunta ele, lembrando-se do dia em que a encontrara. – Você estava lendo o livro dos sonetos quando nos vimos pela primeira vez!

― Não estava. – Suspira. – Minha avó o lia para mim desde os doze anos, eu apenas decorei alguns sonetos e os recito de cor, eu finjo ler.

― Não faz sentido, Andy, por que você fingiria estar lendo?

― Ser uma criança cega não é fácil, Embry – tenta esclarecer, mantendo-se o mais paciente possível. – As pessoas te olham como se fosse um defeito da natureza, uma pessoa inútil e dependente. Minha avó sempre tentou manter-me longe do lado mal das pessoas e desde cedo trabalhamos para que eu conseguisse caminhar em meio aos videntes sem levantar suspeitas, sem que soubessem de minha deficiência... Não é como se tivesse vergonha de ser assim, mas algumas pessoas não estão preparadas para saber.

― Por que continua insistindo nessa brincadeira? Você leu Romeu e Julieta para mim, como explica isso? – questiona com uma pitada de ressentimento na voz, se aquilo era uma prenda, não estava mais tendo graça.

― Conhecia a história de cabeça. Eu sabia que não gostava de Shakespeare e por isso nunca iria conferir o livro em minhas mãos, então contei o que me lembrava da história e as partes que esquecia, eu inventava.

― Isso é ridículo! – grita, fazendo-a se calar. – Seus olhos são perfeitos... Lindos, azuis e perfeitos. Por que insisti em dizer isso? Você não é cega – frisa, dizendo as últimas palavras altas e pausadamente.

― Olhos de Vidro – sussurra ela, fazendo-o franzir a testa. – Você sabe o que são?

― Não – resmunga.

― Olhos de Vidro são implantes oculares, são perfeitos, parecem reais, mas não passam de bolas de vidro. – Uma lágrima cai de seus olhos ao dizer tais palavras, ele não estava gostando de sua revelação e isso lhe doía o peito. – Apesar de meus olhos serem humanos, são como os olhos de vidro: perfeitos e parecem reais. A formação deles foi completada e qualquer um que me ver acreditará que são bons, mas são bons apenas em sua aparência, pois na realidade não funcionam... Eu não posso ver.

Um silêncio incômodo se instalou entre eles. Andy permanecia quieta, com o rosto mirado em direção a ele, somente esperando... Embry esfrega os cabelos, a nuca, o rosto, ponderando cada palavra ali falada. Nada fazia sentido, ela não podia ser cega, como pudera estar ao seu lado e nunca perceber tal coisa? Os olhos azuis voltados em sua direção naquele momento... Seria mesmo que não podiam vê-lo?

Olhos de VidroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora