Vigiada

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O despertador libera seu grito estridente por todo o quarto e a mão feminina logo vem ao seu encontro, tateando o criado-mudo e finalmente batendo na válvula que silenciaria o relógio. Andy senta-se na cama preguiçosamente, seu cabelo estava enorme como um maço de fenos, pois dormira com os cabelos molhados e agora eles estavam horripilantes.

Ela coça os olhos sonolenta e lentamente se arrasta em direção ao banheiro para um bom banho. Bastou que a água extremamente quente lhe caísse sobre a cabeça, para que finalmente despertasse e colocasse a mente para trabalhar. E qual não foi sua surpresa quando seus pensamentos a levaram em direção ao garoto quileute.

A sensação de seus beijos ainda estava vívida em sua boca, seu coração batia mais rápido somente por lembrar das bonitas palavras que ele lhe dissera nos últimos dois dias, desde que correspondera aos seus sentimentos. Apesar da falta das alianças, um relacionamento sério surgiu entre eles e lembrar-se disso a deixava feliz, Embry era seu primeiro namorado e ela realmente se sentia uma tola apaixonada.

Andy termina seu banho, apronta-se rapidamente e, depois de um café da manhã pouco saudável, lá estava ela saindo para mais um dia de trabalho. A casa em que a ruiva morava era pequenina e muito singela, mas ela gostava, pois era o máximo que seu humilde salário conseguia pagar.

― Um, dois, três, quatro, cinco – conta ela, enquanto caminhava em direção a calçada –, direita volver!

Ela vira o corpo para a direita num pulo, rindo de si mesma por caminhar como um soldado, e continua sua trajetória até o emprego de meio período. O céu estava bastante escuro naquele dia, com certeza teriam chuva, porém, por sorte, a biblioteca municipal ficava apenas a dois quarteirões de sua casa. Andy precisaria apenas de alguns minutos para chegar até lá e não seria pega desprevenida.

― Desce à calçada, atravessa a rua, sobe à calçada – diz, rindo de si mesma novamente, por parecer uma louca ao falar sozinha.

Seus passos eram sistemáticos e ritmados, seu rosto sempre voltado para o chão e a mente concentrada no caminho em que estava seguindo. Tudo perfeito como sempre, até que a ruiva sente seu corpo bater em algo duro como um muro de concreto.

― Ai, quem trouxe uma pedra para a calçada? – solta de repente, massageando a testa dolorida.

O riso tímido que se seguiu a fez arregalar os olhos, não se tratava de um muro de concreto ou uma pedra, e sim de um garoto. Andy levanta seu rosto do chão pela primeira vez naquele dia, a vergonha estava emoldurada em sua face.

― Me desculpe – pede baixinho –, não o vi.

― Não se desculpe, eu também estava distraído.

Ela sente seu corpo se arrepiar com o som grave daquela voz, mas não era um arrepio agradável e sim um calafrio ameaçador. Algo diferente se agitava em seu interior, ao mesmo tempo em que um perfume excessivamente doce invadia suas narinas.

― Tenho que ir agora, meu trabalho me chama – desconversa enquanto contornava o corpo do estranho. – Desculpe-me mais uma vez.

Andy segue seu caminho em direção à biblioteca ali perto e o estranho continuou lá, parado, observando-a. Seus lábios se repuxam num sorriso, seus dentes brancos pareciam camuflar-se na pele pálida, ele ergue a mão em direção aos olhos e os coça um pouco irritado.

― Malditas lentes de contato – retruca. – O que eu não faço para me aproximar de você, cabelos de fogo...

O desconhecido afunda as mãos no bolso e caminha lentamente em direção à biblioteca, entrando logo após um grupo de garotos barulhentos. E quando já estava do lado de dentro, seus olhos correm o ambiente à procura da donzela ruiva, sentindo uma nova onda de alegria ao encontrá-la.

Olhos de VidroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora