O Lobo Solitário

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La Push, o berço de todos os lobos quileutes. Muitas histórias se passaram ali e foram vivenciadas pelos protetores daquelas terras, histórias com vampiros, híbridos e Volturis, histórias com amores implacáveis e outros não correspondidos. Todas com finais felizes.

O mar estava calmo naquela manhã de sábado e, mais uma vez, ele se preparava para pular do penhasco. Olhando o mar daquela altura, Embry sentia-se novamente sozinho, um mundo tão grande e com tantos milhões de pessoas não fora o suficiente para fazê-lo feliz... Ele sentia-se frustrado, todos os seus amigos eram felizes e encontraram suas parceiras, e até mesmo Leah, que um dia fora considerada a "sem saída", agora tinha alguém, mas ele não.

Há um bom tempo o lobo vinha sendo motivo de piadas e risinhos entre os irmãos de bando, coisas como: o solteirão chegou, você é tão feio que ninguém consegue gostar de você, senhor solitário, entre outras coisas. Mal sabiam eles que aquelas brincadeiras o machucavam, que Embry não estava naquelas condições porque queria, muito pelo contrário, ele desejava, dia após dia, encontrar sua outra metade, aquela que balançaria o seu mundo e ativaria nele a magia do imprinting. Mas ela nunca apareceu!

Embry respira profundamente, joga os braços para trás e depois para frente, tomando o impulso necessário e saltando do penhasco. Ah, como era maravilhosa aquela sensação, aquela adrenalina que se espalhava por seus músculos e espantava seus maus sentimentos, fazendo-o se sentir melhor. Será que o imprinting era algo parecido com aquilo?

A deliciosa sensação logo é substituída pela água fria do mar de La Push, que o puxava de volta a realidade, gelava seu coração e o fazia se sentir só novamente... Talvez não tivesse jeito afinal, talvez o beco sem saída daquela história toda fosse ele e não Leah, talvez ele que não fosse bom o bastante para nenhuma garota e não o contrário, talvez nunca tenha existido uma garota compatível com seus genes.

A falta de ar aperta os pulmões de Embry de repente, fazendo-o sair de seus devaneios e nadar em direção à superfície. Ele emerge das águas e ouve os suspiros aliviados de Jacob, que estranhara sua demora, mas ele o ignorou, não querendo dar atenção às conversas bobas de ninguém e tratando logo de nadar até a praia. Naquela manhã, ele realmente não estava num clima fraternal.

Na verdade, nenhum dia era bom para irmandade, aos olhos de Embry. O bando não o entendia, Jacob até tentava, mas já tinha seu imprinting e nunca saberia o que era sentir-se deixado para trás. Aliás, ser deixado para trás era um sentimento que o Call conhecia muito bem, já que fora largado para trás pelo pai - seja ele quem fosse, pois sempre sentiu raiva e nunca quis realmente conhecê-lo - e agora estava sendo deixado para trás pela vida, que passava rapidamente sem se importar com ele.

― Burro azarado - pragueja enquanto caminhava pela praia -, tem gente que nasce para se ferrar na vida e você é assim, idiota abandonado - retruca para si mesmo, chutando a água do mar que molhava seus pés.

A vida, às vezes, consegue ser injusta! Embry não era feio e ele tinha ciência disso, por onde andava atraia olhares para seu sorriso iluminado, sua pele morena e seu corpo moldado por seus genes lupinos. Muitas eram as garotas que o olhavam com cobiça e que se arriscavam para uma possível saída, mas ele não queria nenhuma delas, queria apenas a garota ideal. Será que era pedir demais pela pessoa certa? Não a mais bonita, nem a mais perfeita, somente a certa? Homens não podem dar-se o direito de desejar tal coisa?

O quileute caminha em silêncio por alguns minutos, em sua cabeça reinava o vazio, pois não tinha mais nada no que pensar. E quando caiu em si, já estava chegando ao canto da praia, no lugar onde os turistas e moradores de Forks encontravam acesso às águas do mar... A caminhada havia chegado ao fim, era hora de voltar!

― Que tal um passeio? - dizia um garoto a alguém sentado na areia.

― Não, obrigada, eu estou lendo - disse a pessoa de voz aguda, com certeza uma garota.

― Lendo? - Ri. - Na praia? O que é isso, princesa, é só um passeio...

― Desculpe, mas tenho que recusar. A princesa aqui está esperando pelo príncipe encantado!

O garoto pareceu inquieto depois de tal frase, tão inquieto que, por um instante, chamou a atenção do quileute que tentava ignorá-los. Ele nem sequer queria se meter, ouvia a conversa apenas porque sua audição era aguçada demais, mas o indivíduo parecia ter amigos e isso não era uma coisa muito boa.

Embry sente seu senso de justiça apitar dentro de sua cabeça como um alarme, qual parte de "não quero me envolver" aquela consciência burra não estava entendendo? Acho que tudo, pois ele mal conseguiu conter o próprio corpo, que deu meia volta e caminhou em direção ao grupo apressadamente.

A cena não era tão grave, mas também não era a coisa mais agradável e normal do mundo. O garoto tentava forçar um encontro, agarrando o rosto da menina e obrigando-a a olhá-lo, mas em reposta acabou ganhando uma cuspida na face... Ela realmente era corajosa!

― Ei, colegas - chama de maneira amigável -, deixem a princesa em paz, ok?

― E você, quem é? - retruca o estranho, soltando a menina para encará-lo.

― Sou o príncipe encantado - zomba.

Embry nunca tinha visto aquela garota na vida, mas ficou feliz em saber que o grupo pensou o contrário e se afastou sem grandes alardes. E quando estavam a uma distância segura, o quileute pôde olhar para a menina pela primeira vez.

Ela permanecia de cabeça baixa, com o corpo encolhido formando uma pequena corcunda e seus cabelos lisos e ruivos cobrindo-lhe a face. Será que estava machucada ou chorando? Tinha tanta água salgada naquele lugar que era impossível para ele saber se aquele cheiro vinha realmente dela.

― Você está bem? - pergunta preocupado.

― Estou ótima! - rebate ainda na defensiva.

― Calma, eu sou o mocinho, caso ainda não tenha percebido.

― Eu sei! Obrigada por me ajudar, eu estou bem, pode ir agora.

Suas frases eram rebatidas com tanta rapidez e astúcia, que Embry duvidou que ela estivesse realmente bem, e, somente para ter certeza, se aproximou. Ele se agacha bem à frente da garota que ainda evitava olhá-lo, e ousa erguer o rosto da ruiva com o indicador... E foi ai que tudo em sua vida perdeu o sentido!

Olhos de VidroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora