Parte X

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Parte X

Fui me refugiar no píer, uma vez que ficar perto da água era a única coisa que parecia fazer sentido, embora eu odiasse isso.

Chorei até sentir que estava ressecando, e, para minha surpresa, após algum tempo era como se realmente não fosse possível produzir mais lágrimas, então eu apenas fazia barulho e "secava" meus olhos secos pela força do hábito.

Até que senti pés caminhando nas tábuas de madeira e uma voz chamou meu nome. Virei a cabeça para trás e lá estava ele, correndo para mim. Loran... O belo marinheiro Loran.

– O que houve com você? Alguém a machucou? – perguntou todo preocupado, sentando-se ao meu lado. Senti um calor no coração por sua gentileza e pelo fato de estar ali e sua presença em si ser um alento. Mas era uma má hora. Eu não queria que me visse assim tão destruída.

Se bem que me achou afogada no mar. Eu não devia estar muito melhor na ocasião, pensei. Ele gostava de mim, simplesmente gostava de mim como eu era.

Seus braços passaram ao meu redor para me acolher, e me senti tão aconchegada naqueles braços que foi como se tivesse encontrado o caminho de casa depois de anos perdida. Era uma sensação tão boa e tão triste ao mesmo tempo... Porque eu não poderia tê-lo. Eu estava fadada ao mar.

 – Diga-me, Agnes, o que está perturbando você? Tem algo que eu possa fazer? – Ele ergueu meu rosto com as mãos firmes e calejadas. Olhei em seus olhos azuis. Seus cabelos loiros brilhavam como uma aura iluminada, e mesmo estando nublado naquela hora, até essa luz era demais para meus olhos frágeis. Pisquei várias vezes e abaixei o rosto. Não era justo.

Ou era?

Loran continuou passando as mãos nas laterais do meu rosto, tentando levantá-lo para ele. Estava pronto para me tomar nos braços se eu desmaiasse.

– Estou muito preocupado, Agnes... Diga alguma coisa.

– Eu... só... – e não consegui falar mais nada.

– Tudo bem, você pode me contar depois. Deite. Descanse um pouco. Vou estar aqui. – Ele fez sinal para suas pernas e eu deitei a cabeça ali. Ele acariciou meus cabelos, meu pescoço e minha face. Imediatamente relaxei. Esqueci até da possibilidade de ele descobrir minhas guelras. Elas não eram tão visíveis, de qualquer forma. Eu podia apenas ter um defeito de nascença...

Durante um bom tempo, contudo, não houve nenhum sobressalto. Eu apenas lhe parecia uma menina triste – aquela que ele queria ter bem ali em seu colo.

– Talvez você deva se afastar de mim, Loran – eu disse com a voz fraca depois de uma bela eternidade de silêncio. Abri os olhos com dor e mirei seu rosto. Ele pareceu confuso e desapontado.

– Por que eu deveria?

– Porque eu... – Engoli em seco. – Não sou adequada. Vou simplesmente... desaparecer um dia.

Ele ficou reflexivo por alguns instantes, então concluiu:

– Eu estou nessa para ficar, Agnes. Você é perfeita. Só vou deixá-la escapar se não houver nada que eu possa fazer.

Balancei a cabeça com desesperança.

– Eu não sou perfeita... essa é a última coisa que alguém deveria dizer sobre mim.

– Eu não quis dizer alguém que não tem defeitos. – Ele sorriu suave. – Você é simplesmente ideal... para mim.

– Você mal me conhece...

– E não estou disposto a perder a oportunidade de conhecê-la mais.

Abri a boca para responder, quando ouvi mais passos no píer, desta vez fortes e determinados. Loran virou o pescoço para trás e perguntou:

– Quem é ele?

Porém mal comecei a fazer esforço para me levantar e espiar, e o homem chegou. Quando percebi, ele tinha posto uma faca rente à garganta de Loran. Ofeguei de susto e pulei para longe, chegando quase na beira da plataforma. Segurei-me para não cair na água. Então olhei para cima e meu coração retumbou com desespero.

Aquele homem com a faca era Wes, o filho do barão.

Enquanto eu estava boquiaberta, Loran lutou com suas mãos para afastar as do atacante com a faca.

O que está fazendo, Wes?! – gritei, levando as mãos à boca, sem saber como agir.

Loran olhou incrédulo para mim.

Você o conhece?

Wes reagiu com mais violência e acabou tirando um pouco de sangue do pescoço de Loran.

– WES! PARE!

– QUEM É ESSE CRETINO?

– Ele é só um marinheiro! Um amigo meu! Por favor...

– Aaah um amigo seu? NINGUÉM ROUBA A MINHA MULHER!

Então franzi o rosto. Do que é que ele estava falando? A essa altura eu era mais mulher de Loran do que dele. Reuni coragem e me levantei.

– Isso não faz o menor sentido, Wes! Eu aceitei seu convite, mas você nunca apareceu no nosso encontro!

– Eu não vim porque meu pai está morto! Teve um ataque do coração ontem à noite, e você saberia disso se não estivesse isolada aqui com esse verme do mar! Saberia porque não se fala em outra coisa nessa cidade!

Senti como se tivesse levado um tapa na cara. Meu estômago revirou.

– Eu sinto muito, Wes... realmente sinto...

Wes, aparentemente, teve um momento de vacilo, e Loran se aproveitou disso para se livrar do aperto da faca e atacá-lo de volta. No segundo em que dei mais uma das minhas novas piscadas intensas, Loran e Wes já se atracavam em uma luta com direito a socos e empurrões.

– Não! Parem!

Tentei afastá-los, mas não me davam atenção. Não tinha ninguém por perto para me ajudar, nenhum barco.

Quando Wes achou que tinha a vantagem e deu as costas para o adversário, Loran correu e se jogou em cima dele. Os dois rolaram no chão da plataforma. Temi que caíssem no mar. Eu não poderia mergulhar atrás de ninguém.

– Por favor, parem! Agora!

Wes socou o nariz de Loran, que começou a sangrar. Loran deixou Wes sem ar com outro golpe. Então vi o filho do barão se arrastar para alcançar a faca caída.

– Loran, cuidado! – gritei.

Mas Loran não conseguia se levantar tão rapidamente, estava todo dolorido. Wes, os olhos faiscando de raiva e ciúmes, subiu em cima dele com a faca e mirou-a em seu peito.

 Continua...

Nota da Autora: Muito obrigada por ler, e não se esqueça de adicionar à sua biblioteca! Se gostou, não deixe de escrever um comentário e apertar a estrelinha no topo para dar suporte à história e sua autora. Sinta-se livre também para divulgar a seus amigos e especular...

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