Os pescadores

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Quando chegou perto do lago, viu que havia duas pessoas de chapéu sentadas em um banquinho à beira do lago, apoiados um no outro, como um casal. Primeiro, pensou serem os pescadores, mas ela nunca tinha visto eles se tratando com tanta intimidade e carinho. Além de que estavam muito quietos, sendo que aqueles dois senhores sempre apareciam cantando ou proclamando histórias dramáticas com uma voz muito alta. Se aproximou um pouco mais e viu que tinham ao lado uma rede de pesca vazia. Achou estranho, pois estava fazendo barulho ao se aproximar e o casal nem mesmo havia mexido a cabeça para ver quem era. Quando chegou mais perto os reconheceu: eram mesmo os pescadores.

Falou "Boa tarde!" mas eles não responderam. Que estranho, eles sempre respondiam. Foi aí que ela deu a volta e parou na frente deles. E levou um grande susto: eles estavam mais pálidos do que o normal, as bocas estavam abertas e havia uma espuma branca escorrendo em seus queixos. Pareciam... Cadáveres. Ela não queria acreditar no que estava vendo. Tentou mais algumas vezes fazer com que eles reagissem, mas não conseguiu sucesso. Então ela saiu correndo muito ligeira em direção à cidade. Parou na Vila das Andorinhas, que era a civilização mais próxima, e buscou alguém que pudesse ajudá-la. Começou a clamar que havia dois pescadores mortos à beira do lago. Ninguém deu bola, a fama de Ofélia não era muito boa – não se sabe exatamente por quê – e ninguém credibilizaria suas palavras sem provas concretas. Ela não conseguia acreditar que todas aquelas pessoas a estavam ignorando, será que elas não tinham o mínimo de curiosidade em saber o que tinha acontecido? Até que uma jovem adolescente se aproximou, com um semblante assustado.

– Você está falando sério? À beira do Lago dos Limoeiros?

–Sim! Dois senhores, que sempre vejo lá.

–Meu pai foi com meu tio para lá hoje de manhã e eles iam trazer um peixe para o almoço..., mas ainda não voltaram pra casa. Eles sempre vão às segundas. Mas... como vou saber que você não está mentindo? – a jovem parecia duvidar da honestidade de Ofélia.

– Querida... Meus pêsames, acredito que seu pai e tio estejam mortos. Você poderia avisar a alguém?

E então aquela adolescente percebeu que Ofélia estava realmente falando a verdade, afinal, por que mentiria? Mas ainda, assim, não iria entrar na floresta com aquela moça que mal conhecia. Resolveu então que iria chamar o seu irmão, e pediu que Ofélia esperasse, para que pudessem ir juntos até a beira do lago. E assim o fez.

Ofélia sentou-se no banco da praça, observando o movimento. Viu aquele velho mendigo na calçada, com um sorriso no rosto, brincando com um cachorro de rua. Olhou novamente para dentro da padaria: nada de Bento. E então escutou uma conversa de duas senhoras que a encararam enquanto transitavam por ali. "Deve ser verdade, uma hora aquela criatura voltaria de novo para atacar.", disse uma vistosa senhora grisalha que parecia ter cerca de 60 anos de idade. Ofélia rapidamente se virou e foi até ela.

– Com licença, me desculpe..., mas não pude deixar de ouvir a conversa. É real. Eles estão mortos, e havia uma espuma branca saindo de suas bocas...

– Então foi ela mesmo... Eles morreram por afogamento. É isso que significa a espuma branca. – disse a outra senhora, também grisalha, mas não tão elegante.

– Ela? Como assim?

As senhoras se entreolharam.

– Querida... Você não é daqui, não é mesmo? Se fosse, certamente teria ouvido falar dela. – disse a senhora mais vistosa.

Ofélia mal teve tempo de responder, e então aquela menina que estava esperando a segurou pelo braço. Ela virou, no susto, e viu seu irmão mais velho ao seu lado, com um semblante furioso. Sua irmã, enquanto isso, chorava desesperadamente. Quando olhou para trás de novo em busca daquelas duas senhoras, elas já haviam sumido.

OféliaOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz