Beth e Aurelio se levantaram e partiram rumo ao norte usando estradas vicinais para evitar contato com brancos.
- Au, tire as suas roupas de branco que eu te dei para vestir.
- Mas está muito frio.
- É melhor não chamarmos atenção. Uma branca e um escravo vestido com roupas de branco solto nos ermos não pode dar certo...
- Tudo bem. Eu tiro...
- Fique com as botas e as ceroulas... Vou ter que te prender nas algemas.
- Nem deveria ter me soltado. Sou um escravo. Não sou livre... Não quero me esquecer de quem eu sou.
- Eu não vou te soltar mais, se faz tanta questão de ficar preso, não vou te deixar esquecer.
- Nao faz assim. Não é isso. Aperta mais...
- Tudo para não esquecer e não chamar atenção...
- Sim, Beth.
- Pode me chamar de Senhorita Beth.
- Sim, Sinhá Beth.
- Esse é o mundo que vivemos, Au...
- O seu mundo é assim, não o meu.
- O seu mundo é esse agora. O seu está acabando, corrompido pela força da maldade dos brancos. Importa que fique preso e leve os fardos pesados daqui em diante. Será o nosso disfarce, mas sabemos que na verdade, não faz diferença para você.
- Não são fardos tão pesados assim. Posso aguentar. Aperte mais as faixas... Prenda o trenó. A viagem é longa. Estala o chicote. É assim que vocês fazem...
- Os fardos estão leves para sermos ligeiros. Espero voltar com muito ouro.
- Sim, Sinhá.
- Preciso te contar uma coisa sobre os outros escravos.
- O quê?
- Todos que são levados para as minas de sal são castrados ao chegar. Muitos vão morrer hoje... Você escapou de um destino cruel.
- Pobres garotos.
- Acho que teve sorte, afinal.
- Obrigado. Você me deu sorte.
- Só quero meu ouro.
- Só isso?
- Eu tenho dó de todos vocês. Mas sou só uma garota branca, órfã e preciso viver...
- Então vamos em frente. Estala o chicote e eu obedeço.
Caminhamos sem parar por dois dias até as árvores, mas elas não estavam mais lá... Os brancos puseram fogo em tudo. Queimaram a floresta. O fogo destruiu tudo e matou os animais. Só sobraram as pedras chamuscadas e o lago.
- Vamos Au, não pare. Não chore... Você encontrará outra floresta para se esconder.
- E o meu assentamento?
- Suponho que todos tenham sido levados.
- Eu quero ir até lá.
- Mas não pode. Eu não vou te deixar ir. Além disso, de que adiantaria sofrer? Ver um monte de corpos...
- Mas meus pais?
- Não há nada que possa fazer. Eles matam os velhos...
- Nina? Nina...
- Quem é a Nina?
- Ela foi a minha prometida, filha do xamã. Eu me uniria em casamento com ela. Mas me emboscaram, levaram e sodomizaram. Pela nossa lei eu não posso mais ter nada com ela. Mas quero saber se escapou, se está viva.
- Duvido. Ninguém escapa dos salteadores. Eles cercam os assentamentos e atacam à noite. Levam tudo, saqueiam, queimam, quem sobrevive, se torna escravo. Se tiver sorte, ela está acorrentada como você. Faça um favor a si mesmo. Não procure a morte, fuja, esquece a vingança, ignore a dor, vá para o nordeste. Encontre abrigo, desapareça e reze para não encontrar outros brancos.
Caminhamos mais três dias pelas cinzas até encontrar a primeira árvore viva. Era um pinheiro... Beth aliviou meus fardos. Bebemos água e nos preparamos para a noite que caía. Descansamos ao lado do fogo...
- Beth. Seus cabelos são de ouro?
- Não...
- Mas tem a mesma cor.
- Pode tocar neles. Você quer?
- Quero! Posso?
- Sim...
- Por que seus olhos são da cor do céu?
- Porque são azuis.
- Quem fez essa cicatriz no teu rosto.
- Foi meu pai.
- Ele fez isso?
- Ele me estuprava todas as noites. Ele fez isso quando eu o matei.
- Seu povo é sanguinário, depois nós somos selvagens.
- Fecha os teus olhos...
- É uma ordem?
- Sim, da sua Dona.
- Pronto... Hum... O que é isso? O que você fez.
- Não abre... Foi só um beijo.
- Beijo? Beijo é bom.
- Muito bom...
- Vocês não beijam?
- Não... Mas provamos... Certos lugares...
- Fecha os olhos...
- Hum... O mundo não é tão ruim... Eu provo o teu gosto e você prova o meu. Faz de novo?
- Sim...
- De novo...
- Hum...
- O mundo ficou melhor. Posso abrir os olhos?
- Pode... Está vendo esse céu?
- Sim. Está escuro...
- Cada estrela é um branco chegando nessas terras... Só vai piorar... Eles vão levar o ouro. As madeiras... A caça... Os peixes... Até às pedras... Tudo... Você precisa ir embora, sumir ou vai parar em uma gaiola ou em uma mina de sal.
- Não vamos falar nisso agora.
- Não... Claro que não.
- Me beija mais uma vez?
- Sim...
- O sol já vai nascer. Está vendo aquela montanha nevada?
- a mais alta?
- O rio corre naquele vale. Estamos perto.
- O rio?
- Sim... O rio das pedras... Fica para aquele lado. Basta subir até a sua nascente. Vai encontrar o ouro que tanto busca.
- Vamos... Vamos desmontar o acampamento. Vou botar os teus fardos. Falta pouco.
- As algemas...
- Não vamos precisar. Não quero que use mais. Além disso, não tem ninguém aqui para disfarçarmos.
- Eu não quero mais disfarçar. Quero ser teu escravo o resto da vida. Se sou teu não preciso mais fugir...
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+100 Nano Contos Eróticos e Fetichistas V. 2
Short StoryÉ isso mesmo! Duzentos capítulos foram pouco? Que tal mais algumas estorinhas? Vem comigo! Mas antes pergunte a sua Dona se você pode ler isso?