Ardente Perdição - Duologia V...

By AutoraLua_M

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Uma missão não finalizada. Uma traição dentro de uma salaz paixão. Dois marcos dentro da história de duas bom... More

Ardente Perdição
Guia de personagens
Book Trailer
Prólogo
INÍCIO DE POSTAGENS
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
× Recado ×
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV

Capítulo V

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By AutoraLua_M

▙▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▜

E vamos de mistério, não se esqueçam dos comentários e votos!

Boa leitura!

▙▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▚▜

Ethan Blake

O gosto amargo das misturas de tabaco com variadas bebidas das mais altas porcentagens de álcool unido ao meu equilíbrio questionável e sentidos precários, anunciavam que a embriaguez tomava conta de cada canto de meu corpo e mente. O efeito perfeito para adormecer as emoções causadas pela conversa com Roxie e as memórias desta, de suas palavras ou de recordações ainda mais antigas.

Mais dois copos virados e mais fundo estava o que desejava enterrar, eu mal conseguia ter noção ao certo do que seria, apenas seguia meu instinto de sobrevivência e sanidade. Era melhor que me afogar em dores que pareciam me consumir mais que qualquer outro sentimento como a raiva por incontáveis coisas, e logo me encontrar desejando algo impossível para acalentar ambas das extremidades.

Mal conseguia pronunciar algo coerente ou longas frases para as duas mulheres que me cercavam e jogavam seu encanto voluptuoso, uma loira baixa apoiada sobre o balcão e uma morena alta agarrada em meu pescoço. Coisas que eu conseguiria dar atenção há meses, mesmo que o álcool ocupasse o lugar do meu sangue.

Mas não era bem assim, não agora, mal conseguia manter o pensamento focado em algo além das repetidas doses de álcool para perder total atenção de minha mente e inúmeras tragadas na esperança de deter segundos de relaxamento. Nenhuma preocupação com as mãos tentando me provocar ou com o ruído no interior da boate, que parecia exageradamente distante e ainda assim fazia efeitos ao vibrar em meu crânio, transformando cada uma das mulheres em três.

A única consciência que detinha era que as duas mulheres pareciam determinadas em investir em mim, apesar de meu estado, e não espantavam uma à outra ou competiam, apenas ignorava a presença ou sorriam uma para a outra. Ambas pareciam o convite ao paraíso, a loira com o olhar doce e sorriso sujo, com pequenas medidas; a morena de curvas marcadas, olhar penetrante e lábios grossos brilhantes.

— O que acha de sairmos daqui? — A morena sugeriu baixo contra meu pescoço.

Não respondi verbalmente, apenas voltei o rosto para o seu e em seguida passeei o olhar por seu corpo, em circunstâncias comuns seria minha válvula de escape para problemas mínimos, sexo e bebida, porém não me parecia uma ideia deleitosa, meu cérebro e corpo estavam sendo massacrados pelo efeito do álcool, pressão e pensamentos confusos pelo álcool e instintos mínimos que deveria manter mesmo alterado.

Meu subconsciente realmente desejava ao máximo trazer de volta o Ethan de meses atrás como uma forma de realmente descontar os problemas em algo que não fosse álcool, cigarro e punhos contra paredes ou sacos de areia, assim esquecendo-me ao adentrar o prazer da vida. Contudo nada daquilo me atraía, o corpo de outras, os toques e os prós que poderia ter, e meu interior ainda era massacrado pelas malditas questões.

— Meu apartamento não é tão longe e não vejo problema em fazer uma festa com nossa companheira — afirmou chamando a loira com a mão antes de passear por meu tronco.

— Não vejo qualquer problema em dividir também — concluiu a loira ao tomar a bebida de minha mão e virar. — Demoramos muito por aqui.

— Temos coisa mais interessantes por lá, Blake e não temos a noite toda para nossos planos.

Ao invés de me manter almejando que retomasse os costumes antigos ou filtrar a frase como um convite devasso para uma noite regada de prazeres, minha mente mudou completamente o foco para uma larga desconfiança, que se alastrou assim que os lábios brilhantes roçaram os meus e os olhos brilhantes encontraram os meus.

Eu já havia esquadrinhado este rosto em algum momento, ou eu estava completamente paranoico.

— Já acabou a hora da brincadeira, crianças — anunciou uma voz conhecida e poderosa o suficiente para fazer meu sangue congelar e a mulher se afastar.

Diferente de qualquer reação que cogitava ter, meu corpo paralisou ponto a ponto, meu coração parecia a mil como se tivessem injetado diretamente altas doses de noradrenalina, a visão não era mais dupla e sim perfeita sobre seu contorno, contudo nada poderia escutar ou perceber além dela.

Meu mundo havia parado para ela mais uma vez como quando nos conhecemos, não como um sonho lúcido ou ilusão, como eu desejava me convencer, era tão real que ambas das mulheres se voltaram ao chamado e tom francês ácido.

Não sabia dizer se o álcool em minhas veias poderia ser suficiente para me fazer delirar desta forma, ou se não era para afastar alucinações que tanto desejava ao perceber seus resquícios, mas ela estava prostrada em minha frente de braços cruzados, com o queixo alto direcionado a mim com ar imperiosos, os lábios rubros em uma linha tênue de repreensão, e mesmo que não pudesse ver seus olhos por debaixo dos óculos escuros, desnecessários, sabia que seu olhar era afiado.

— Você... não é... você — Minhas palavras pareciam atropeladas demais para mim mesmo.

— Sim, sou eu, caso você não esteja cego ou bêbado o suficiente.

— Não pode ser... — Me soltei das duas mulheres e me projetei na direção de minha aparente ilusão.

— No jogo que estamos, pouca coisa é impossível — replicou e voltou-se a loira. — Eu assumo por aqui, creio que tenha um número consideravelmente alto de homens disponíveis, este é problema demais para qualquer um, inclusive problemas de ereção — declarou acenando para que saísse.

Poderia me voltar a ela e praguejar contra suas palavras venenosas que mandaram a loira embora, entretanto as palavras desapareceram, enquanto tentava tomar o mínimo de lucidez quanto a situação e as emoções que deveria ter com sua presença.

Contudo assim que meus olhos pairaram sobre seu pulso, meu coração novamente deu um pulo contra meus pulmões, que apertaram pela rápida falta de ar. Poderia ver minimamente o fio vermelho enfeitando seu pulso, o exato par do que estava preso ao meu. O presente de Agatha.

— Agente Rech, se ousar encostar um dedo nele, sua morte será mais rápida e executada por mim, então aproveite os três segundos que lhe dou para sair e creio que não queira me desafiar — prenunciou para a mulher que sobrou, esta antes tinha os olhos vidrados e a postura forte, mas logo desfez e procurou o caminho para sair. — Quanto a você, vamos. — Apontou para mim.

— Não — neguei segurando o pulso da morena que saía.

— Blake, não coloque a teimosia acima da razão, você mesmo sabe que tem algo errado.

— Ela não tem nada conosco, portanto ela ficará. Está irritada por...

— Felicity Rech, agente da Mullet, mandada para lhe matar — refutou enfadonha ao girar bruscamente o corpo de seu alvo.

Com um mísero movimento mostrou a marca nas costas da mulher, a exata marca dos baixos níveis dos agentes da Mullet, uma das agências que desejava minha cabeça exposta como prêmio, graças as incitações de Oliver.

Um mísero olhar rápido e irritado foi direcionado a mim ao ser descoberta, antes que pudesse ter qualquer reação rápida e equilibrada, Felicity se esquivou de nós e adentrou a multidão da boate. Não pude segui-la, um forte aperto seguido de um puxão me fez desestabilizar e retornar, era um homem alto que aparentemente servia a baixa mulher de sotaque francês.

— Deixe a ir, não passa de mais uma carcaça morta em minha lista — aconselhou indiferente. — Morrerá antes mesmo que cheguemos em casa.

— Você reaparece e quer tomar partido sobre minhas decisões?

— Não deveria se surpreender se o faço indireta e normalmente.

— Eu consigo...

— Não, você não consegue e não pode tomar qualquer decisão agora, não pode cuidar de si mesmo ou tirar o traseiro da linha de tiro — ditou se aproximando lentamente, o que fez meu ar novamente ficar rarefeito pelas emoções que me tomavam, porém não para me confrontar e sim para pagar a conta no bar atrás de mim.

— Creio que não tenhamos tempo para conversas por aqui — censurou um outro homem que se aproximou.

— Será que podemos ir ou ainda não está claro que sua vida está em jogo essa noite? — indagou se voltando a mim e ignorando o chamado, chegando a baixar os óculos. — Ou, como terceira opção, ainda tenho efeitos nocivos sobre você?

Como uma droga em meu sistema nervoso, ou como uma arma mortal para mim, ela ainda detinha efeitos que eu era incapaz de controlar, agora pareciam ainda mais vivos e infestos para meu organismo suportar, uma verdade quase intragável a vislumbrar ali e não conseguir manter os sentimentos sob controle, como deveriam ser.

Era como estar vulnerável a uma cobra peçonhenta que transformava meu cérebro em um parque de diversões completamente deturpado, não sabia se deveria a esganar e atear fogo, ou a tomar para perto como minhas mãos ansiavam mais que qualquer coisa no mundo.

— Vamos sair daqui logo.

Ao perceber que não teria resposta, tomou minha mão e puxou violentamente meu corpo pela sua impaciência, não era como se isso pudesse me mover se meu corpo não estivesse extremamente cansado. Seguimos pelas pessoas e alas da boate, que eu nem sequer sabia onde era localizada, até um corredor distante que parecia estar caindo aos pedaços e deveria estar vazio se não fosse pelo grande imprevisto da noite.

Felicity estava fazendo uma ponte de comunicação e localização, não teve tempo de perceber nossa presença por conta da música alta, que agora me deixava tonto por parecer mover meu cérebro dentro da caixa craniana, assim como ninguém perceberia o tiro ressoado no local.

Mais uma vez fui puxado, sentindo meu corpo cambalear na metade do caminho, nos fazendo parar desajeitadamente assim que meu peso caiu sobre o pequeno corpo em minha frente. Agora sim o álcool estava fazendo efeito, no momento errado para minhas emoções, atos e respostas orgânicas.

— Respire — ordenou ao me apoiar na parede. — Se for vomitar, se apoie em mim, mas procure respirar — instruiu mais uma vez como uma ordem incontestável. — Colocaram algo na sua bebida, mas por sorte foi uma dose quase inofensiva e você não bebeu o suficiente, ainda assim não garanto que não terá efeitos.

Aos poucos conseguia e fato sentir o ar frio adentrar meus pulmões e fazer algum efeito para minha lucidez e enjoo que me abatera, enfim pude firmar meus pés no chão e as costas no concreto, para então abrir os olhos e ter certeza de que era apenas um delírio o que acabou de ocorrer.

Não era apenas um delírio, todas emoções que tentei apagar com o álcool vieram à tona, e isso me paralisou por completo me obrigando a analisar cada mínimo detalhe da mulher prostrada em minha frente, que ao mesmo tempo que mantinha a atenção em mim, murmurava algo ao que me pareceu ser um comunicador. Poderia ser apenas mais uma visão normal, entretanto não era, eu tinha plena certeza sobre isso.

Eu conhecia bem um resquício daquele olhar frio que enfeitava as íris negras, ainda assim existia algo diferente, não era um olho a mais ou a menos, e sim a ausência da expressão de cuidado que sempre carregava, mesmo que poucos fossem capazes de enxergar.

Mais uma vez pisquei e a imagem se manteve em minha frente, porém foi acompanhada da chegada de faróis altos e extremos diretos em meus olhos, fazendo minha cabeça latejar mil vezes e meus sentidos ficarem confusos o suficiente para que novamente ela precisasse me apoiar na parede.

— Agora, entre no carro.

— Eu não vou, você não pode ser real — aclarei com afinco.

— Você achar que sou ou não real, não muda o fato de que você precisa entrar no carro.

— Você me deixou por meses depois de mentir para mim, me enlouqueceu e quebrou, ainda se acha no direito de ordenar o que faço? — disparei me movendo com dificuldade em sua direção, desejava que a raiva me consumisse para ditar essas palavras, mas era impossível. — Agiu como uma vadia narcisista em todos os níveis.— Era uma grande mentira que eu me agarrava.

Me mantive parado em sua frente como um desafio, parte de mim preferia acreditar que ela não faria aquilo, não depois de tudo o que arriscou e o que escreveu, mesmo que não transparecesse deter valor agora.

Contudo uma terceira presença tomou nossa atenção, assim que vi sua postura derreter minimamente, uma figura alta e forte que pouco conseguia enxergar pela luz ofuscante do farol. Quem me pareceu ser um homem, abaixou para falar algo em seu ouvido, próximo demais para fazer inúmeras inseguranças se formarem e chamas preencherem meu peito.

Ela retornou a me fitar parecendo filtrar a conversa, que não fora tão amigável. Pareciam intermináveis segundos comparada a pressa que detinha há pouco tempo, porém pude vislumbrar seu olhar vacilar por instantes ao preceder um lânguido suspiro, como a guerra interna que eu também travava, parecia ser demais para ela como para mim.

Mon coeur — chamou dando um passo receoso em minha direção.

Nesse instante toda minha armadura se desfez e o propósito da noite se mostrou, meu desejo não era esquecer a discussão de Roxie e as emoções trazidas, ou apagar os pequenos incêndios de raiva do acontecido há meses, era aliviar os resquícios de dor que sua falta fazia e quem sabe tê-la perto com alguma sorte.

Apesar de ainda deter uma quantidade razoável de raiva que ainda restava de várias formas, tudo o que desejava era vê-la mais uma vez, para acalentar de alguma forma o vazio que me afundava e não deixaria chance alguma escapar.

— Preciso levá-lo para casa, tem pessoas atrás de você e não posso deixar que algo o aconteça. — Seus olhos por debaixo dos longos cílios finalmente carregava algo, estavam sutis. — Mesmo que esteja irritado por todos os motivos possíveis, não é hora para...

— E você?

A pergunta pareceu pegá-la de surpresa, assim como o passo que dei em sua direção, não foi apenas ela quem foi surpreendida, eu também não esperava o ato repentino e involuntário que meu corpo teve, quase como ímã para o seu.

— Entre no carro.

— Irei onde você for, não me importa onde, me deve isso — declarei com afinco.

— Não me recordava que era tão teimoso quando bebia.

— Rosalie.


(...)


Além de ter todos meus sentidos completamente deturpados pela viagem conturbada e turbulenta com Aubry, que fez o efeito do álcool triplicar com o enjoo e a tontura, precisei cruzar a casa inteira com a preguiça tomando conta de cada músculo. No entanto, mesmo com a visão embaçada e sem equilíbrio suficiente, consegui chegar ao quarto após um longo apagão, graças ao pequeno corpo que me arrastava com dificuldade e praguejava-me por vezes.

Após três longos apagões pude tomar nota mental de que estava a salvo, esparramado em minha cama vislumbrando o teto que parecia se mover em direções aleatórias como tinta espalhando-se por uma das telas de Lauren.

Ao deter consciência percebi que uma questão me rondava ao não captar nenhum som no quarto, meu peito apertou com a ideia de estar sozinho, como se já sentisse sua falta ou como se tudo não tivesse passado de um delírio, uma tortura excruciante demais para quem sentia além da raiva.

— E agora? Você vai... embora de novo? — inquiri amargo.

Sóbrio eu poderia negar ao mundo que o que mais me doía era a sua falta, porém não a mim mesmo e não esperaria que ao estar alterado e a encontrar, tudo viria à tona, e seria muito além de qualquer furor.

Todavia o aperto se desfez assim que algo caiu ao meu lado na cama, aparentemente roupas deixadas pela francesa que me levantava custosamente, mesmo que tentasse mostrar o contrário e eu não colaborasse muito, de propósito.

— Preciso ressaltar o quão está péssimo?

— Rosalie.

— Prometi que não o deixaria nessa situação.

— Assim como prometeu que não iria tomar aquela decisão — repliquei sentindo as palavras como pedras em minha garganta.

— Eu estou aqui, Ethan, apesar de tudo, apenas isso deveria importar agora — assegurou com um longo suspiro.

De fato apenas isso importava, nenhuma das frases prontas que armazenei para quando a encontrasse parecia fazer sentido, talvez pela bebedeira, então me restou um longo silêncio, porque de fato era melhor apreciá-la ali ao momento.

— Agora levante os braços, precisa tirar a roupa para tomar banho, espero que melhore com isso ou será uma longa noite.

Após alguns instantes acumulando coragem me sentei e dei de cara com a mulher de pele desnuda em minha frente, apenas coberta por suas tatuagens e algumas cicatrizes novas, poderiam ser mínimas, mas eu as procurei assim que bati os olhos em seu corpo, era minha maior preocupação.

Eram as marcas dos dias com Oliver.

Tentei alcançar a mais visível desenhada em seu quadril, apesar de pequena, contudo ela desviou e voltou sua atenção a despir-me. Não forcei-a, a ajudei com certa dificuldade e deixei a pergunta mais idiota escapar.

— Você vem comigo?

— Parece que tirei a roupa por diversão? — retrucou com seu humor ácido.

Seguimos ao banheiro, onde toda a coragem que reuni se desfez quando a água fria bateu contra minhas costas e me tirou o ar, então como um ímpeto para não me deixar desequilibrar Rosalie me segurou e fitou com o olhar minucioso.

Parecia cuidar de uma criança, cuidadosa e atentamente espalhava a espuma com a água gelada por meu tronco, sempre checando meu estado. Depois de conseguir algum equilíbrio a puxei para se aproximar de mim, precisava disso.

— Quer que mude a temperatura? — sugeri ao perceber seu corpo estremecer.

— Não é como se eu nunca tivesse tomado banho frio, Moranguinho — garantiu entrecortado com um meio sorriso capaz de acalmar um pouco o furacão em minha mente.

Sua concentração ao cuidar da espuma por meu corpo parecia única, ignorando meu toque em suas costas e cintura, onde podia sentir alguns resquícios das marcas deixadas e recobrar de algo que desejava apagar.

— A última vez que a vi, estava sendo torturada por uma mulher — admiti baixo a apertando contra meu corpo. — Foi como um pesadelo.

— Você viu? — perguntou levantando o rosto para me encarar.

Parecia me analisar minuciosamente atrás de qualquer traço que denunciasse alguma mentira, mas era a maldita verdade, algo que me atormentava durante longas noites e por vezes os pensamentos ao me perder. Mais uma vez percebi o vazio em seu olhar, talvez apenas uma peça de minha cabeça, ou resultado do tempo que passou nas mãos de Oliver.

Aquilo me fazia desejar proteger uma das mulheres mais fortes que conhecia e a última que um dia pensaria em cogitar, parecia quase uma blasfêmia, porém como não poderia o fazer no momento, apenas me restou apreciar seus traços finalmente próximos aos meus.

Tão próximos e detalhados que pareciam apenas uma bela miragem em meus braços, uma imensa tentação de meu corpo e alma, que não fui capaz de resistir ao nos aproximar vagarosamente.

— Não agora — negou ao virar o rosto e permitir que tocasse apenas sua bochecha.

Assenti e a beijei mais uma vez, desta em sua têmpora e a apertei um pouco mais ao meu corpo. Não desejava acabar com aquele momento, parte de mim acreditava que na manhã seguinte, ela já não estaria aqui.

Ao fim do banho conseguia me orientar sozinho, ao menos as coisas não estavam tão turvas ou o chão tão distante, e meu cérebro conseguia trabalhar minimamente com sensatez, ainda que meu corpo clamasse por minha cama e meus olhos por fechar, tinha noção que não poderia a deixar ir, não agora.

Assim que vesti a única peça necessária, me voltei em direção a Rosalie, que estava terminando de vestir seu sutiã defronte ao espelho, como fazia por vezes na manhã seguinte à noite dormia comigo. Enfim podia vislumbrar seu corpo desenhado que era coberto com pequenos pedaços pretos de tecido, uma visão que desejava há tempos, independente da situação.

— Preto fica muito bem em você, mas ficaria muito melhor sem, já disse isso? — questionei tomando sua cintura com as mãos.

— Já disse que você não vale um centavo?

Sorrimos minimamente um para o outro, ignorando rapidamente a tensão que tomava o quarto, mas não por tempo suficiente a pergunta que ressoava em minha cabeça com o mínimo de esperança.

— Você ficará ou precisarei beber de novo para lhe ver?

— Não foi por beber — concluiu me olhando por cima do ombro. — Devo proteger você para que não seja tudo em vão.

Nunca pensei que sentiria tanta falta de uma imagem, quanto quando nos observei no reflexo, o que parecia apagar todas as chamas de raiva para que apreciasse apenas este momento.

— Eu estava louco atrás de você.

Não houve resposta, seu semblante se manteve vazio e o olhar distante, havia algo de errado com sua presença e sua mente, mas não era a hora certa para isso, mesmo que a ignorância por respostas ansiasse.

— Eu ficarei, Ethan — afirmou virando-se para mim, sua voz estava um pouco mais rouca que o normal como se tivesse feito largo esforço por um grande tempo. — Mas você precisa descansar.

— Mas vai ser como da última vez, me dopará e...

— Você foi dopado com ajuda do álcool, se lhe conforta, não posso fazer mais que isso — asseverou indiferente.

Seguimos para a cama, deixei que deitasse primeiro entre as cobertas e em seguida o fiz com a cabeça em sua barriga e os braços em volta de seu corpo, como uma forma de não deixá-la partir.

— Não é porque meu dever é cuidar de você, que deve se aproveitar e se colocar na forca — declarou antes de se ajeitar em meu aperto. — Isso não nos trará resoluções.

O silêncio enfim pairou entre nós, apenas conseguia escutar seus batimentos fracos e apreciar o carinho que fazia em meu cabelo, enquanto a fitava gravando cada parte dela. O cabelo preso em um coque com míseros fios soltos no rosto, seus traços eram os mesmos, talvez marcados pelo cansaço, seus lábios rosados em uma linha tênue e os olhos de joias pretas oscilando entre vazio e nublado.

A visão que tanto sentia falta e o toque que tanto ansiava, pareciam de alguma forma diminuir o abismo em meu peito e ignorar a ideia de atear fogo contra ela por todo estresse que me fizera passar, mesmo sendo uma ideia viável por vezes.

— O que há de errado? — Eu quem deveria perguntar isso.

— Matá-la, às vezes, parece uma opção viável — admiti arrancando um esboço de sorrio e risada forçada. — Mas agora não posso, meu coração foi tomado pelo álcool.

— Queria que ficasse para me matar?

— Teria o feito antes.

Mais uma vez ficamos em silêncio, a verdade é que não queria que ficasse para matá-la, apenas para tê-la mais uma vez, mesmo que fosse a única em muito tempo, somente para ignorar a bagunça. Então me deixei levar pelo afago em minha cabeça e sua respiração calma, finalmente uma noite que não seria turbulenta.

Ao menos até um som alto ressoar e fazer minha cabeça latejar, era um som tão irritante que cogitei a ideia de quebrar o aparelho, que sequer sabia onde estava ou o que era.

— Meu comunicador — Rosalie anunciou se movendo rapidamente para sair. — Preciso atender.

— Não — pedi segurando seu pulso para não se afastar pela cama.

— Eu preciso atender Ethan...

— Não — repeti a puxando para mim, quebrando o espaço largo que deixei entre nós durante todo esse tempo.

— Pode ser sobre você ou...

— Eu estou aqui — assegurei nos aproximando mais e fitando seus olhos.

— Blake.

— Então irá me deixar e não voltará — murmurei ignorando o orgulho de parecer de aço.

Após minha confissão, pude ver suas barreiras serem baixadas e seu olhar ceder, assim como sua postura forte e imponente que havia vestido como uma armadura, ignorando totalmente o chamado de seu comunicador e aceitando meu pedido.

— Eu te odeio, Blake, e odeio seu efeito.

— Então é recíproco.

Não houve qualquer segundo a mais, uniu nossos lábios em um beijo calmo, doce e carregado de saudade, tudo o que me abalava foi deixado naquele beijo que tanto sentia falta. Seus lábios macios, minhas mãos em sua cintura e as suas em minha nuca, na temperatura perfeita para imaginar que era minha e estava de volta para mim.

Um simples beijo me fez sentir o coração esquentar e pulsar forte contra meu tórax, como das últimas vezes que nos tocamos, como apenas com ela acontecia e eu agradecia por isso, me sentir vivo e inteiro por instantes.

Ao nos separarmos percebi o olhar sutil que carregava por debaixo dos cílios, algo estava completamente errado com Rosalie, e eu entendia o motivo, isso me quebrava mais uma vez.

— Irei desligar apenas.

Assim o fez, desligou e voltou para a cama, então retornamos à posição que estávamos e me entreguei mais uma vez às suas carícias, com o desejo que acordasse ainda com elas ou pudesse prová-las sem demoras, mais uma vez. Ao menos meu peito estava quente e o vazio minimamente preenchido com as emoções que sua presença e pequenos toques traziam.

Mínimas coisas de Rosalie eram suficientes no momento.

"O que eu fiz com você?" foi a última coisa que escutei em sua voz antes de cair na escuridão após ter me quebrado por completo pela última vez na noite, e por fim sentindo sua mão afagar meu rosto por onde uma lágrima desceu.


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Dia de postagem: Domingo

Lua

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