Uma questão de Confiança

By lilithemaid

114 4 12

Foi nos prometido dragões pelos nossos antepassados mas quando eles chegaram, e como a humanidade não tinha c... More

Água
Terra
Fogo

Ar

64 1 1
By lilithemaid

        “O Herói não nasce, cria-se.

        O Ódio não existe, faz-se.

        Nem todos os heróis são aqueles que levantam montanhas ou que salvam cidades ou até derrotam hidras. Muitas vezes são aqueles que nascem e não param de existir. Nunca desistem mesmo quando têm tudo e todos contra eles. Não desistem até terem cumprido os seus objetivos.

        A existência destes heróis está presa por um fio mais fino do que aqueles que se encontram nas telas das três horaculos. Normalmente, tais fios nem se vêm, porque só com grande honra e bom coração, tal estatuto é conquistado.

        Mas eis então que os heróis simplesmente não podem mais lutar, pois nunca deixam de ter corpo humano, e com a estocada do inimigo… o fio quebra-se.”

Isto foi escrito pelo meu avô, Gustav Pilarian, antigo governador de Kleignight até que a febre de Abril o levou. Foi pai de Lisandra Pilarian, minha mãe, e Tresten Pilarian, meu tio. Este aqui, com os olhos castanhos espetados no livro, com roupa e mantos pretos e prateados sou eu, Corian Bergarian, filho de Aidel Bergarian, recém falecido rei dos quatro reinos. Sim o meu nome é mesmo sinonimo de “acordo amigável de pedra”. Foi isso que levou os meus pais a casarem. A família Bergarian não tinha desposado nenhum Pilarian á varias gerações e esse dever recaiu nos ombros do meu pai, a minha mãe acatou as ordens do meu avô e casaram-se. Tiveram-me a mim e á minha irmã, Nokata Bergarian, “escudo de pedra”, como descendência. Vivemos todos aqui em cima, Dronórius, a montanha mais alta da cordoaria que se encontra no centro dos quatro reinos. 

Ao contrario dos outros três reinos, Dronórius não tem povo, e tudo vem literalmente da pedra, até a família real! As mesas e as cadeiras foram esculpidas pedra e todos o castelo é esculpido na montanha. As únicas coisas daqui que não são de pedra são as pessoas, a comida, a bebida e as camas. O ar aqui em cima é rarefeito, frio e húmido e os Invernos são gelados.

Enquanto guardava os livros que tinha lido nessa manhã na estante, senti dois bracinhos a agarrarem-me na cintura.

- Viri derite hidre! (Temos de nos esconder!) - disse a Nokata em Niltária, idioma antigo da povoação de Dronórius. 

- E porque?

- Lie… lie derate galati (Eu...eu detesto o vestido) - disse ela enquanto escondia a cara dela na minha capa

- Meu pequeno cristal - virei-me e ajoelhei-me para olhar-lhe nos olhos - nós já falamos sobre isto…por agora tens de falar na Língua Comum, está bem?

- Mas nós ainda estamos em Dronórius, maninho… por isso não faz mal…

- Eu sei minha princesa, mas tem de ser… fazes isso por mim?

Ela olhou para mim e, fazendo beicinho, largou-me - sim maninho…

- Linda. Agora vai-te vestir…

- O vestido é feio! Não gosto de preto. Eu quero vestir o vestido azul de veludo que tu gostas! Aquele que tem o cinto castanho e as mangas grandes!

- Eu sei que tu não queres do vestido preto… mas tens de o usar… quando voltarmos eu prometo que leio-te o livro que tu quiseres, pode ser? - os olhinhos azuis claros dela brilharam e ela abanou rapidamente a cabeça - não abanes muito a cabeça, senão ela sai-te do pescoço. Ninguém quer uma princesa sem cabeça.

- Não! Senão depois não me lês a minha história! Eu quero que tu me leias…A lenda dos Antigos! Lês maninho?

- Sim, eu leio. Agora, vai-te vestir. Shu! Shu! - empurro-a ligeiramente em direção à porta e ela desata a corre. Mesmo depois da morte do nosso pai ela continua cheia de vida, a minha pequena heroína, o meu querido cristal. 

Eu herdei a pele morena da minha mãe (um tom mais pálido) e os cabelos e olhos castanhos dos Pilarian, enquanto que a Nokata tem a pele clara e o os olhos azuis como gelo. Os traços dos Bergarian intactos… os traços da realeza intactos…

Continuo a arrumar os livros e fico a olhar para o ultimo da pilha. A capa é de um castanho amarelado que já viu muitos anos, nela encontram-se uma montanha cinzenta e mais quatro dragões. 

Desde o sopé até meio da montanha encontravam-se três dragões de perfil olhando para cima e outro no topo da grande montanha. Um dos dragões era azul como o céu, com o mar atrás dele, sem asas, mas aparentando ser esguio com uma cobra. O outro era verde, com vestígios de castanho nas asas e na barriga, com uma floresta a seus pés. O da direita era vermelho como o fogo, este tendo duas cabeças: uma delas parecia ter uma expressão confiante e provocante, enquanto que a outra tinha uma expressão um pouco tímida e submissa, enquanto um monte escuro deitando fumo e lava atrás do dragão. O último, que se encontrava no topo da montanha, com a cauda enrolada no topo da mesma, era de um tom de prata, quase branco com quatro asas e com metade do tamanho dos outros dragões.

A lenda dos Antigos… sempre que a Nokata chorava em bebé  ou quando está triste esta história sempre a acalmou… sempre que os olhos azuis se enchem de lágrimas começo a falar dos dragões e o efeito é quase imediato. Se eu pudesse a trancar numa história seria essa.

- Eu adoro dragões! Quem me dera ter um. Voávamos para todo o lado e tinhas sempre muitas aventuras! - sorriu ao recordar quando eu acabo de ler a história e ela sempre diz isto… é pena isto tudo não ser como a lenda e o nosso pai não puder viver durante mil anos…

Não posso pensar nisto agora… tenho de me concentrar no meu dever e ele é proteger a Nokata e a nossa mãe. Eu ainda não tenho provas… mas algo me diz que a morte do meu pai não foi um caso de doença… o meu pai sempre foi um homem forte que raramente ficava doente. A minha mãe continua a dizer que foram todas aquelas noites a trabalhar no escritório dele, até madrugada, mas eu tenho sérias dúvidas… alguém envenenou o meu pai e eu vou descobrir quem foi… se alguém vem atrás da Nokata vão ter de passar por mim!

- Corian? Se não nos apressamos chegaremos atrasados ao funeral.

- Eu já vou mãe… - guardo o livro na estante e olho para a minha mãe…o preto faz com que ela pareça mais velha… mais miserável… o amarelo e o vermelho ficam-lhe muito melhor…

- Pensava que já estavas lá fora, meu filho.

- Peço desculpa, distraí-me com os livros. 

Quando saímos do castelo dirigimo-nos para o elevador, que se encontrava na lateral da montanha, a minha irmã já estava lá dentro com os guardas e com os pequenos ombros dela a tremer… 

- Corian… ein kurken… kurata (Corian...o meu coração... doi)

- Ja… lie rekon… (Sim...eu sei) mas agora tens mesmo de falar na Língua Comum está bem? - ainda a soluçar, ela acena com a cabeça, limpando as lágrimas ás mangas do vestido.

As Línguas do Reino, como Niltária, devia ser só falada em cerimónias como casamentos ou enterros, mas eu e a Nokata dominamo-la tão bem quanto a Língua Comum e usamo-la quando queremos contar segredos um ao outro. A maior parte das pessoas só quer saber as coisas que se deve dizer nas cerimónias, por isso é como se fosse o nosso código secreto. No entanto, quando os quatro reinos estão reunidos, é mais educado falar na Língua Comum já que é a que todos dominam.

- Maninho? - chama-me a Nokata quando já íamos a meio da descida no elevador - o que é que se faz num funeral?

- Bem… o pai era um Bergarian, por isso vão faze-lo parte da montanha.

- Como é que se faz isso?

- Tu devias saber isto. Acho que a tua mentora já te ensinou as cerimonias de cada reino.

- É que… - sussurra ela corada - nesse dia tinhas prometido brincar comigo que eu não prestei muita atenção…

- Se soubesse que ias fazer isso não te tinha prometido!

- Corian, ela ainda é uma criança. Não devias ser tão duro com ela. Tu nem querias estudar as devidas coisas com a idade dela. - diz a nossa mãe, tentando proteger a nossa pequena.

- Eu não quero ser duro com ela, só quero que ela aprenda o que se espera dela - olha para ela de lado - e esperasse que ela saiba que na cerimonia de enterro dos Bergarian é feito um buraco com a lava do vulcão de Kleignight, que depois é arrefecida com a água do mar de Nynphakall, onde é colocado o rei num caixão feito da madeira da floresta sagrada de Navíria.

- Mas porque maninho?

- Para simbolizar a união dos quatro reinos no seu rei. A pedra, a água, a terra e o fogo. Cada um simboliza uma nação. E todas estão ligadas pelo seu rei.

- E… tu tens a certeza de que o papá…

- Sim. O Mestre Curandeiro tem a certeza de que o pai está morto. Sabes porque é que ele é o Mestre Curandeiro?

- Porque é o mais experiente?

- Isso mesmo. Eu acho que uma pessoa experiente sabe a diferença entre alguém que está morto e alguém que está só a dormir, não achas?

- Corian! - disse a nossa mãe - Chega desta conversa disparatada. Estamos a chegar.

A minha mãe tem razão… estamos a chegar ao sopé da montanha e não é altura de estar a discutir… temos de parecer a família perfeita mesmo estando mortos por dentro…

A Nokata acena com a cabeça e pede-me desculpa. Quem deva estar a pedir desculpa era eu mas só lhe dou um beijo na testa dela e sussurro:

- Quando chegarmos não te afastes de mim, sim?

Ela apenas acena com a cabeça enquanto respira fundo e aperta as saias dela. Ela é uma verdadeira heroína e eu tenho de certificar que aquele fiozinho fica seguro. Ninguém vai por as mãos na minha pequena… eu sei o que é que aconteceu com o nosso pai… o rei Aidel não morreu por acaso… mas agora não é tempo para pensar nisto. Agora temos um funeral para assistir.

Continue Reading

You'll Also Like

9K 2.5K 23
Uma guerra inexplicável se instaurou em um mundo habitado por bruxos, fadas, elfos, humanos e dragões. A luta entre os primeiros e os últimos citados...
3.3M 228K 86
Livro 1 - Completo | 2 - Completo | 3 - Em andamento No dia do seu aniversário de 18 anos, Aurora Crayon sentiu o chamado do seu parceiro, enquanto...
5.7K 921 25
𝘐𝘮𝘢𝘨𝘪𝘯𝘢 𝘢𝘤𝘰𝘳𝘥𝘢𝘳 𝘦𝘮 𝘴𝘦𝘶 𝘭𝘪𝘷𝘳𝘰 𝘧𝘢𝘷𝘰𝘳𝘪𝘵𝘰, 𝘮𝘢𝘴 𝘦𝘮 𝘷𝘦𝘻 𝘥𝘢 𝘩𝘦𝘳𝘰í𝘯𝘢, 𝘷𝘰𝘤ê 𝘴𝘦 𝘵𝘰𝘳𝘯𝘢 𝘢 𝘷𝘪𝘭ã 𝘮𝘢...
10.4K 452 48
Diana Grace Malfoy é a irmã gêmea de Draco. Ela nunca se encaixou na própria família e sempre foi julgada por ser uma Malfoy. Em uma tarde, com os se...