O ÍNDIO ARQUEIRO

fujoshifodida द्वारा

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Jimin e seu irmão mais novo são enviados à uma ilha, com o intuito de expandir o negócio da família e expulsa... अधिक

➳ avisos e trailer
➳ zero indiozinhos
➳ dois indiozinhos
➳ três indiozinhos

➳ um indiozinho

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fujoshifodida द्वारा

N/A: Como foi dito anteriormente,
este capítulo contém cenas detalhadas
sobre tortura e narrações que podem causar
gatilhos.
Caso se sinta desconfortável com esse
tipo de conteúdo,
deixarei marcado entre dois "⚠️" para
indicar o início e fim entre cada momento
que pode ser sensível.
Fique atento ao símbolo.

BOA LEITURA!

🐎

   Mulheres. Homens. Álcool. 

   Em meio a música agitada e ensurdecedora daquela boate, tento me locomover por entre os corpos já bêbados e alterados. 

   Eu não me encontro muito diferente, com o fator a mais da camada de suor cobrindo meu pescoço e costas, visto que dei um show na pista de dança há alguns instantes. 

   Abuso do esforço para me manter de pé. O ambiente está girando. Junto todas as minhas forças para voltar concentrado até a área do bar, onde beijei um dos barmans minutos atrás.

   — Você tá legal? — Taehyung pergunta, assim que me aproximo dos assentos. 

   — Tô. — Respondo simples, com a voz grogue, finalmente me sentando ao lado de meu amigo charmoso numa das poltronas. 

   O suspiro deixa claro minha exaustão. Faço questão de espremer meus olhos para tentar melhorar minha vista embaçada, combinada à tontura. Taehyung não se contém e sorri.

   — Não tá parecendo. — E por fim, sua risada sarcástica e característica dá as caras. Taehyung levanta a mão esquerda, chamando a atenção do barman gostoso, que se aproxima imediatamente. 

   — Pois não? 

   — Uma água gelada — Ele exibe uma nota gorda entre os dedos médio e indicador, com um sorriso sacana —, pro gatinho bêbado aqui. Fica com o troco.

   O barman deixa escapar um risinho, enquanto trata de pegar a grana. Sou incapaz de verbalizar, então apenas desvio o olhar, segurando o riso envergonhado.

   — Algo mais? — O rapaz questiona paciente, agora, levando sua atenção à mim. Nego, sem deixar de sorrir, e então ele se afasta para buscar a água. 

   — Ele é gato. — Tae constata com a ausência do rapaz.

   — E beija bem. — Adiciono, ainda sem olhá-lo. 

   — Achei que íamos pegar leve hoje, Jim. 

   — Você sabe que eu nunca cumpro minha palavra. — Rebato.

   Taehyung apenas balança a cabeça negativamente, tendo em mente que isso pode e vai me prejudicar no futuro. É o que ele sempre diz.

   — Você tem vinte e três anos. Não vou me prestar ao papel de te educar. 

   — Agradeço, senhor Maduro. — Talvez eu tenha soado ácido, mas sou totalmente ignorado por ele.

   O barman retorna e entrega a garrafa pro senhor Responsável, que agradece com um sorriso singelo. 

   — Podemos ir embora? — Tae questiona, assim que tomo um gole da água. 

   — Ainda tá cedo… 

   E então, como se o destino discordasse de minha resposta, sinto o celular vibrar entre a calça jeans e a pele do meu quadril. 

   Assim que puxo o aparelho, avisto o nome "Pai" na tela. 

   Taehyung vê o estado do celular — coberto de suor —, e não esconde a expressão desgostosa.

   ㅡ Ainda bem que é a prova d'água.

   Furioso, ignoro seu comentário babaca e aceito a chamada. 

   — O que eu te falei sobre o horário, Park?!

   Me questiono como posso ouvir tão claramente a voz irritada de meu pai, mesmo que o que eles chamam de "música" esteja literalmente tremendo todo o lugar. 

   — Não enche, pai. 

   — Em 10 minutos eu tô aí. — E assim, a ligação é finalizada. Eu sequer tento evitar de xingá-lo mentalmente. 

   — Dez minutos, né? — Taehyung sugere, divertido, observando minha reação.

   O mesmo sermão de sempre. 

   — Vamos logo. — Digo, me levantando bruscamente e quase caindo. Ele percebe de imediato, e se aproxima para me dar apoio.

   Antes de ir, no entanto, me amparo sobre o balcão do bar e olho diretamente para barman que beijei mais cedo.

   — Posso te passar meu número? 

   O sorriso malicioso vem como resposta, juntamente com o bloquinhos de notas e uma caneta onde ele anota os pedidos dos clientes.

   — A propósito, eu me chamo Yoongi. — O rapaz comenta, assim que toma para si o bloco com o número. 

   — Foi um prazer, — Sorrio sacana. — Não, não. O prazer foi todo seu, Yoongi.

   Dou as costas, sem aguardar uma resposta e seguro nas mãos de Taehyung para vazar dali.

   Seguimos até o estacionamento e ele literalmente me abandona, alegando que não está a fim de encarar meu pai irritado e por esse motivo dá o fora com sua moto.

   E eu fico lá, de pé — pois me recuso a sentar naquela calçada imunda —, esperando... E ele chega, exatamente 10 minutos depois. 

   E traz meu irmão mais novo consigo. 

   — Entre.

   É o que meu pai diz, antes que eu dê a volta e entre no carro, me sentando do banco de trás e fazendo questão de bater a porta. Me escoro na janela, observando as luzes dos postes indo e voltando pelo reflexo do vidro fumê, ao que ele dá partida.

   No auge dos meus vinte e três anos, herdeiro de uma fortuna.

   Meu nome é Park Jimin, e eu não sou feliz. Ouso até mesmo dizer que nunca fui.

   Visto como um peso morto por meus pais — e sequer me esforçando para mudar a perspectiva deles —, eu sigo existindo. 

   Nasci em berço de ouro, e nunca passei por dificuldades em minha vida.

   Isso até meu irmão crescer e se tornar tudo o que eu jamais serei. Bloo é cinco anos mais novo que eu.

   Desde que posso me lembrar, ele sempre foi uma pessoa exemplar. Alguém de quem eu senti muita inveja. 

   Literalmente perfeito.

   Estuda na universidade mais prestigiada do país por mérito próprio. Um rapaz viajado, intelectual, cult, com uma personalidade apaixonante. Ele tem a capacidade de tocar diversos instrumentos musicais, além de ter facilidade em aprender outras línguas. 

   Mas isso tudo é inútil, quando seu único e maior objetivo é ser o sucessor de todos os bens de nossa família. 

   Infelizmente, meus pais optaram por seguir a tradição de séculos da nossa família: sempre deixam tudo à comando primogênito.

   E essa é a diferença entre eu e meu irmão. Ele almeja tanto tudo isso, e eu não dou a mínima. 

   Com o tempo, as coisas foram ficando cada vez piores, e minha relação com Bloo esfriou.

   Eu posso afirmar com todas as letras que seu ódio por mim foi o responsável por isso. E como é de meu apreço, não fiz questão de tentar mudar.

   Talvez por sempre ter sido tratado como o imprestável que sou, eu acabei deixando de me importar com absolutamente tudo.

   Nunca me faltou nada. Comida de restaurantes absurdos, roupas de grife, mordomias e muito luxo. Eu sempre tive tudo do melhor, e podia esbanjar todo o conforto que me foi concedido.

   E é claro que uma hora isso chegaria ao fim.

   — Você está ouvindo, Jimin? — A voz grave de meu pai me desperta dos meus devaneios. 

   Olho em seus olhos pelo retrovisor interno do carro, encontrando uma expressão séria. 

   — Me desculpe, acabei me distraindo. — Pedi, me aconchegando no banco macio do carro luxuoso. 

   — Eu perguntei se está ciente do que vocês farão.

   Dei de ombros. Eu sinceramente não dou a mínima. 

   Bloo me olhou de canto, com uma expressão nada convidativa. 

   — Irmão... Você, como herdeiro, deveria mostrar mais interesse pelos assuntos da família. — Sua afirmação soou como ameaça, mas nada com que eu não estivesse acostumado. Apenas ignorei.

   Ontem, assim que cheguei em casa depois de dar uma volta pelo condomínio com nossos cachorros — uma atividade diária, que eu adorava —, meu pai me abordou e me levou à seu escritório. 

   Meu irmão já estava sentado, esperando por mim. Sentei ao seu lado, pouco me importando se ele reprovaria a ação ou não. 

   "Amanhã, vocês dois irão viajar para resolver um assunto sério" — Ele disse. Dei de ombros, como sempre. 

   Não seria a primeira — nem a última — vez que ele me obrigaria a tratar de contratos e revisões relacionados à sua empresa. Talvez fosse uma tentativa desesperada de aflorar em mim qualquer resquício de interesse, ou quem sabe me fazer aceitar meu destino e me esforçar para tomar seu cargo como CEO. 

   Mas… No fundo ele sabe que isso nunca acontecerá. 

   "Estamos tentando negociar com os moradores de uma ilha, para que nos permitam erguer o novo edifício. Mas eles são teimosos."

   "E o que eu tenho a ver com isso? Vou ser mandado pra lá só para expulsar um bando de selvagens?" — Questionei, entediado. 

   "Acredite, eles não são fáceis de convencer. Ofereci quantias absurdas, nova moradia, até mesmo uma viagem à todos eles para outro local e alimento, e mesmo assim recusaram."

   "E por que você simplesmente não libera a obra?" — Dessa vez, foi meu irmão quem perguntou. 

   "Eu não posso. Aqueles macacos estão protegidos pelo governo. Só se pode construir algo ali se eles forem embora espontaneamente. Mesmo com todas as chantagens, não adianta..." — Lamentou.

   "E o que a gente vai fazer para convencê-los? Sequestrar alguém? Ameaçar de morte?" — Brinquei.

Meu irmão me deu uma cotovelada, em sinal de desapontamento com a brincadeirinha sem graça. 

   "Não posso burlar a lei, e sujar o meu nome. Por isso estou enviando vocês dois. Demorem o tempo que for necessário, mas convençam aquela gentinha a deixar a ilha para que possamos instalar a nova agência lá."


   Neste momento, estamos à caminho do aeroporto. 

   — Pai... Não acha um pouco desnecessário lutar tanto por aquele lugar? — Bloo perguntou, com um tom manso, quase como se quisesse realmente tentar mudar a idéia de nosso pai. — Quero dizer, é tão afastado… As rotas são difíceis, e o lugar nem é tão bonito. Além de ser muito instável, geograficamente falando. 

   Seu vocabulário exagerado me faz revirar os olhos. 

   — Creio que vale a pena. É um lugar interessante para turistas, e estou disposto a arriscar. Aquela ilha é um tesouro. — Ele diz simples, finalizando a conversa. 

   No fundo, eu sei que ele não tem nada a perder. Mesmo que instalar a nova agência lá signifique algum prejuízo.

   Sua empresa é tão bem sucedida que um erro provavelmente não faria tanta diferença.

   Depois de um longo — e chato — tempo dentro do carro, finalmente chegamos ao aeroporto. 

   — Vocês irão chegar lá por volta das onze da manhã, e o motorista estará esperando para levá-los até o porto. Se a balsa for depressa, é provável que antes de anoitecer já estejam na ilha. — Meu pai disse, assim que terminamos o check-in e seguimos em direção às catracas de entrada. 

   Um dos benefícios de se ter muito dinheiro — além de ir de primeira classe —, é que não há necessidade de chegar com antecedência: somos atendidos na hora e liberados imediatamente. Privilégios.

   — Pode deixar que vou tomar conta de tudo, pai. — Bloo disse convicto, apertando forte a mão de meu pai. Ele não sorriu. 

   Me aproximei e ofereci um rápido abraço. Não abri a boca para dizer nada, assim como ele. Por fim, entregamos as passagens à funcionária, e finalmente adentramos o corredor em direção ao vôo. 

   — Você parece animado. — Eu constato, sem realmente me importar. 

   — E estou. Já tenho dezoito anos e vou provar que posso gerenciar nossa empresa melhor que você. — Sua fala me relembrou que há uma semana ele completou a maioridade. 

   — Você ainda não desistiu disso, não é, moleque? — Revirei os olhos e decidi não dizer mais nada. Com o auxílio de uma comissária, embarcamos. 

   Eu não pretendia dizer isso para ele, mas… Eu, em hipótese alguma, iria me prestar a ser o próximo dono. Assim que meu pai ficasse velho o suficiente para passar todos os seus bens para mim, eu faria questão de colocar meu irmão à frente de tudo. 

   Eu realmente não me importo de entregar tudo em suas mãos. Ele merece, bem mais que eu. 

   Apesar de ser um babaquinha que se acha, ele é visivelmente mais apto do que o inútil aqui. É como se tivesse nascido com a missão que meu pai insiste em empurrar sobre mim. 

   O avião finalmente levanta vôo, e eu me permito cochilar pelas quatro horas seguintes em que ele se mantém no ar. 

   Quando o pouso me desperta, já estamos no sudeste asiático. 

   Saímos da aeronave e, como meu pai havia avisado mais cedo, havia um motorista em nosso aguardo. Ele nos levou até o porto, onde nos encontramos com os subordinados que nos acompanhariam até a tal pousada, em outro veículo. Um Jipe enorme. 

   Antes que embarcássemos na balsa do porto, fui para um canto para checar meu celular a tempo de ver as mensagens de Taehyung e do barman da boate, e os responder antes que o sinal fosse interrompido. 

Tae
seu pai me avisou q vc foi viajar :( 
sem me avisar de novo chim? 
[Hoje, 9:34]

Tae
deve estar dormindo no avião
agora, tenho certeza
[Hoje, 9:34]

Tae
quando vc volta? tô louco para
ir no cinema contigo
[Hoje, 9:34]

Tae
a pré estréia do homem-aranha
é semana q vem, espero q volte logo!!! 
[Hoje, 9:35]

Desculpa a demora, eu realmente dormi
[Hoje, 15:23]

Não se preocupe, Bloo veio comigo...
Tenho certeza que vai ser bem rápido
[Hoje, 15:23]

Estamos indo pra balsa agora, vou perder a área
[Hoje, 15:24]

A gente se fala quando eu voltar
[Hoje, 15:24]

E nós não vamos ver o miranha porra
nenhuma, vamos assistir o rei leão 2
[Hoje, 13:24]

Até depois. 💚
[Hoje, 13:24]

Desconhecido
Quando vc volta para a boate? Quero aproveitar
um pouco mais com vc, se não se importa...
[Hoje, 00:56]

Desconhecido
Jimin… esse nome combina com você.
[Hoje, 00:56]

Desconhecido
E, sobre aquilo... Sim, o prazer foi todo meu. 😋
[Hoje, 00:57]

Boa tarde Yoon 😛
[Hoje, 13:25]

Agora estou no meio de uma viagem de negócios, mas
assim que eu estiver de volta em casa te ligo
[Hoje, 13:25]

E fique tranquilo, volto para a boate na primeira
oportunidade que tiver 🤭
[Hoje, 13:25]

   Não pude controlar um riso ao terminar de digitar a última mensagem. Realmente gosto de pessoas diretas, mas esse cara é mais fofo do que deveria, com aquele jeito esguio e expressão entediada.

   E como se fosse uma coincidência, assim que desliguei a tela e levei o celular ao meu bolso, ouvi Bloo chamar por mim, indicando que a balsa já estava pronta para sair.

   Entramos no Jipe dos nossos instrutores, e finalmente seguimos à caminho da ilha. 

   O oceano estava bem calmo, quase dormi novamente.

   Haviam mais de uma dúzia de outros caras conosco, que cuidavam do transporte e em guiar corretamente o enorme veículo. Pelo que Bloo me disse — eu não dei tanta atenção —, eles seriam nossos guias pela ilha também, e nos levariam até a pousada para podermos nos hospedar antes de tentar negociar com os índios do lugar, sem ter o perigo da gente se perder.

   Num momento de distração, acabei escutando não intencionalmente quando um deles disse que é muito difícil fazer contato com os moradores, o que me deixou um pouco confuso, afinal, meu pai havia feito tantas propostas à eles… Bom, foi o que ele disse na noite anterior. 

   Mas ignorei a dúvida sem tanto valor e me concentrei em tentar cochilar. 

   Em cerca de pouco mais de duas horas, chegamos à costa da ilha. E… que ilha. 

   O lugar é simplesmente maravilhoso. Meu pai insistir tanto por abrir uma filial aqui finalmente fez total sentido para mim. Olhando em volta, não dava pra ver nada além da imensidão azul e da natureza intocada que cercava o enorme local.

   As fotos que encontrei na internet nem se comparam com a paisagem real. 

   — Pai realmente tinha razão. É lindo. — Murmurei à mim mesmo, encarando a paisagem daquela praia de tirar o fôlego, no aguardo dos nossos guias tirarem os carros da balsa que, devido à falta de outro porto, foi encalhada na areia mesmo. 

   O vento estava bem forte, mas como o sol ainda não havia se posto, não necessitei de agasalho. Meu cabelo estava em movimento à todo instante, vez ou outra se chocando com cerca violência contra meus olhos.

   Quando já estava tudo pronto para adentrar a ilha e seguir até a pousada, eu me reaproximei do automóvel e entrei, sentando no banco de trás, junto à dois dos caras. Bloo estava no banco dianteiro, do passageiro, enquanto o guia dirigia e o outro se encontrava na carroceria do Jipe, atrás de nós. Haviam também outros dois veículos logo atrás do nosso carro, respectivamente. 

   Bloo estava um pouco inquieto, e deduzi que fosse o nervosismo de ser seu primeiro "trabalho" depois de ter atingido a maioridade. 

   Lentamente o céu escureceu, e os faróis foram acesos. Como se lesse minha mente, Bloo tirou do porta-luvas uma garrafa com alguma bebida. Mesmo no balanço do carro, ele conseguiu despejar a metade do conteúdo em outro recipiente. Um momento depois, me ofereceu. 

   Agradeci de forma silenciosa, pois realmente estava com sede. Não comi antes de sair de casa, e nem no avião. 

   Logo sequei a bebida — que parecia conter álcool — e devolvi a garrafa que mais parecia um copo feio e malfeito. 

   Quando me dei por mim, o céu estava totalmente negro, assim como a mata densa em volta de nós, com exceção do caminho à frente, iluminado pelos faróis. Se bem me lembro, o mapa que analisei rapidamente sobre as localidades da ilha indicava que o trajeto até a "pousada" não levaria mais de 15 minutos, no entanto, parecia que estávamos há horas naquela estrada de terra. 

   Não ousei questionar naquele momento, pois confiaria nos guias contratados por meu pai. Bloo continuava inquieto, talvez percebeu o mesmo que eu...?

   Toquei em seu ombro, e ele me olhou preocupado. 

   — O que foi, Bloo? 

   — N-nada. Não quer tomar mais um gole? Eu não quero jogar fora. — Ele se referiu a sua metade da bebida de antes. Dei de ombros e aceitei. 

   — Ei caras, o caminho é este mesmo? — Questionei-os, assim que terminei o último gole, este que desceu rasgando minha garganta como nunca. Minha expressão de amargura deve ter denunciado o desagrado. 

   — Tem um acampamento que fica bem mais perto da aldeia deles, achei melhor levá-los lá. — Explicou o que estava dirigindo, sem desviar o olhar da estrada. 

   Não havia mais marcação do caminho há algum tempo. Também não avistei mais placas ou sinalizações, até admirei em silêncio a capacidade daquele cara de poder dirigir na mata sem nenhuma espécie de mapa ou caminho delineado. 

   Estranhamente, meus sentidos foram ficando lentos e eu senti uma imensa vontade de descansar. De novo. 

   — Se importam se eu cochilar? — Perguntei retoricamente. Ninguém se pronunciou, e tão veloz como um piscar de olhos, eu apaguei. 

   — Eu não vou conseguir fazer isso com minhas próprias mãos. — Bloo dizia, aflito e estressado. Eu o ouvia, mas estava tão distante…

   — Eu não me importo de fazer. Não será a primeira vez. — Reconheci a voz de um dos nossos guias. Reunindo toda a força que eu não tinha, abri meus olhos lentamente. 

   Estava um breu à primeira vista, mas eu pude identificar a silhueta de todos eles por conta da luz forte dos três carros ao longe. 

   Tentei me mover, mas foi totalmente em vão. Tardeamente, apurei então que não estava mais no banco confortável do Jipe que adormeci, e sim, escorado no chão da mata e... Com as mãos presas, amarradas, como algemas.

   O capim alto estava me pinicando. O incômodo me forçou a murmurar em reclamações sôfregas, o que chamou a atenção de todos eles.

   — Oh, ele está acordando. É melhor agirmos depressa. — O motorista anunciou. De forma bruta, fui carregado por dois deles e jogado perto do tronco de uma árvore, de modo que eu ficasse sentado e com os faróis apontados diretamente à mim. 

   Eu não estava entendendo o que estava acontecendo. E também não conseguia raciocinar. Foi como se estivesse dentro de um transe. 

   — Você pode nos ouvir? — Bloo perguntou, num tom desprezível. Eu nunca tinha presenciado tamanha repulsa em suas palavras. De modo totalmente grogue, balancei — ou tentei — a cabeça uma vez, positivamente. — Ótimo. 

   Ele então sacou um canivete, e entregou à um dos caras. Ele se aproximou, lentamente.

⚠️ AVISO DE CENA SENSÍVEL ⚠️

   Com o medo me consumindo por não entender o que estava acontecendo ou o que iria acontecer, eu tentei me repelir, totalmente em vão. Não tinha força nenhuma para controlar meu corpo, com exceção dos olhos e movimentos inúteis com minha língua.

   Sem nenhum cuidado, ele começou a rasgar minhas vestes, por fim, me deixando seminu. Estava muito frio.

   — Você realmente não quer fazer isso? — Um deles pergunta à Bloo. 

   — Não. Fiquem a vontade. — Ele responde, suspirando.

   Tentei procurar sua imagem em meio a confusão e desfoque de minha visão, e quando consigo distingui-lo dos outros, observo que em seu olhar há frieza.

   Aquilo me faz tremer bem mais do que a temperatura do ambiente em si. 

   E agora que minha consciência está mais clara de fato, o pânico me atinge. O desespero é aterrorizante. 

   — Vai doer um pouco. — O mesmo cara que me deixou sem roupa diz, e em seguida eu sinto… 

   Eu sinto a lâmina gelada ser cravada em minha coxa. Sinto o choque térmico de meu sangue quente sendo expulso com fervor de minha carne por entre o objeto, e entrando em contato com o vento frio.

   Pela dor, um grito ecoa sem que eu possa privá-lo. E como se aquilo tivesse o irritado profundamente, ele puxa a faca na direção oposta, traçando uma linha horrenda, rasgando minha carne.

   Mais gritos. 

   Sinto meus nervos ou músculos latejarem por conta do ferimento, envolvendo o objeto intruso, mas por estar gritando em esperança de que alguém me ouviria e me salvaria, eu não sou capaz de olhar para o estrago. Meu corpo treme, apesar de eu não conseguir me mexer voluntariamente.

   Bloo se aproxima, me aperta pelo pescoço e tampa minha boca com sua outra mão. A dor está me dilacerando, mas me mantenho em silêncio sentindo sua mão pesada apertar minha mandíbula. 

   — Escuta, Jim… — Ele diz, calmo. O cara que me esfaqueou se afasta, levando a faca consigo. Engulo em seco e ele prossegue: — Me perdoa por isso. Não queria precisar tomar medidas tão drásticas…

   Sua mão viaja pelo meu rosto, num carinho doentio, agora que ele percebeu que me mantenho quieto. 

   — Irmão… — Digo, depois de algum tempo encarando seus olhos sem vida, e com certa dificuldade, tanto pela fraqueza em cumprir movimentos quanto pela dor que sinto. 

   — Você foi resistente, uh? Precisei dar duas doses para conseguir te apagar. — Ele riu. Os outros continuavam observando a cena. 

   Sem fazer nada

   — A-ajuda… 

   — Shh — Ele levou o indicador aos meus lábios, ao que amassava minhas bochechas. — Vou te contar o que aconteceu. — Ele finalmente tira suas mãos de meu rosto, apenas para ajeitar o próprio cabelo. — Nós viemos para esta ilha à trabalho… E infelizmente, meu querido e amado irmão mais velho foi atacado por um enorme tigre. Foi isso mesmo, rapazes? — Ele questiona, melancólico, olhando para trás. 

   O sujeito que me machucou volta a se aproximar de Bloo, com minhas roupas rasgadas em mãos.

   — Depois do ataque, você sumiu... — Bloo lamentou. — Quando fomos te procurar, achamos apenas isso.

   É lhe entregue minhas vestes destroçadas, e ele se adianta em voltar a tapar minha boca sem cuidado algum, antes de esfregá-las violentamente em minha coxa aberta, sem qualquer aviso prévio.

   Eu não ouso tentar gritar, apenas fecho meus olhos marejados em sofrimento. 

   Isso só pode ser um pesadelo muito ruim.

   — Bom garoto. — Ele parabeniza, finalmente afastando os tecidos de meu ferimento, jogando-as de volta para seu companheiro de crime.

   É possível ver que está banhada em sangue, e isso faz meu coração acelerar ainda mais — isso se for possivelmente alcançável —, e imaginar que provavelmente estou sangrando feito um porco num abatedouro.

⚠️ FIM DA CENA SENSÍVEL ⚠️

   — Bloo… — Tento chamá-lo, com esperança que ele me ajude e que isso desapareça, como um sonho terrível. 

   Ele volta a acariciar minha face de forma absurdamente cuidadosa, mantendo uma expressão abatida: — Conseguimos apenas salvar suas roupas… Isso é tão, tão triste. Não é? — Ele deposita um beijo em minha bochecha suja e suada. — Agora, sem o herdeiro, as empresas e os bens de papai serão direcionados à mim. 

   Então é isso. 

   Tudo se conecta em minha mente de imediato, me forçando a arregalar os olhos e desviar de seu toque doentio.

   Conclusão: ele está fazendo isso por pura ganância. 

   Sem que eu possa controlar, novas lágrimas, estas de sentimentos reais, brotam de meus olhos e deslizam por meu rosto. 

   Quem dera fosse pela dor que sinto. Quem dera fosse por estar com medo. 

   Eu choro pela traição que estou sofrendo neste momento. 

   — É melhor a gente ir. — Um deles avisa. 

   — Esta ilha é pequena comparada à quantidade de tigres que habitam aqui. — Ele diz, descontraidamente, como se estivesse contando uma curiosidade à um amigo. — Por isso é uma reserva ambiental restrita. Aposto que leu sobre isso em suas pesquisas, não é? E acidentes acontecem… Não podemos prever quando um desses irá nos atacar e comer meu irmãozinho.

   Sua falsa lamentação me enoja, e eu já não enxergava mais nada por conta das lágrimas. 

   Ele finalmente se afastou, e tempo depois avistei os carros darem a volta e se afastar.

   Até eu ficar completamente sozinho, naquele breu. 

   Sozinho, sangrando, e deixado para morrer. 

   Meus pensamentos atingem minha consciência aos poucos, para que eu caia na realidade de que o que está acontecendo é real, mesmo que eu não tenha forças para sequer levantar meus braços amarrados. 

   Eu não posso acreditar que meu irmão foi capaz de algo assim. 

   Bloo… Quem você se tornou? Ou melhor...

   O que você se tornou?!

   Não precisava disso… Eu te entregaria tudo, de qualquer forma, irmão. 

   Eu mereço morrer desta forma, neste lugar…?

   Eu preciso me despedir de Taehyung. Preciso me despedir de nossos pais. Eu não quero morrer. 

   Eu nunca me interessei sobre assuntos como morte ou tortura, mas no meu leito de morte eu tenho uma certeza: o pior tipo de tortura que existe é a psicológica.

   E ela fica dez vezes mais enlouquecedora quando é causada por nós mesmos. 

   No frio, com a dor me consumindo e chorando a todo momento, aquela noite tão quieta quanto barulhenta se estendeu.

   Os grilos na mata, o som do vento que enchia meus ouvidos e me causava calafrios. Minha pele formigando, por conta de um solavanco em que fez meu corpo cair de lado em cima do capim alto e provavelmente cheio de insetos. 

   Minha visão já estava parcialmente comprometida, e a respiração se acalmou quando aceitei que aquele seria meu fim. 

   Miserável e cruel, do jeito que eu talvez merecesse. 

   Senti um beliscão em meus olhos. Os abri em instinto, percebendo imediatamente que estavam com insetos, talvez formigas. 

   A cada vez que eu piscava no intuito de expulsá-las, elas faziam questão de me picar ainda mais, e aquilo doeu. Muito. Quando me dei por mim, meu rosto inteiro começou a ser picado intensamente, pois eu estava literalmente tomado por elas. Elas entravam em minhas narinas, boca e andavam por minha bochecha e testa.

   Não conseguia me mover ainda. Na verdade, eu não sentia meu corpo. Tudo que pude fazer foi esfregar meu rosto no solo instável, com o intuito de afastá-las, expulsá-las ou matá-las, definitivamente.

   Mas já estava tarde. Senti a pele ao redor das pálpebras latejar e começar a inchar. Assim, minha visão que já não estava boa, piorou. A dor já não era meu principal problema.

   Reuni toda a força que eu nem tinha e consegui voltar a me sentar. 

   Mas isso me custou um preço caro demais: em minha coxa, uma pontada de dor aguda me fez urrar. 

   Olhei pela primeira vez para o ferimento, e me arrependi amargamente.

⚠️ DESCRIÇÃO QUE PODE
CAUSAR DESCONFORTO ⚠️

   Havia um buraco enorme, banhado por sangue seco. Este, misturado ao "novo", que começou a escorrer por conta do movimento brusco que fiz e por minha pele aberta. Um verdadeiro horror. Além dos insetos em volta, moscas e mais formigas.

   Senti vontade de vomitar, mas nem isso fui capaz. 

   Aquilo parecia um ferimento necrosado, como se uma infecção já tivesse tomado conta. Cheirava a podre, ou minha consciência me fez sentir como se fosse.

⚠️ FIM DA DESCRIÇÃO ⚠️

   O sol não havia nascido ainda, mesmo que o céu já estivesse clareando. 

   Talvez fosse um alívio que eu tenha sobrevivido à esta noite... Mas logo esse sentimento de falsa esperança deu lugar ao medo e a certeza de que de hoje eu não passaria. 

   E esse palpite nunca foi tão certeiro quanto agora. 

   Barulhos na mata logo atrás de mim. Passos. 

   Em total estado de alerta, e por um milagre, minha visão tratou de não me abandonar completamente, e eu prendi a respiração em desespero. O som se aproximava, e eu podia sentir o mato alto se movimentando em questão que a criatura — eu não fazia ideia do que poderia ser — vinha justamente em minha direção.

   Meu coração parou de bater, no momento em que a imagem daquele felino se fez clara. 

   Um tigre. 

   Um enorme, imenso e assustador tigre. 

   E ele estava me encarando. Não ousei mover um músculo sequer, e ficamos assim por alguns segundos.

   Até que em um passo, ele se aproximou. Ainda mais. E eu me deixei levar pelo pânico. Gritei, o mais alto que pude, por ajuda. 

   Gritei por Deus, gritei por Bloo. Gritei até pelo meu pai. 

   E ele rosnou em resposta, apesar do meu escândalo parecer não causar tanta estranheza no animal, que se se pôs à minha frente. 

   Logo sua enorme cabeça estava bem diante de meu ferimento. 

⚠️ INÍCIO DE UMA CENA SENSÍVEL ⚠️

   Uma fungada, e uma lambida, que me causou a pior das dores. Tentei afastá-lo com minhas mãos amarradas, levado pelo pânico, e ele avançou, mordendo-as. 

   Gritos e mais gritos de sofrimento. Meus membros inferiores não me obedeciam, e eu sequer conseguia levantar meus braços novamente o suficiente para dar-lhe um tapa e tentar espantá-lo.

   Ele literalmente não me temia, e voltou sua atenção à minha coxa, dessa vez quase salivando. Eu podia sentir seu desejo. 

   E logo veio a primeira mordida. 

   O som que emanou de minha garganta, junto ao som de sua mastigação foi um verdadeiro espetáculo. De horror. 

⚠️ FIM DA CENA SENSÍVEL ⚠️

   Em poucos segundos, toda a força que eu reuni para gritar havia desaparecido. E eu aceitei que esta era minha hora. 

   Rezei para que fosse rápido, pois meu sofrimento era imenso. 

   Também torci com toda a fé — que quase não existia — para que aquilo pudesse ser como nos filmes, onde quando o protagonista está em perigo, à beira da morte, o antagonista ou até mesmo seu amor surge do nada e o protege, e juntos eles vencem e acabam com o inimigo. 

   Mas eu... Não esperava que isso fosse de fato acontecer. 

   Rápido como um raio, bem diante de meus olhos, um fio negro atravessa minha visão. 

— Ayo! — Alguém grita. E então, a atenção do felino é tomada. 

   Outro fio negro. Eram flechas.

   Barulhos em volta, gritos estranhos. O felino se acode, e ruge em defesa. 

   Quando o que eu menos espero acontece: um homem salta do meio do nada, e agarra o tigre pelas costas, enforcando-o. Como num mata-leão, só que ironicamente praticado em um tigre. 

   Sons de relinchar, arfadas e um gato grande em agonia tomam conta daquele lugar. 

   Aquilo dura segundos, mas que para mim pareciam longos minutos de desespero, pois não estava entendendo o que de estava acontecendo diante de meus olhos. 

   Milagrosamente, e selvagem, o felino desiste de tentar lutar com o grande e valente homem. 

   Mas posso ver o sangue escorrendo dos arranhões e mordidas agressivas que o grande monstro causou em seu corpo musculoso. 

   Quando ele já havia fugido para longe, a atenção do rapaz se desviou para mim. E então, o ser que relinchava em meio à mata densa, surge por fim.

   Um enorme cavalo negro. 

   Meu herói me avalia, sem se aproximar muito.  Ele conversa com o cavalo palavras que não compreendo. 

   Tento mostrar que ainda estou vivo, movimentando meus olhos e tentando dizer algo, fracassando. Minha energia se esgotou. 

   A última coisa que eu vejo é o homem valente se aproximando e tapando meus olhos.

   Desmaiei. Ou morri. 

🐎

Olá!

Se alguém leu até aqui, o que achou
desse primeiro capítulo?

A narração está boa? Muito cansativa?

Obrigada por ler até aqui, se gostou, por favor
vote! ★

É assim que eu imagino os quatro personagens
que protagonizaram este capítulo, sendo
respectivamente o Tae, Jimin, Bloo e Sr. Park.

Até o próximo capítulo! Será postado dia 05/12.

पढ़ना जारी रखें

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