"Disfrutamos de cada pecado
Nos reímos y lloramos
Y nos vieron despeinarnos por ahí
Nos comimos a bocados
Nos dormimos en los brazos
De domingos de resaca por Madrid"
- Con La Miel En Los Labios
Aitana
Sábado, 2 agosto 2019
- Barbara, pára de fumar. Isto não te fará bem. - Sergio mais uma vez diz, a alertar-me. Estou sentada numa poltrona perto da varanda, com a porta aberta, para que o fumo do cigarro não fique presente no quarto, e a brisa da ventania possa ajudar a não sentir o cheiro. Ele está sentado sobre a cama preocupado.
- Deixa-me. - levanta da cama, caminha em minha direção, e tira a droga lícita da minha mão. - Hey!
- Tu deves parar de fumar isto.
- Eu não sou uma viciada. Eu só fumo quando preciso. De qualquer forma, eu não hei de me viciar, apenas quero aliviar a minha cabeça.
- E acreditas que o cigarro irá ajudá-la nesta questão? Para um vício, sempre tem um começo. E podes ter a certeza que se depender de mim, não irás fumar nenhum.
- Viraste o meu pai agora?
- Não, mas pelo menos tenho de ter juízo.
- Eu sei conter-me.
- Tu havias de querer esquecer uma situação com bebidas? Porque é a mesma situação que o álcool.
- Cigarro pelo menos não há ressaca.
- Mas há uma doença oncológica que mais afeta as pessoas, em que muito bem conheces. - bufo. - Por que estás a agir assim, Barbara? O que aconteceu? Algo a ver com a reunião? Aconteceu alguma coisa na empresa? Diga-me, porque eu não aguento mais ficar sem saber de nada.
- Não, não aconteceu nada com a empresa. É uma outra questão, que não tem a ver. Acho que vou ter um novo membro na família.
- Alguém da tua família irá ter um filho?
- Dos que eu não tenho afeto, eu não sei. Mas é um membro muito próximo. Eu possuo um irmão.
- Um irmão?
- Aquele rapaz é o meu irmão, meio-irmão... o que importa, é que pode ser filho do meu pai, e há grandes possibilidades de acontecer. Eu não sei o que fazer, eu não sei como irei dirigir ao meu pai, o que hei de dizer. Ele nem sabe que tem um filho, e o meu possível irmão também não sabia que tinha um pai até uma semana atrás. Só passados 27 anos tudo está a vir a claro.
Começo a contar toda a história para o Sergio. Outras que eu comecei a saber através do Samuel. Eu vivi durante a minha vida inteira juntamente com o meu pai, e não posso imaginar como ele esteve sem um laço paternal. E se tudo tivesse sido esclarecido na época? E se o Samuel tivesse crescido com o pai? E se eu pudesse conviver com o meu irmão desde a infância?
São tantos "E se", que correspondem há várias possibilidades que poderiam ter acontecido, mas não aconteceram. Eu não posso julgar a Lea, talvez no seu lugar eu tivesse feito o mesmo.
Logo no momento que disse, eu pensei na história que a minha mãe me contou. Nem sei explicar muito bem como pude ter chegado a esta conclusão, mas foi algo que não esqueci, sempre fiquei a martelar na minha cabeça porque ela sumiu, qual foi o propósito.
- Mesmo que eu não o tenha conhecido, e nem ter nunca antes visto, eu vi nele uma sinceridade. Também vi nele uma tristeza por não ter passado momentos com o pai durante toda esta vida.
- Irás contar para os teus pais?
- Tenho de o fazer. Não sei como, mas tenho, mesmo se for por amanhã. O quanto antes puder, será melhor. Eu quis ter um irmão, e agora que eu sei que tenho, não posso deixar este fato de lado.
- Ontem disseste-me que tinhas uma intuição que iria acontecer algo bom. Quem sabe não possa ser este rapaz? Quem sabe ele não possa trazer alegria?
- Talvez seja ele.
- Não fique desta forma.
- Eu só estou a pensar no quanto tudo poderia ser diferente.
- Agora não vale a pena pensar no que podia ou não ser diferente. Tudo já aconteceu, e não podemos voltar atrás das nossas decisões. Só podemos melhorar se algo estiver errado.
- Tens razão. Achas que devo conversar com os meus pais amanhã?
- Eu acho que deves fazer tudo com calma. Se sentires bem por fazê-lo amanhã, faça.
- Tanto tempo que passou, que não pode passar mais.
- Tudo vai ficar bem. - acaricia o meu cabelo, e sinto um conforto ao abraçá-lo. - Quero um gelado. - ri.
- Deixa que eu vou lá pegar. - dou-lhe espaço, para que possa levantar da cama. Logo sai do quarto.
Eu e o Sergio estamos a ficar próximos. Muito próximos. Isto pode ser perigoso, mas ao mesmo tempo, eu não quero o manter longe. Eu o quero aqui, comigo. O quanto eu posso estar a deixar acontecer algo que eu possa me magoar ou não? Está a ser complicado, porque é tudo novo. Nunca deixei que ninguém antes pudesse ter tanto contacto comigo desta forma, tanta intimidade. Não penso neste momento como poderá ser.
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Domingo, 3 agosto 2019
- Tu vais dizer-me o que está a deixar-te feliz desta forma. - pergunto a Daniela. Encontramos na cozinha.
- Estou a ser tão transparente assim?
- Estás. Vá lá, pode começar a falar.
- Acho que eu convenci o teu tio.
- Será que és tu que convenceste ou será o meu tio?
- OK, OK, foi ele. Ele é muito mais convincente do que eu. E como não vai ser? Isto é fácil.
- Mudaste de ideia então?
- Mudei. Ele está certo. Estou a sentir que algo está a acontecer contigo. O que é?
- Algo que poderá mudar a minha família, que nem sei como vai ser.
- Como assim?
- Eu tenho um irmão, e descobri isto ontem.
- Sério? Nossa.
- É, nossa mesmo. Ninguém sabia, excepto a mãe do meu irmão, e um ex-amigo do meu pai, que é um grande traidor.
- Que história.
- Eu ainda terei tempo para te contar. É beeeeem longa. Mas eu estou feliz contigo e o meu tio.
- Eu vou tentar não fazer nada que possa fazê-lo estar a não ser feliz.
- E faça, faça mesmo. - coloco as panquecas sobre a mesa. - Estou a sentir enjôo.
- Mas está tudo bem com estas panquecas.
- Deve ser o tanto de gelado que tomei ontem. - os meninos logo entram na cozinha, e ficam alegres por perceberem a presença da Daniela. Já posso até imaginar como irá ser.
Vou para o meu quarto, e encontro o Sergio a calçar o tênis.
- Bom dia! - desejo.
- Bom dia!
- Eu vou ficar com meninos enquanto estás no treino.
- Obrigado!
- Não precisas agradecer, é com um enorme prazer que o faço.
- Estás a sentir melhor em relação a situação de ontem?
- Samuel deve estar muito mais sentido com tudo. Eu que posso resolver isto. Dar a informação para os meus pais, ver o que irá acontecer. É capaz de eu dizer hoje, já vão querer conhecer hoje mesmo. Eles não curtem esperar muito.
- Conte com calma.
- Eu irei.
...
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Bjs da Babi
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