Com o Bruno no banheiro tomando banho, sentei na cama e resolvi finalmente responder a Ângela. Tínhamos passado o dia todo arrumando nossas coisas e agora tudo que eu mais queria era descansar.
"Desculpa a demora o dia foi corrido. Sim, já chegamos."
Deixando meu celular na cômoda, eu estava pensando em acompanhar meu noivo no banho quando vi Alfredo parado perto da porta.
E a julgar pela forma que ele me encarava o mesmo estava com fome.
- Você não vem? - ouvi meu noivo perguntar de dentro do banheiro.
- Vou alimentar o gato primeiro. - respondi, levantando da cama. - Ele está me olhando como se eu fosse a pior dona do mundo.
- E quando ele não está te olhando assim?
- Ele só é um pouco estressado. - falei.
Saindo do quarto com Alfredo me seguindo, passei no quarto das gêmeas antes de descer as escadas. A sacola com a ração estava na sala perto do sofá. Indo até a cozinha para pegar uma vasilha, levei um susto quando vi uma mulher parada perto da geladeira.
- Desculpa te assustar, me chamo Ellie. - disse. - Sou a cozinheira.
- Ah, sim. Conheci sua filha mais cedo. - falei, colocando a sacola com a ração em cima do balcão.
- Ela te perturbou? Aquela garota não aprende...
- Não, ela não me perturbou. Na verdade, foi muito gentil me ajudando com tudo. - falei, e sorri. - Você pode me dar uma vasilha? O pote de ração do meu gato está no carro e estou com preguiça de sair e pegar.
- Claro. - disse, retribuindo o sorriso. - Você é bem jovem.
Indo até o armário, Ellie pegou um pequeno pote verde. Só voltei a falar quando ela me entregou ele.
- Daqui alguns meses faço 22. - falei, e abri o saco de ração.
Me agachando, enchi o pote com ração e deixei meu gato comer.
- Sr. Renault contou que vocês tem duas menininhas. - falou, quando fiquei de pé. - Ainda não conheci elas.
- O dia foi longo e elas acabaram dormindo cedo. Mas amanhã você conhece. - exclamei. - Vou dormir agora. Adorei conversar com você.
- O prazer foi todo meu.
Estava saindo da cozinha quando lembrei.
- Ellie, você poderia colocar um pote de água para o meu gato também?
- Claro.
Depois que ela me desejou boa noite, eu saí da cozinha e caminhei em direção as escadas. Já no quarto, fechei a porta notando que meu noivo ainda estava no chuveiro.
Pegando meu celular na cômoda, vi que a Ângela me respondeu.
"Quer me ligar para contar mais? Tô precisando conversar"
Mesmo sabendo que o Bruno estava me esperando no banheiro, eu liguei para a garota de cabelo colorido querendo saber o que ela tinha.
- Conta. - foi a primeira coisa que falei assim que ela atendeu.
Do outro lado da linha, Ângela suspirou.
- Quero me mudar. Minha mãe vive me enchendo o saco e não estou aguentando mais. - disse, parecendo agoniada. - O problema é que não tenho uma casa para ir e estou sem emprego no momento.
Depois de pensar um pouco tive uma ideia que me fez sorrir.
- Espera... - pedi, e andei até o banheiro.
Bruno agora estava com a toalha enrolada na cintura enquanto usava outra para secar o cabelo.
- Demorou demais. - ele disse, de frente para o espelho.
- A nossa antiga casa... Você pensa em vender ela?
Franzindo o cenho, ele me olhou.
- Não. Por que?
- Já te falo.
Voltando para o quarto, aproximei o celular do meu ouvido.
- Você pode ficar por enquanto na minha antiga casa. Bruno disse que não pretende vender.
- Não quero incomodar, Helena.
- Não incomoda. Você já me ajudou tanto, me deixa fazer o mesmo.
- Tudo bem. - cedeu, me deixando satisfeita.
Vi o momento que meu noivo saiu do banheiro e caminhou até o closet.
- Mas me fala, o que deu o teste? - ela mudou de assunto. - Você parecia preocupada na casa da Sarah.
Eu tinha contado para ela sobre o teste no mesmo dia que comprei. Ângela falou que estava muito cedo, mas eu queria saber o resultado logo.
Conferindo que meu noivo não estava ouvindo, eu respondi:
- Deu negativo.
- Sabe que pra ter certeza precisa ir no médico, né?
- Sim, eu sei. - falei, mais baixo.
Bruno saiu do closet já usando uma calça de pano leve e segurava as duas toalhas que pegou no banheiro.
- Você está abaixando o tom de voz, o que significa que o Bruno está perto e você não contou das suas suspeitas para ele. - declarou. - Então é melhor eu desligar. Qualquer coisa me liga.
Encerrando a ligação, eu voltei a deixar meu celular na cômoda.
- Preciso falar com você. - exclamei, soltando o cabelo.
No entanto, essa conversa podia esperar porque eu precisava de um banho.
- O que foi? - ele perguntou, me seguindo até o banheiro.
Tirando minha blusa eu joguei ela no chão ao lado da porta.
- Minha menstruação está atrasada. - resolvi abrir logo o jogo. - Comprei o teste de gravidez ontem e deu negativo.
Bruno encostou suas costas na pia e ficou me olhando. E foi pela forma que ele me olhou que senti minha pulsação acelerar.
- Nem pense nisso. - falei, decifrando seu olhar.
- Não falei nada.
- E precisa? - falei, sabendo que ele adorou a ideia de outra gravidez. - As meninas só tem 6 meses, eu não vou engravidar de novo.
- Não estou dizendo para você engravidar, mas não acharia ruim se já tivesse.
Só de lembrar das contrações eu ficava arrepiada. Eu não passaria por aquilo de novo tão cedo.
- Não se preocupe, eu não estou. - afirmei.
- Ei... - andando até parar na minha frente, ele tocou meu rosto. - Não estou preocupado.
Suspirando, encostei minha cabeça no seu peito. Sentindo seu cheiro, fiquei mais calma. O pensamento de outra gravidez me deixava assustada. Cuidar de dois bebês já era difícil, imagina de três.
Muito.
Mais muito cedo.
Me soltando dele, eu terminei de tirar minhas roupas e entrei de baixo do chuveiro. Eu estava de olhos fechados sentindo a água quente bater nas minhas costas quando meu noivo se aproximou.
- Achei que já tivesse tomado banho. - falei, sem me virar.
Não respondendo, Bruno me abraçou sentindo que eu precisava daquilo. E, no fundo eu soube, se ele estivesse ao meu lado eu teria forças para enfrentar qualquer coisa.
Está chegando o momento que a história vai tomar outro rumo.