Desde o Princípio - Livro 1...

By LSOliveira80

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Pode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando int... More

Nota da Autora + Book Trailer e Aesthetics
Epígrafe
Coimbra, junho de 1849
Viarello, agosto de 1849
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Desde o Princípio - Andrógenos do século XXI
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Viarello, novembro de 1847
Coimbra, dezembro de 1847
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 11

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By LSOliveira80

As almas que se reencontram

Às duas horas Eros entrava na sala de redação, sentindo um frio no estômago. Parecia um adolescente, em busca de seu primeiro emprego, e aquele nervosismo primário o deixava ainda mais vulnerável.

A rotina dos jornalistas continuava, e parecia que ninguém notara a sua presença, até Nes vir em sua direção.

___ Oi. — se aproximou — Posso ajudar?

___ Preciso achar o Martim Ribeiro. — ele precisou abaixar significavelmente o olhar para encontrá-la, tamanha a diferença de altura.

___ No aquário! — indicou as portas de vidro e sorriu – Você deve ser o novo fotógrafo.

___ Eros Vicenzze.

___ Agnes Andrade, muito prazer! — apertou a mão que ele estendia, sentindo as boas vibrações que vinham dele, apesar do nervosismo que não conseguia disfarçar, pelo menos aos olhos de lince da mulher clara e baixinha a sua frente.

___ Eros! — Martim empurrou uma parte da dita porta de vidro, vendo-o de longe — Esperava por você! — se aproximou — Vejo que já conheceu a Nes.

___ Estava exatamente me mostrando como te encontrar. — ele abraçou o antigo conhecido, dando-lhe um tapinha nas costas.

___ Finalmente eu peguei você! Vamos para minha sala?

Ia saindo, quando voltou-se novamente para Nes:

___ Pode achar a Cathy e o Dre pra mim?

Atrapalhada, Cathy olhou para o relógio que marcava quase três horas. Olhando-se no espelho do banheiro, ela estudou a saia colorida que vestia, sua camiseta preta e justa, já suada, e o tênis sujo de barro, tudo isso por ter passado as duas últimas horas andando a pé numa favela para lá de íngreme, a procura de uma mulher, que havia ligado com informações interessantes sobre a sua tão esperada matéria sobre o descaso das autoridades competentes com violência doméstica.

___ Que horror! — sussurrou, puxando os cabelos frisados, em vão.

Lembrando-se do salão elegantíssimo da casa de chá Tifany's, ela riu, imaginando a reação que causaria se adentrasse o local com aqueles trajes. Pensou em ir para casa se arrumar melhor, e de imediato, sua mente tratou de deixar bem claro que aquilo não era por Bento Ferrari, e sim, devido ao lugar.

Deixando o banheiro coletivo, foi para sua mesa e Nes veio encontrá-la:

___ O Martim está atrás você, há quase uma hora!

___ E o Dre nem pra cobrir a minha?!? — reclamou, deixando sua bolsa sobre a cadeira e imaginando se ele não estaria castigando-a por saber que ela havia ido até a favela sozinha, a procura da fonte.

___ Querida, o Dre já entrou e saiu da sala dele um milhão de vezes!

___ Se eles estão de conluio para tirar sarro da minha cara, por causa daquele maldito buquê, juro por Deus...

Nes imaginou que a pouparia de um possível constrangimento se avisasse que Martim não estava sozinho, mas resolveu se calar. Não era só a sua vontade de rir da situação vexatória da amiga que a impedira, porém. Era seu sexto sentido lhe sussurrava algo, que ela ainda não conseguia entender com clareza.

___ Você só pode estar fazendo isso pra me irritar! — Cathy escancarou a porta, como um furacão — Eu não vou ficar com o Ferrari! Será que eu tô parecendo assim tão necessitada de um... – ela parou de súbito, ao ver, finalmente, que ele não estava só.

Na lateral da sala, próximo a um arquivo, um homem estava de costas e lembrando-se da discrição nada discreta de Linda, imaginou que devia ser o tal Eros Vicenzze.

Ao ouvir a disparada da garota, ele fez menção de rir e deixando o prêmio que o diretor lhe indicara sobre o móvel, virou-se, de modo a saber quem era aquela maluca. Quando se deparou com seu rosto moreno, ele sentiu o coração disparar, um frio lhe subir pela espinha. Seus olhos percorreram aqueles traços, seus lábios, sua silhueta... Sim, era Sabrina Esposito quem estava a sua frente!

Completamente inerte, ela pousou os olhos sobre ele e ficou ainda mais confusa. Talvez fosse o carnaval que Linda havia feito sobre sua aparência, mas naquele momento, aos seus olhos, ele era o homem mais atraente que ela via, em tempos!

Voltou os olhos para Martim, como que o pedindo uma ajuda para sair daquele desconserto, e o seu riso a fez tomar uma atitude, no mínimo insana: saiu, fechando a porta de vidro atrás si e após respirar fundo, para livrar-se daquela primeira impressão que lhe tirou o fôlego, abriu-a outra vez, com um sorriso polido:

___ Pois não, chefe?

A atitude dela só serviu para levar Martim a mais gargalhadas. Apontando Eros, ele mal conseguia falar:

___ Este é Eros Vicenzze, seu novo parceiro!

Ela caminhou até ele, sem encará-lo dessa vez.

___ Comecemos melhor agora, Catharina Batista, é um prazer conhecê-lo finalmente! — lhe estendeu a mão.

Fazendo de tudo para não parecer tão surpreso, e tentando não pensar que sua esquizofrenia estava agora se transportando para a realidade, ele reagiu, apertando a mão suave que ela lhe estendia.

___ O prazer é todo meu.

Ela o encarou brevemente, todos os comentários da amiga a aumentar gradativamente em seu pensamento, que logo tratou de confirmar que dessa vez, a observadora nada sutil tinha mesmo toda a razão.

Recebeu o aperto de mão firme que ele lhe deu e estremeceu um pouco, ao ter os ouvidos tocados por sua voz, grave e macia.

Então, desviando-se imediatamente, como se temesse que ele descobrisse o efeito imediato que sua aparência causou, Cathy se voltou para as cadeiras e para o editor, que ainda gargalhava, e com isso, fazia com que ela percebesse que era tarde demais para parecer menos desequilibrada:

___ Dá para parar com o surto agora e tentar não me envergonhar ainda mais, se possível? — disparou, sem outra opção diante do divertimento do chefe, e sentando-se em seguida.

Querendo dar continuidade a conversa, não só por cavalheirismo, mas também por temer que suas reações denunciassem o que ele estava sentindo naquele momento, Eros interpelou o editor, que agora, tinha os olhos lacrimejantes e as duas mãos sobre a barriga, dolorida de tanto rir:

___ Então, quando podemos começar?

___ Imediatamente! — Martim estava finalmente conseguindo de conter — Tenho certeza que, com a sua experiência e logo que a Cathy te deixar a par dos novos projetos, você vai sentir como se tivesse feito isso a vida toda!

___ Eu sempre gostei muito de fotografia investigativa! E acompanho as matérias, o que, com certeza, vai ajudar bastante.

___ Isso é ótimo, os novos projetos seguem a linha de reportagem exposta nos últimos meses, então você estar a par vai facilitar demais! — Cathy se interrompeu e desviando os olhos dele para o relógio de pulso, viu que não tinha tempo pra explicar aquele emaranhado de informações — Tenho certeza que vamos nos dar muito bem, você sendo o mais novo descasado e tudo!

Eros sorriu em concordância e não percebeu que o novo encontro dos olhares obrigou-a a pousar ambas as mãos nas guardas da cadeira, a fim de conter o estremecimento súbito que as atravessou.

___ Teria o maior prazer em percorrer tudo com você agora mesmo, se não tivesse sido obrigada a fazer a social para o almofadinha que vai pagar nosso salário nos próximos meses!

A forma calma como ela criticou o novo trabalho fez com que ele se surpreendesse outra vez, mas foi o chefe quem quase engasgou:

___ Não faz assim! Você sabe precisamos dar ao Ferrari tudo o que ele pedir, pela reestruturação e meu pescocinho, Cathy!

___ Nossa, muito obrigada mesmo por me fazer sentir como um prostitua de luxo, chefe! – grunhiu ela, levando ambas as mãos a camiseta preta que usava.

___ Minha quase premiada jornalista, esse trabalho não tem que ser esse sofrimento todo!

___ Se me disser que é só fechar os olhos e relaxar, eu lhe dou uma bofetada e um processo judicial! Não exatamente nessa mesma ordem!!!

Eros assistia estupefato a discussão, as palavras nada sutis da mulher a sua frente penetravam a sua mente, seu tom ousado e ácido, seu sorriso ameaçador e olhos agudos na direção do chefe.

___ Eu jamais diria isso! – ele se fingiu ofendido – Mas não custa salientar que o buquê de flores foi uma gentileza dócil, só para te lembrar que as cinco você vai estar reunida com o empresário número um da nossa cidade, na casa de chás mais tradicional e chique do centro histórico, não perseguindo traficantes no porto...

___ Preferiria a segunda opção mil vezes... – ela se levantou, em tom de lamento – Já que a entrevista exige toda essa pompa e circunstância, tenho que ir pra casa colocar a minha armadura!

___ Claro, está mais do que liberada! Amanhã você me manda um esboço, que de preferência não contenha a palavra "almofadinha" ou qualquer reclamação de assédio!

___ De jeito nenhum isso vai acontecer se ele se comportar, chefinho! – com uma piscadela provocativa para o chefe, ela se virou para deixar a sala.

Não voltou a olhar para Eros, pois estava certa que se tivesse feito isso, sairia tropeçando do local, para coroar a atuação desequilibrada que apresentou desde o primeiro minuto!

Mas em se tratando da N.W Notícias, ele que se acostumasse logo! Ela realmente não estava satisfeita com a matéria mandatória e se ele supusesse que ela estava errada em reclamar daquilo, então ele que se lascasse também!

Ainda tonteado com a presença daquela mulher e a surrealidade da conversa de uma jornalista com seu editor chefe, Eros permaneceu um pouco aéreo durante o resto da conversa.

A cada pessoa que conhecia, cada mesa que percorria sendo apresentado ao local, a engrenagem que colocava a plataforma como a fonte de notícias mais lida da cidade, ele via o rosto dela, e agora era real, tinha cor, calor, som, vida!

Era como se a imagem naquelas fotos tivesse lhe pulado das retinas pra realidade, e os mistérios que poderiam envolver aquela sinistra coincidência lhe perturbavam, ainda que seu rosto parecesse impassível e ele sorrisse simpático para todos.

Cathy, que já devia ter saído há 15 minutos, estava tão desconsertada que se sentou em sua cadeira e começou a digitar qualquer coisa no teclado, apenas tentando conter a respiração. Ergueu os olhos e viu o novo parceiro nas estações de trabalho dos jornalistas que cobriam o esporte e sabendo que a sua e de Nes seria a próxima, desligou o computador.

___ Então, você está enrolando para atrasar de propósito ou acaba de descobrir um furo tão incrível que precisava escrever as ideias antes de sair para não ficaram perdidas nos efeitos do chá com "deus"?

A provocação de Agnes fez com que ela deixasse de lado a expressão concentrada, que somente servia para esconder o turbilhão de emoções que tinham se agitado dentro dela e rir.

___ Sua sacana, eu não acredito que você me aprontou essa!!! – reclamou – Por que não me avisou que o cara novo estava na sala do Riggs?!?

___ Tinha certeza que você sabia, sendo a porta transparente e ele seu novo parceiro e tal! – a bruxa riu, descontraída – Isso é que dá você ignorar as minhas mensagens no whatszap! Mas e aí, impressionante, não achou?

___ Impressionado deve ter ficado ele! – acabou rindo – Deve estar pensando agora mesmo que não devia ter saído do Portal dos Anjos para cair de parceiro de uma louca encalhada!

___ O que você falou?!?

___ Nada a ver com servir de prostituta de luxo para o Martim fazer toda a revolução gráfica na revista, imagine! – ela pegou a bolsa e quando foi se levantar, Dre a abraçou tão forte que ela quase caiu de volta na cadeira.

___ Minha amada Cat, eu me dei tão bem dessa vez!!!

___ Me solta seu doido, eu tô fedendo a suor e terra!

___ Pois pra mim é o perfume dos deuses minha melhor ex-parceira de todos os tempos!

Ela não conseguiu conter um grito quando ele a carregou, girando-a no ar.

Claro que a demonstração de afeto chamou a atenção de Eros. Será que ela e o antigo parceiro eram mais que colegas de trabalho?

___ Dre, para!!! — ela batia nele e não continha as gargalhadas – Louco de pedra, me solta eu tenho que ir, tô muito atrasada!

___ Ah, não vai ficar para ver qual das discípulas de Regina George1 agarra a carne nova primeiro? — ele se referiu a Mel e suas pupilas que já estavam em volta do fotógrafo como abelhas no mel.

___ Ainda que ver a galinhagem da Mel seja tão divertido quanto se cortar num escorregador de gilete e cair numa piscina de álcool! — ambos gemeram, aflitos com a comparação — Eu estou mesmo muito atrasada!

___ Antes, primeiras impressões sobre seu novo lacaio?

___ Ele definitivamente vai desejar nunca ter saído de Vila Velha do Caminho Real se te ouvir dizer isso! — riu — Não sei, mal falei com o cara, nos reuniremos amanhã pra dar os primeiros passos.

___ Mesmo? — ergueu uma das sobrancelhas, desconfiado — Vai pegar leve assim, só porque obviamente, o cara é um modelo de cuecas?

___ Até você??? O que acontece, meu Deus do céu! Onde você e a Linda viram o cara de cuecas???

Agnes gargalhou.

___ Querida, deve fazer tanto tempo que você perdeu o olho clínico, só pode ser essa a explicação!

Cathy observou de canto de olho a Mel se abaixando para o mostrar alguma coisa na tela do seu computador, com o decote mais do que a mostra, os seios siliconados praticamente saltando pra fora.

___ Vai que esse é o pior defeito dele... – murmurou mais para si mesma, voltando-se para o antigo parceiro em seguida, que estava com aquela impressão "ferrou!" — Quando a revolução gráfica vai começar?

Tudo pra sair do assunto "novo parceiro".

___ O Martim disse que tenho mais uns dias para terminar meu projeto e apresentá-lo para diretoria geral!!!

___ Tenho certeza que vão aprovar a sua proposta!

___ Será a minha vez de voar e tudo graças ao modelo de cuecas ali!

Ela acabou rindo, desconfiada. Toda aquela simpatia inicial de Dre pelo recém-chegado é que não era normal. Ele nem de longe era tão amigável com os homens novos na redação, devido a "concorrência" com as garotas.

___ O que é? O cara chegou pra me dar a oportunidade da minha vida, eu tenho que, pelo menos, tentar ser simpático!

Cathy finalmente entendeu, mas o olhar desconfiado que ela enviou ao recém chegado fez Dre pensar que era hora de parar com as brincadeiras. Sim, Eros chegou pra lhe dar a oportunidade mais desejada desde sua chegada na revista, e ficar puxando o assunto, como se o novo parceiro fosse um "homem para se pegar" só faria Cathy criar um ranço pelo cara, sem sequer conhecê-lo.

___ Você foi mesmo se enfiar sozinha naquela favela, não foi? — perguntou, olhando para os pés imundos dela e vendo-a fazer um gesto positivo de cabeça, voltando a rir — Você é louca! Sabe quanto os traficantes estão pagando lá pela cabeça de uma jornalista intrometida como você?

___ Eu sou o pus na ferida dos poderosos, não dos pobres! Além disso, essa semana eu já peguei no pé dos traficantes, então, tenho que diversificar um pouco, sabe como é... — fez uma cara pensativa — Mas é sempre uma idéia!

___ Cathy! — ele se perguntou se ela tinha ouvido sequer uma palavra do que ele havia dito — Mas, e aí? Conseguiu encontrar a tal mulher que te ligou, pelo menos? Obteve mais denúncias contra aquela delegada safada?

___ Que nada! Tudo o que consegui foi ter certeza de que ela deve ter aprontado feio por ali e contra gente da grande, porque para todo mundo que eu perguntava, havia aquela peculiar engasgada antes de dizer que não a conhecia... — fez uma careta — Não resta muita coisa, a não ser que ela apareça outra vez.

___ Se ainda tiver viva, né?

___ É fundamental! — suspirou — Mas, mesmo assim, no ramo que eu tenho certeza que ela está trabalhando, não vai ser uma testemunha muito confiável, se for a única... Precisamos de mais gente.

___ Galera do meu coração! — Thomas se aproximou dos dois – Super jogo no sábado, quatro horas.

___ Tô dentro! — ela se adiantou — Nada extravasa, como gritar feito louca com um péssimo árbitro, no meio de outros cinqüenta mil torcedores irados com a vida!

___ Pra você, minha "revelação", tudo! — a entregou um ingresso, aproveitando para perturbá-la com o que Nes tinha dito no dia anterior — E aí, mais novo producer do portal?

___ Pronto pra arrasar, meu velho! — Dre o cumprimentou, exagerado como sempre no hi five.

___ Se eu não for agora, é capaz que tenha que aparecer assim no Tifany's e serei barrada na porta! — Cathy deu um beijo no rosto dos amigos que estavam em pé ao seu lado — Me dêem forças para não me pegar, no mau sentido, com o Ferrari! — saiu em seguida.

_____________________

1 Regina George é uma personagem do filme "Meninas Malvadas", de 2004.

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