Branca de Neve observou a empregada terminar de arrumar os edredons na cama de Evie. Ela substituiu os lençóis brancos de costume, por azul escuro, já que notou que a cor tendia dominar o guarda-roupa da mais nova. Era a mesma cor que a rainha Grimhilde havia escolhido, junto com preto e branco para serem as cores oficiais de seu antigo reino, quando ela era rainha. Para o dossel, Branca escolheu um azul mais claro, ao qual ela mesma usava como seu estandarte real. Embora tivesse certeza de que Evie poderia não notar, ela queria que o tema geral representasse uma ligação entre as duas.
Para esse efeito, o resto do quarto seguiu um estilo de decoração semelhante. As cortinas blackout e as cortinas de voal, tinham o mesmo tom de azul escuro e claro, enquanto a mobília era mais uma representação do gosto de Branca, um visual moderno. Ela repintou as paredes de um branco suave para combinar com a decoração da janela e quase considerou adicionar coisas a elas para preencher o espaço vazio, mas pensou melhor. Seria muito melhor Evie se encarregar disso, ela pensou.
— Terminamos com a cama, Vossa Majestade. — Uma das criadas, que se chamava Willow, falou. Branca assim, se virou e sorriu ao ver a aparência da cama. — Precisa de algo mais, senhora?
— Não, obrigada Willow. — ela sorriu para a jovem empregada. — E como está a sua mãe? — a rainha perguntou, ao lembrar que a mãe da garota estava doente.
— Ela está melhor. O seu médico pessoal conseguiu ajudá-la.
— Eu sabia que ele conseguiria. — Branca respondeu. Willow sorriu e fez uma pequena reverência, antes de sair do cômodo junto com as outras empregadas.
Depois que elas saíram, Branca olhou para cada canto do quarto, andando por ele, ainda sentindo que estava faltando alguma coisa, mas apenas atribuiu ao seu desejo de enchê-lo de coisas que Evie poderia gostar. Então, ela se lembrou de que por mais que ela quisesse fazer isso, ela precisava conhecer sua irmã primeiro, e um almoço, e um telefonema não lhe deu esse tipo de percepção.
Ela ouviu alguém limpar a garganta e virou o rosto sobre o ombro, vendo seu marido parado na porta. Ele estava sorrindo para ela, um sorriso que ela amava, porque era o que ele lhe dava, quando sabia que ela estava preocupada ou chateada, uma visão que poucas pessoas realmente tinham visto.
— Você acha que ela vai gostar? — perguntou a ele.
Florian acenou com a cabeça e entrou no quarto, se aproximando e ficando atrás dela, envolvendo os braços em volta de sua cintura e apoiando o queixo em seu ombro.
— Tenho certeza de que ela vai amar.
Branca deu um pequeno suspiro de alívio, mas ainda se sentia um pouco preocupada. E se Evie odiasse? E se ela decidisse que não queria ver essas cores? E se ela achasse que era muito claro? E se ela decidisse que toda essa situação era uma má ideia e pedisse para ir embora?
— O que houve?
— E se quando esta visita terminar, ela decidir que não quer dar uma chance? — Branca perguntou, virando-se para olhar para Florian, com as mãos do mesmo ainda em sua cintura, enquanto os braços dela estavam ao redor dos ombros dele. — E se ela me odiar?
— Ela não vai te odiar. — Florian falou, beijando a testa dela. — Eu não acho que alguém consiga odiar você.
— Eu sempre esqueço que você nunca conheceu a minha mãe. — ela disse a ele.
— Tecnicamente, ela é sua mad — Ele começou, mas logo se interrompeu ao ver as sobrancelhas de sua esposa se franzirem. — Eu tenho a certeza de que a Evie não é como a mãe dela. Não totalmente.
Branca olhou para Florian. Ela sabia que ele estava tentando apoiá-la, mas ela podia ver em seus olhos. Mais importante, ela podia ouvir na voz dele - a dúvida. Ela esperava que fosse apenas uma resposta ao seu estado atual, mas depois de vinte anos juntos, quinze como marido e mulher, ela o conhecia melhor do que isso.
— O que está te incomodando? — ela perguntou a ele.
— Além do fato de que estamos trazendo a filha da Rainha Má pra dentro da nossa casa?
— Florian, ela é minha—
— Ela é sua irmã. — Ele esclareceu, fazendo o seu melhor para soar neutro. Logo, Florian pausou, querendo escolher as palavras com cuidado. — Eu sei, eu entendi; mas ela continua sendo a filha da Grimhilde, que nasceu e cresceu na Ilha. Você não pode me culpar por ser cauteloso. Ainda mais pelo fato de que ela vai estar perto do nosso filho.
— Você realmente acha que eu deixaria algo acontecer com nosso filho?
— Não, mas acho que essa sua missão autoimposta, pode torná-la um pouco cega para os perigos da situação.
— Perigos? — Branca perguntou, tentando não soar com raiva. — Ela é uma garota de dezesseis anos.
— Que foi criada pela-
Branca pressionou os dedos nos lábios de Florian, enquanto os seus próprios estavam formados um pequeno bico de desagrado.
— Antes que você diga isso, quero te lembrar de que eu fui criada pela mesma mulher que ela, e eu me tornei um boa pessoa, não?
Florian acenou com a cabeça por trás do dedo dela, um sorriso suave e gentil curvando seus lábios. Ele tirou o dedo dela, mas segurou-o, dando um beijinho na ponta, fazendo uma risadinha sair de Branca. — Você cresceu lindamente. Você é a pessoa mais gentil, doce, generosa e misericordiosa que conheço. E apesar das minhas reservas, vou tentar dar a Evie a chance de provar o mesmo, ok?
Branca sorriu agradecida, adorando lembrar-se do por que ela se casou com ele.
— Obrigada. — ela falou suavemente. — Agora, se me der licença, vou garantir que nosso filho também esteja de acordo com isso.
Antes que o homem pudesse responder, ela deixou um selinho em seus lábios e assim, saiu do local.
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Raymond estava em seu quarto, fazendo pesquisas para seu projeto de ciências que deveria ser entregue na segunda-feira. Ele estava sentindo o peso do prazo de entrega se aproximando dele, já que tinha tido quase duas semanas para fazer o trabalho, mas ficou adiando. Agora ele estava preso tentando fazer a pesquisa hoje, para começar o projeto amanhã, e se tivesse sorte, terminá-lo no domingo, assim ele não teria que terminar antes da escola. Mas, sabendo que normalmente ele nunca conseguia terminar algo assim tão rápido, ele tinha a certeza de que na segunda estaria tentando finalizar o trabalho antes de ir a escola.
Isso, se aquela visita não me atrapalhar ainda mais, ele pensou. Assim como o resto do palácio, ele estava sentindo a tensão das preparações para a visita da irmã da mãe dele.
Evie – o nome trouxe à tona os rumores que começaram a circular, quando se descobriu que ela era parente de sua mãe.
Ela é a meia-irmã da Rainha Branca. Ela é filha da Grimhilde. Ela foi criada na Ilha. Ela foi convidada para vir ao castelo. Que tipo de influência ela terá sobre a Rainha? Ela tentará se colocar na linha do trono?
Pessoalmente, toda a questão do trono era inútil. Não que ele se importasse, mas ele sabia que seu lugar como príncipe coroado estava seguro. Mesmo que Evie tivesse uma reinvidicação, o fato de que sua mãe era a irmã mais velha, fazia com que a linha de sucessão ao trono pertencesse a ele. O que o incomodava, era a maneira como sua mãe era tão inflexível em fazer de Evie parte da família. Ele não era contra a ideia, ele só estava preocupado com o fato de que se isso desse errado, sua mãe sairia magoada. Por mais que ele quisesse dizer algo, ele sabia que sua mãe estava animada com isso. Ela também estava um pouco nervosa, mas principalmente animada.
— Toc, toc, mocinho. — Ele ouviu atrás dele, e viu sua mãe na porta. — Podemos conversar? — Raymond assentiu e Branca entrou e se sentou na cama, enquanto ele virou a cadeira giratória para olhá-la. — Então, acho que você sabe sobre o que eu quero conversar, não é?
O mais novo voltou a assentir: — Evie.
— Está tudo bem para você? Eu trazer a Evie para uma visita?
— Eu acho que sim.
Branca olhou para o mais novo. Muito parecido com o pai, ela pensou, tinha até o mesmo olhar que ele fazia quando estava se segurando para não dizer mais que o necessário.
— Mas? — ela o incentivou.
— Eu só não quero que você saia magoada, mãe.
Branca sentiu uma onda de emoção percorrer seu corpo. Por mais novo que fosse, ele estava mais preocupado com os sentimentos dela, do que com os dele nesta situação. Talvez o Chad não tenha o influenciado tanto assim, ela pensou.
— Querido, numa situação como essa, sempre tem a chance de alguém sair magoado. — Ela disse a ele. — Mas se magoar é um risco que às vezes você tem que correr quando se trata de família, ou neste caso, quando se trata de tentar tornar alguém, família. Agora eu entendo que você está preocupado comigo, e eu te amo por isso, mas Raymond, não se preocupe com isso, ok? Se preocupe em fazer a Evie se sentir em casa, está bem?
Mais uma vez, Raymond apenas assentiu. Mas quando ele olhou para sua mãe, ela percebeu que havia algo mais o incomodando.
— Ei, posso ver em seu rosto que há outra coisa que você gostaria de perguntar. Manda.
Raymond respirou fundo e logo falou:
— Não é uma grande coisa, mas... Eu estava pensando, quando ela estiver aqui; como eu deveria chamá-la?
— Perdão? — A rainha franziu as sobrancelhas, confusa com aquela pergunta.
— Como eu deveria chamá-la? Devo chamar ela de Evie? Ou, tia Evie? — Ele parecia realmente perdido.
Branca teve um pequeno ataque de risos. Ela tirou uma mecha de cabelo dos olhos dele e segurou seu rosto suavemente com a mão direita:
— Por que você não pergunta e deixa ela decidir? — Ray ao ouvir, assentiu levemente e sorriu. — Obrigada por concordar com isso.
— Não há de quê, mãe.
Branca se levantou para sair, mas parou quando chegou à porta. Ela se voltou para o filho e deu-lhe um olhar conhecedor:
— Se te ajudar a conhecê-la melhor, ouvi dizer que ela é muito boa em ciências. Talvez ela possa ajudá-lo com aquele projeto que você acha que não sei que você tem adiado. — Ela sorriu, antes de finalmente sair do quarto.
Raymond virou-se para a escrivaninha, pasmo por sua mãe saber disso. Ele pensava que tinha feito um bom trabalho ao deixá-la imaginar que seu projeto de ciências estava sendo feito.
Como ela sabia disso? Ele pensou.
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Cerca de uma hora depois, Branca estava esperando na base da escada do palácio. Seus nervos estavam quase fazendo-na entrar em pânico. Ela mal conseguia ficar parada, e se não fosse por Florian e Raymond em pé com ela, ela estaria andando de um lado para o outro. Depois de cerca de um minuto, eles puderam ver o carro que ela havia enviado, subindo a estrada da garagem e parando na frente deles. O motorista saiu e foi até a porta traseira, e os três ficaram olhando enquanto ele a abria.
Um par de botas de combate com pequenos saltos se fizeram presentes, seguida por pernas vestidas com leggings com desenhos de teia de aranha azul escuro. Logo, a igualmente nervosa dona das roupas mencionadas, saiu completamente do veículo, sua saia de couro preta e blusa azul escuro combinando e completando o traje. O sol batia em seu cabelo no ângulo certo, fazendo o azul de seus fios quase brilharem.
Os quatro olharam um para o outro, tentando sentir o momento. Respirando fundo, Evie andou e diminuiu a distância entre eles.
— Uhm, oi Branca. — Evie falou nervosamente.
— Olá, Evie. — Branca falou ao mesmo tempo.
As duas assim, pausaram, sorriram, e então caíram em uma pequena risada.
Bom, a parte difícil já foi, Evie pensou, já estou aqui.
Por favor, que ela se sinta em casa, Branca desejou.
— Você vai ficar parada aí? Ou vai me apresentar? — surgiu uma voz vindo da limousine.
Branca olhou para trás de Evie e viu que a mesma tinha aceitado sua oferta de trazer uma amiga consigo, quando notou a garota de cabelos púrpura, que havia saído do carro.
— E ai, eu sou a Mal. — ela falou, com um sorriso ladino.
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Capítulo inteiro só dá Branca, pq sim :3
Então, acham que o Florian irá manter a promessa de não julgar ou cobrar a Evie, enquanto ela estiver no castelo deles?
A história tem Mevie, mas ela sempre será voltada para o relacionamento da Evie com a Branca, ok?
Espero que tenham gostado, obrigada por lerem, não esqueçam de votar e até a próxima ❤️✨