**33° dia de acordo**
Amelia Ballard
Estava passando o dedo pelo tecido liso do vestido enquanto esperava terminarem de prender meu cabelo em um rabo de cavalo soltinho.
Tinham cacheado meu cabelo em forma de S e pegado todo ele o colocando para trás, porém deixaram a franja e apenas prenderam atrás da orelha com um grampo da cor do meu cabelo.
Mordi o dedo que estava com esmalte e logo o tirei da boca sentindo o gosto ruim, Lincoln estava pegando os sapatos quando a porta abriu.
Lori chegou com um sorriso e um vestido vermelho maravilhoso no corpo dela, seus cabelos estavam presos em um coque cheio por causa do comprimento.
-Ah, você está linda!- ela fechou a porta atrás de si.
-O mesmo para você.- sorri tentando não entregar de cara que eu sabia de algo.- Onde estão as outras?
-Carol está chegand e Jess saiu de casa.- ela olhou no relógio de pulso.- Elas moram perto, chegam daqui a pouco.
-Não estou preocupada.- balancei a cabeça.
-E por que está balançando a perna como se estivesse ansiosa?- ela sorriu.
-Não é por isso.- eu olhei para Lincoln.
-Seus sapatos...- ele me deu e olhou para as duas mulheres que ajustaram minha maquiagem e meu cabelo.- Vamos.
-Obrigada.- falei a eles.
Assim que saíram eu coloquei os saltos no chão e os calcei sem maiores problemas, mordi o lábio e levantei.
Lori piscou e percebi que ela estava ficando inquieta, o que me deixou ainda mais nervosa, então decidi que não falaria de cara.
Daria espaço para ela me falar o que quisesse, e torcia muito para ser sobre Miguel, e sobre eles dois, sabia que havia algo.
-Está me assustando, Amelia.- ela sorriu.
-Só estou feliz por ter você aqui.- sorri.
-Também estou muito feliz, por ter conhecido você.- ela segurou minha mão.
-Sabe que pode falar qualquer coisa para mim, não é?- franzi as sobrancelhas.
-Sei.- ela assentiu com calma.
-Ok.- ela não queria contar agora, tudo bem.
-Quer descer ou esperar todo mundo chegar?- ela perguntou.
-Vamos descer logo.- balancei as mãos.
Ela assentiu deixando a bolsa no meu quarto, abri a porta e finalmen sai do quarto depois de o que, três horas?
Já estava escuro e as luzes amareladas já estavam ligadas, ouvia conversas calorosas lá em baixo e finalmente percebi: eu estava noiva.
Mordi o lábio e parei no meio do corredor, Lori franziu as sobrancelhas e tocou meu ombro falando alguma coisa.
Meu deus eu estava noiva! Eu sabia que isso ia acontecer, nunca tive dúvidas que Aaron iria deixar o acordo de lado, mas parando para pensar...eu estava noiva.
-É um ataque?- Lori franziu as sobrancelhas.- Achei que só tinha isso no dia do casamento.
-O que?- levantei as sobrancelhas.
-Digo...se quiser fugir eu te apoio totalmente.- ela balançou a cabeça.- Posso até fingir algo para você passar. Carol pode segurar o elevador...
-Não, eu não quero fugir.- tentei sorrir.- Aaron está lá embaixo?
-Sim.- assentiu atenta.
-Pode chamar ele para mim, por favor?- perguntei.
-Claro.- ela começou a ir até às escadas.
-Lori.- a chamei e ela virou.- Já tinha planejado tudo?
-Eu ia ser a distração, Carol iria levar você até um carro onde Jess estaria esperando.- ela sorriu.- É bom ter um plano B. Apesar de eu achar que você não precisa com Aaron.
-É.- assenti sorrindo.
Ela assentiu novamente e desceu as escadas, eu estava tão ocupada com as brigas e a arrumação do jantar que não percebi que aquele jantar era para comemorar o meu noivado.
Não podia estar tão na cara assim que eu estava em pânico, não é? Eu só estava um pouco ansiosa, só isso.
✴️
Aaron Woodward
Ela estava em pânico. Andava de um lado para o outro enquanto eu subia a escada com calma e tranquilidade.
O vestido dela era completamente branco, não creme, mas sim branco, era um vestido lindo, a saia era rodada, as mangas iam até as dobras dos braços dela, o decote em U.
Sorri quando ela me viu e parou na minha frente, a ficha dela parecia ter caído, e eu não me sentia ofendido ou algo do tipo, só queria que ela ficasse calma.
-Estamos noivos.- ela sussurrou e eu ri.
-Sim.- segurei a mão com o anel de noivado.
-Não tinha caído a ficha...
-Eu vi.- levei a outra mão até o rosto dela.
-Lori pensou que eu queria fugir, até fez um plano.- ela tentou sorrir e eu fiquei surpreso.
-Você quer fugir?- perguntei com medo da resposta.
-Não.- ela balançou a cabeça.- Falei que ia ficar com você.
-Ótimo.- nos aproximei.- Por que você é a melhor coisa que me aconteceu.
-Aaron...
-E você está deslumbrante.- sussurrei.- Linda.
-Obrigada.- ela sorriu sem graça.
-O que está usando por baixo?- perguntei em tom sensual e ela sorriu ainda mais.
-O modelo do vestido não permitiu um sutiã.- então foi ela que aproximou a boca da minha.- Estou só de calcinha.
Meu corpo todo arrepiou, senti os lábios dela encostarem nos meus apenas por dois segundos antes de se afastar.
Continuamos de mãos dadas e ela me puxou em direção a escada, pelo visto tinha acabado com o pânico dela, mas agora ela tinha de deixado em pânico, para terminar aquela noite de uma vez por todas.
Caminhando atrás dela e apalpei sua bunda e ela afastou minha mão, sorri quando vi as bochechas vermelhas dela.
-Depois.- ela murmurou.
-Então está dizendo que vai haver um depois.- murmurei no mesmo tom.
-Depende de você.- ela ajeitou minha gravata.- Se você se comportar...- o olhar dela subiu quente para mim.- Talvez.
-Me comportar?- sorri percebendo o tom mandão dela.
-Sim.- ela começou a descer as escadas.- Vai ficar parado aí, Aaron?
-Claro que não.- comecei a descer atrás dela.
Todos já deviam estar aqui, até Lincoln estava bebendo um champanhe, ela foi em direção da mãe e Laura apenas sorriu a olhando de baixo para cima.
Amelia apresentou as meninas para Laura e eu cheguei ao lado de Miguel, então percebi ele olhando para Lori, que curiosamente olhava para ele com a mesma intensidade.
-Há quanto tempo, hein?- pergunto e ele me olha com surpresa.
-Cinco dias.- ele sorriu desabafando.
-Isso é bom, Miguel, achei que nunca mais traria uma garota para casa.- lembrei da última namorada dele, Miguel ainda tinha pesadelos com aquela...
-Não conte para Amelia.- ele logo falou.- Lori quer contar.
-Vai ser um poço difícil esconder isso dela, Amelia percebeu coisas demais.- balancei a cabeça.
-Ela falou que contaria hoje, mas pelo visto ainda não contou nada.- ele cruzou os braços e olhou para Lori.
-Ela pode contar amanhã.- murmurei.- Dorme aqui, no quarto de Amelia.
-E ela vai dormir...- ele começou a perguntar, mas então viu meu sorriso.- Duvido muito, faz cinco dias que vocês estão brigados.
-Vou me comportar.- voltei a olhar para Amelia.
-Outra coisa que duvido.- ele riu de novo.
-Quer parar de duvidar de mim?- me fingi de ofendido.- Onde Willie e Hunt estão?
-Ali.- ele apontou para o bar e os vi.- Tentei tirar Hunt de lá mas pareceu grudado no banco.
Respirei fundo, já sabia o motivo dele estar assim, e era disso que eu estava com medo, era o dia de Amelia, não queria que nada desse ruim.
-Ele ainda está com isso?- perguntei para Miguel.
-Sim.- assentiu.
-Está liberado, pode rodar por aí.- coloquei as mãos nos bolsos.
-E quem vai cuidar de Amelia...
-Eu.- o interrompi.- Vá se esconder em algum banheiro com Lori.
Ele sorriu e então eu me virei indo até o bar, amanhã o segurança pessoal de Amelia chegaria, e era exatamente por isso que me comportaria.
Não duvidava nenhum pouquinho que há era mais brigas amanhã entre eu e Amelia, mas era algo que estava disposto a passar pela segurança dela.
Enquanto isso eu só tinha que garantir que hoje fosse perfeito para ela, se estivesse feliz então aceitaria dormir no meu quarto.
Pedi um uísque com gelo para o barmen do bar que eu tinha contratado e vi que Willie e ele conversavam animados, por isso cheguei ao lado de Hunt.
-O que houve?- pergunto.
-Hãn?- ele levanta o rosto.
-Por que está triste hoje?- perguntei apesar de saber o motivo.
-Sabe quando bebo demais fico melancólico.- ele tentou escapar.
Meu uísque chegou e segurei o braço dele com força, me aproximei lentamente, não gostava de ameaçar, mas quando precisava fazer, não pensava duas vezes.
-Se fizer merda hoje eu mato você, Hunt.- murmurei.- Entendeu?
-Sim, chefe.- ele assentiu.
-Ótimo.- o soltei e ajeitei minhas roupas.- Como está aí, Willie?- peguei o copo.
-Incrível.- ele sorriu e eu assenti.
Comecei a caminhar novamente até Amelia, Laura estava parecendo contar uma história, então cheguei lá meio calado.
Até perceber qual história ela estava contando, aquela que Amelia caiu de bicicleta com doze anos e eu a ensinei a andar de bicicleta direito.
Acho que foi a única vez que fiz contado com ela, lembrava perfeitamente o por que de ensinar ela a andar, e era exatamem para que se ela estivesse em perigo.
Ela olhou para um lado e depois para o outro, sorri quando percebi o que ela queria achar ela eu ou... Lori.
Ela rodou o rosto de novo e se aproximou de mim como se estivesse tramando um plano maligno e ninguém pudesse saber.
Já tinha mentido várias vezes, sabia como enganar alguém, mas de alguma forma não conseguia mentir muito bem para Amelia, ou ela que era uma ótima detectora de mentiras.
Mas ao ver ela se aproximando soube o que ia perguntar, sabia que talvez eles estivessem juntos em algum canto.
-Você viu Lori?- perguntou.
-Não.- balancei a cabeça.
-E Miguel, onde está?- ela mordeu o lábio.
-Também não sei.- e então ela olhou para mim, penetrante.
-Eu acho que os dois estão juntos.- ela me contou.- Só tenho que saber...
-Por que é tão importante que saiba?- perguntei.
-Por que ela é minha melhor amiga e quero que ela saiba que pode contar tudo pra mim.- ela tomou fôlego.- E ela ainda não falou comigo.
-Bem, tenho certeza de que se estiverem tendo algo, vão falar.- toquei o queixo dela e a obriguei a olhar para mim.- Não se preocupe, curta seu dia.
-É seu dia também.- ela suspirou.
-Todo dia é meu dia, Amelia.- ele sussurrou.- Sabe por que?
-Não quero nem perguntar.- ela sorriu e rocei o nariz dela.- Ok, por que?
-Por que tenho você todos os dias.- murmurei perto dos seus lábios.
Ela sorriu e então se aproximou, mas o som do elevador nos fez olhar para trás, e não acreditei no que estava vendo sair do elevador.
O rosto de Amelia se desfez ao meu lado ficando sério e seus olhos logo começaram a brilhar contendo lágrimas.
✴️
Amelia Ballard
Podia ser alucinação, podia dor eu estar vendo o que estava vendo, mas não conseguia distinguir uma coisa da outra nesse exato momento.
Era para ser uma hora perfeita, só queira apenas uma hora perfeita com meus amigos, jantar e então ir pra cama com Aaron.
A mão dele se arrastou pelas minhas costas e me trouxe para perto de si, mesmo assim não parou minha tremedeira.
Não sei como ele ainda tinha tanta força em mim, me deixava apavorada e sentia dor, literalmente sentia dor.
-O que ele está fazendo aqui?- minha mãe gritou e me acordou.- Ele devia estar preso!
-Eu vim me desculpar.- Jason mostrou as palmas da mão.
-Se desculpar por...
-Mãe!- gritei antes que ela falasse na frente das meninas.
-Vamos para o escritório.- Aaron falou calmo.
Então os quatro foram na direção do escritório se Aaron perto da sala de jogos, fechei a porta atrás de mim e encostei meu corpo nela.
Olhei para baixo e me certifiquei de que não estava sangrando, mas não, o vestido não tinha sequer uma sujeira.
-Vim recuperar vocês de volta.- Jason explicou.
-Você está louco? Depois de atirar em nós?- minha mãe estava chorando.
-Calma, mãe.- sussurrei indo na direção dela.
No meio do caminho a mão de Jason prendeu meu braço, ele apertou meu braço e então olhei para ele tremendo.
Aaron levantou rapidamente e ficou entre ele e eu enquanto segurava o pulso de Jason e soltava meu braço da mão dele.
-Não toque nela.- Aaron murmurou baixinho.- Não toque em nenhuma das duas.
-Eu só estava tentando nos proteger.- Jason tocou o peito olhando para mim.- Proteger da família dele, Amy.
-Eu preciso sentar.- minha mãe começou a ir até uma cadeira longe.- Por que não o levou para a delegacia, Aaron?
-Não precisava disso, achei que ele iria querer recuperar a saúde de volta.- Aaron olhou para mim.- Eu juro que não sabia disso...
-Eu sei.- toquei o ombro dele e o olhar dele se desfez em alívio.
-O que é isso no seu dedo?- Jason olhou do meu anel para meus olhos.- Espero que me diga que ele colocou aí contra a vontade.
-Pai, você já fez demais.- rosnei.
-Eu quero vocês de volta.- ele olhou para Aaron.- Libere ela do acordo, por favor.
-Não.- Aaron balançou a cabeça.- Não tem o direito de pedir isso a mim.
-Amy...- ele começou a esticar a mão e meu cérebro só conseguiu fazer uma coisa.
Me escondi atrás de Aaron como uma criança de seis anos, meu pai arregalou os olhos e Aaron levou a mão até a minha.
A porta abriu e Miguel viu a cena, minha mãe sentada e chorando descontrolada, eu escondida atrás de Aaron e Jason de olhos arregalados.
-Acho que não vai gostar do que eu tenho a dizer.- Miguel nos encarou.
-O que foi?- Aaron apertou minha mão.
-Bem, é que...
-Cheguei!- Mia sorriu.
Ela estava com um vestido quase tão pequeno quando uma trapo de pano, seus cabelos estavam cumpridos e soltos.
Eu gemi e então minha testa descansou mas costas de Aaron, ele virou segurando meu rosto e então me encarou.
Sabia o que ele ia perguntar mesmo antes de abrir a boca, tudo que fiz foi assentir, queria que aquela festa acabasse.
Mas o problema seria outro, como tiraria meu pai e Mia daqui? Por que pelo que sabia os dois não eram de desistir fácil, seria una briga e tanto.
Olhei para Mia e ela sorriu, olhei para o meu pai e ele parecia surpreso por eu estar deixando Aaron me tocar daquela forma.
Eu só queria um jantar em família normal, mas parecia que agora não era a melhor hora, será que tínhamos que ir para o meio do mato comemorar isso?