Desde o Princípio - Livro 1...

By LSOliveira80

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Pode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando int... More

Nota da Autora + Book Trailer e Aesthetics
Epígrafe
Coimbra, junho de 1849
Viarello, agosto de 1849
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Desde o Princípio - Andrógenos do século XXI
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Viarello, novembro de 1847
Coimbra, dezembro de 1847
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 7

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By LSOliveira80

Acredite ou não, está lá

Vila Velha do Caminho Real, tempos atuais

___ Patrícia, por favor! Não venha dizer que você esperava mais de mim! Eu sempre deixei claro que não queria um relacionamento sério e você sempre vivia falando em casar com algum milionário da moda, ou coisa parecida!

Justine escuta a conversa do primo do corredor que dá aceso a Adega. Estava finalizando algumas anotações quando ouviu a campainha disparar várias vezes e imaginou que não havia ninguém em casa, mas agora via que se enganara.

___ Mas nós somos perfeitos juntos!

A mulher insiste com um tom lamentoso e ela se sente na obrigação de bisbilhotar para ver como o primo vai sair dessa.

___ Você não gosta mais do que vê?

Espiando a conversa, Justine pensa que, se tivesse uma injeção de semancol líquida, usaria na interlocutora imediatamente!

___ Vá para casa! — Eros finaliza com ares de quem está perdendo a paciência e claro, a outra retruca:

___ Seu cínico! Que ódio de você! Aposto que já arrumou outra para seduzir!

"Céus, foca na autoestima mulher!!!", Justine pensa, fazendo gestos negativos de cabeça.

___ Se sim ou não, não é problema seu!

___ Eu te amo, Eros! Você não pode fazer isso! Não pode me abandonar assim, como se eu fosse nada!

___ Não acredito que você consiga sentir amor por outra pessoa que não seja você mesma! Por isso, poupe-se desse teatro ridículo e vá para casa!!!

___ Auch! – Justine sussurra, inconformada com a atitude da garota, ela praticamente pediu por isso!

___ Tenho certeza que se parar agora, vai ter muito menos para se arrepender amanhã! — Eros arremata e entende que a mulher se deu por vencida.

___ Eu quero que você morra! Você nunca vai ser feliz com outra mulher, Eros Vicenzze!!!

O berro atravessa a sala e Justine se revela, ainda rindo, enquanto o primo fecha a porta com um suspiro e esfregando a têmpora.

___ Isso terminou super bem! — provoca, vendo-o se voltar para ela com um ar cansado — Se eu fosse você, corria tomar um banho de arruda! Dizem na cidade que a Patrícia tem um pé na umbanda e que ela estava doida pra fazer um trabalho para você!

Eros revira os olhos e nada diz.

___ E acho que eu nem preciso dizer que eu avisei!

___ Mas é claro que você vai dizer mesmo assim, não é?

___ Eu avisei, otário!!! — ela gargalha e ele acaba rindo junto com a sua pirralha favorita — Se aprendesse a manter a cama e eca!!! O sofá vazio! E eu já também já avisei que nunca mais me sento nesse móvel outra vez!!! Não teria que passar por nada disso!!!

___ Primeiro, eu já mandei desinfetarem o sofá... Bem, você sabe! E depois, juro que vou deixar de me levar pelas aparências daqui a diante!

"A não ser que encontre a mulher das fotografias da Viarello", foi o pensamento que Eros não revelou.

___ Acho bom! Não aguento mais essas peruas rondando a Adega, chego a dar graças que você vai embora!

___ É tão bom se sentir tão amado! — ele brinca e a segue até a cozinha.

O relacionamento dos dois sempre foi divertido, apesar dos dez anos que os separam. Justine deixou de ser a primininha protegida para se tornar uma garota autossuficiente e de negócios (ele não tinha vergonha de dizer que ela era o talento da família para isso, ele próprio, só prestava para o trabalho bruto!).

Então,apesar da noite ter começado com um dramalhão anunciado, terminou muito bem. 

Na outra manhã, Eros foi à Villa Vicenzze, onde a plantação para a produção de vinhos era comandada por Enrico, que sempre saía para pescar, não interessava a se era época de safra ou não.

Caminhou por um tempo entre o parreiral e logo chegou ao riacho, que descia a Serra na direção do mar, encontrando o senhor sentado na mesma pedra de sempre.

Sem dizer nada, Eros se senta ao lado do tio, que aperta o seu joelho e nada diz.

Tendo acompanha-o desde criança, sabia que pescarias não eram lugar para conversar ou não haveria nenhum peixe!

Eros aproveitou para sentir a brisa fresca da mata quase fechada que os cercava, ouvir os sons da natureza. Sempre gostou muito daquele lugar, apesar de sentir que viver tanto tempo ali tinha lhe roubado do que ele realmente gostava de fazer, que era fotografar. Mas sua família havia escolhido aquele lugar em função das terras e do clima e ali tinha se transformado, sim, no seu lar. Lar que poderia ter frequentado em outro século... Em outra vida...

Desde que viu aquelas fotos na mansão dos Rossi, o pensamento rondava a sua mente constantemente.

Ainda não tinha chegado a conclusão se acreditava ou não. Mas também não teve coragem de realmente pesquisar a respeito.

Quando Enrico se dá por satisfeito, se levanta e só então eles conversam:

___ Fala a verdade, você vai sentir falta disso aqui!

___ Nunca disse que não ia!

___ Te aguardamos para a colheita, hein? Não podemos dispensar esses brações fortes para o trabalho pesado!

___ E isso é o zio sendo um carcamano sovina! — ele brinca e eles riem, Enrico está acostumado a ouvir disso de todo mundo, não que seja verdade.

Ele é justo, nada mais que isso!

___ Falei com Roberto Rossi ontem à noite.

___ É mesmo? — Eros se faz de desinteressado.

___ Ele me disse que os portões da mansão estarão abertos para quando quiser voltar, mesmo que ele não esteja.

___ Fico feliz! Porém, conversei com Hilde e com essa proposta de emprego que surgiu, nós decidimos adiar a exposição para o final do ano, você sabe, os turistas e...

___ Por que você não quer mais voltar lá, filho?

___ Se conversou com ele, tenho certeza que sabe o porquê! – responde, inspirando profundamente e sentindo o cheiro do campo.

___ Ficou tão impressionado assim?

___ E não era para ficar? — retruca, um pouco desconfortável.

Enrico segue caminhando, ágil para alguém da sua idade, sua saúde melhorou muito depois do primeiro susto, mas ainda assim, Eros sempre teme pela única figura paterna que lhe restou.

Quando o casarão está visível, com suas janelas de madeira azuis, Enrico se volta para o sobrinho:

___ Sabe, seu pai também não costumava acreditar nessas coisas.

___ Coisas? — perguntou, incomodado.

___ Vidas passadas.

___ Ah zio! — Eros ergue as mãos, gesticulando um "deixa para lá", acelerando para entrar logo na casa, deixando o senhor para trás.

___ E era exatamente essa a reação dele! — Enrico o seguiu, não desistiria de esclarecê-lo — Mas eu sei que você é mais sensato do que o seu pai, e que por isso, você vai me ouvir!

Eros odiava quando Enrico fazia esse tipo de jogo. E se ia ter que ouvir um sermão sobre aquele assunto incômodo, então a única chance de sobreviver à isso era tomando vinho e ele foi se servir.

___ Independentemente de acreditar ou não, sabe que está lá! — o tio chega a cozinha e o encontra já bebendo o néctar escuro num copo comum, sem nenhum preparo e isso o mostra o grau de desconforto do sobrinho — E se eu ajudei a te criar, sei porque você está tão perturbado.

___ Eu não estou perturbado! — Eros insistiu.

Enrico olhou-o com o olhar mais duvidoso do mundo, sentando-se ao lado do balcão de madeira escura, os ladrilhos coloridos ao redor.

___ Por que, ao invés de ficar querendo fugir do assunto que não te sai da cabeça, você não pesquisa mais um pouco?

___ Pesquisar o quê? Reuniões de mesa branca? — ironizou.

O velho tomou um gole do líquido forte e gelado, e conhecendo bem o motivo da negação do sobrinho, decidiu que não o deixaria continuar fugindo do assunto.

___ Madonna mia! — o italiano típico exclamou — Estamos só nós dois aqui, não é mais fácil você admitir que está impressionado com essa história porque ela é a coisa mais romântica que você já ouviu na vida???

___ Ah, não sabia que assassinatos e mortes trágicas agora eram românticos!

Enrico começou a rir e Eros ficou ainda mais irritado.

___ O que houve? Está envelhecendo e ficando rabugento como o seu pai!!! Qual é o problema em admitir que você é um romântico!?! — gargalhou, achando muita graça da semelhança, no que só aporrinhou Eros, que retrucou:

___ Que quer dizer que a sua sábia conclusão nisso tudo é a de que eu me apaixonei pela defunta? — estava pra lá mal-humorado com aquela conversa.

___ Não se faça de mosca morta, moleque! — riu — Você está perdendo o sono porque está encantado com "la estória d'amore"! E a ideia de que a tua alma já amou e teve alguém é ao mesmo tempo, animadora e tão absurda, que sua mente racional se recusa a acreditar!

Eros bebeu todo o líquido de uma só vez — coisa que nunca fazia, enxugando a boca avermelhada com as costas da mão, numa atitude rude, como quem queria se convencer de não crer no que dizia o tio.

___ E mais: pela sua cabeça que ainda desconhece o amor, passam milhares de ideias de como ele pode ser bom e... Fatal! — Enrico se divertia muito, com direito a gestos e uma voz fantasmagórica.

___ Ora! Eu não acredito que estou aqui ouvindo tanta "porqueria", hein? — imitou o sotaque italiano de seu tio, decidido a dar fim na conversa.

___ Pois saiba que existem almas gêmeas, eu sempre acreditei plenamente nisso.

___ Porque o senhor já encontrou várias, não é mesmo? — provocou o tio que ignorou solenemente o comentário.

___ E se era mesmo você aquele homem, ela também deve existir.

Eros o olhou, a expressão surpresa, como a de um menino a descobrir a morte — ou a vida.

Estava com aquela ideia na cabeça há dias, ironizando com sarcasmo o pensamento de encontrar a mulher das fotos, mas nunca tinha ido mais longe no devaneio.

Seria possível que aquela mulher também tivesse sua "cópia" atual?!? E ser sua alma gêmea, então... Aquilo mais parecia um surto esquizofrênico, ou, como pensariam os normais, um filme romântico.

___ Para de uma vez de querer sustentar essa fachada de machão ignorante! Primeiro porque sonhar com amor não fará de você menos homem! E segundo, porque se o seu coração está te pedindo alguma coisa, escute e obedeça, porque senão você vai se arrepender muito!

Eros apenas suspirou. Droga de família que sempre estava mandando-o seguir seu coração.

___ Vai ver que isso é uma coisa que acontece! Só está um pouco mais temperada dessa vez, só isso. — Enrico concluiu.

___ Eu odeio quando você vem com essas histórias de coração pedindo alguma coisa... — murmurou uma reclamação — Não me espanta que a Justine viva dizendo essas asneiras!

Mas em seguida cessou as murmurações, num silêncio de quem descobria algo muito importante. Capaz de mudar os rumos que sempre tinha planejado para a vida. 

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