A grama do vizinho nem sempre...

By zarthas

294K 34.2K 139K

Jeon Jeongguk é um garoto inocente, mas o pouco que conheceu da vida não lhe permitiu exatamente viver como g... More

avisos
Prólogo: Mimeomia
[1] Anthrodynia
[2] Liberosis
[4] Ambedo
[5] Monachopsis
[6] Nodus Tollens
[7] Exulansis
[8] Nementia
[9] Zenosyne
[10] Kairosclerosis
[11] Ecstatic Shock
[12] Ellipsism
[13] Énouement
[14] Lethobenthos
[15] Rigor Samsa
[16] Gnossienne
[17] Chrysalism

[3] The Bends

13.8K 2.1K 9.2K
By zarthas

Olá!, uau, to meio chocada com todo o carinho que a fic tá recebendo, principalmente porque ela só tá sendo repostada :( mas tô feliz e queria agradecer os comentários de cada um. Obrigada mesmo. Fico MUITO feliz. 

!Esse capítulo contém uso de drogas recreativas! Foi escrito em 2017, no spirit, mas eu adicionei algumas coisas. Se gostarem, comentem pra eu saber o que cês tão achando. Boa leitura <3


Jeongguk estava surtando. E não era nem pelo fato de ter um homem o abraçando de lado e assustadoramente próximo.

Aquele lugar, aquelas pessoas, aquele âmbito. Ele preferia acreditar que estava em um daqueles sonhos malucos em que tudo parece ser real demais e a única coisa que você pode fazer é esperar acordar. Ainda impressionado, percorrendo os olhos em cada detalhe, ele não conseguia imaginar o quão diferente as pessoas poderiam ser. Em aparência e comportamento.

Sempre preso à própria bolha que os pais haviam construído para ele, parecia demais estourá-la em apenas uma noite, ainda mais dessa forma, com um estranho, um estranho cheios de tatuagens, seu vizinho.

— E aí, capetão! — Um garoto disse quando se aproximaram de um grupo composto por quatro pessoas, todas vestindo a mesma jaqueta que Taehyung, em volta de um carro bizarramente alaranjado. Jeongguk arregalou os olhos com a forma de tratamento, tentando se afastar de Taehyung, que apenas revirou os olhos e o cumprimentou com um aceno e um sorriso enviesado.

Um dos garotos possuía cabelos verdes e estatura baixa, o outro tinha os cabelos num tom de rosa chiclete e era o maior entre eles, o terceiro, que tinha cabelos pretos e um sorriso escandaloso, encontrava-se abraçado à única garota ali.

— Começaram sem mim, seus merdas.

— Você demorou demais, Tae, o que houve? — A garota perguntou. Ela era muito bonita, o rosto forte e tinha algumas tatuagens no pescoço. Jeongguk sentia a ansiedade bater em seu estômago, fazendo com que ficasse inquieto ao lado de Taehyung, as mãos entrelaçadas na frente do corpo, nervoso.

Não pertencia àquele lugar.

— Eu tive um assunto para resolver. — Taehyung reforçou o abraço lateral, fazendo com que as pessoas olhassem na direção de Jeongguk, que se encolheu em instinto ao ter aqueles desconhecidos o encarando. Desviando os olhos para qualquer outro lugar que fosse os rostos curiosos, sentiu o sangue fluir para bochechas, o medo do julgamento apertando-lhe o estômago.

— E onde você comprou ele? — Um deles perguntou, o de cabelos rosa, divertido, enquanto analisava Jeongguk como se ele realmente fosse alguma peça para venda. — Quero um.

— Você só fala merda, Namjoon. — Taehyung respondeu, revirando os olhos. — Ele é meu vizinho, cara. Melhor pegarem leve.

— Trouxe ele no lugar errado então, cara.

— Jeongguk, esses são meus amigos. Namjoon... — Taehyung foi apontando com o queixo na direção de cada um. Jeongguk piscou os olhos e engoliu em seco, tentando sorrir e parecer simpático e sociável, mas tremia por dentro. — O baixinho é o Yoongi, mas ninguém chama ele assim. Hoseok... — Ele sorriu amigavelmente. E Jeongguk gostou dele. — E a única garota é a Chanmi.

Internamente, tentou não reparar muito em como cada pessoa ali tinha uma característica marcante. Tatuagens, cabelos coloridos, piercings e alargadores. Roupas pesadas e chamativas. Como Taehyung.

— Jeon Jeongguk. — Fez uma mesura e agradeceu mentalmente por não ter falhado a voz. Buscando uma confiança que não existia, mas não queria parecer um completo alienígena ali. Eles riram como se tivesse algo engraçado, e suas bochechas esquentaram, envergonhado. Com os olhos perdidos, olhou para Taehyung, como se ele pudesse dar uma resposta.

— Caralho, alguém com educação aqui. — Namjoon disse, sorrindo por trás da latinha de cerveja que tomava.

— Não precisa ser tão formal assim, Jeonggukie.

Taehyung também estava sorrindo. E surpreendeu Jeongguk quando encostou os dedos em seu queixo, fazendo as pontinhas das orelhas esquentarem com o toque repentino.

— Bem-vindo, Jeongguk. Devíamos arranjar um apelido pra ele, Tae. — Chanmi falou, parecendo animada, os olhos escuros marcados por uma maquiagem esfumaçada. — Esse grupo está ficando lotado de homens, precisamos de mais mulheres, sabe. Poder feminino. Mas ele é uma gracinha.

Jeongguk se sentia estranho. Ele não era acostumado com esse tipo de tratamento, as pessoas geralmente não gostavam da primeira impressão que ele causava.

— Ai, Mi, você e o Hobi só falam merda. — Yoongi apanhou uma cerveja no cooler que estava sobre o capô do carro. — Não liga pra eles, pivete. E seja muito bem-vindo. — Ofereceu a latinha de cerveja. Jeongguk arregalou os olhos, negando, sem jeito.

— Acho melhor ele não beber, mas passa 'pra cá. — Taehyung intrometeu-se, pegando a latinha e dando um longo gole na cerveja. Mesmo que Taehyung quisesse fazer o vizinho experimentar coisas novas, não era hora de avançar dando um passo tão grande. Ele poderia beber, mas não ali, não agora.

— Kim Taehyung, que surpresa maravilhosa! — Uma mulher disse ao se aproximar, invadindo o espaço pessoal e depositando um beijo no rosto de Taehyung. Diferente do grupo, ela se vestia elegantemente, os cabelos pretos caindo perfeitamente no ombro, lábios vermelhos, e o nariz arrebitado. Taehyung sorriu simpático e voltou sua atenção à latinha de cerveja. — Pensei que não viria.

— E aí, Joohyun —, sorriu —, não perderia por nada a festinha da minha ex-cunhada — disse, num tom que fez Jeongguk franzir a sobrancelhas pela força das palavras. — Aliás, quando vão começar?

Jeongguk, que apenas observava tudo, sentiu-se um intruso no meio dos dois.

— Fico feliz. Oi, gente. — Ela acenou e sorriu na direção do grupo e todos cumprimentaram de volta, não muito animados, então Jeongguk concluiu que talvez ela não fizesse parte dali. — Cadê o pigmeu? Ele não veio? — perguntou, rindo ácida das próprias palavras, mas antes que Taehyung pudesse responder, uma outra voz desconhecida por si, interrompeu.

— Me ama tanto que não consegue ficar sem falar de mim, Joohyun? — Um homem de estatura baixa e cabelos aloirados se aproximou, acomodando-se ao lado de Taehyung. Dessa vez, Jeongguk não conseguiu desviar a atenção na forma que ele se vestia. Eram roupas... Femininas? Ao menos era isso que pensou quando viu a blusa branca curta demais, mostrando a barriga lisa, com uma meia arrastão que ia até a metade do umbigo, ele também usava uma calça preta e colada nas coxas grossas, cheia de rasgos.

Que homem se vestia assim?

— Ótimo, seu cão de guarda chegou. — Ela resmungou em desagrado, revirando os olhos.

O baixinho direcionou os olhos para Jeongguk, crispando-os em dúvida. — E você, quem é?

Só então a mulher pareceu notar sua presença. Os dois o encaravam ao mesmo tempo, mas não parecia ser da mesma forma gentil e receptiva que os outros do grupo; as orbes escuras refletindo um julgamento enquanto se fixavam ao braço de Taehyung que repousava ao redor de seu corpo, como se fosse um problema. Jeongguk limpou a garganta para se apresentar outra vez, porém foi interrompido.

— Jeon Jeongguk, meu vizinho. — Taehyung falou olhando para o garoto, ao passo que um sorriso infantil despontava em seus lábios, parecendo orgulhoso em apresentá-lo, o nariz empinado meio cômico. O loiro então cruzou os braços rente ao peito e franziu o cenho.

— Desde quando você tem vizinhos bonitos? É ator pôrno? — O tom dele com certeza soou sério demais para ser uma brincadeira, entretanto Taehyung gargalhou com a pergunta e apertou o abraço. Jeongguk arregalou os olhos, surpreso por ser elogiado e, também, pela comparação tão absurda na mesma frase. Sentia o rosto quente e o estômago foi novamente tomado por uma ansiedade com a qual não era acostumado. O pior de tudo era que, de repente, ele era o centro das atenções. Sem que percebesse, seu corpo instintivamente se encolheu atrás do de Taehyung, como se ele pudesse protegê-lo.

— É, desde quando você tem vizinhos bonitos?

Agora fora a vez da garota perguntar no mesmo tom, imitando Jimin ao cruzar os braços e arquear uma sobrancelha, passando a intercalar seu olhar entre os dois. Jeongguk não sabia o que dizer, sentia-se pequeno diante aqueles olhares acusadores. O que havia feito de errado? As mãos estavam suando e ele só queria tirar aquele maldito braço de seu ombro, que agora parecia pesar uma tonelada de repente. Por que Taehyung gostava tanto de toques?

— Cara, isso é muito bizarro. Vocês são muito estranhos e sem vergonha. — Hoseok se intrometeu, enquantos os outros pareciam se divertir com a situação, a qual Jeongguk não estava entendendo.

— É, mano, vocês estão assustando ele com essa obsessão de vocês. — Namjoon concordou.

— Taehyung deve ter uma piroca de mel e tanto. — Yoongi comentou, fazendo um gesto um tanto sugestivo com as mãos, e, de novo, Jeongguk não fazia ideia do que estava acontecendo.

— Calem a boca, seus idiotas. — Taehyung disse, mas em um tom de voz risonho, encarando Jeongguk, que tinha quase certeza que o rosto estava vermelho vergonha. — E respondendo a pergunta de vocês, ele é só meu vizinho mesmo. Mas é bonito, mesmo, né?

Jeongguk enrijeceu e sentiu o coração escalar a garganta. Deus do céu, onde havia se metido?

Para sua sorte, uma outra menina chegou e disse algo no ouvido de Joohyun, ela assentiu e sorriu maliciosa na direção de Taehyung. Jeongguk sentiu-se aliviado por alguém interromper o clima nada agradável de outrora. Aquelas obscenidades pareciam fáceis demais de serem ditas e estava começando a se sentir mais desconfortável do que realmente poderia suportar.

— Bom, já vamos começar. Me deseje boa sorte, Taetae. — Ela fez um biquinho que não combinava com a aparência, se aproximando de Taehyung o suficiente para beijar o canto dos lábios dele. Taehyung sorriu, parecendo sem jeito, e acenou em resposta, murmurando um "boa sorte", visivelmente incomodado com o contato repentino. — Te vejo na linha chegada, Namjoonie. — Ela se afastou, dando uma piscadela e depois lançou um olhar venenoso para o loiro, que retribuiu mostrando a língua numa careta.

— Não suporto essa garota, eca, eca. — Jimin fez uma carranca, como se vomitasse algo e então, virou-se para Jeongguk, ajeitando os fios descoloridos com os dedos curtos. — Prazer, eu sou Park Jimin. Melhor amigo desse aí, e, bem, a pessoa mais legal desse lugar. — Estendeu a mão gordinha para Jeongguk, que até achou adorável, mas os olhos com as lentes azuis, a sobrancelha esquerda arqueada o sorrisinho enviesado, refletiam que ele não era uma flor muito delicada só porque tinha dedinhos fofos. Jeongguk curvou os lábios em um sorriso sem jeito, apertando a mão estendida.

Pensando nas palavras da garota, voltou o olhar para Taehyung, curioso.

— Vão começar o quê, Taehyung-ssi? 'Tá na hora dos parabéns? — perguntou cheio de inocência, de repente se dando conta que havia perguntado perto demais, o suficiente para sentir o cheiro do pescoço tatuado. Então se afastou, quando teve um surto de clarividência.

— A corrida. Vão disputar um racha — disse com a maior naturalidade do mundo, como quando se fala as horas, como se não estivessem cometendo um crime.

Jeongguk arregalou os olhos e ofegou, olhando ao redor e percebendo que estavam todos os carros enfileirados em frente a uma pista muito bem pavimentada, e no início dela, perto da faixa branca, os veículos estavam dispostos, os motores roncando alto.

— Um racha? Mas isso não é crime? — perguntou, meio querendo não surtar, mas já quase colapsando.

Tinha certeza de que aquilo era crime! Se estava com pesar de ter vindo à festa, agora a culpa o abraçava de um jeito que desejou acordar do sonho no mesmo instante. Acorda, acorda. Por favor, Deus. Fechou os olhos, apertou a correntinha, respirando fundo, mas acabou se torturando mentalmente e chegou à conclusão de que talvez fosse algum castigo divino por desobedecer e mentir para os pais.

— Relaxa, Jeongguk, o que é a vida sem um pouquinho de adrenalina, hein? — Taehyung ergueu as sobrancelhas, divertido, percebendo o nervosismo do vizinho, uma vez que ele apertava a barrinha da sua jaqueta e mordiscava o lábio inferior, os olhos escuros arregalados. — É sério, não precisa se preocupar, não vai acontecer nada com você.

Um racha! Estava presenciando um racha. As chances de algo dar errado haviam aumentado em cem por cento.

— O que foi, bebê? Nunca esteve em um racha? São só carros disputando quem corre mais. Ninguém morre. — Jimin intrometeu-se na conversa, em um tom ácido que fez Jeongguk se sentir pequeno, então ele apenas negou e encolheu os ombros.

— Não se preocupa, Jeongguk, temos bons advogados se você for parar com os tiras. — Yoongi brincou, dando uma piscadinha, mas Jeongguk não achou engraçado. Na verdade, sentiu um choro apertar a garganta só em pensar nessas possibilidades. Se fosse pra cadeia, seu pai... Deus do céu, não conseguia nem pensar nas possibilidades. — Relaxa, pivete, é brincadeira, sem surto. — Yoongi o empurrou com um dos ombros, sorrindo pequeno para ele. Jeongguk assentiu, tímido e apavorado demais para falar o quanto aquela situação o deixava assustado.

Logo os amigos começaram com uma conversa, na qual, novamente, não se encaixava. Todos pareciam se conhecer há muito tempo, Jeongguk estava sobrando, sabia disso, e não tinha nem ao menos coragem de se intrometer no tal assunto que envolvia modelos de carros de corrida.

Soube que o de cabelos rosa, Namjoon, era o que correria naquela noite e, pelo que havia entendido, valeria muito dinheiro. Namjoon os deixou com a promessa de que voltaria com a vitória e que comemorariam depois por sua conta. Todos desejaram boa sorte, e até mesmo um lado de Jeongguk desejou internamente que ele vencesse a corrida. Que Deus o perdoasse por fazer parte disso.

Jimin não desgrudava de Taehyung, o tempo todo agarrado à cintura, a cabeça descansando nos ombros e vez ou outra depositava alguns selinhos nos lábios dele, que eram retribuídos cheios de risadinhas e piadas internas. Jeongguk não tinha o costume de ver dois homens se beijando, então aos seus olhos, aquela demonstração de afeto causava, ao mesmo tempo que estranheza, curiosidade. Apesar disso, ele não costumava julgar as pessoas por seus pecados, não tinha esse direito, e, bem, estava na bíblia que não deveria julgar se não quisesse ser julgado.

Mas ninguém parecia interessado neles, na verdade, ele era o único impressionado com aqueles toques íntimos. Decidiu ignorar, mas se sentia tão sozinho e deslocado, que não tinha como sair de perto de Taehyung. Por isso só conseguiu cruzar os braços, encostado no capô do carro enquanto observava a movimentação na pista. Pouco tempo depois, com a desculpa de que precisava de algo forte para beber, Jimin finalmente cedeu um pouco de espaço.

— Você me disse que estava solteiro. — Jeongguk disse, em um tom que parecia apenas externar um pensamento alto demais. Mas foi o suficiente para Taehyung ouvir, soprando uma risada divertida, fazendo com que Jeongguk entendesse a ambiguidade da frase que disse.

— E eu 'tô. Jimin não é nada meu. — Ele explicou, e Jeongguk não conseguiu evitar o rubor subir pelo pescoço por ele ter ouvido. — Hm, qual o motivo da pergunta? Algum interesse, Jeonggukie? — provocou, o empurrando de leve com os ombros e abrindo um sorrisinho sapeca, as sobrancelhas grossas arqueadas, o hálito alcoólico podendo ser sentido de longe.

— Não seja ridículo, Taehyung-ssi! Eu só perguntei porque... Porque não gosto de mentirosos, só isso! — Jeongguk disse rápido demais e respirou fundo. Kim Taehyung era tão abusado, ordinário e sem filtros. Óbvio que não tinha nenhum outro interesse nele, que tipo de pessoa ele achava que era? — Eu pensei que Hoseok e a Chanmi estivessem juntos, pelo menos parecem um casal. — Mudou de assunto, tentando evitar o clima denso que se instalara.

— Ah, é que na verdade eles são um pouco diferentes da relação que tenho com o Jimin. Nossa amizade é só sexo, nada dessas paradas de ficar cobrando um do outro, sabe? — Ele disse e bebeu um pouco da cerveja. Jeongguk negou com a cabeça, não, ele não sabia, mas Taehyung não percebeu. — Entre Jimin e eu não há sentimentos além da amizade. Já no caso dos três, Chanmi é apaixonada pelo Hoseok e ele por ela, eu acho, e me atrevo a dizer que ela tem uma queda pelo Yoongi. Já o Yoongi só está ali pelo sexo à três. — Deu de ombros, e Jeongguk ficou estupefato quando ele terminou de explicar com tanta naturalidade. Sexo à três. Taehyung dizia aquilo como se estivesse contando o clima. Parecia tão simples.

Era estranho todo esse tipo de liberdade exagerada. Mas, novamente, não questionou a vida de ninguém, não se via no direito de criticar os outros, fora ensinado que não existe intensidades diferentes de pecados, tudo era pecado e pronto. Não existia um maior do que outro, ele estava cometendo o seu ao fugir de casa e desobedecer a seu pai, não era hipócrita. Todos estariam condenados ao inferno do mesmo jeito se não se arrependessem.

— E por que todo mundo usa essa jaqueta? — Apontou para a raposa estampada no tecido.

— É meio que o uniforme das Raposas. O nome da nossa... Hm, gangue?

— Gangue?

— Ou quase isso. Veja, aqui tem vários grupos formados. Ali... — Apontou para um grupo de mulheres, vestidas de preto. — São as Maria's. Elas meio que são uma coisa só de mulheres, mas não as subestime, principalmente a Hwasa, são as melhores depois das Raposas. Já aquelas do carro rosa ali, são as Pinks, são boas, mas nem tanto. Os de verde são os Dokeys, o grandão tatuado ali é o líder deles.

Calmamente, Taehyung foi introduzindo o vizinho naquele mundo. Explicando como funcionava o universo das corridas, cada grupo formado, quando disputavam, os prêmios, a função de cada um na gangue das raposas. Que descobriu ter esse nome porque o pai de Taehyung era dono de uma mecânica com esse mesmo nome, e fora ele quem havia dado a ideia.

— E você? Não corre?

— Não.

— Por quê?

A pergunta havia sido ingênua, mas pareceu aborrecer Taehyung.

— Eu só não corro — disse, rispidamente, bebericando a cerveja, num claro sinal de que o assunto havia terminado.

Depois do clima ter ficado um tanto estranho, para o desespero de Jeongguk, Taehyung avisou que iria ao banheiro e isso significava que ficaria sozinho com aquelas pessoas que mal conhecia. Tentando não pensar que algo de ruim poderia acontecer nesse tempo, desviou os olhos para os sapatos e abraçou o próprio corpo, aquele sentimento de que estava cometendo um erro que berrava em sua cabeça como um alerta vermelho.

— Hey, Jeonggukie, quer um pedaço de bolo? — Foi tirado do seu momento de clarividência quando ouviu a voz de Hoseok próxima. Abriu os olhos e viu que ele segurava uma vasilha com pedaços suculentos de bolo, estirada na sua direção.

Era bolo. Não haveria problemas em um simples pedaço de bolo, certo? Não era como beber ou participar da corrida ou beijar garotos, afinal, ele estava em uma festa de aniversário. Assentiu e pegou um pedaço do doce na vasilha. Direcionando o olhar para o grupo, viu que Yoongi tinha um sorriso divertido nos lábios e Chanmi tentava segurar o seu, já Hoseok mantinha o sorriso genuinamente inocente e verdadeiro, então Jeongguk sentiu que poderia confiar nele.

Ninguém que sorria daquela maneira poderia ser considerado uma pessoa ruim. Certo?

Com isso em mente, mordeu o pedaço de bolo e mastigou. Era só bolo. Um delicioso bolo de chocolate, macio e doce.

Toda essa sua insegurança vinha de todas as vezes em que durante vários momentos da sua vida, deixou com que sua ingenuidade o prejudicasse e o fizesse de idiota e um alvo fácil para algumas pessoas. Alguns amigos já haviam sido cruéis com ele. Mas era só bolo.

— A gente vai 'pro inferno mesmo, cara. — Yoongi gargalhou, aproximando-se e fazendo o mesmo que Taehyung tinha feito, passando um braço por seus ombros. — Você, Hobi, vai descer de tobogã. Diretinho, cara.

— Não 'tô fazendo nada. — Hoseok cantarolou, dando ele uma mordida em outro pedaço de bolo e piscando na direção de Jeongguk, que terminava o seu.

— Agora você vai se sentir extremamente bem, pivete. Tem certeza que não quer uma cerveja?

— Eu não bebo, Yoongi hyung. Só suco e água — disse e abaixou a cabeça, encarando os próprios pés. Sempre fora respeitoso com os mais velhos, e só agora se deu conta de que nunca havia chamado Taehyung de hyung, riu com o pensamento.

— Que pena. Bem, você não é muito disso aqui tudo, 'né? — Chanmin perguntou, um sorrisinho gentil nos lábios. Jeongguk balançou a cabeça, negando. — Nós parecemos meio desajeitados e um grupo de estranhos, mas somos amigos legais e confiáveis. Até o Jimin, mas não fala 'pra ele que eu disse isso, ok? Ele é meio temperamental.

Jeongguk sentiu sinceridade nas palavras da garota e sorriu de volta. Eles realmente pareciam pessoas legais, muito diferente de seu ciclo de amizades, quer dizer, não que fosse uma pessoa com uma lista grande de amigos, os poucos que tinha eram membros da igreja, e eles eram diferentes, muito, muito diferentes.

— É, cara, somos bem legais, quer dizer, até mesmo o Yoongi, ele tem toda essa pose de bad boy, mas é uma Barbie. — Hoseok disse naquele tom divertido que ele exalava, e Jeongguk riu, dessa vez mais leve e menos introvertido. O peso estranho no estômago se dissolvendo conforme foi entendia que não era tão difícil assim ficar ali, apesar de estranho e vigente.

— Vai se foder, Hobi. — Yoongi mostrou o dedo do meio e Hoseok mandou um beijinho no ar como resposta.

— Voltei. — Ouviu a voz de Taehyung. — Garoto, você quer alguma coisa? Tem refrigerante de latinha.

— Não, obrigado. Hoseok hyung me ofereceu um pedaço de bolo de chocolate — respondeu com animação, meio orgulhoso por isso, os olhinhos brilhando como os de uma criança que recebera um doce. Taehyung franziu o cenho em confusão e cruzou os braços, encarando os amigos, que mantinham expressões suspeitas, principalmente Hoseok, e conhecendo como o conhecia, sabia que boa coisa não era.

— Ok, primeiro que você nunca me chamou de hyung, que porra aconteceu enquanto eu fui ao banheiro? Segundo, que tipo de bolo que te deram? Não me diga que... Hoseok!? — Taehyung parecia bravo, e ele era bem intimidador com aquelas sobrancelhas grossas vincadas e o timbre grave, mas muito bonito... O quê? Jeongguk não sabia dizer o motivo, mas seu raciocínio estava ficando mais lento e os pensamentos meio que surgiam de repente, sem controle, e tinha quase certeza de que Taehyung estava falando as palavras rápido demais.

—Opa, 'né. — Hoseok encolheu os ombros e levantou as mãos como se dissesse que foi sem querer. — Qual é, é só um bolo batizado, ele não vai morrer. Quem nunca fez isso?

— Mas o que é um bolo batizado? Que eu saiba era de chocolate. Tinha gosto de chocolate. — Jeongguk se intrometeu, meio lento, a língua estranha dentro da boca. Piscou os cílios lentamente, sentindo que tudo estava começando a ficar mais leve, como se o mundo tivesse diminuído um pouquinho sua velocidade.

— Cacete, isso é maconha, Jeongguk, você comeu um bolo batizado com maconha! Caralho, gente, eu falei 'pra pegarem leve. — Taehyung realmente parecia irritado e a cabecinha de Jeongguk deu um nó, como se ainda processasse as palavras, fez um bico e juntou as sobrancelhas, confuso, mas logo arregalou os olhos ao entender o que havia acabado de comer.

— Meu Deus... Batizado? Maconha? Nossa! Meu Deus, eu 'tô muito ferrado. — As palavras saíram lentas e preocupadas, mas no segundo seguinte se desfez em uma gargalhada alta, como se estivesse rindo da própria desgraça, começou uma com crise de risos, a barriga doendo pelas gargalhadas de nervoso, de uma vontade de gritar e rir sem motivo. — Ah, hyung, você me enganou direitinho! Tinha gosto de chocolate, eu juro!

— O moleque 'tá feliz, capetão, não tem nada de mais. — Chanmi deu dois tapinhas nas costas de Jeongguk e sorriu quando ele balançou a cabeça e começou a rir novamente.

— Que apelido horroroso. — Jeongguk disse, fazendo uma careta engraçada, mas Taehyung não parecia nem um pouco feliz.

— Ih, gente, o que houve com o vizinho gostoso do Taehyung? — Jeongguk ergueu o olhar e viu Jimin, com todas aquelas roupas e... o que era aquilo no rosto, maquiagem? Uau, ele era mesmo diferente. Mas não pode evitar o sentimento de achá-lo... Bonito? Enquanto o admirava, Taehyung explicava para ele o que havia acontecido, de um jeito que ainda demonstrava que estava irritado. — Qual o problema de um bolinho? Todo mundo precisa de diversão, deixa o garoto, está parecendo o pai dele.

— Meu pai? Definitivamente não parece o meu pai e...

— Ele não é como a gente, Jimin, ele não tem esse costume que nós temos! O garoto nem sabe direito o que tá acontecendo com ele. — Taehyung praticamente gritou, assustando Jeongguk e chamando mais atenção do que gostaria. — Por isso a maconha até agiu mais rápido que o normal, e olha só, não sabemos os efeitos que isso pode causar. Caralho, isso foi muita mancada de vocês. — Jimin arregalou os olhos com o tom agressivo e ergueu as mãos em rendimento, murmurando ''não está mais aqui quem falou''.

A verdade era que Taehyung queria, sim, mostrar outros lados para Jeongguk, queria que ele tivesse todos os tipos de experiências que quisesse, mas não podia simplesmente empurrar o menino para o mundo dessa forma; seria desonesto e não era pra ser ruim e invasivo. Não queria que acontecesse com ele o mesmo que lhe aconteceu quando era mais jovem.

O vizinho era inocente e ingênuo, parecia fácil demais enganá-lo e não era isso que Taehyung pensara quando subiu aquela janela; Jeongguk tinha que fazer por livre e espontânea vontade. Sem pressão.

Era divertido ver os olhares encabulados, a boquinha levemente aberta, parecendo uma criança que havia ousado ultrapassar dos limites do quintal de casa e desobedecido aos pais.

Os olhos de Jeongguk eram doces, via nele um brilho que irradiava inocência e bondade. Como da outra vez, jurou que poderia ver uma auréola em cima dos fios escuros, e toda essa imaculabilidade fazia o interior de Taehyung formigar em um desejo de manchar aquelas paredes brancas demais.

Mas não assim. Hoseok não tinha esse direito.

— Quanto exagero, mano, ninguém vai morrer por ingerir maconha com chocolate. Chega de drama, caralho. O racha já vai começar. — Yoongi revirou os olhos diante a cena e entregou outra cerveja nas mãos de Taehyung.

— Não vou beber muito hoje. 'Tô dirigindo e já bebi uma latinha — resmungou azedo, dispensando a cerveja e pegando no bolso da jaqueta um cigarro, levou até os lábios e o acendeu.

— Desde quando isso foi um problema 'pra você? Sempre dirigiu bêbado.

Yoongi perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Desde quando eu não estou andando de moto sozinho, porra!

Dessa vez, Yoongi segurou uma risada, os outros também, estranhando a atitude rude gratuitamente.

— Você 'tá nervoso exatamente por quê?

Taehyung ignorou a pergunta e se aproximou de Jeongguk. Ele estava com os olhos pesados, a expressão assustada, abraçando o próprio corpo como se estivesse se protegendo de algo.

— Você 'tá bem? — perguntou num tom mais ameno, retirando os fios escuros que caiam sedosamente até os olhos dele. Jeongguk piscou e assentiu, meio sonolento. — Senta aqui no capô — disse, dando batidinhas na lataria do carro e ele obedeceu e sorriu de novo. — Sem sorrisos, criança. Qualquer coisa que você sentir de diferente, me avisa, ok? — O sorriso de Jeongguk sumiu imediatamente, dando lugar um biquinho infantil, mas assentiu. Sentou-se com as pernas dobradas uma por cima da outra e cruzou os braços, sentindo frio por conta do clima gelado.

Taehyung ficou na sua frente encostado no carro, a raiva se dissipando como a fumaça do cigarro.

O som de alguém falando em um megafone ecoou alto pelo ambiente, Jeongguk direcionou seu olhar ao dono da voz, que logo viu ser uma mulher. Ela tinha cabelos loiros e se vestia de um jeito que faria grande parte dos irmãos da igreja a olharem torto. Jeongguk estava lento demais para guardar aqueles nomes que ela dizia, animada em ter seu aniversário comemorado dessa forma. Se não estivesse enganado, era ela a aniversariante, e isso explicava a blusa decotada escrita "Happy Birthday to Me" na região dos peitos.

— Aquela é a aniversariante e minha ex-cunhada. Ela vai dar largada da corrida. — como se lesse seus pensamentos, Taehyung explicou, olhando-o por cima dos ombros. Jeongguk acenou positivamente, sentia seus movimentos perdendo a velocidade a cada minuto, o corpo demasiadamente relaxado e leve. Que estava acontecendo? Por um momento, achou que poderia flutuar, a mente suave e uma felicidade estranha preenchendo seu peito.

A aniversariante ficou na frente dos carros que correriam e sorriu maliciosa, Jeongguk arregalou os olhos quando viu ela enfiar a mão por debaixo da minissaia e tirar a calcinha de renda cor de rosa.

Promíscuo demais.

Ela ergueu a peça íntima para cima e em seguida roncos altos dos motores ecoaram pelo local, agitando a atmosfera, como resultado, os convidados gritaram, ansiosos pelo início da corrida.

Não sabia direito o que estava acontecendo, mas foi impossível não se envolver com toda aquela atmosfera, e Jeongguk se sentiu cheio de expectativas, os olhos atentos à garota. Ela gritou no megafone e chacoalhou a calcinha, disse alguma coisa e abaixou o braço, dando a largada. Os carros passaram por ela em uma velocidade alta demais para que pudesse acompanhar, e então sumiram na imensidão escura da estrada.

— Espero muito que o Namjoon barre a maldita da Joohyun. Cacete, ele precisa ganhar.

Ouviu Jimin dizer. A voz cheia de ódio e ao mesmo tempo eufórica. Pelo pouco que pôde perceber, Jimin e a garota não se davam bem. Jimin parecia não ir muito com a cara dela e aparentemente era um sentimento recíproco.

Não que Jeongguk estivesse em suas melhores condições, mas seu corpo estava começando a entrar em um estado de torpor jamais conhecido por si, parecia que nem ele próprio tinha controle das ações. Seu corpo pendeu para frente, fazendo com que sua testa ficasse escorada nas costas de Taehyung.

— Você está bem, Jeongguk? — Taehyung perguntou.

Bem? Ele estava bem, muito bem. Balançou a cabeça em concordância, podendo sentir Taehyung o olhar por cima dos ombros. Não sabia explicar, mas tinha uma enorme vontade de comer alguma coisa, outro pedaço de bolo ou algo doce, não entendeu o motivo da fome repentina, queria apenas comer.

—Eu estou ótimo, mas com muita fome. — A voz soou manhosa, quase como uma criança pidona. — Eu realmente 'tô com fome, Taehyung hyung. Quero outro pedaço de bolo.

— Me chamar de hyung não vai fazer você ganhar outro pedaço, só fica quieto aí. — Taehyung disse, em um tom divertido que fez Jeongguk estranhar.

— Por favor — pediu de novo, tocando com as pontas dos dedos os fios descoloridos que ele tinha no pescoço. Um pescoço muito bonito, Jeongguk pensou. A pele cor de mel, os fios mais claros e sedosos contrastando com ela. — Seu pescoço é muito bonito, Taehyung-ssi. Você deve fazer muito sucesso com as mulheres!

Taehyung deu uma risada alta e balançou a cabeça.

— Já começou a dizer bobagens, cara.

— Mas não é bobagem! — Jeongguk segurou Taehyung pelos ombros e o virou de frente, os olhos cheios de um brilho infantil. — Posso pedir outro pedaço de bolo para o Hoseok hyung? Só um bolinho.

Ele piscou os olhinhos e sorriu.

— Boa tentativa, mas eu não posso te dar outro pedaço de bolo, não sei como você vai reagir se consumir mais. Cada organismo é diferente, mesmo não sendo algo muito pesado. — Ele explicou, e Jeongguk não entendeu, mas fixou seu olhar no rosto dele, vendo como ele era bonito de uma forma quase injusta.

— Hã? Eu só quero... Chocolate, Taehyung-ssi. — Jeongguk murmurou, arrastando as palavras, a língua pesada dentro da boca, a voz carregada de um possível sono. Parou por um momento, encarando o vizinho de perto, a iluminação realçando os traços fortes e masculinos. A tatuagem no pescoço, o piercing nos lábios e sobrancelhas. — Nossa, você é bonito. Quer dizer, com todo respeito.

Taehyung revirou os olhos e se virou de costas.

— Você 'tá chapado 'pra caralho.

— Eu 'tô? Sabia que eu não falo palavrões? — divagou, voltando a encostar-se nas costas do vizinho.

— É?

— Sim, mamãe fala que são palavras amaldiçoadas e que bons garotos não falam essas coisas.

— Você é um bom garoto? — Taehyung perguntou, inclinando a cabeça para conseguir olhá-lo de soslaio, o sorrisinho enviesado presente.

— Eu sou! — disse, mas hesitou por um momento. — Quer dizer, eu não sei, agora. Fugi de casa e consumi coisas ilegais. — Ele sussurrou como se confessasse um crime e, novamente, Taehyung riu do jeito repleto de inocência.

— Você não vai pro inferno por isso.

Jeongguk não soube o que responder. Mas assentiu, um peso de culpa afundando o estômago, inevitavelmente. Dessa vez os pensamentos pareciam flutuar, numa nuvem esquisita revestida de culpa e liberdade. Sabia que as coisas que estava fazendo eram erradas, então, por quê?

Valia tanto à pena assim se corromper por isso?

Taehyung sentia Jeongguk desinquieto sobre suas costas, a testa encostada perto da linha do pescoço.

Em um estado de letargia, Jeongguk começou a cantarolar baixinho, perto de seu ouvido. Somente ele ouvira por conta da música alta que ecoava dos carros. A voz doce como mel adentrando os ouvidos, se parecendo com o timbre de um anjo. E então percebeu que muitas coisas sobre ele eram angelicais.

Riu com o pensamento, porque o contraste que tinha com ele chegava a ser engraçado. Jeongguk era angelical, doce, genuíno e um bom garoto.

Taehyung era... O completo oposto disso.

— Você canta muito bem, Jeonggukie. — Taehyung elogiou com sinceridade e Jeongguk parou de cantar, soprou uma risadinha, estranhamente feliz pelo elogio.

— Obrigado, hyung. Sou do coral da igreja — murmurou e voltou a cantar, um sentimento quente preenchendo o estômago ao saber que sua voz era apreciada. E ficaram assim por um tempo, Taehyung concentrado na voz do outro e o resto do grupo conversando sobre coisas aleatórias.

— Ai, caralho, eles estão chegando! — Jimin gritou, a euforia de outrora voltando, todos extremamente focados na pista à frente. Era possível ouvir o barulho dos motores potentes dos carros tunados ecoando pelo local e os gritos eufóricos das pessoas. Jeongguk não queria se desencostar daquelas costas largas e com cheiro de perfume, o corpo ainda parecia flutuar e formigar em algumas regiões, e ele estava confortável nessa posição, então, permaneceu.

— Eu espero que o Namjoon vença, apostei uma grana alta! — Ouviu a voz de Yoongi dizer, animada, os outros começaram a tagarelar sobre a corrida e os carros que estavam em vantagem. E mesmo que fosse um racha amistoso, permanecer com a reputação intacta naquele meio era mais importante do que prêmios em dinheiros.

— É claro que ele vai ganhar, ele tem que esmagar a Joohyun! Vai, Namjoon, caralho, acelera essa porra! — Novamente, Jimin berrou em pleno pulmões, subindo no capô do carro e balançando os braços, agitados. Com um som ensurdecedor dos motores rugindo, os carros cruzaram a linha de chegada e a atmosfera foi atingida por berros e assobios. — Isso! Ganhamos, cacete, a surra na Joohyun que não ganha NUNCA.

Todos ali comemoravam, até mesmo Jeongguk sorriu de satisfação meio que involuntariamente, talvez porque foi atingido por uma atmosfera gostosa de comemoração.

Depois da agitação, deitou-se novamente nas costas de Taehyung, o sono o atingindo com força e ele não parecia incomodado com o peso extra nas costas. Jeongguk até poderia dormir se não fosse atingido por alguma bebida extremamente gelada. Em segundos se afastou de Taehyung para ver o que havia acontecido, e deu de cara com Jimin segurando um copo vazio e a expressão trincada de quem segurava o sorriso.

— Aí, foi mal, Jeonggukie! Eu não te vi. — Ele disse teatralmente, a falsidade escorrendo pelas palavras. — Fui abraçar o Tae para comemorar e esqueci que o copo estava cheio na minha mão e acabei virando em você...

Jimin mantinha um sorriso debochado nos lábios, quase como uma provocação. O sangue de Jeongguk ferveu nas veias e ele sentiu uma coisa estranha na garganta, um choro preso.

— É óbvio que você me viu! Fez de propósito, seu... Seu... — Não conseguia xingar ou dizer as coisas que estavam vindo em sua mente, mas os dedos tremiam e os olhos involuntariamente se encheram de lágrimas. Mas não chorou. Não perdia o controle com frequência, mas estava com raiva, muita raiva. — Você é um... Idiota!

Percebendo que havia gritado, levou a mão até a boca, surpreso pelas palavras terem escapulido sem que tivesse controle.

— Jimin, por que fez isso, cara? — Yoongi perguntou. Taehyung mantinha uma expressão indecifrável, e Jimin deu de ombros e explicou novamente ter sido sem querer, mas era visível que não se tratava de um acidente. Jeongguk, que antes sentia frio, agora estava congelando, a camiseta branca estava transparente e gelada, colada ao corpo. Abraçou o tronco, envergonhado pela exposição, os dentes batendo de frio. — Vem, pivete, eu tenho uma camiseta extra no carro.

Com frio e cheio de raiva, com todos os movimentos comprometidos de um jeito estranho, acabou se deixando levar. Não sabia exatamente como, mas em poucos segundos já se encontrava sentado em um banco de um carro e alguém estirava uma camiseta laranja com estampa de raposa na sua direção.

— É do Hoseok, então deve servir. Anda, troca logo senão vai pegar um resfriado. — Para sua surpresa, foi Yoongi quem trouxera.

Agora, Jeongguk queria chorar, chorar de raiva e por ser tão estúpido, chorar por ser tão vulnerável, por ter desobedecido seus pais, porque nunca parecia se encaixar em nenhum lugar. As pessoas sempre arrumavam um jeito de humilhá-lo em público. Não havia sentimento pior do que esse, e não importava onde fosse e nem quais eram as pessoas, seria sempre a mesma coisa.

Jeongguk era um peso, alguém sem graça e sem valor para as pessoas. E, agora, ótimo, até Deus poderia odiá-lo por ser tão desobediente.

Odiava-se por ser tão patético, e poderia até odiar Taehyung por trazê-lo nesse lugar, mas tinha noção que as intenções do outro não eram essas; não era culpa dele o fato de não se encaixar em nenhum lugar, ninguém o queria por perto. Começou a chorar copiosamente com as mãos enfiadas no rosto e viu Yoongi o olhar compreensível, dando sorrisinho gengival.

— A fase reflexão começou, 'né, cara? Céus, maconha é a melhor do mundo. Relaxa, agorinha mesmo toda essa baboseira vai passar. No início eu também ficava sensível pra caralho. Hoje eu sou reflexivo, logo você avança 'pra essa fase. Agora veste logo essa roupa antes que pegue um resfriado.

Já mais calmo, passou as costas da mão pelo rosto, limpando as lágrimas, e pôde ver pelo espelho do carro que estava com os olhos e ponta do nariz avermelhados. Ótimo, agora pareceria um bebê chorão por conta de uma brincadeira de mau gosto.

— Obrigado, hyung.

Terminando de se trocar, agradeceu num muxoxo, a cabeça baixa, sem conseguir olhá-lo nos olhos pois sentia-se muito humilhado. Yoongi deu um sorriso de lábios selados e deu dois tapinhas em suas costas.

— 'Tá tudo bem, agora? — Ele perguntou.

— Não sei, me sinto estranho.

— Vai passar, não dura pra sempre.

— Eu não sabia que sentiria tantas coisas. Só que minha mente 'tá uma confusão.

— 'Tá tudo bem sentir, pivete. Reprimir que é o problema, guardar sentimentos e sufocá-los, faz mal.

— Eu... — Jeongguk engoliu o nó que se formou na garganta, tentando não começar chorar novamente. Contrariando o que tinha acabado de ouvir, ele sufocou as palavras. — Acho que 'tô melhor.

Ao voltarem para o lugar onde estavam os outros, Jeongguk sentiu o rosto esquentar e o coração bater forte dentro do peito. Não queria ter que lidar com ninguém, muito menos com Taehyung e Jimin. Arrependia-se por ter sido grosso com ele e ter agido tão impulsivamente. Não tinha o direito de acusar ninguém.

— Está tudo bem, Jeongguk? — Taehyung perguntou, com a fala visivelmente preocupada. Jeongguk levantou a cabeça e assentiu, seus ombros estavam encolhidos.

— Pode me levar pra casa, Taehyung-ssi? — perguntou num fio de voz, o tom ainda embargado pelo choro de alguns minutos atrás.

— Ainda o drama por causa da bebida? — Jimin colocou-se ao lado de Taehyung. — Eu já pedi desculpas. — Revirou os olhos.

— 'Tá tudo bem, Jimin-ssi. Não precisa se preocupar, eu te perdoo.

— Tem certeza de que quer ir, Jeongguk? — Taehyung aproximou-se, erguendo o queixo dele com o indicador. O corpo de Jeongguk recuou com o contato, alertando-o de algo que ele parecia ter se esquecido.

Não queria que Taehyung o tocasse desse jeito.

— S-sim. Meu pai levanta cedo para preparar a escola Dominical, preciso voltar antes de amanhecer e eu acho que já é bem tarde. — Ele disse em um tom que só Taehyung conseguia ouvir.

— Hã? Seu pai é pastor ou algo assim? — perguntou retoricamente, com um sorriso no rosto, este que foi se desmanchando quando Jeongguk assentiu. — Cacete, você é filho de um pastor?

A voz alta de Taehyung chamou atenção dos demais, todos parecendo surpresos pela informação, e Jeongguk se encolheu pelo tom agressivo.

Filho de um pastor.

Take me to church. — Jimin cantarolou risonho, mas Jeongguk não entendeu.

— Ok, vamos, eu te deixo em casa. — Antes que Jeongguk pudesse responder ou mais alguém questionar alguma coisa, Taehyung saiu arrastando-o para o estacionamento. Nem mesmo deu moral para os protestos de Jimin e ignorou completamente a garota que veio ao seu encalço dizendo que estava cedo demais para abandonar a festa. Taehyung apenas disse que iria embora, de forma rude. Jeongguk não entendia o motivo da mudança de comportamento e nem conseguia protestar, não tinha recuperado o controle total do seu corpo. — Eu já imaginava que você era religioso ou frequentava a igreja, mas nunca pensei que fosse filho do pastor. Por que não disse?

Jeongguk encolheu-se mais ainda com o tom ríspido do vizinho, piscou os olhos em total confusão, ainda sem entender o motivo repentino da atitude rude.

— Você nunca me perguntou. Aliás, nós nem conhecemos direito — defendeu-se, um sentimento amargo surgindo no fundo do estômago. — E o que isso importa?

— É que...

A expressão de Taehyung mudou drasticamente para uma de horror em segundos, antes de dizer:

— Sobe na moto agora, Jeongguk, rápido! Caralho! — Taehyung desesperou-se, Jeongguk ficou ainda mais confuso com a atitude repentina.

— O que foi? Que desespero é esse? — Tentou protestar, mas Taehyung já empurrava para no banco traseiro na moto, ao mesmo tempo que o entregava o capacete.

— A polícia tá vindo!

Não demorou mais que alguns segundos para que Jeongguk também ouvisse o som alto das sirenes, o mundo que antes parecia ter perdido velocidade, agora, estava em total câmera lenta. As sirenes cada vez mais altas ecoando em seus tímpanos, as luzes ao longe, piscando em vermelho e azul neon. Levou a mão até o estômago, sentindo vontade de vomitar pela onda de adrenalina o atingindo de uma vez, mas a única coisa que conseguiu vomitar foi...

Caralho.

E, pela primeira vez, Jeon Jeongguk disse um palavrão.

lll

AEEE, SAIU DA CASINHA! tá indo. O que acharam? Então, é muito difícil essa vida do jungkook, lembrando que o anjinho viveu uma vida cheia de opressão, mas ele não alguém tão denso, na verdade, ele é curioso e muito inteligente, sabe? sensível também. ele também sabe o certo e errado kkk!!!!

Taehyung príncipe. Hoseok vacilão. 

Outra coisa, não ataquem nenhuma mulher aqui kkk ainda. é isso, fiquem com Deus (se acreditarem nele). <3 

Continue Reading

You'll Also Like

1.2M 64.2K 155
Nós dois não tem medo de nada Pique boladão, que se foda o mundão, hoje é eu e você Nóis foi do hotel baratinho pra 100K no mês Nóis já foi amante lo...
1.2M 123K 60
Com ela eu caso, construo família, dispenso todas e morro casadão.
1.4M 82.6K 79
De um lado temos Gabriella, filha do renomado técnico do São Paulo, Dorival Júnior. A especialidade da garota com toda certeza é chamar atenção por o...