Quando Hu Long abriu seus olhos, não entendia em que lugar estava. De acordo com o seu conhecimento sobre territórios, o local em que pisava não era nem um pouco habitual. Havia pedras e plantas venenosas por perto, mostrando que poderia até mesmo ser uma área para batalhas e lutas desastrosas. Entretanto, Hu Long sabia que estava sonhando.
Nos últimos ensinamentos que seu Shizun lhe dera, disse que se fossem pegos por algum tipo de demônio do sonho, deveriam olhar para a imagem de si mesmo, pois nos sonhos a imagem que vemos tende a ser distorcida. Então, Hu Long estendeu suas mãos e olhou para cada uma. Em ambas havia um dedo a mais, ou seja, cada palma continha 6 dedos.
Por mais que estivesse dentro de um sonho, sentia que tudo o que o cercava era bem real. Ainda mais depois de ter ouvido as palavras de seu grande companheiro e irmão, Hong Shaoran.
"Há um encantamento de desvio... Como se não quisessem ser achados", disse o jovem de cabelos escuros com olhos mel esverdeados, enquanto olhava para o horizonte, que permanecia com uma duvidosa neblina.
Ao seu lado, Hu Long podia ver algo que o deixou ainda mais surpreso. Era ele mesmo, porém, uma versão diferente. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto e em suas mãos estava sua lança. Isso era algo de costume realmente. Porém, o que deixava clara a mudança eram os olhos sanguinários, que podiam ser vistos com clareza em sua face.
"Shaoran, o que eu devo fazer?", Hu Long do sonho perguntou, inclinando seu rosto para o mais alto e sorrindo de um jeito sádico e tenebroso.
"Ainda pergunta? Haverá pelo menos 50 guerreiros à frente, protegendo o artefato que papai tanto quer para sua coleção. Deixe apenas um vivo e mate o resto", assim que Hong Shaoran respondeu, o jovem assassino soltou uma risada e em uma velocidade da luz, correu em direção à tal neblina no horizonte.
A cena do sonho mudou. Agora Hu Long estava vendo seu outro "eu" dentro de um palácio abandonado, mas com exatamente os 49 guerreiros que Hong Shaoran havia mencionado, caídos no chão e ensopados de sangue. A maioria dos mortos tinha um grande rasgo no tórax e alguns tinham até suas tripas dilaceradas e saindo de seus corpos cortados.
O Assassino de Olhos Sanguinários era o culpado por aquilo e Hu Long estava começando a entender o motivo pelo qual começaram o chamar dessa forma há quatro anos atrás.
Ele chegou mais perto do assassino, que agora brincava com o único sobrevivente de um jeito perverso.
"Hum? O que foi? Está com medo de mim? Não há porque ter medo. Shaoran ordenou que eu o deixasse vivo", o assassino comentou, pousando seu indicador no queixo do rapaz que estava quase deixando sua urina deslizar pelo meio das pernas e sujar sua calça. "Seus olhos estão apavorados. Isso é tão lindo..."
"Hu Long. Não é hora para flertes. Já pegou o artefato?", Hong Shaoran apareceu dentro da sala, criando um certo vento em seu rosto com seu leque.
"Claro. Mas por que eu não posso brincar com esse novo prisioneiro?"
"Seus flertes me dão dor de cabeça. Prefiro que faça silêncio."
Hu Long estava observando todo aquele diálogo de longe, mas sentia que as emoções que Hong Shaoran tinha por ele mudaram conforme o tempo foi passando e agora, o mais velho realmente o via como uma grande máquina de matar e de conquistar o que desejasse.
"Hu Long, estarei te esperando do lado de fora. Enquanto isso, queime os corpos", disse Hong Shaoran por fim, virando de costas e saindo da sala junto com o sobrevivente.
A sala ficou em silêncio depois da saída dos outros homens. Apenas com o assassino olhando para os corpos e Hu Long, que sonhava a respeito, observando a si mesmo. Nunca pensara que poderia ser alguém tão forte e também, facilmente usado.
Exatamente no mesmo momento que pensou em estar sendo usado, algo aconteceu dentro do sonho. O assassino, que antes estava com um olhar impiedoso, agora se encontrava de joelhos no chão e chorando feito uma criança que acabara de perder um doce. As lágrimas que escorriam dos olhos sangrentos de Hu Long eram iguais a de um humano qualquer. Salgadas e profundas. Sem pensar em quando parariam de deslizar.
O assassino juntou suas duas mãos, que agora tremiam e as pressionou em seus olhos, dizendo em um tom baixinho, quase imperceptível:
"Me desculpe... Me desculpe... Mas isso dói tanto..."
E assim, a cena mudou novamente. Depois daquelas palavras, o sonho se moveu para uma nova batalha, mas essa tinha uma característica completamente diferente do que a anterior: o Assassino de Olhos Sanguinários estava matando não apenas os inimigos, mas também os guerreiros de seu próprio clã, o clã Hong. Enquanto cortava os membros dos corpos dos guerreiros, Shaoran gritava, extremamente irritado com aquela atitude tão contraditória aos seus ideais. Porém, esses gritos não fizeram as vidas serem salvas.
No final, Hu Long havia matado perfeitamente 1.500 guerreiros do clã Hong, deixando apenas Hong Shaoran em pé, que o olhava sem reação.
"Você não pode mais me controlar, irmão", Hu Long murmurou, caminhando enquanto segurava a cabeça de um dos guerreiros. "Acha mesmo que eu, depois de tudo que me fizeram passar, deixarei esse clã limpo? Não. Eu matarei todos que ousaram ficar contra mim..."
Antes que o assassino pudesse terminar de dizer, Hong Shaoran abriu seu leque e em fração de segundos, um vento forte pressionou contra o corpo de Hu Long, deixando-o tonto e depois desacordado. Era como se Hong Shaoran tivesse utilizado uma grande força para parar seu irmão, sem ao menos se preocupar com a sua saúde e a de seu núcleo.
No final, a cena se distorceu novamente e Hu Long, ainda sonhando, sentiu seu corpo cair em um abismo. Quando suas costas bateram no chão, percebeu que estava exatamente na mesma cela na qual estava antes de cair nesse sonho profundo. A porta se abriu devagar e uma jovem entrou na prisão, indo em direção a um corpo quase imobilizado que se localizava no canto da parede.
Aquele era ele mesmo, mas em um estado aterrorizante. Mal entendia como estava vivo.
"A-Ran não me deixa vê-lo. Mas eu sei de tudo que está acontecendo, Hu Long", a mulher começou a dizer, ajeitando os cabelos que caíam no rosto do homem sujo e desnutrido. "Vamos. Deixe-me ajudá-lo a lembrar de tudo antes que..."
"Antes de que?", o assassino retrucou, cuspindo um pouco de sangue preto que aglomerava em sua garganta. "Não há mais salvação para mim. Eu sou apenas uma besta. Não deveria existir."
"Não diga isso. Eu venho todas as noites tentar ajudá-lo e já está desistindo? Não ouse fazer uma coisa dessas comigo, Hu Long", agora que a jovem continuava a dizer, Hu Long, que estava praticamente invisível dentro da cela, conseguia perceber de quem era aquela voz tão encantadora. Xia Ling. "Falta pouco para restaurar suas memórias por completo. Acredite em mim."
"Líder Hong diz que as memórias fazem mal a mim. Por que está indo contra as regras do líder Hong?"
"Porque...", Xia Ling olhou profundamente para os olhos machucados do assassino, que lutavam para ficarem abertos. "Não somos nada sem nosso passado, Hu Long."
Ela levantou sua mão esquerda e a pousou no lado esquerdo do peito do assassino que, ao sentir aquele atrito, pensou que a jovem estava querendo se matar por ter a ousadia de tocá-lo daquela maneira e sem um pingo de medo das consequências.
"O clã Hong... Machucou muito sua alma e seu corpo. Seu corpo, principalmente, foi bem danificado. Até mesmo sua doce voz. Bem... Usaram sua bondade e o manipularam. E também... Tiraram de sua memória a única coisa que o deixava com vontade de viver e ainda permanecer como humano", Xia Ling voltou a dizer, abrindo um sorriso fraco. "Quando você retornou, me contou um pouco sobre ele. Eu tinha certeza do quanto ele havia lhe marcado e de que nem os piores males do mundo o poderiam retirar de você."
"Havia uma pessoa assim... Que pudesse marcar meu coração?", Hu Long retrucou, balançando a cabeça, negando as frases da mulher. "Isso é um absurdo. Você deseja me enganar e..."
Xia Ling mordeu os lábios, nervosa pela situação de seu amado amigo. Porém, decidiu se afastar de seu corpo e pegar logo seu potinho de ervas, que continha um certo pó medicinal que havia estudado por muitos anos para dar certo. Olhou para Hu Long e antes de assoprar tal pó, falou:
"Você está recuperando sua consciência total. Eu posso perceber. Então... Lembre-se de Fai Chen", a jovem saiu da cela, trancando-a novamente e apagando a vela que tinha em uma mesa por perto. "Esse é o nome da única pessoa que pode trazer seu verdadeiro eu de volta."
E assim, em seguida, Hu Long abriu os olhos.
Ele tinha acabado de acordar de seu sonho mais profundo e que se lembrava tão bem. Levantou-se do colchão no qual estava e caminhou até as barreiras da sela que ainda o cercavam. Olhou para trás rapidamente, ficando até surpreso por agora ter um local para dormir confortável, pois antes era apenas o chão.
Depois, voltou seu olhar para o corredor à frente e percebeu que havia uma silhueta se aproximando.
"Quem está aí?", perguntou Hu Long com uma boa tonalidade, mas sentindo sua cabeça latejar. "Merda... Isso dói..."
"O que dói? Hu Long, sobre o que você se lembrou?", a voz da silhueta respondeu, deixando Hu Long ansioso e ao mesmo tempo tentando entender se ainda estava sonhando ou não.
A silhueta começou a se aproximar com dois potinhos nas mãos. Seus cabelos estavam soltos, mostrando como eram volumosos e compridos. Usava um hanfu alaranjado, que deixava sua cor de pele ainda mais deslumbrante.
"Xia Ling, por que você jogou pó em mim? Está também me usando para algum experimento idiota?", Hu Long segurou as barras da cela, soltando um riso debochado.
"Não pense dessa maneira. Eu já lhe disse, estou ajudando a recuperar suas memórias e dessa vez, tenho certeza que funcionou muito bem. Estou correta?", ela o questionou, já de frente às barras de ferro e olhando fixamente para os olhos avermelhados de Hu Long. "Você entrou em coma por um ano. Devo ter jogado pó demais... Mas, pelo menos funcionou?"
Hu Long arregalou os olhos e olhou para os lados da jovem, tentando encontrar algum guerreiro por perto. Mas, não havia nenhum.
"O que houve com os guerreiros? Não há nenhum me monitorando?"
"Havia dois na entrada do Subsolo. Mas dei a eles uma sopa feita com minhas próprias mãos tão delicadas. Eles jamais recusariam!"
"Você os drogou? Para vir até mim?", o assassino a indagou, completamente surpreso.
"Eu os droguei milhares de vezes. Até perdi as contas. Mas sim, tudo isso para vê-lo e analisá-lo", a jovem entregou um dos potinhos para Hu Long e logo o jovem sentiu um aroma gostoso. Era uma sopa de batatas. "Coma enquanto me diz do que se lembra. Não se preocupe, essa eu não coloquei algo fora do normal."
Xia Ling puxou um banquinho de madeira próximo, sentando-se e sem tirar os olhos do outro.
Percebendo que as intenções de Xia Ling eram a favor de sua saúde e melhora, Hu Long começou a tomar a sopa e respondeu com a maior sinceridade:
"Eu lembrei de muitas coisas. A-Ran... Usou minhas habilidades em batalhas como se eu fosse um animal. Mas, algo em minha mente fez com que todo meu ódio pelo clã Hong despertasse e eu começasse a matar os guerreiros do próprio clã", Hu Long abaixou a cabeça tentando lembrar exatamente o que poderia ter feito isso acontecer e por fim, pensou em um nome: "Eu me lembrei de... Fai Chen?"
Xia Ling bateu palmas, impressionada com si mesma por ter feito um trabalho tão bem efetuado.
"Certíssimo. Fai Chen era o estopim de seus sentimentos. Toda vez que sua mente conseguia uma fresta para voltar a consciência, você sempre se recordava de Fai Chen. Na época em que você lembrou, pensei que meu medicamento já estava causando um ótimo efeito e finalmente poderia tê-lo de volta. Mas, líder Hong foi mais rápido. Ele chamou um médico conhecido e retirou as memórias que proporcionavam mais sentimentos dentro de você. Isso foi tão..."
Por mais que a jovem concubina estivesse tentando explicar os acontecimentos para Hu Long, algumas vezes precisava parar para secar as lágrimas, que desejavam escorrer pelas suas bochechas.
"De qualquer forma, como Madame Tao sempre me ensinou, para ganhar de um homem, use a inteligência ao seu favor. Então, tentei aperfeiçoar mais o pó que Madame Tao também havia me ensinado para recuperação de memórias, quaisquer que fossem. E assim, da última vez que nos vimos, joguei esse medicamento ou droga, como preferir chamá-lo, em seu rosto, a fim de que pudesse inalá-lo da melhor forma possível e recuperar a maioria das memórias que tentaram tirar de sua mente."
As palavras da jovem eram muito explicativas, mas Hu Long parecia estar enlouquecendo com tantos dados em uma única fala. Sempre soube que Xia Ling era forte, mas ela estava arriscando muito ao entrar em sigilo no Subsolo a fim de ajudá-lo e ao tentar ao máximo trazê-lo de volta. Mas, todo seu esforço realmente deu certo. Dentro desse 1 ano inteiro em coma, Hu Long conseguiu ter suas memórias dos anos passados de volta, ainda que houvesse algumas nebulosas.
"O que eu devo fazer agora?", Hu Long questionou a jovem esperta.
"Minha sugestão é óbvia...", Xia Ling se levantou do banquinho e com chaves na mão destrancou a cela, abrindo completamente a porta que prendia Hu Long. "Deixarei você livre. Então, o que você deve fazer nesse exato momento é fugir."
"Espera... O que?"
"Hu Long... Eu sinceramente não posso mais vê-lo ser tão castigado. As coisas que acontecem nesse clã são completamente desumanas e não há sequer um ser humano que continue com a sanidade intacta depois de passar anos aqui", Xia Ling sorriu percebendo que Hu Long tinha saído rapidamente da cela e agora estava cara a cara com ela mesma. "Esse lugar... Não é mais o seu, Hu Long."
A jovem entregou o outro potinho verde que estava em suas mãos para Hu Long. Nele continha algumas folhas medicinais que, caso o jovem perdesse a energia, poderia mastigá-las e recuperaria uma certa adrenalina. Os dedos finos de Xia Ling tremiam, assim como todo seu corpo, que parecia estar levando um choque de realidade nesse exato momento.
"E você? Não vou deixá-la. Xia Ling, você salvou minha vida e...", os lábios de Hu Long foram calados com o indicador da mais baixa, que acabara de abrir um outro sorriso delicado.
"Preciso continuar no clã. Não quero que outras pessoas se machuquem e apenas eu posso ajudá-las. Me entende?"
Um silêncio entre os jovens se instalou, mas logo, Xia Ling se jogou nos braços do mais velho. Ela só queria poder estar mais alguns minutos com seu grande amigo, que a havia ajudado por tanto tempo.
"Apenas me prometa uma coisa", a concubina voltou a dizer, largando o corpo de Hu Long e se afastando do mesmo.
"Qualquer coisa."
"Eu sei que A-Yue ainda está viva. Tenho sonhos que parecem ser um sinal de sua existência. Então, por favor..."
"Vou encontrá-la", Hu Long disse firmemente, já determinado a tal conquista.
"Obrigada... Agora, vá. Antes que os guerreiros do portão do Subsolo acordem."
"Você ficará aqui?"
Xia Ling soltou uma risada, pegando um pequeno saquinho que havia dentro de seu hanfu. Abriu-o e mostrou a ele uma plantinha minúscula, totalmente diferente das que estavam no potinho verde.
"Eu comerei essa planta. Ela me deixará inconsciente por 30 minutos. Então, quando os guerreiros acordarem, apenas verão a cela aberta e uma pobre concubina inconsciente no chão", a jovem deu uma piscadinha para Hu Long, mostrando que tinha todo um plano em sua mente. "Além do mais, os guerreiros que Hong Shaoran mandará para lhe prender estão todos envenenados."
"Envenenados?"
"Eu coloquei gotas de veneno que Madame Tao tinha em um dos seus armários de medicina na sopa que eles tomaram essa noite. Os deuses irão me perdoar... Se não perdoarem, Diyu não parece ser tão ruim assim. Não acha?"
O humor de Xia Ling deixou Hu Long mais aliviado. Então, antes de correr para a saída do Subsolo, o assassino abraçou a jovem mais uma vez e partiu depressa, sem olhar para trás.
Passou-se meia hora desde que começara a correr e não parou. Conseguia ouvir passos dos guerreiros do clã Hong chegando perto e como estava numa floresta, poderia se perder facilmente e cair nas mãos do inimigo. Então, sua única solução seria revidar e lutar. Abriu o potinho que sua amiga havia dado e comeu uma das folhas que já conhecia bem.
Quando os guerreiros o acharam, cercaram-no por completo. Hu Long, sem armas, teve que tentar roubar alguma das espadas de um dos guerreiros mais desprevenidos. E foi isso que ocorreu.
O assassino percebeu que havia um guerreiro medroso entre todos e simplesmente pulou em cima do jovem e arrancou a espada de suas mãos, depois empurrando todo o corpo do outro para um tronco próximo de um jeito que deixasse seu corpo sem reações por um bom tempo.
Hu Long percebeu que, mesmo derrotando ou matando guerreiro por guerreiro, sempre aparecia mais ao seu redor. Era como se Hong Shaoran tivesse obrigado todo seu exército a ir em busca de seu irmão assassino. Pelo seu chute, ao todo poderiam vir uns 500 guerreiros, uma grande parte da tropa.
"Hu Zhuang, não se cansou ainda?", um guerreiro mais alto comentou, rindo de desespero por perceber que seus companheiros estavam completamente machucados. "Como você se sente traindo todo o clã?"
"Sinceramente?", Hu Long apoiou seu corpo na espada que segurava, abrindo um sorriso maroto e dizendo, indo já em direção para o guerreiro que havia feito a pergunta. "Eu me sinto ótimo."
Antes do guerreiro mais alto retrucar, Hu Long cortou sua garganta em apenas um movimento rápido e quase imperceptível a meros humanos. Os outros homens ao redor, notando que Hu Long estava matando sem dó nem piedade, sentiram que sua vida realmente estava em perigo. Esse pavor apenas aumentou quando os guerreiros que sobraram começaram a sentir suas gargantas inflamarem de um jeito que mal conseguiam respirar.
"O que...", um guerreiro baixinho tentou dizer, segurando sua garganta com força. Porém, nem mesmo Hu Long compreendia o que estava acontecendo com os outros homens.
A mente do assassino analisou um pouco a situação e se lembrou das palavras de Xia Ling: "Além do mais, os guerreiros que Hong Shaoran mandaram para lhe prender estão todos envenenados". Ela realmente tinha feito isso de uma forma tão violenta. Aos poucos, os jovens com tal veneno pararam de respirar e literalmente suas gargantas explodiram, soltando pus para todo o terreno verde da área florestal em que estavam.
Hu Long tampou seu nariz e continuou correndo. Durante todo esse tempo, sua cabeça latejava, pois a cada passo alguma memória esquecida aparecia.
Via Li Ming-Yue, sorrindo e penteando os cabelos de Xia Ling, enquanto Hu Long estava tentando fazer uma trança nos cabelos de Hong Shaoran, mas falhando nitidamente. Os quatro jovens riam e se divertiam entre si. Era um dos momentos bons que seu coração lutava para lembrar.
Outra cena foi quando Madame Tao estava com Hong Shaoran e ele dentro de uma sala, fazendo um breve carinho em ambas as cabeças e dizendo para um proteger o outro, pois o mal poderia estar ao lado deles sem ao menos perceberem.
E por fim, diversas visões amorosas eram restauradas.
Memórias de um jovem de cabelos curtos, cheio de machucados em sua pele e com uma venda em seus olhos.
Memórias com o Jovem Mestre Fai.
Fai Chen.
Hu Long parou de correr, ajoelhando-se no chão e soltando um grito de alívio. As lágrimas de felicidade se misturavam com as de dor por lembrar também das cenas tão torturantes de seu passado, tanto com clã Hong quanto com o clã Fai, que havia machucado tanto seu amado.
Sem perceber, um mês se passou desde sua fuga e mais uma vez, o jovem assassino estava fugindo de dois guerreiros do clã Hong, que tinham o avistado de longe. Sua pele já estava completamente suja e cheia de cortes, alguns profundos e outros leves; seus cabelos estavam soltos, deixando sua aparência ainda mais pavorosa. Provavelmente, se uma criança o visse nesse momento, pensaria que era um yaomo que roubou um corpo humano.
A noite estava um tanto agitada. Os animais estavam fazendo barulho e isso era bom, pois os sons dos passos de Hu Long poderiam ser camuflados. Enquanto corria, já completamente sem forças e sem mais folhas medicinais, soube que, numa hora ou noutra, aqueles guerreiros impiedosos o pegariam. Mas, nos últimos segundos, os ouvidos do assassino escutaram um milagre dos céus.
Não muito longe dele, escutou a presença de outro ser humano. Então, ele tinha duas opções: ir até essa outra presença ou ficar para morrer.
Morrer realmente não era uma das opções de Hu Long.
O jovem havia prometido para Xia Ling que encontraria Li Ming-Yue e, mesmo que fosse apenas uma memória nebulosa da adolescência, também havia jurado para o Jovem Mestre Fai a felicidade. Portanto, mesmo com o abandono sentido há anos atrás, também o estava procurando.
Em pouco tempo, Hu Long já estava diante da pessoa que vagava pela floresta. Seu coração ficou tão aliviado que a partir do momento que tocou a veste da mesma, caiu de cara no chão, apenas dizendo:
"Eu preciso viver."
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- ale yang on -
Explicando, caso tenha ficado confuso: no tempo em que estava inconsciente de seus atos, Hu Long teve suas memórias totalmente danificadas. A única coisa que ele tinha em mente era servir o clã Hong e ser o assassino profissional, braço direito de Hong Shaoran. Xia Ling, percebendo tudo isso, tratou de fazer com que seu grande amigo recuperasse as memórias aos poucos, por mais que fossem doloridas. Quando ele começou a reconquistá-las, sua mente surtou, desejando apenas a vingança do clã que o tornara daquele jeito, tão bestial.
Depois, Hong Lan junto com um médico conhecido, tentaram estabelecer um equilíbrio no corpo e mente de Hu Long. O médico decidiu apenas tirar as memórias que deixavam seu emocional abalado, querendo que só existisse o Assassino de Olhos Sanguinários. Mas, novamente Xia Ling agiu em sigilo e conseguiu, com a área medicinal, que Hu Long, durante 1 ano em coma, conseguisse recuperar a maioria das suas memórias.
Nos dias atuais: ele se lembra de Fai Chen. No caso, lembra que teve até um relacionamento com o jovem com os dons da verdade. Porém, a última versão física de Fai Chen nos olhos de Hu Long foi um garoto de 19 anos, com o corpo cheio de roxos, arranhões e machucados diversos, com os cabelos curtos e mais baixo do que ele. Então, se analisarem bem, Fai Chen está muito mudado nos dias de hoje e para Hu Long, com uma vida cheia de males, seria (em sua cabeça) impossível ter a sorte dos deuses de seu salvador ser o próprio jovem pelo qual se apaixonou loucamente na adolescência.
E Fai Chen? Ele apenas se lembra que havia um servo do qual gostara na adolescência, nada mais. Nem seu nome. Ele também nunca sequer viu a aparência de Hu Long no passado (essas partes serão melhores detalhadas no momento do flashback de Fai Chen). Apenas ouviu sua voz que, no caso, como já dito, também foi danificada com o sangue de yaomo.
Sobre os momentos de Hu Long com Hong Shaoran: essa parte também será mais desenvolvida futuramente e com o ponto de vista do pequeno lobinho.
Acho que é isso.
Agora deixo aqui a questão para vocês: quem está contando toda essa história é o próprio Hu Long. Como Fai Chen responderá a tudo isso? Suas memórias voltarão? Muitas perguntas e as respostas estarão no próximo capítulo! Aguardem!
Espero que eu esteja conseguindo explicar todos os plots montados em minha mente em relação a Hu Long e Fai Chen. E não se preocupem, caso eu não tenha explicado alguma coisa, tudo será mostrado futuramente.
E para comemorar os 7k de leitura (acabei esquecendo de comemorar antes, me desculpem), mimarei os leitores com uma arte de Hong Shaoran (feita pela maravilhosa artista, Nyski) e uma breve entrevista com alguns personagens.
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ARTE ORIGINAL - Hong Shaoran
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ENTREVISTA: Relacionamentos
Ale Yang: Olá a todos! Hoje perguntarei sobre relacionamentos. Podemos começar?
Hu Long: Claro. Estou animado para falar da minha relação com o Cegueta.
Fai Chen: Não fale nenhuma besteira, Hu Zhuang.
Xia Ling: (ri alto) Pedir por isso é como pedir para Hu Long parar de ser um corta-mangas. É impossível!
Ale Yang: Concordo! Quero dizer... Vou voltar para a entrevista. Fai Chen, qual seu relacionamento com Wei Huli?
Hu Long: Espere. Por que não perguntou sobre meu relacionamento com o Cegueta?
Hong Shaoran: Está com dor de cabeça, irmão?
Hu Long: Como assim?
Hong Shaoran: O chifre deve estar pesando.
Hu Long: Cala a boca. Se eu for corno, você também será.
Wei Huli: (observa com medo)
Fai Chen: Eu ia dizer... Amigos de infância...
Ale Yang: Não se preocupe, Fai Chen. Eles são muito emocionados. Certo, agora Hu Long, para a sua felicidade, qual o seu relacionamento com Fai Chen?
Hu Long: (olha para Fai Chen) Meu relacionamento com o Cegueta é tudo para mim. Eu quero tê-lo todos os dias colado ao meu corpo e...
Hong Shaoran: ALGUÉM TIRE ESSE CACHORRO NO CIO DESSA ENTREVISTA!
Hu Long: EU NEM TERMINEI DE FALAR, IMBECIL!
Fai Chen: (suspira) Obrigado, Hu Zhuang. Você também é tudo para mim.
Hu Long: (para de gritar e paralisa)
Ale Yang: Certo. Ele quebrou. Próximo... Hong Shaoran, qual seu relacionamento com Wei Huli?
Hong Shaoran: Eu o odeio. Não temos sequer algum relacionamento.
Wei Huli: A-Ran...
Hong Shaoran: (trinca os dentes) Não me chame assim.
Xia Ling: (ri alto)
Ale Yang: Vou fingir que acredito. E por fim, Xia Ling, qual seu relacionamento com Li Ming-Yue?
Xia Ling: Meu relacionamento com A-Yue sempre foi o que eu mais desejava. Além disso, ela é a mulher dos meus sonhos.
Li Ming-Yue: Pesadelos.
Xia Ling: O que?
Li Ming-Yue: Eu apareço com frequência em seus pesadelos. Não sonhos.
Xia Ling: Pare de ser pessimista! Só de você aparecer, já torna um pesadelo em um sonho!
Ale Yang: (limpa as lágrimas) Isso foi tão romântico! Muito obrigada a todos pela entrevista! Até a próxima!
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Muito obrigada por todo o apoio!
Até domingo!