Pov. Draco
Estávamos caminhando não faziam nem dois minutos e eu já estava querendo sair correndo, onde eu estava com a cabeça quando eu achei que deixar um garoto que eu não conheço e que eu vi roubar uma barra de chocolate me levar em casa seria uma boa ideia?
Mesmo que esse garoto seja lindo e tenha os olhos mais hipnotizantes que eu já pude ver na vida.
Bom, já era tarde demais para voltar atrás e a ajuda com as sacolas não estava sendo ruim.
— Então... Draco, certo? — Sua voz rouca, provavelmente era devido ao fumo, me atingiu com
força, céus, o que há de errado comigo?
— Eu mesmo.
— Foi a primeira vez que me viu? — sua voz parecia esperançosa e ele me olhava por cima dos óculos redondos.
— Como assim?
— Eu lembro de ter visto você em uma lanchonete mais cedo, quando fui fumar. Queria saber se tinha me visto lá também. — disse, desviando o olhar quando o encarei de volta.
— Sim, eu o vi mais cedo, mas te perdi de vista e por acaso o encontrei no mercado.
— Entendi. Sua casa é muito longe daqui? — trocou o assunto rapidamente, e então me caiu a ficha, eu iria morrer ali mesmo.
— Não. Logo a gente chega. — por que eu continuava respondendo? é só correr! — Há quanto tempo está na vida do crime? — puta que pariu, fecha a boca, Malfoy!
— Perdão? — ele me perguntou, parecendo não ter entendido a pergunta. Parece que além de lindo é sonso.
— Me refiro ao mercado que roubou.
— Mesmo que eu quisesse pagar, não conseguiria. — viramos a esquina, que dava de frente para minha rua.
— Sabe, existe tratamento para esse tipo de doença. — fui sincero, acho que já li em algum lugar sobre cleptomaníacos, ou seria ninfomaníacos? Eu realmente não sabia.
— Não sou doente. — ele gargalhou, achando mesmo graça do que eu estava dizendo. — Apenas não conseguiria, eles não podem me ver.
— Você sempre volta nesse assunto, de não te verem. Acha o que? Não é como se todas as pessoas fossem cegas. E aposto que você não é o Batman.
— Apenas você está me vendo, Draco. — Quis rir, é, acho que ele estava mesmo achando que era o Batman.
— Você fumou algo além de cigarro?
— Não acredita em mim, não é? — eu não respondi de fato, exatamente o que eu deveria acreditar? Que estou falando com ninguém?
Observo ele suspirar, colocar gentilmente as sacolas no chão, e então, ir até o outro lado da rua. Nessa hora da noite, a rua quase não estava movimentada, principalmente por ser dia de semana. O vejo parar ao lado de uma menina, que falava ao celular, distraída demais para ver o garoto ao seu lado.
Ele a chama, uma, duas, três vezes e nada. Franzi o cenho, ela não poderia ser surda, estava em uma ligação, eu supunha. Ele a contorna e para em sua frente, balançando os braços freneticamente na frente dela, que novamente, o ignora.
Desviei o olhar, para ver se mais alguém reparou naquilo e quando voltei a olhar, ele havia sumido.
— Mas que porra? — raciocinei por uns cinco segundos antes de juntar todas as bolsas no chão e sair o mais rápido possível dali, dando graças aos céus por estar perto de casa.
Ao chegar em casa, respirei fundo e coloquei as compras em cima da bancada, esticando as costas e sentindo um pouco de dor.
Como estava sem a menor vontade de cozinhar, apenas abri um dos pacotes de lasanha que havia trago do mercado e coloquei no micro-ondas, digitando o tempo indicado pela embalagem.
Resolvo tomar um banho enquanto a lasanha esquentava, decidindo que guardaria as compas após comer.
Tiro a roupa durante o caminho, segurando as peças para colocar no cesto de roupas sujas, no banheiro.
Não demoro muito no banho, temendo que a lasanha queimasse. Desligo o chuveiro e pego a toalha, começando a me secar. Após secar meu corpo cubro a cintura com a toalha e abro a cortina, mas me assusto ao ver que ninguém menos que o garoto que me acompanhou estava dentro do meu banheiro, sentado em cima do vaso fechado.
— Caralho! — Acabo gritando e fechando a cortina. Não ouço nada e decido abrir novamente, mas não vejo mais ninguém. Eu não acredito, eu fiquei maluco!
Saio do banheiro com cautela, vou até o quarto e me visto, sentindo um leve cheiro de queimado. Corro para a cozinha e retiro a lasanha do micro-ondas , vendo que só havia queimado a parte de baixo. Coloco a lasanha em cima da pia e pego um prato, colocando um pedaço da lasanha dentro e um pouco de arroz que havia sobrado da janta anterior. Tampo a comida que sobrou e vou para a mesa de jantar, para poder comer. Coloco o prato na mesa e vou para o quarto buscar meu celular, mas quando volto encontro novamente com Harry. Agora ele estava sentado na cadeira ao lado da que eu sentaria e apenas me observava.
— Chega, eu não posso estar ficando louco. Por que você aparece e some do nada? Como entrou na minha casa, inferno? — Sentia minha voz trêmula, eu estava mesmo assustado. Porém ele apenas continuou sentado. Vou até a cozinha e pego uma faca, volto para lá e aponto a faca para ele.
— Eu não vou machucar você, Draco. Você não precisa da faca. Se você se sentar e me ouvir, talvez consigamos entender juntos o que está acontecendo agora. — ele não parecia assustado com a faca que eu apontava para ele.
Esfaqueá-lo ou sentar e o ouvir? Vou esfaquear.
Não, calma, isso contaria como legítima defesa? E se eu fosse preso? Olho para ele, que notava minha óbvia dúvida, por que sinto vontade de ceder quando ele me olha assim?
— É melhor ter uma ótima explicação para isso, porque eu não acredito que estou ficando louco. — a faca ainda descansava em minha mão, quando me sentei. Em seus olhos não haviam um pingo de medo, apenas cansaço.
— Bom, vou me apresentar formalmente: Sou Harry Potter, o primeiro príncipe da Inglaterra. — então era mesmo brincadeira tudo aquilo? — Antes de achar que é uma brincadeira, tenta me ouvir.
— Espera, Harry Potter? Eu conheço você. — me lembro das histórias que minha mãe contava.
— Como? — franziu o cenho.
— Existe uma lenda sobre você. — pego meu celular e abro no santo Google, pesquisando por Harry Potter e em poucos segundos mais de vinte mil resultados aparecem. Clico no primeiro site que falava sobre a lenda. — Quando eu era criança minha mãe me contava uma história sobre você e também fui ensinado sobre ela na escola. Quer que eu leia a que está aqui? —Perguntei, enquanto ele assentia. — Aqui diz que em 1603 a rainha da Inglaterra, Lílian Evans Potter deu à luz a seu único filho: Harry Potter. James Potter e Lílian Evans Potter eram reis muito bondosos e benevolentes para o povo e não demorou para que quisessem um herdeiro. Depois de Harry nascer, o reino pareceu celebrar. Mas ao completar vinte anos o príncipe Harry se acidentou e acabou caindo em um lago ao ajudar tentar salvar seu melhor amigo. Ele perdera a capacidade de se locomover e ficara paralisado, morrendo logo depois. Seu melhor amigo que havia sido salvo procurou por uma bruxa para que ela tentasse trazer Harry de volta, mas já era tarde demais. A única coisa que a bruxa pode fazer foi lançar um encantamento em Harry, para que ele pudesse reencarnar e viver a vida que um dia lhe foi roubada ao tentar poupar a vida de outra pessoa. — Olhei para Harry, que estava inexpressivo. Seu olhar parecia frio e isso fez com que cada parte do meu corpo se arrepiasse.
— Puta que pariu, essa lenda está completamente errada. — disse, depois de um tempo calado. — Ah porra, como chegou nessa versão?
— Então você é mesmo Harry Potter? — ele me olhou como se fosse óbvio, o que quase me ofendeu, mas apenas assentiu. — Como é a lenda verdadeira, então?
— Bom, a parte sobre meus pais e como eles eram é verdade. Meus pais eram completamente apaixonados um pelo outro e por seu povo. Eu lembro de ver os dois sempre sorrindo, não importava a dificuldade das coisas. Quando completei oito anos fiz um amigo camponês. Eu não lembro do nome dele, mas lembro de seu rosto. Ele era assustadoramente parecido com você. — ele observou. — Nós começamos a brincar juntos todos os dias e logo eu comecei a me sentir diferente. Eu desejava a presença dele, estar junto dele e passei a desejar o toque dele também. Quando completei quinze anos dei meu primeiro beijo com uma das moças que trabalhavam no castelo. Eu não me senti bem com o beijo, para falar a verdade eu desejei que meu melhor amigo estivesse no lugar dela. Naquela época era extremamente incomum e proibido dois homens se relacionarem de forma amorosa, por isso eu fiquei me torturando por noites achando que eu era um homem nojento e repulsivo. Guardei isso por mais quatro anos, mas um dia o desejo de ter ele para mim foi maior, então quando nos encontramos nos arredores do castelo onde costumávamos brincar quando crianças eu decidi me declarar. Ele ficou assustado e com raiva, me disse que nunca me amaria desse jeito e que eu era desprezível. Quando fui tentar me aproximar ele deu um passo em falso e caiu no lago que tinha perto do castelo, eu mergulhei e tirei ele de lá, mas ele havia engolido muita água. Tentei reanimar, fiz todo o possível, mas ele não sobreviveu. — Harry fez uma pausa, colocou a mão no peito e suspirou, como se a lembrança ainda doesse. — Quando eu expliquei a situação, os pais dele não acreditaram e exigiram que minha família fizesse algo para reparar o dano, mas não era como se eles pudessem trazer ele de volta à vida. Eu fiquei deprimido por meses por ter perdido meu melhor amigo e a pessoa que eu amava. Quando fiz vinte anos a família do meu melhor amigo retornou ao castelo. Eles conversaram com meus pais, dizendo que eu sempre fui um bom amigo para o filho deles e como agradecimento a mãe dele, que era uma feiticeira, gostaria de me abençoar. Meu pai recusou e até ameaçou a mulher para ir para a fogueira, mas minha mãe confiou e disse que se era algo bom nós deveríamos aceitar. Disse também que nós não tínhamos o poder de julgar ninguém por suas religiões ou crenças e meu pai permitiu. A mãe dele me disse que sabia do amor que eu sentia pelo filho dela, disse que eu não deveria me torturar tanto pois qualquer forma de amor verdadeiro é válida. Mas que foi graças aquele amor que o filho dela havia sido morto e como punição eu estaria condenado a viver como um fantasma. Eu não seria visto, ouvido e nem tocado. Mas ela disse que em reconhecimento aos anos em que eu fui um bom amigo e ao amor que eu sentia por ele eu poderia voltar a viver normalmente quando encontrasse minha alma gêmea e fosse amado verdadeiramente.
Eu fiquei em silêncio, digerindo cada palavra que havia saído da boca de Harry. Ao notar meu silêncio ele voltou a falar.
— Então aqui estou eu: 397 anos depois. Sem conseguir ser visto, ouvido ou tocado. Fadado a viver sentindo dor até o dia em que eu encontrar a minha alma gêmea, amar e ser correspondido para poder voltar a viver normalmente. — revirou os olhos na última parte. — Parei de acreditar nessa merda 100 anos atrás. Meus pais que sempre sorriam nunca mais sorriram desde o dia em que eu "desapareci". O reino não celebrou mais, vi as épocas passarem e as coisas evoluírem. Vi as pessoas nascerem, amarem e morrerem, como deveria ser. Mas eu não, eu estou condenado a viver até que possa ser amado. Mas como alguém amaria outra pessoa que ela pode sequer ver, certo? — Harry suspirou, cansado.
— Então você não conversa com ninguém a 397 anos? — perguntei, espantado.
— Bom, na verdade eu consegui falar com uma garota. Nós nos falamos por dois anos, até ela morrer por causa de um acidente. Ela tinha uma ligação com a morte ou algo do tipo, já que segundo ela, ela também via os avós mortos dela.
— Essa história parece surreal demais. — Não conseguia acreditar, mesmo que fosse verdade, eu não imaginava a dor que seria ter que viver assim.
— Infelizmente é a mais pura verdade.
— E você só sobrevive, desde então?
— Eu não posso morrer, se é o que quer saber. Eu faço tudo o que uma pessoa normal faz, com exceção de que ninguém pode me ver, me ouvir ou me tocar. O que consequentemente impede que me machuquem fisicamente.
— E você consegue tocar nos objetos, certo? — assentiu com a cabeça. — Então o que impede um carro de te atingir?
— Eu até me machuco quando se trata de objetos inanimados, mas geralmente sara rápido. — ele disse, observando a faca que eu ainda segurava com firmeza.
— Por que eu consigo ver você? — finalmente soltei a faca. — Não acredito nessa baboseira de alma gêmea, já tive experiências demais para acreditar.
— Nem eu mesmo acredito mais. Mas eu não sei explicar o porquê de você poder me ver. Talvez você tenha alguma ligação com a morte também, igual a menina que eu conheci?
— Mas isso não significaria que eu veria outras pessoas? E você aparece e desaparece do nada, como explica isso?
— Eu não sei, ok? Eu parei de saber das coisas quando deixei de ter qualquer tipo de sentimento. — suspirou, suspirando. — E pensar que passei por tudo isso só por amar outro homem. Ver meus pais morrendo, meu povo ruindo, meus amigos seguindo a vida, ver as pessoas sendo felizes e sendo amadas.
— Não tem outro jeito de quebrar essa maldição?
— Eu não sei. Não parei para pesquisar realmente. Passei os últimos anos viajando pelo mundo a fora na esperança de encontrar o alguém destinado a me libertar dessa merda toda. Mas não resultou em nada. Então desisti e voltei para Londres, pois foi onde nasci. — disse, esfregando as têmporas.
Olhei para meu prato, a lasanha já fria e intocada. Meu estômago de repente roncou e eu suspirei, me levantando da cadeira onde eu estava e indo para a cozinha levando meu prato. Coloco o prato no micro-ondas para esquentar e sirvo uma porção em outro prato, imaginando que talvez Harry quisesse comer também. Quando o meu termina de esquentar coloco o de Harry no micro-ondas e repito o processo. A casa estava silenciosa e eu não me atrevi a olhar para trás, sabendo que Harry poderia estar parado atrás de mim agora mesmo.
O som avisando que a lasanha já estava quente novamente ecoou pela cozinha, junto do cheiro delicioso que o acompanhou. Pego os pratos e os talheres, para que Harry pudesse comer também. Ao voltar para a sala não o vejo mais e suspiro, colocando o prato na mesa.
— Harry?
— Eu estou aqui. — disse, de repente aparecendo atrás de mim.
— Você quer comer? — Perguntei, encarando aqueles olhos verdes que tanto me perturbavam.
— Eu adoraria. — Ele disse, por fim. Harry se sentou na cadeira que estava mais perto e passou a comer, enquanto eu sentei relativamente longe dele. Ele murmurou algo como um "obrigado" depois de dar a primeira garfada e sorriu meio sem jeito para mim.
Quando eu iria imaginar que eu estaria comendo com alguém que eu sequer conhecia de verdade? Com alguém que tinha uma história louca e que aparecia e desaparecia do nada. Mas uma coisa era certa, Harry Potter existia e era mais lindo do que qualquer livro ou site pudesse descrever.
(...)
Olho para o céu mais uma vez, tomando mais um gole da cerveja barata que comprei no mercado. O cheiro da nicotina invadia minhas narinas por conta do garoto ao meu lado que fumava. A sacada que tem em minha casa tem uma vista linda do céu a noite, possibilitando ver as estrelas.
A vista era de tirar o fôlego de qualquer um e com certeza esse seria o caso se eu não estivesse tão distraído com meus pensamentos. Os acontecimentos dos dias estavam passando em minha cabeça desde o momento em que o jantar com Harry terminara. Depois disso peguei duas garrafas de cerveja e vim para a sacada, sendo acompanhado por ele. Nenhum de nós dois conversávamos, o que era bom para mim que ainda tentava digerir a história toda, mas talvez para alguém que passou mais de trezentos anos sem conversar seja perturbador. Olho para o lado e vejo Harry dar uma última tragada no cigarro que fumava, antes de soprar a fumaça e apagar o cigarro.
— Sabe que isso faz mal, não sabe? — perguntei, depois de um longo tempo silencioso.
— Sim, eu sei. Surpreendentemente não tem efeito nenhum em mim e se tornou meio que um vício. — disse, sem olhar para mim. — Acho que nada me deixa tão calmo quanto observar as estrelas. — continuou, enquanto ainda fitava o céu estrelado que parecia dançar acima de nós. — Quantos anos você tem?
— Hm, eu tenho vinte e um, por quê?.
— Nada, apenas curiosidade. — Harry checou o relógio e suspirou. — Acho melhor eu ir embora. Você ainda tem trabalho da faculdade para fazer, não tem?
— Como você sabe? — erguntei, franzindo o cenho.
— Ouvi você comentar algo do tipo com seus amigos. — se levantou do chão. — Eu agradeço pela comida e pela companhia. Desculpa se te assustei também.
— Eu vou te ver de novo? — acabei perguntando, quando ele começou a se virar para ir embora.
— Se você quiser, sim. — disse, se voltando para mim.
— Certo. Então tchau, Harry Potter. — estendi a mão para ele. Ele olhou para a minha mão por alguns segundos e então estendeu a dele, tocando em mim. Mas se eu não estivesse vendo eu não acreditaria que estava sendo tocado, pois não sentia nada. Era como se a mão dele não estivesse ali.
— Tchau, Draco. — Ele respondeu, afastando a mão da minha e de repente desaparecendo. Suspirei e olhei no relógio, percebendo que não era tão tarde da noite. Mas eu me sentia exausto para ter que fazer qualquer trabalho essa hora.
Ando até o quarto e me deito na cama, imaginando que tudo aquilo fosse apenas um sonho. Por quê? Por que só eu conseguia ver? Por que eu não consigo o tocar? Por que eu quero o tocar? Por quê?
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Sim, eu estou revisando essa história e céus, quantos erros de escrita! Espero que gostem <3