Conversas artísticas

Um futuro pior do que o presente está se projetando.

Você já reparou que as crises que estamos passando, nesse momento, têm como base a questão ambiental?
Esse vírus surgiu por causa do uso indevido da fauna silvestre. Esse calor, as secas rotineiras, estão conectadas com o desmatamento, com as queimadas em diversos biomas, especialmente a Amazônia e o Pantanal. Não é um acaso.
É fato que desmatamos além do normal, e é fato que o fogo está consumindo uma parte importante desses biomas, uma porcentagem tão relevante que leva a um resultado imediato no clima. Esse céu cinza não é normal. Esse descaso com a ciência não é normal. Esse sangue frio de ver arder os animais, as plantas, a biodiversidade brasileira, as pessoas, e achar que é algo midiático, não deveria ser normal. Esse apoio ao governo, ao status quo, de um povo que se dizia contra sistemas que agem em prol da destruição, não é normal.
Se esse é o novo normal, com certeza é cruel. Sim, eu sei que faz tempo que é ignominioso o nosso sistema. Que não temos heróis na política. Uma coisa eu sei, o que estamos vendo não é progresso.
É progresso queimar florestas para abrir pastos e áreas agrícolas, objetivando a produção de insumos para ração animal utilizada a milhares de quilômetros daqui? Animais estes que comeremos depois com um preço altíssimo. O preço de ter nossa natureza, nosso equilíbrio climático, nosso solo, nossa biodiversidade estuprada e assassinada.
É progresso seguirmos um sistema de produção agrícola preso as regras da indústria química? É progresso não querer diversidade de sistemas de produção?
Exagero meu? Sinta na pele os 45 graus de exagero. O ar seco. O suor constante, dores de cabeça, de garganta, gripes e mais gripes. É sério que progresso é isso? Ver os monopólios e oligopólios se fortalecerem, os corruptos e populistas se engradecerem, os lobistas serem deuses, a religião se entremear dentro da política de forma opressiva? Sério mesmo?
Não quero discutir o passado, quem errou e não errou. Não quero saber em quem você votou. Só quero saber se é isso que você deseja. Se for, aproveite, seu sonho está se realizando.
A cada árvore retirada, a cada animal morto, a cada nova nuvem mal formada, ou que não se forma, a cada grão de solo fértil que se torna estéril, a cada vírus novo que se desenrola, estamos alcançando o progresso tão desejado por uma classe imensa de brasileiros. Um progresso fútil, o progresso do absurdo.
Mais mortes virão. Meus familiares, meus amigos, os seus filhos, os seus netos... Eu tenho certeza que se continuarmos nesse caminho velho, nesse mundo de pensamento atrasado, voltado à época da industrialização, teremos exatamente isso, algo retrógrado, sem inovação, de criatividade triste e ignóbil.
Somos controlados pelo dinheiro, pela economia, criamos algo que deveria estruturar um bom futuro, mas estamos alimentando, forjando esse ser econômico de forma mimada, burra, estamos engendrando um monstro, e faz tempo.
A economia não deveria ser algo como o psicopata esquizofrênico que é, ela tem como ser um alguém íntegro, altruísta, de bom senso. Somos nós que fazemos a economia, só leva tempo para ver o que ela se torna. E ela se tornou isso. Parabéns! Eis a nossa filha. Uma assassina, fria e calculista.
Tá na hora de fazer a economia ser em prol da felicidade, da conservação da natureza, do trabalho digno, das horas de lazer, da beleza do bem viver. A economia pode ser como arte, pode ser com uma floresta climácica, ou seja, mais bonita e menos desigual.
Não seja um incrédulo. Vamos sonhar juntos. Vamos ter uma utopia melhor do que essa de esperar a competição e a mão do mercado salvar a todos. Isso é tão ridículo quanto querer repartir tudo em partes iguais, ou achar que somos todos iguais. Competição é importante, mas a colaboração é mais. Tem como ser melhor e o caminho não é esse que estamos.
Qual seria o caminho? É esse que gostam de menosprezar, de dizer que é coisa de idealistas, de sonhadores, de artistas, de cientistas malucos. Um caminho de longo prazo, de planejamento, de transformações radicais, de avançada tecnologia, de uso inteligente dos recursos, que costuma ser chamado de desenvolvimento sustentável. Um nome que teimam em querer deixar pejorativo.  Um caminho que deve ser exaltado.
No momento, aqui no Brasil, principalmente, esse caminho é ridicularizado. Claro! Olhe quem nos governa. Olhe quem são os poderosos. Olhe bem para eles. Eles não acreditam nesse caminho. Eles acreditam que a economia é de nascença doente, psicótica. Que não tem como fazer ela mudar. Que só nos resta alimentar o monstro .
Se Deus existe, ele está prestes a pensar em uma nova forma de eliminar sua criação. Porque ele está acima e sabe que o que estamos consumindo, dessa forma irracional, é a criação dele, ou melhor, parte dele, e segue regras, feitas por ele. A criação dele não é você, é tudo que se liga a você. Seja qual for o seu Deus ele respeita essas regras, e aparentemente não gosta de quebrá-las. Um novo dilúvio virá? Não, dessa vez vai ser com fogo. Amém!