Coelho de Tarpe • [taekook]

By vantepwr

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JungKook era um garoto sonhador e perdido na grandeza do seu mundo pequeno. Almejava ser tudo e nada ao mesmo... More

Considerações
Epígrafe ❁ A vida é um rio
Capítulo 1 ❁ Maçãs e dúvidas
Capítulo 2 ❁ Relógios de bolso
Capítulo 3 ❁ Trouxe o amor para o vazio
Capítulo 4 ❁ Caminhos perdidos
Capítulo 5 ❁ Azul da noite, rosa da manhã
Capítulo 6 ❁ Ilha dos elefantes
Capítulo 7 ❁ Rosas vermelhas anoitecem depois do chá
Capítulo 8 ❁ Terra dos sonhos
Capítulo 9 ❁ Caminho de Alice
Capítulo 10 ❁ Eternamente, perdão
Capítulo 11 ❁ Torno-me cruel
Capítulo 13 ❁ Escolhas do coração
Capítulo 14 ❁ Espada de vidro
Capítulo 15 ❁ Melodias malucas
Capítulo 16 ❁ Seja lua ou seja mar, isto é para o amor que não consegui salvar
Epílogo ❁ Lábios e ti
Conto de Natal

Capítulo 12 ❁ Choro frágil e cortante

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By vantepwr

Horas antes do pesadelo de Taehyung.
Acima das nuvens. 

     
ㅡ Vrai Moi quer você como príncipe ㅡ Jimin falou, tinha certeza de que a essa hora da madrugada, Vrai Moi estava dormindo. Era a hora perfeita para avisar Jungkook.
     
ㅡ Eu sei, e não vou ser dele ㅡ não virou para olhá-lo, continuou contando estrelas no céu e ligando constelações.
     
ㅡ Sabe por que aceitei vir com você, mesmo sendo mensageiro dele?
    
ㅡ Porque ele quer obter informações minhas a partir de você. Ele nos escuta a partir de você, te usa como instrumento de espionagem ㅡ Jimin se surpreendeu, e ele o olhou de relance, quase riu de sua expressão ㅡ É, você realmente pensou que eu era burro. Posso não saber de Tarpe, mas li fantasias o suficiente para ter entendido tudo desde o início. Não tenho experiência alguma, Jimin, mas os livros me tornaram inteligente.
     
Ele ficou calado por alguns minutos antes de perguntar.
     
ㅡ Não está me odiando agora?
     
ㅡ Não se engane, Jimin, é claro que estou. Você mentiu para mim desde que cheguei aqui ㅡ ele abaixou a cabeça, esperava isso, e não podia culpá-lo ㅡ Mas o perdoo ㅡ Jungkook encarou seu semblante triste ㅡ Deve ter sido difícil para você escolher traí-lo para me ajudar.
     
ㅡ Não tanto quanto está sendo para você suportar tanto. 
     
ㅡ Sonhei por anos com aventuras, e isso foi o que ganhei. Recebi o que pedi ao universo, e não poderia estar mais apaixonado por este mundo.
     
ㅡ Por que está me contando isso? ㅡ perguntou Jimin. Ele olhou para Taehyung em seu colo e sorriu.
     
ㅡ Não quero vê-lo sofrer, nunca mais. Quero salvar tudo isso, mas preciso de você, e odeio admitir isso, mas é o único que pode me ajudar.
     
Jimin respirou profundamente antes de sorrir e dizer:
     
ㅡ Do que precisa, Jeon Jungkook?

⊱✫⊰

Fortaleza de Vrai Moi.
Onde Jimin estava enquanto os outros estavam no Castelo de Cartas.

ㅡ Por que está aqui? Deveria estar com Jungkook ㅡ Vrai Moi levantou da superfície de pedra, sonolento. Franziu as sobrancelhas ao ver o rosto de Jimin coberto de lágrimas. O coelho branco ajoelhou-se no chão, cobrindo o rosto com as mãos.
     
ㅡ Você ganhou. Queria ele? Agora o tem. Não sei o que fez, mas ele está apaixonado, e odeia estar dessa forma por você, e não por Taehyung ㅡ falou tão rápido que soluçou no final da frase. 
     
Ele se aproximou do coelho branco, abaixando o corpo em sua frente e levantando o seu rosto com os dedos.
     
ㅡ O que ele disse? ㅡ segurou um sorriso largo. Jungkook gostava dele, e odiava sentir aquilo. 
     
ㅡ Pediu que o guiasse até a espada de vidro, e então falou que queria conhecer a Corte Sombria. Quer sentar ao trono lá, ter a bússola dourada. Quer ter poder, e disse que ficaria ao seu lado para tal ㅡ Vrai Moi começou a rir, ele sentiu um calor subindo dos pés que percorreu todo o seu corpo. 
     
ㅡ Eu sabia que éramos iguais, era uma questão de tempo até que ele viesse para o lado certo ㅡ levantou do chão, ordenando que Jimin fizesse o mesmo ㅡ Venha, vamos brindar, mudarei o trono de chamas de lugar durante a madrugada ㅡ apontou com o indicador para ele ㅡ E você, não se atreva a contar para Taehyung.
     
Jimin limpou a garganta. Ele nunca entendeu o ódio de Vrai Moi por Taehyung. Jungkook o destruiria por isso.
     
ㅡ Se fizer, aposto que ele vai adorar desmembrar e entalhar todos os seus ossos, um por um ㅡ sussurrava enquanto enchia a taça com vinho ㅡ Sabe, você tinha razão, coelho branco, o amor é lindo.
     
Claro, brinde em nome dele.
     
ㅡ Um brinde ao amor.
     
ㅡ Um brinde ao amor ㅡ Jimin sorriu fraco antes de levar a bebida amarga aos lábios.
     
Pela primeira vez, fingir e mentir estava sendo fácil.

⊱✫⊰

Castelo de cartas.
Sala do trono.
     
ㅡ Não estou feliz com isso, Calisto ㅡ disse a rainha, bocejando. Calisto encostou-se na parede ㅡ Não há uma forma de tirar essa sensação de mim? Sinto que estou sendo observada por Vrai Moi em todos os momentos, é desesperador ㅡ disse, enrolando seus fios de cabelo no dedo indicador.
     
ㅡ Seus cabelos estão voltando ao platinado, Astrid, isso é sinal de que o fim do equinócio está próximo.
     
ㅡ O vermelho ainda me assusta ㅡ Continuou, levantando de seu trono e caminhando até a janela do cômodo real ㅡ Sabe o que vejo quando encaro meus olhos no espelho? ㅡ Calisto negou ㅡ Vejo escuridão, como se até minha sombra fosse capaz de me trair ㅡ Olhou seu reflexo.
     
Olhos vermelhos e cansados. Cansados do controle incessante. Cansados de Vrai Moi. Cansados daquela cor, daquele mundo, daquele medo, daquelas sensações.
     
Olhos que refletem a tua alma pintada de vermelho sangue.
     
ㅡ Do que está falando, Majestade?
     
ㅡ Sei que tentou roubar meu trono, traidor ㅡ Calisto sentiu sua pele arrepiar ao ouvir a risada baixa da rainha ㅡ Por que desistiu? Viu que o trono real está mais para correntes do que para liberdade? ㅡ Perguntou, virando-se e olhando-o nos olhos.
     
Não podia perder tempo, Vrai Moi tinha afrouxado o controle que tinha sobre ela mesma, não queria saber o motivo de tamanha sorte.
     
ㅡ Não é assim, Majestade ㅡ Calisto se ajoelhou no chão ㅡ Eu nunca quis traí-la.
     
ㅡ Não vou matá-lo, se é o que pensa.
     
Calisto passou meses com medo desse momento. Com medo do dia em que a rainha descobrisse sua traição.
     
Por isso fez tal maldade com Jungkook, afetando até mesmo Taehyung e os outros. Teu medo foi maior que teu senso.
     
ㅡ Mentiu para mim, não foi? Acusou o garoto sabendo que ele é nossa única esperança. Tudo isso para desviar meus pensamentos? ㅡ ela riu em escárnio ㅡ Como se sente? Foi bom deixar um inocente aos pés da morte? Se ele decidir ir para o lado de Vrai Moi, não terá trono para você tentar roubar.
     
Tudo poderia estar nas mãos de Jungkook, inclusive sua vida. Arregalou os olhos, levando sua mão até próximo de sua boca, tampando-a.
     
ㅡ Vrai Moi pegou meu exército para prender Taehyung. O que significa que ele pode estar com Jungkook nas mãos neste exato momento.
     
Suas unhas, roídas, deixavam sua aflição e ansiedade.
     
ㅡ Minta para mim mais uma vez, Calisto, e ajude-o pelas minhas costas até que o equinócio acabe ㅡ Segurou o rosto do Valete, aproximando-se apenas para dar-lhe um selar em sua cicatriz ㅡ Me pergunto porque você, logo você, fez isso. Quer meu trono? Pegue-o quando quiser, apenas não aja como se fosse cruel, suas últimas atitudes me enjoam ㅡ ela respirou fundo ㅡ Passou anos aterrorizando Taehyung e os outros, para no final precisar ser salvo por eles. 
     
Astrid nunca fora livrada do controle de Vrai Moi antes do fim do equinócio ㅡ Calisto se perguntava o que tinha acontecido, ou o que era mais importante que ela naquele momento para fazer com que Vrai Moi perdesse o foco.
     
Ele tinha medo da resposta.

ㅡ Me desculpe, por tudo.
     
Ela segurou o rosto dele entre as mãos e o beijou.
     
ㅡ Não é a mim que deve desculpas.

⊱✫⊰

Corte sombria.
     
ㅡ Sei que as minhas palavras não tem tanto peso quanto as palavras de uma fada, que é incapaz de mentir, mas acredite em mim… Você está lindo ㅡ disse Vrai Moi quando olhou Jungkook de cima a baixo. 
     
A camisa preta era parecida com a que Vrai Moi usava, e combinava bem com a calça de alfaiataria da mesma cor. JungKook transformava a roupa mais simples em algo incrivelmente deslumbrante.

Apenas por ser ele quem está vestindo.

Vrai Moi se aproximou, arrumando a gola da camisa de JungKook. 
     
ㅡ Não pensei que tivesse bom gosto ㅡ disse JungKook  Vrai Moi riu com sarcasmo e ele sorriu de canto. Vrai Moi estendeu sua mão a ele, que a segurou, e foi guiado escadas abaixo, até a sala de jantar.
     
ㅡ Abomina os sapatos? ㅡ perguntou, quando notou que Jungkook estava descalço.
     
ㅡ Não uso sapatos em casa ㅡ ele parou, surpreso por como se referiu ao castelo, ele cruzou os braços ㅡ Disse algo errado? ㅡ Vrai Moi balançou a cabeça.
     
ㅡ Só estou feliz por tê-lo aqui, sem ter precisado amaldiçoá-lo com frutos ㅡ lembrou-se do pesadelo de Taehyung, será que era esse o plano dele? Se Jungkook não tivesse o colar de proteção, acabaria nas mãos dele de qualquer forma? Seu estômago revirou e mal tinha colocado comida na boca.
     
Forçou-se a rir. Vrai Moi puxou a cadeira para que ele se sentasse, e ele o fez. JungKook ficou em sua frente. Não desviava seus olhos, parecia procurar uma brecha para descobrir uma mentira ㅡ nunca acharia.
     
ㅡ Ainda quer vê-lo? Taehyung, digo ㅡ Ele colocou um pouco de batata cozida na boca, apreciando o sabor apimentado da comida.
     
ㅡ Sim, quero ㅡ Seu coração doía. Queria que tudo terminasse logo. Queria ficar com ele logo.
     
ㅡ Creio que deseja ficar sozinho para conversar, então. 
     
ㅡ Eu gostaria, se fosse possível. Não que esteja desconfiado de você, é só que… não quero dramatizar tudo agora ㅡ Vrai Moi sorriu.
     
ㅡ Pode ter o que quiser comigo, Jungkook. Vou levá-lo até a masmorra depois do jantar e pedir que os guardas se retirem.
     
Ele colocou um pouco de comida na boca, mas, pelos céus, quase vomitou. Era apimentada demais e temperada de menos, e ainda conseguiu ganhar um sabor doce demais quando começou a mastigar.
     
Sentiu o colar, que Alice deu a ele, brilhar em seu pescoço ㅡ o feitiço que SeokJin tinha feito para escondê-lo de Vrai Moi havia dado certo. Maldito seja, tinha tentado amaldiçoá-lo. 
     
Pensou o que poderia ter acontecido se não o tivesse, talvez tudo fosse por água abaixo. O sonho de Taehyung poderia ter se tornado real.
     
Ele olhou para Vrai Moi, tentando esconder sua surpresa, e percebeu que a forma com que ele o olhava havia mudado ㅡ como se agora confiasse de verdade em Jungkook, porque tinha certeza de que o fruto havia funcionado. Melhor assim. Lembraria de agradecer Alice milhões de vezes depois que isso acabasse.
     
ㅡ Então, príncipe, o que quer fazer? Quais seus planos ao meu lado? ㅡ bingo. Vrai Moi tentou mesmo amaldiçoá-lo, como Taehyung sonhou.
     
Tomou um gole do suco e fez uma careta, como se tentasse mostrar a ele que sentiu o gosto da pimenta na goela. 

ㅡ Roubarei a bússola dourada do Tempo. Com ela, vou conseguir dominar até a Corte Dourada se quiser ㅡ ele se serviu vinho e o olhou com admiração, como se suas atitudes o dessem vida e o fizesse amá-lo mais ainda.
     
Ele parecia gostar da crueldade, e JungKook estava disposto a ultrapassá-lo nesse quesito, se significasse livrar Taehyung dos pesadelos. 
     
ㅡ Pois bem, se quer, terá ㅡ fala como se roubar por poder fosse simples e uma atitude não condenável.
    
ㅡ Preciso de Jimin por um instante, ou o Tempo vai me matar. Preciso que ele avise a Alice que quero fazer uma visita, assim ele vai me deixar tocar os pés em suas terras, pois não vão acreditar que estou ao seu lado.
     
Bússola dourada. Objeto utilizado para se movimentar por cada lugar de Tarpe, que te mostra os caminhos mais curtos e que Vrai Moi não conhece. Acho que ele esqueceu desse detalhe.
     
ㅡ Alguém fez a lição de casa ㅡ bebeu do vinho e pôs a taça sobre a mesa. O sorriso sarcástico, animado, feliz, talvez, indecifrável, feroz ㅡ Enquanto fala com Taehyung, falarei com o coelho branco, príncipe.
     
Jungkook levantou da cadeira.
     
ㅡ Já terminou de comer? ㅡ ele fez o mesmo.
     
ㅡ Eu… desculpe, mas eu não gosto de comida apimentada e doce ao mesmo tempo, longe demais da humanidade ㅡ Jungkook sentiu que ele omitiu o longo curvar nos lábios que queria dar. 
     
ㅡ Pois bem, vamos até Taehyung.
     
Ele o ofereceu o braço, como se ele fosse realmente dele, e Jungkook o aceitou, seguindo para a masmorra do castelo. 
     
Na hora da tempestade, tudo é levado.
     
Os pequenos barcos sem âncora, os peixes, os marinheiros e suas bússolas.
     
E os sentimentos.
     
Na hora da tempestade não há controle que faça as lágrimas permanecerem dentro de você. Não há coração que suporte o aperto da trovoada.
     
Não há ser humano forte o suficiente para suportar a chuva que é se perder de si mesmo. Como se seus pensamentos o traíssem e não pudessem controlar seu próprio corpo. Como se sua mente estivesse tão embolada que mal se sentia capaz de reconhecer a si mesmo.
     
De repente tudo estava em câmera lenta. Era mal iluminado, repleto de grades e teias de aranha e cheirava à poeira.
     
ㅡ Por que está tão tenso?
     
ㅡ Deu comida a ele? ㅡ Vrai Moi pensou que nem mesmo a maldição da fruta tirava a bondade que restava no peito dele, achou um ato de humanidade tão profundo que não se importou, sequer desconfiou de algo.
     
ㅡ Você quer salvar a todos, mas quem salva você? ㅡ Jungkook o ignorou ㅡ Não, não dei. Mas se desejar, pedirei que trazem.
     
ㅡ Por favor, peça. Sem pimenta ㅡ Taehyung odeia pimenta.
     
Quando a escadaria terminou, Jungkook o viu, Taehyung estava de pé, sendo segurado por duas cartas roxas, era uma cor tão escura.
     
O canto de sua boca sangrava e seu pescoço tinha a marca de dedos. Suas roupas, rasgadas, o chapéu ao chão, nem mesmo poderia ser chamado daquilo ainda. Jungkook sentiu seu corpo fraquejar e seus olhos lacrimejarem, mas não podia expressar, não podia.
     
Segurou tudo. 
     
ㅡ Eu deixei bem claro que não o queria machucado, o que fizeram? ㅡ Gritou de ódio, uma raiva faminta e verdadeira. Suas mãos brilharam numa névoa escura, e ele cortou-as ao meio, as duas cartas caíram ao chão, ao lado de Taehyung. Vrai Moi agiu como se estivesse se importando genuinamente com ele, com Taehyung. 

Como se algo… doesse dentro dele, machucasse.
     
O sangue pintou o chão de vermelho vivo, estava quente quando Jungkook se ajoelhou para ajudar Taehyung a se levantar.
     
Ainda com a expressão falsa no rosto, virou, olhando Vrai Moi.
     
ㅡ Estou indo encontrar Jimin, faça o que quiser.
     
ㅡ Quero curativos ㅡ mandou.
     
ㅡ Imaginei que pediria isso. Volto em dez minutos com eles.
     
Agradeceu, seja lá qual seja o deus das fadas, porque ele subiu as escadas no exato momento em que Jungkook não pôde conter a raiva na face.
     
ㅡ O que fizeram com você? ㅡ levantou o rosto do garoto, ele estava tão machucado e com a expressão tão doída ㅡ Quem fez isso com você?
     
ㅡ Não importa, ele já a amaldiçoou, sinto o cheiro da fruta ㅡ Taehyung chorava tanto que Jungkook não sabia definir se era porque sentia o corpo doer ou pela tristeza ㅡ sinto o cheiro de pêssego e pimenta.
     
ㅡ Quem fez isso? ㅡ Taehyung balançou a cabeça.
     
ㅡ As duas cartas são inocentes, a que foi responsável por isso saiu faz horas, elas me deram comida e me salvaram da arma. Mas não importa mais, eu vou ser um mentiroso aos seus olhos. Eu te perdi.
     
Jungkook segurou o rosto de Taehyung entre as mãos, e quando seus olhos se encontraram, ele viu o quanto suas palavras eram bobas.
     
ㅡ Você… como não foi afetado pela maldição? O que houve? 
     
ㅡ Alice me protegeu com um colar, a fruta não me atingiu. Vrai Moi está nas minhas mãos, eu faço as regras a partir de agora, amor ㅡ piscou e Taehyung sorriu, mesmo com o rosto doendo.
     
Sentiu algo bom em seu coração. 
     
ㅡ Veio me buscar ㅡ secou as lágrimas do rosto, com as mãos manchadas de um sangue que não era o seu, o cheiro metálico era forte suficiente para provocar ânsia. 
     
ㅡ É claro que eu vim. Eu sempre virei por você — Taehyung sorriu.
     
ㅡ O que vai fazer agora? 
     
ㅡ Falar com o Tempo. Preciso conhecê-lo, preciso de respostas sobre o labirinto. Vou pedir a ele a bússola dourada emprestada, não conseguirei fazer nada sem ela.
     
Jungkook tocou com cuidado o rosto de Taehyung, e seu olhar caiu em seu pescoço. Tirou os fios do cabelo ruivo que tocavam os cortes fundos e provocavam ardência. 
     
ㅡ Não gosto do Tempo. Não vá, meu bem ㅡ Taehyung implorou, sentindo medo.
    
Jungkook o abraçou com cuidado, beijando a bochecha do seu amor machucado.
     
ㅡ Está tudo bem, eu vou voltar ㅡ Disse Jungkook, com a voz baixa e confortante, confiante.
     
Ainda sentia medo que ele fosse, oh, como Taehyung sentia medo do Tempo. Era como se ele pudesse acabar com tudo em um sussurro. Como se ele pudesse parar o relógio da sua vida, e tudo se tornaria escuro. Tudo iria embora.
     
ㅡ Não vai ㅡ segurou o rosto de Jungkook entre as mãos.
     
Manchou-o com o sangue das cartas mortas, que se misturaram com o dele, mas aquilo não importava para nenhum dos dois no momento.
     
ㅡ Não vá ㅡ repetiu, implorando. Jungkook o puxou para um beijo.
     
Seus lábios não estavam adocicados como caramelo. O beijo foi uma tentativa de Jungkook de acalmar Taehyung, mas teve gosto de lágrimas de medo e gotas de sangue, diferente do mundo que deveria ser mágico.
     
ㅡ Eu não quero te perder ㅡ ele só percebeu que voltou a chorar quando sua visão ficou embaçada ㅡ Se isso for Romeu e Julieta, eu morrerei ao ouvir o seu último suspiro.
     
Jungkook riu de seu drama.
     
ㅡ Eu já disse que voltarei, Tae ㅡ Jungkook sorriu. Ouviu os sons de passos no início da escada, Vrai Moi estava voltando.
     
ㅡ Eu quero que me pinte de azul ㅡ Taehyung apertou manga da camisa de Jungkook, impedindo-o de levantar.
      
ㅡ O que? ㅡ Perguntou Jungkook.
      
ㅡ Eu direi qualquer coisa que faça você ficar. Por favor, não vá ㅡ pediu pela última vez, mas não convenceu Jungkook.
     
Jungkook sorriu meigo, limpando o sangue cor escarlate com sua mão, que pintava a pele do rosto de Taehyung com a cor mais agoniante de Tarpe. 
     
ㅡ Eu me aventuraria por você. E prometo a ti, voltarei antes que imagina, e você não terá de dar seu último suspiro ㅡ Jungkook falou com uma entonação dramática, como se estivesse realmente atuando em uma peça de Shakespeare.
     
ㅡ Então deixe eu ir com você ㅡ Disse Taehyung, forçando-se a levantar, mas teu corpo o mandava ficar ao chão.
     
ㅡ Enlouqueceu? Fique aqui, está praticamente queimando por dentro e por fora ㅡ Selou seus lábios e juntou seus narizes, em uma carícia breve ㅡ preciso que siga com o plano, é melhor ficar aqui.
     
O beijinho de esquimó passou de um ato doce para um ato amargo, do amor para o medo de perdê-lo. Sabia que ele era forte o suficiente para aguentar aquilo, mas mesmo assim, tinha medo. Tanto medo.
          
ㅡ Trouxe os curativos ㅡ Vrai Moi voltou, ao lado de um guarda de cartas. Antes que pudesse ver os dois, Jungkook deu um último beijo na bochecha de Taehyung.
     
ㅡ Siga a dança ㅡ sussurrou. Levantou do chão e caminhou até ele, pegando a caixa em suas mãos ㅡ Tudo está cheirando a sangue, talvez eu precise de outro banho ㅡ fez uma careta e ele deu risada, apoiando a mão em sua cintura e puxando-o para perto. Taehyung repetia para si mesmo: atuação, atuação, atuação. 
     
ㅡ Se você quiser, terá ㅡ beijou a pontinha do nariz de Jungkook, que quase estremeceu ㅡ Acho melhor cuidar dele logo, você ainda precisa descansar se quer ir até o Tempo.
     
ㅡ Conseguiu? ㅡ não conteve a animação na voz, e isso fez com que Vrai Moi sentisse algo errado em seu peito, que descontroladamente subia e descia.
     
ㅡ É tão fácil se apaixonar por você ㅡ sussurrou no ouvido dele. O viu caminhar até o corpo de Taehyung, que estava sentado ao chão, fazendo a expressão mais confusa que conseguiu.
     
Jungkook o tirou da poça de sangue e limpou seus ferimentos, nenhum dos dois disse algo, foi um completo silêncio. Com Vrai Moi ali, talvez tenha sido o melhor a se fazer. O guarda entregou roupas limpas para Taehyung, que trocaria quando os outros dois subissem. Enquanto isso, Vrai Moi usava sua magia para acabar com aquela cor vermelha no chão ㅡ a pedido de Jungkook. 
    
Quando colocou o último curativo em seu pescoço, tocou suas mãos e fez um carinho, como se dissesse: estou aqui, te vejo, te amo.
     
Taehyung piscou devagar, como se respondesse: estou aqui, te vejo, te amo.
     
Te amo, te amo, te amo. 
     
Jungkook segurou um sorriso, e Taehyung abaixou a cabeça, envergonhado. As orelhas ficaram com as pontas vermelhas.
     
Vrai Moi chamou Jungkook e os dois subiram as escadas. Durante horas, os dois dançaram juntos pelo salão vazio. Vrai Moi só conseguiu pensar como a vida era inexplicável. Ele, um demônio que queria destruir o amor, destroçá-lo e enterrá-lo, estava sorrindo e rindo com Jungkook, chamando-o de príncipe e prometendo dar a ele o que quisesse. 

     O que quiser ter, terá.
     O que quiser fazer, faça.
     O que quiser destruir, destrua.
     Quem quiser matar, mate.
     Terei o prazer de estar ao seu lado como cúmplice, assumiria o fardo por você. Queimaria Tarpe se fosse o traidor. 
     Sei que é capaz de me entalhar os ossos, sei que é tão capaz de mentir quanto eu, e sei que não precisa de poder para ser o homem mais devastador do meu mundo. 
     Mas ficarei radiante de ir se for pelas suas mãos.
     Dançarei feliz nas mãos do diabo.
     Ao menos invejarei os príncipes do inferno, e os contarei todos os sorrisos verdadeiros e falsos que me deu. Falarei da língua afiada e de sua ambição gigante, da sua sede por fazer as coisas sempre do seu jeito. Enquanto os sete pecados torturavam eternamente, aqui estava eu, com o garoto que seria pior que todos juntos.
     Quer a bússola? Vá em frente, pegue.
     Quer ir ao labirinto? Vá.
     Matar o traidor? Faça.
     Me ver gélido? Estarei em seus braços.
     Não me importo mais, amor, não me importo.
     Se puder dançar contigo essa noite, então que seja, vou jogar o seu jogo com as suas regras, Jeon Jungkook.

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