Desde o Princípio - Livro 1...

Oleh LSOliveira80

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Pode o destino entrelaçar de tal forma três caminhos ao ponto deles se cruzarem, vida após vida, causando int... Lebih Banyak

Nota da Autora + Book Trailer e Aesthetics
Epígrafe
Coimbra, junho de 1849
Viarello, agosto de 1849
Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Desde o Princípio - Andrógenos do século XXI
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Viarello, novembro de 1847
Coimbra, dezembro de 1847
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24

Capítulo 1

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Oleh LSOliveira80

A biblioteca da família Rossi

Vila Velha do Caminho Real, um mês atrás.

Andando de um lado para o outro, Eros Vicenzze esperava impaciente, olhando para a porta dupla principal, a fim de que alguém lhe trouxesse novas sobre seu anfitrião.

Sua curiosidade, amor pela fotografia e um projeto cultural o haviam levado para a única mansão sobrevivente da Viarello — o vale fruto de lendas e mitos que ficava na entrada da cidade, logo depois do também famoso, Portal dos Anjos.

Não que ele se sentisse desconfortável em meio aos livros, era um assíduo frequentador da biblioteca municipal há vários anos, ela era, inclusive, razão do projeto que o levara até ali.

Naquele ambiente, porém, seus companheiros de tantas horas ocupavam todas as paredes, do chão até o teto, até mesmo acima do mezanino que ficava no lado sul, estruturado junto a um pé direito alto e cheio de classe tradicional — talvez assim fosse somente para comportar o imenso lustre de cristais, que pairava bem no centro, projetando padrões de sombras com suas luzes amareladas.

A luxuosidade da mansão não o surpreendia, já havia estado ali outras vezes, mas a biblioteca tinha algo de especial que o fazia ter vontade de registrar todos os detalhes.

Não iniciaria a sessão de fotos, no entanto, até o anfitrião vir recebê-lo, apesar de ter deixado o equipamento a disposição sobre a mesa indicada pela sisuda governanta.

Havia esperado alguns meses pelo retorno de Roberto Rossi da Europa para finalmente realizar aquela visita e para tanto, usou toda a influência do Vicenzze mais velho, amigo íntimo do proprietário, para ser recebido. Essa espera era uma das razões pelas quais, sentia agora, com a demora para ter com o anfitrião, uma ansiedade sem precedentes tomar conta de si.

Será que ele tinha mudado de ideia quanto a permitir o acesso dele aos registros da quatrocentona família Rossi? Ou teria permitido a sua presença apenas para que fotografasse a construção, paisagens e as ruínas?

Não, seria muita crueldade. Olhando em volta, seus dedos já coçavam para conter o impulso de começar a fuçar as prateleiras, arrastar a escada de ferro acoplada e subir pois, os melhores e mais raros exemplares sempre estavam nas alturas, longe de mãos curiosas como as dele. Só de pensar nas raridades que deviam compor a coleção dos Rossi o coração bibliófilo de Eros disparava no peito — todo aquele dinheiro e status podiam significar cultura pura — e tendo estudado a vida do Sr. Roberto Rossi com afinco, ele duvidava que pudesse se decepcionar.

Mais alguns minutos se passaram e ele sentia não ter mais capacidade para controlar seus impulsos, quando a enorme porta de duas folhas se abriu. Do outro lado, surgiu o senhor magro e de estatura mediana, porém de aparência ativa e saudável, ainda mais em ênfase por ele estar vestindo um traje esportivo.

"Ele jogava tênis!". Eros pensou, indignado com o fato de ficar plantado ali (sem a permissão de se meter entre os exemplares, claro!) enquanto o outro gastava o tempo com o que ele considerou ser uma futilidade.

Ao encarar o meio sorriso no rosto do jovem visitante que não conseguia ser discreto o suficiente ao analisar o traje do anfitrião, o senhor abriu um sorriso polido, indo estendê-lo a mão:

___ Não sei como me desculpar o suficiente! — começou, mostrando que apesar do português perfeito, essa não era sua primeira língua.

Eros apertou sua mão, o sorriso agora de alívio, pois ele lhe pareceu muito mais empático do que ao telefone. Nada como uma gafe para que as pessoas retirassem sua camada exterior de mera civilidade social.

___ Fui desafiado pelo Dr. Reginaldo a uma partida logo ao raiar do dia e você sabe, dois velhos se arrastando por uma quadra de tênis encoberta pela neblina, só podia gerar confusão!

Ambos riram aliviando imediatamente o clima — todos os habitantes sabiam que a neblina da serra só se dissipava quando o dia já estava chegando a sua metade.

___ Aquele homem sabe ser persuasivo! Aliás, começo a pensar que esse é um traço que se desenvolve quando se passatempo demais em Vila Velha do Caminho Real!

Foi a vez de Eros aparentar um sorriso de desculpas.

___ Confesso que nem sempre sou tão insistente, mas como perder a oportunidade quando o senhor só veio para ficar poucos dias desfrutando da nossa neblina? Roberto gargalhou.

___ Ah! Eu já tive a minha cota de neblina diária, pode acreditar! — seus olhos azuis, agudos demais pra alguém da sua idade, pousaram em Eros novamente — E não me entenda mal! De forma alguma estou reclamando da sua insistência, aliás, confesso que ela me deixou lisonjeado.

___ Mesmo?

___ Claro que sim! Em primeiro lugar, conheço o seu trabalho como fotógrafo e sabia desde o primeiro telefonema que deixá-lo fotografar a mansão para uma exposição local que tem como objetivo colher fundos à biblioteca era mais que certo!

Eros apenas assentiu, agradecido pelo que interpretou como um elogio.

___ Mas quando você me perguntou sobre os arquivos da minha família... — os lábios se espremeram, numa expressão de dúvida — Tive que refletir e sopesar por algum tempo, mesmo com a insistência do seu tio Enrico sobre o caso.

___ Entendo perfeitamente.

___ Que bom meu jovem amigo, que bom! — Roberto com seu um metro e sessenta, passou uma das mãos pelos ombros que ficavam há mais de um metro e oitenta do chão de Eros, e com um leve impulso, fê-los rodar num ângulo de 360 graus, enquanto ambos admiravam a biblioteca — Sabe, isso tudo aqui pra mim, é sagrado.

Mais uma vez os olhos azuis do Sr. Rossi fitaram os de Eros, profundamente e contemplaram o longo gesto de concordância que ele fazia com a cabeça:

___ E eu tinha que estar certo que também era sagrado pra você, antes de abrir as portas.

O coração de Eros angustiou-se. Será que a resposta final seria negativa?

___ E como o senhor chegou à conclusão de que deveria acolher meu pedido? — questionou, calando a dúvida com uma atitude positiva.

___ Hilde, a doce e incompreendida, Hilde!

Eros sabia que a bibliotecária sexagenária da cidade deveria ter lhe dado um empurrãozinho, ainda que ela, discreta como sempre, jamais fosse admitir que usou da sua influência para tanto. Seu sorriso agora, era de tranquilidade.

___ Tenho certeza de que para um admirador de imagens e histórias como você, nossos arquivos revelarão o paraíso! Roberto Rossi o conduziu para a escrivaninha de mogno escuro, coberta com uma espessa placa de vidro, que estava totalmente livre de objetos, ainda com uma das mãos em seus ombros.

___ O tempo será mais favorável para as fotos depois das onze, não?

___ Com certeza, e eu vim preparado para qualquer intercorrência que nosso clima nos reserve. — Eros apontou para uma grande mala prateada com equipamentos de fotografia, que repousava em cima de uma mesa com pernas baixas, colocada a frente de um dos sofás e poltronas que ornamentavam o lugar.

___ Um homem prevenido, certamente! — o anfitrião riu.

___ Pensei em aproveitar também a iluminação própria e fazer umas fotos após o cair da noite, se não for muito incômodo, é claro. — era impossível, mesmo pra ele, acostumado a fotografar todos os tipos de paisagem, não se impressionar com a magnificência da mansão.

___ Óbvio que pode ficar o quanto quiser, meu rapaz. — Roberto concordou, indicando-lhe uma das cadeiras de madeira e estofado marrom para sentar — Como vai seu tio Enrico, aquele velho beberrão?

___ Ele vem levando a expressão "Il dolce far niente*" bastante a sério!

Imaginando mesmo que sim, Roberto riu e em seguida, tocou uma sineta que estava no canto da mesa e apenas após alguns segundos, uma mulher vestida com roupas acinzentadas, veio apressada, colocando-se à disposição com um rígido gesto de cabeça.

___ Emengarda, por gentileza, direcione meu jovem visitante ao que lhe causar maior interesse na nossa coleção, enquanto eu me retiro para finalmente me livrar desses trajes inadequados ao nosso santuário!

Com uma piscadela, o senhor tratou de retirar-se rapidamente, deixando Eros constrangido com a mulher que, durante a sua chegada, parecia forçar-lhe um sorriso de boas-vindas, o que, na verdade, fê-lo pensar que ela devia estar mais surpresa com a atitude do Sr. Rossi em recebê-lo do que ele próprio.

___ Então, em que lhe posso ser útil Sr. Vicenzze?

___ Pedi ao senhor Rossi que me permitisse estudar os documentos da família, de quando se mudaram da Itália para cá no século XVIII.

___ Ah, sim claro! — ao contrário do que ele imaginou, ela seguiu para a parte de trás da escrivaninha, indo abrir uma porta de mogno que ele notou somente agora, estar ali, bem diante de si próprio, escondida em meio a tantos volumes encapados — Os documentos do período colonial estão arquivados na sessão climatizada, por aqui, por favor.

Eros a seguiu pela porta ligeiramente estreita, e um corredor que se iluminou assim que ela girou a maçaneta fê-lo pensar que estava adentrando um túnel secreto — que emocionante!

E droga, se adentrar um túnel macabro com uma mulher rígida era a coisa mais emocionante que ele estava fazendo em meses, sua vida estava mesmo precisando de uma mudança urgente! Foi o que ele pensou enquanto mergulhava nas profundezas da mansão mais antiga da cidade.

_________________

* "Il dolce far niente" é uma expressão italiana para o doce ócio, o doce fazer nada, um estilo de vida bastante cultuado por lá.

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