{PT} Brianna and John's Thing...

By skeltonberry

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{OUTLANDER MODERN AU} • Brianna Fraser é a garota perfeita em todos os sentidos: filha exemplar, aluna refere... More

PRÓLOGO
1. W 86TH STREET STATION
2. DIAS DE LUTA, DIAS DE DERROTA
3. ILUSÕES E DESILUSÕES
4. AMIGOS
5. BURN, BABY, BURN
6. FLERTE INOFENSIVO
7. RETRATO DE FAMÍLIA
8. SOBRE HOMENS E TERNOS
9. JUÍZO FINAL
10. UMA BENÇÃO DISFARÇADA
11. ISSO NÃO É UM ENCONTRO
12. PROPOSTAS INDECENTES
13. LINHA TÊNUE
14. DE JOELHOS
15. TERMOS E CONDIÇÕES
16. MUDANÇAS NECESSÁRIAS
17. DESAMPARADA
18. MEDIDAS DESESPERADAS
19. DECISÕES, DECISÕES
20. ALGO VELHO, ALGO NOVO, ALGO EMPRESTADO, ALGO AZUL
21. CONSEQUÊNCIAS EMOCIONAIS E REVELAÇÕES
22. BRINCANDO COM FOGO
23. SURPRESA
24. ESTE SOU EU TENTANDO
26. A QUEDA DE ÍCARO
27. FINS E COMEÇOS
28. MINTA PARA MIM
29. TARDE DEMAIS
30. EXORCISMO
31. O MEU ERRO
32. VIENNA
EPÍLOGO 1
EPÍLOGO 2

25. COMO O GRINCH ROUBOU O NATAL

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By skeltonberry

BRIANNA


A luz quente da hora dourada invadiu o quarto pelas cortinas entreabertas, fazendo com que Brianna despertasse. Ela piscou e se esticou preguiçosamente, sentindo um calor que não tinha nada a ver com o brilho do sol que entrava pela janela e que definitivamente estava relacionado com a pessoa que a abraçava por trás, traçando um caminho de beijos desde o pescoço até o ombro descoberto dela.

— Você já está acordado? — perguntou ela, com a voz levemente rouca como sempre ficava após despertar.

Brianna se virou e deitou de costas contra o travesseiro enquanto John se debruçou sobre ela. Os olhos dele estavam um pouco inchados e o cabelo bagunçado caía por cima da testa. Ela não conteve o impulso de levar a mão até eles, deslizando os dedos pelas mechas escuras dele.

— Eu sonhei com você — disse ele, com um sorriso torto se formando no canto de seus lábios — Acho que foi a forma de meu cérebro lidar com a saudade que sinto de você quando estou dormindo.

Ela soltou uma risadinha, achando graça.

— Você estava com saudade de mim, é? — Bree indagou, erguendo as sobrancelhas, ainda acariciando os cabelos macios de John — Eu estou bem aqui. Como isso é possível?

John pareceu ponderar por um momento, como se ele mesmo estivesse tentando entender.

— Não sei — respondeu ele, por fim — Se tratando dos meus sentimentos por você, eu já parei de tentar entender há muito tempo.

Brianna revirou os olhos e estava prestes a responder com um comentário sarcástico quando ele a interrompeu com um beijo, fazendo com que ela se esquecesse até do próprio nome. Nada mais importava no mundo, muito menos o que ela iria dizer.

Ela já sabia que, depois de perceber que o amava, nada mais seria como antes. Era como se tudo que ele fazia ela sentir tivesse se intensificado de uma forma que ela nem mesmo sabia que era possível. Brianna não acreditava que aquele tipo de amor realmente existisse na vida real até experimentá-lo– ela sentia como se uma pequena supernova acontecesse dentro de si toda vez que John a tocava ou a beijava, mas o que eles tinham era muito mais do que sexual. Ela poderia apenas olhar para ele e seria capaz de sentir até em seus ossos o quanto ela o amava.

John afastou o rosto do dela em um movimento súbito que a assustou. Ela ia protestar, mas ele foi mais rápido.

— Eu amo você — disse ele. — Você sabe disso, não sabe?

Ela congelou, atônita. Quais eram as chances de ela estar ouvindo coisas ou delirando?

— Não — ela falou, depois de alguns minutos em silêncio e em choque — Você nunca disse.

Isso o fez sorrir.

— Era realmente necessário que eu dissesse? — perguntou ele com ironia — Achei que estivesse bem óbvio, principalmente considerando o quanto você é inteligente e tudo mais.

Como ele podia fazer uma piada com aquilo? Brianna estava perplexa demais para contestar. Ela odiava se sentir desorientada daquele jeito, mas sequer conseguia formar uma frase coerente depois de todo o tempo em que havia ficado na negação sobre o que sentia por ele, sofrendo por antecipação e com medo de toda a dor que aquilo lhe causaria em algum momento.

— Não estava — ela esclareceu, sentindo o coração batendo tão forte que ela quase conseguia ouvir o som, como de um tambor, dentro de seu cérebro.

O sorriso de John aumentou, como se ele estivesse se divertindo bastante com a expressão de puro choque que ela sustentava. Ela queria xingá-lo, socá-lo e beijá-lo, nessa ordem, mas não conseguiu fazer nada além de encaixar a palma da mão no rosto dele, sentindo a barba pinicando em sua pele e o calor que ele emanava, apenas para se certificar de que aquele momento era real e não apenas fruto de sua imaginação.

— Você não é meu primeiro amor — ele disse, o que era óbvio. Ela prendeu a respiração involuntariamente. — Você é muito mais do que isso. Talvez não exista um termo bom o suficiente, ou que sequer chegue à altura de descrever o que você é para mim.

Brianna acordou do sonho ofegando como se tivesse acabado de sobreviver a um afogamento, e sentindo que havia saído de um pesadelo.

Ao contrário da visão criada por seu cérebro numa tentativa de sabotá-la e desestabilizá-la emocionalmente, o quarto estava completamente escuro. Brianna tateou o colchão por baixo do travesseiro para alcançar o celular e apertou o botão que fez a tela acender. Quatro da manhã.

Ela grunhiu, contendo o impulso de atirar o aparelho na parede em um ataque de raiva. Não era culpa do celular – não havia ninguém que ela pudesse culpar além de si mesma. Talvez fosse a terceira ou quarta vez que aquele tipo de sonho a assombrava apenas naquela semana. O cenário e o contexto sempre eram diferentes, mas sempre terminavam da mesma forma: com John dizendo que a amava e ela acordando logo em seguida sem conseguir respirar. Era como se sua vida tivesse se tornado uma grande piada de mau gosto nas últimas semanas, e ela estava começando a odiar a hora de ir para a cama.

Como se não fosse o suficiente pensar nele em todos os momentos em que estava acordada.

Sabendo que não conseguiria mais voltar a dormir (uma terrível alteração em sua rotina que estava evidente nas marcas escuras debaixo de seus olhos), Brianna revirou na cama tentando achar uma posição que fosse a mais confortável possível, em vão. Apesar de estar enrolada em vários lençóis, seu corpo estava trêmulo. Provavelmente uma das piores partes de tudo que havia acontecido era ter que lidar com o quanto ela estava se sentindo sozinha.

Quando John foi embora, não foi apenas a presença física dele que a deixou. Parecia que ele havia levado junto uma parte dela também – a parte que se sentia genuinamente feliz, a alegria em seu estado mais puro e verdadeiro por compartilhar um pedaço de sua vida com ele, a parte que se sentia adorada e desejada. Ela sabia que ele não a amava, mas ela nunca havia pedido por isso. O que ele podia dar a ela já era o suficiente. Era mais do que o suficiente.

Até ela estragar tudo.

Os primeiros dias haviam sido os mais difíceis, porque ninguém nunca prepara você para lidar com o "término" (não era exatamente um rompimento, já que eles ainda estavam casados de acordo com a lei) de um relacionamento que nunca existiu (pelo menos, não para John). Brianna se esforçou, o máximo que podia, para não deixar transparecer em seu exterior o desastre que ela se sentia por dentro. Ela estava tentando, desesperadamente, manter sua rotina de sempre, como se nada de fora do comum tivesse acontecido. Mais do que isso, sua prioridade e a maioria de seus esforços estava concentrada em tranquilizar seu irmão e suas amigas – a última coisa que ela precisava era estragar uma parte da vida deles também. Ela só esperava que dizer "está tudo bem!" eventualmente deixasse de ser uma mentira. Finja até conseguir, ela se relembrava mentalmente.

Brianna piscou, tentando se acostumar com o escuro. Antes, aquele era um momento pacífico onde ela estaria descansando, sentindo-se segura nos braços do homem que amava. Agora, a madrugada fria e silenciosa era apenas um lembrete do que ela havia perdido.

Ela apertou os olhos com força, como se aquilo pudesse forçá-la a cair no sono. Tudo o que ela podia esperar era que as próximas horas passassem rapidamente – afinal, ela tinha um compromisso agendado.


...


O relacionamento de Brianna e tia Jo sempre havia sido uma via de mão dupla: ela sabia que era a sobrinha favorita e a mais mimada, mas ela também era a pessoa que mais dava atenção para Jocasta – não somente por morarem na mesma cidade, Bree sentia como se fosse a única pessoa que era capaz de lidar com a tia-avó apesar da personalidade difícil dela. Por isso, não se surpreendeu quando Jocasta ligou pedindo para que ela fosse vê-la na galeria.

A sala central da River Run Gallery estava interditada enquanto Jocasta a preparava para a próxima exposição, e Brianna não precisou adivinhar para saber que a mulher estaria lá. Desde o corredor ela já podia ouvir a música clássica que tocava dentro da sala como trilha sonora para Jocasta trabalhar. Ao abrir a porta, ela se empertigou e prendeu a respiração, sentindo-se nervosa como se estivesse a caminho de encontrar seus chefes.

A leannan? — Jocasta perguntou, sem se virar, embora Brianna quase não tivesse feito nenhum barulho ao entrar. A mulher havia recuperado a visão, mas aparentemente seus outros sentidos continuavam tão aguçados quanto antes.

— Oi, tia Jo — respondeu Brianna, aproximando-se.

Ela não tinha imaginado que um dos lugares mais especiais para ela, onde ela já havia se sentido tão confortável antes, iria lhe causar uma sensação quase que sufocante, engatilhando todas as memórias e sentimentos que ela estava tentando reprimir.

— Venha aqui — tia Jo chamou, deixando o pincel que estava usando sobre a mesa de apoio e pegando um pano para limpar as mãos em seguida — Vamos nos sentar.

Brianna andou até as cadeiras postas junto à mesa auxiliar enquanto fitava a tela que Jocasta estava pintando. A obra, apesar de inacabada, era de tirar o fôlego até para quem não conhecia a paisagem retratada ali, o que não era o caso de Brianna.

— Leoch — ela murmurou o nome da propriedade onde tia Jo e vovó Ellen haviam crescido na região central da Escócia — Essa pintura vai ser parte da sua próxima exposição?

— Ah, não — Jocasta respondeu — Eu estava apenas... praticando, eu acho. Ou passando o tempo. Esta irá ficar na minha coleção pessoal.

Brianna sentiu um nó se formando na garganta que ela se forçou a engolir. Ela se perguntou o que John tinha feito com a pintura que havia feito dela no chalé – talvez jogado fora em um ataque de raiva, ou quem sabe vendido. Pelo bem dele, ela esperava que tivesse sido a segunda opção.

O olhar de Jocasta repousou sobre a mão de Brianna, notando a ausência do presente que ela havia dado. Brianna puxou as mãos e as repousou sobre o colo para escondê-las, embora fosse tarde demais. Tia Jo era uma mulher esperta.

— Bem — ela suspirou — Não consigo acompanhar o ritmo de vocês, jovens. Menos de um mês se passou e você já não está mais usando a aliança.

— Alianças não significam nada — Brianna grunhiu entredentes — É apenas um símbolo de posse antiquado. A certidão de casamento já cumpre esse papel.

— Não é disso que eu estou falando, mo ghràidh, e você sabe — a mulher retrucou, e seus olhos azuis agateados pareciam analisar tudo que estava se passando na mente de Brianna.

Frustrada, ela bufou e balançou a cabeça.

— Você não deveria estar surpresa. Nós estávamos fadados ao fracasso, e ter esperança do contrário foi apenas estúpido.

— Você está dizendo isso para si mesma ou para mim, Bree?

Brianna sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ela ficou em silêncio, e Jocasta respirou fundo.

— Eu sei que a decepcionei — Jocasta começou — e me arrependo terrivelmente por isso, a leannan. Você sabe que eu sempre a amei como se fosse minha própria filha, e sinto muito por ter traído sua confiança.

— "Traído minha confiança"? — Brianna franziu o cenho — Por não ter feito nada para ajudar John?

— Também — a mulher confessou. Qualquer pessoa poderia achar que Jocasta estava agindo naturalmente e exibindo sua tranquilidade de sempre, mas Brianna conhecia a tia-avó bem o suficiente para notar a tensão em sua postura. — Mas nós ainda vamos chegar lá. Primeiro, quero que você saiba tudo que aconteceu entre Stephen e eu.

Enquanto Jocasta contava todos os detalhes sobre como Hector Cameron havia deixado não somente uma fortuna como uma enorme pilha de dívidas e inimigos que tentariam tirar seu dinheiro mesmo depois de sua morte, Brianna tentou se manter impassível. Ela tentou controlar a si mesma para que não deixasse transparecer nenhuma emoção enquanto tia Jo falava sobre a união com Stephen Bonnet, como os dois haviam desviado uma parcela de dinheiro doado em benefício dos museus de arte e galerias de Nova York para cobrir seus débitos. No entanto, quando Jocasta disse que os desvios haviam acontecido "apenas por um curto período de tempo há muitos anos atrás", Brianna revirou os olhos.

— Então por que a senhora o manteve por perto esse tempo todo? — perguntou ela, num tom mais agressivo do que havia pretendido.

— Porque ele sabe demais — tia Jo respondeu, tendo a decência de parecer envergonhada — E ele pensa o mesmo sobre mim. Tem medo de que eu o entregue como um ato de vingança, eu acho.

Brianna esfregou a mão na testa, tentado não entrar em uma discussão com sua tia sobre como tudo aquilo havia sido estúpido, inclusive a ideia de manter Bonnet por perto apenas para se certificar de que ele continuaria calado.

— Tudo bem — disse ela, por fim — Era só isso que a senhora queria me dizer?

— Não — Jocasta pareceu ficar mais pálida e sua expressão vacilou. Ela pigarreou e se recompôs logo em seguida. — Quero que você me perdoe, mas também quero ter sua confiança novamente. Por isso irei ser completamente honesta com você agora.

As palavras de tia Jo causaram calafrios em Brianna. O que a mulher estava escondendo?

— Eu já sabia que John estava aqui ilegalmente antes que você me contasse — ela confessou.

Sem nenhuma reação à princípio, Brianna sentiu-se chocada demais para fazer qualquer coisa além de piscar, embasbacada, e balbuciar como, quando e outras palavras ininteligíveis.

— Na inauguração de sua exposição... — Jocasta parecia estar propositalmente usando um tom de voz dócil, como se estivesse acalmando uma besta furiosa. A inauguração da exposição havia sido o dia que ele havia contado para Brianna. Como aquilo era possível? — Quando você saiu para ir atrás dele, Ulysses seguiu você.

— Sim — Brianna confirmou — Eu disse para ele voltar para a galeria e ficar com a senhora.

— Ele achou tudo muito suspeito — Jocasta se explicou — Mas ele não tinha a intenção de espionar vocês, apenas queria ter certeza de que você estava bem.

Brianna sentiu a cabeça girar e uma súbita vontade de vomitar. Ulysses havia a seguido. Ulysses havia escutado a conversa deles e contado para tia Jo. Ela cerrou os punhos para tentar impedir que suas mãos continuassem tremendo.

— Ele ouviu você dizer que queria John, mas não daquele jeito — Jocasta estava quase sussurrando agora, ou Brianna estava desnorteada demais para ouvir direito. Ela não tinha certeza. — Eu nunca quis manipular vocês a se casarem, não foi por isso que mandei as alianças. Mas eu sempre quis o melhor para você, e a sua felicidade é a coisa mais importante para mim...

Minha felicidade? — Brianna disparou, sentindo-se ultrajada — Você achou que essa era a minha ideia de felicidade: um casamento arranjado para conseguir um green card?

Jocasta abriu a boca, mas pareceu mudar de ideia rapidamente. Ela se manteve calada, porque a culpa em seu rosto já estava gritando qualquer coisa que ela tentasse dizer.

— Bem, você se enganou — Brianna conseguiu dizer, engolindo a vontade de chorar. — Eu nunca estive tão infeliz na minha vida. Não que isso importe.

— Eu realmente sinto muito, a leannan — disse Jocasta, estendendo a mão para Bree — Se eu pudesse voltar no tempo, eu faria tudo diferente. Seria mais honesta. Não tentaria intervir na sua vida. — a voz dela estava realmente estava cheia de arrependimento, mas Brianna se manteve parada como uma estátua, sem mover nem um centímetro para segurar a mão da tia. — O que eu posso fazer para você me perdoar?

Nada, Brianna queria responder. Mamãe estava certa. Nunca se pode confiar em um MacKenzie.

Em vez disso, ela decidiu agir com maturidade. Se ela realmente tinha que lidar com aquilo, que tirasse bom proveito da situação.

— O que você pode fazer — começou Brianna, soando estranhamente fria e seca até para os próprios ouvidos — é ligar para cada um dos artistas que a senhora convenceu a rejeitarem John depois que ele disse que não trabalharia mais aqui. Diga para eles que você cometeu um erro terrível. Convença-os a darem uma chance para ele, não importa como. Apenas tenha certeza de que John não descubra que a senhora teve qualquer coisa a ver com isso.

Jocasta piscou, parecendo atônita.

— É isso que você quer?

— É isso que eu quero — Brianna confirmou, colocando-se de pé. Tia Jo era inteligente o suficiente para dar espaço a Brianna até que sua mágoa tivesse se dissipado por completo. Ela não fez questão de dar um abraço e um beijo de despedida na mulher, apenas caminhou em direção à porta e saiu antes de ter que ouvir ou dizer outra coisa.


...


Brianna não conseguia decidir se dezembro estava passando devagar demais ou absurdamente rápido. Os primeiros dias, quando nada parecia estar dando certo e ela sentia como se só tivesse a própria infelicidade e frustração como companhia, pareceram se arrastar. Até mesmo o cacto que John havia dado para ela quando pintou seu retrato, o que parecia ter acontecido há um milhão de anos, havia morrido. Brianna nem sabia que era possível matar um cacto, mas aparentemente não havia sido culpa dela: as extremidades dele haviam começado a ficar amareladas antes que ele murchasse completamente até parecer um graveto molenga. Ela descobriu na internet que isso provavelmente havia acontecido por conta do frio e da umidade dos meses de inverno, mas pareceu uma estranha coincidência que o presente que John havia levado para ela na primeira vez que esteve em seu apartamento morresse pouco tempo depois que ele deixasse de morar ali.

Apesar de tudo, Brianna enfim decidiu que não se permitiria mais ficar triste – já tinha perdido tempo o suficiente para achar que aquilo adiantaria alguma coisa.

Ela decidiu completar a lista.

Não importava que o nome de John estivesse no topo daquela maldita folha de papel, e nem que o propósito da lista havia sido um dia que eles se conhecessem melhor completando os itens. Ela não iria deixar que a memória dele determinasse o que ela iria ou não fazer – afinal, uma boa quantidade de itens que eles haviam colocado ali haviam sido tirados da lista original dela.

Foi por esses que Brianna começou. O primeiro item que ela cumpriu sozinha havia feito John fazer uma careta quando eles estavam montando a lista – ela precisou insistir muito até que ele finalmente aceitasse, com a condição de que seria um dos últimos itens que eles completariam se o casamento realmente fosse acontecer. Parecia apenas certo, senão irônico, que ela fizesse aquilo após perceber que eles nunca iriam ficar juntos: Brianna fez uma tatuagem.

Apesar de nunca ter achado necessário que uma tatuagem tivesse um significado, Brianna também não estava disposta a sentir dor apenas para marcar algo aleatório em sua pele. A princípio, ela pensou em tatuar o lema do clã Fraser, je suis prest, mas a ideia pareceu cafona cerca de cinco segundos depois. Lizzie foi quem deu a ideia.

"Você deveria tatuar algo que represente você, não sua família ou coisa do tipo", a amiga disse. "Então, toda vez que você olhar para ela vai lembrar que pertence a si mesma antes de pertencer a qualquer outra pessoa."

Foi algo bastante poético de se dizer, então Brianna esperava que sua tatuagem fizesse jus àquela descrição. Ela optou por fazê-la em um lugar escondido – na lateral da costela direita – porque não tinha a intenção de que outras pessoas vissem, a não ser que ela quisesse. O símbolo – um triângulo pequeno desenhado em uma linha fina – representava o elemento fogo, e no lugar de uma das arestas do triângulo, o desenho de um crisântemo substituía a linha. A flor foi escolhida por Lizzie ao descobrir que os crisântemos eram as flores do nascimento do mês de novembro.

Os demais itens cumpridos da lista não foram tão extremos, e Lizzie e Marsali fizeram companhia a ela. "Ir a um show de minha banda favorita" teve que ser substituído por "ir a qualquer show que esteja acontecendo hoje e ainda tenha ingressos disponíveis". Elas patinaram na pista de gelo do Rockefeller Center, redecoraram o apartamento dela e começaram um curso de aulas de violão que deixou Fergus magoado. Elas também começaram a participar como voluntárias de grupos de apoio que serviam refeições e bebidas quentes para moradores de rua, um item que John havia sugerido como a "versão de inverno" do item "ajudar pessoas".

Ela realmente queria que eles tivessem completado aquele item juntos.

A segunda metade do mês passou como um piscar de olhos apenas porque Brianna não queria que o Natal chegasse. Marsali voltaria para a Escócia e comemoraria a data com a mãe e a irmã, Lizzie e o sr. Wemyss iriam viajar para a Alemanha para conhecer a família estendida de Monika. Fergus, é claro, iria para Boston. Brianna não tinha planos para a data – na verdade, ela parecia não ter planos para mais nada – mas queria aproveitar a companhia das amigas enquanto tinha tempo, e por isso Lizzie e Marsali praticamente se mudaram para o apartamento dela alguns dias antes de viajarem.

— Eu deveria estar ressentido com você por ter roubado tempo que eu poderia passar com Marsali — Fergus comentou na noite que ele invadiu a festa do pijama delas antes que as meninas chegassem, apesar de Brianna ter deixado bem claro que a presença de homens não era bem vinda, enquanto pegava um pedaço da pizza que ela tinha pedido — Mas eu também vou sentir sua falta, irmãzinha.

Pelo menos uma das crianças Fraser era um bom filho.                 

— Não seja dramático, Fergus. Vocês dois irão viajar, e ela já vai estar de volta no ano novo para você beijá-la à meia noite — Brianna rebateu, fazendo uma careta.

Fergus pareceu emburrado com a ideia de passar uma semana longe da namorada. É claro; ele era terrivelmente dramático, então aquilo parecia ser o fim do mundo.

— Você deveria vir comigo — disse ele, casualmente. — Ainda devem ter assentos disponíveis no voo.

— Fergus, eu já disse mil vezes...

— Bree, você realmente acha que Pa pensaria menos de você por... — ele se interrompeu, comprimindo os lábios. "Por ter casado com alguém que você mal conhecia e que chutou sua bunda" certamente não era uma boa forma de provar seu ponto. — ... Pelo que aconteceu? — completou ele. — E que Maman ainda está chateada? Faz quase um mês, e você disse conseguiu acalmá-la antes de ela voltar para casa.

— Conseguir acalmá-la não significa que ela aceitou a situação. Eu pedi para que ela mantivesse em segredo, e sei que ela está fazendo isso, já que Pa não ligou para  me confrontar e nem veio aqui para dizer pessoalmente que eu sou o desgosto da família.

Foi a vez de Fergus fazer uma careta.

— Ele nunca...

— Nunca faria isso? Bem, eu pensei que nunca casaria com alguém três meses depois de conhecê-lo, e olhe só para mim agora. Se eu aparecer, vai ficar óbvio que há algo errado e será a ceia de natal mais desconfortável de todos os tempos. Mamãe é como um livro aberto, você sabe disso.

— Talvez você tenha razão — Fergus comentou, não soando convencido de forma alguma — Mas você acha mesmo que eles não vão achar que há algo errado porque você não apareceu?

— Já cuidei disso — respondeu ela, esperando que o irmão entendesse que o assunto estava encerrado. Ela havia dito para os pais que não poderia passar o Natal com eles porque estava trabalhando em um projeto e que poderia ser promovida (a primeira parte era verdade, a segunda era uma mentira esperançosa). Jamie protestou, dizendo que aquilo era um absurdo e que eles iriam para Nova York para que ela não ficasse sozinha. Bree tentou tranquilizar o pai dizendo que eles não precisavam fazer isso, porque ela iria apenas atrapalhá-los e não poderia aproveitar a ceia em família de qualquer forma.

Claire sabia o real motivo, então ficou com a tarefa de convencer o marido a deixar Brianna sozinha.

Horas mais tarde, depois de algumas taças de vinho, Brianna teve uma ideia realmente estúpida, fruto de pensamentos para onde sua mente vagou contra a vontade dela. Marsali, Lizzie e Fergus estavam concentrados demais no filme para perceber quando ela desbloqueou o celular e abriu a conversa de mensagens de texto que estava sem nenhuma mensagem nova há quase um mês.

Seus pais ainda virão para cá no Natal?

Era uma pergunta simples, do tipo que poderia ser respondida apenas com "sim" ou "não". Ela não sabia o porquê da demora dele para responder, especialmente porque a notificação embaixo da mensagem mostrava que ela havia sido lida, e os três pontinhos no canto oposto deixavam claro que ele estava digitando um texto enorme, ou apenas deletando e reescrevendo a resposta repetidamente.

Irritada, Brianna bloqueou o aparelho e bufou, tentando voltar a se concentrar na televisão. Havia sido idiota da parte dela ser a primeira a tentar voltar a conversar. Parecia que ela estava constantemente se humilhando a troco de nada.

Alguns minutos depois, a resposta de John chegou.

Achei que tivesse excluído meu número.

Ela revirou os olhos e decidiu ignorá-lo. John provavelmente entendeu, por isso enviou outra mensagem em seguida:

Brincadeirinha. Sim, eles virão. Chegam no início da tarde, no dia 25.

Não faça isso. Não fale nada, a voz da consciência de Brianna gritou. Ela queria apenas oferecer a ajuda, cumprindo com o que havia prometido quando propôs aquele acordo (essa parecia ser uma palavra melhor do que casamento). Quais as chances de ela parecer desesperada?

Contra todos os seus impulsos, ela decidiu ser a pessoa maior:

Você ainda pode usar meu apartamento e dizer que mora aqui.

Dessa vez John foi bem mais rápido.

Bree... ela interrompeu a leitura para grunhir, fazendo Marsali lançar para ela um olhar desconfiado. John havia perdido o direito de chamá-la de Bree. Você realmente não precisa fazer isso. Vou dar um jeito, como nas outras vezes. Além do mais, temos o studio de Dottie.

Era isso. Ele daria um jeito. Não precisava dela para consertar ou fingir nada.

Ótimo. Maravilhoso. Menos um problema para sua conta, a voz parecia soar aliviada.

Eu insisto.

Brianna nem sequer pensou antes de digitar aquilo. Ela encarou a tela, atônita, e se engasgou com a própria saliva. O que você fez?!

Você tem certeza?, John perguntou. Certo, aquela era a oportunidade perfeita para ela mudar de ideia, dizer que não, que havia pensado melhor. Essa certamente seria a coisa certa a se fazer, não era?

Ela suspirou, sentindo-se derrotada e mais idiota do que nunca.

Sim. Esteja aqui na manhã de Natal.


...


Brianna Fraser havia deitado na noite anterior, mas quem se levantou na manhã seguinte foi o próprio Grinch. Ela deveria ter sido mais específica quando disse para ele aparecer no apartamento na manhã de Natal, porque eram sete da manhã quando a campainha tocou.

— Maldito — grunhiu ela ao se levantar. Brianna não se deu ao trabalho de trocar de roupa ou pentear os cabelos, já que John tinha visto o desastre que ela era depois de acordar diversas vezes. Ela apenas vestiu um roupão por cima do pijama e disparou para a porta, sem disfarçar a cara de mau humor.

Ao abrir a porta, ela sentiu as borboletas em seu estômago irem à loucura contra a sua vontade.

Quase um mês. Parecia uma vida inteira.

— Feliz Natal — John disse. Ela não queria se deixar iludir pelo canto dos lábios dele se erguendo levemente em um sorriso torto tímido e nem pela forma como os olhos dele pareceram brilhar ao vê-la.

Brianna não tinha decidido se deveria responder um "obrigada" ou "para você também" quando foi atropelada por um abraço que a pegou totalmente de surpresa e quase a derrubou no chão.

— Bree! — Dottie exclamou, apertando-a com uma força descomunal para alguém de sua estatura — Eu senti tanta saudade.

Quando o susto passou, Brianna deixou uma risadinha escapar e retribuiu o abraço de Dottie, sentindo lágrimas brotarem nos cantos de seus olhos. Ela piscou para afastá-las.

— Senti saudades de você também — Brianna respondeu, sincera. Algumas vezes ela se pegou pensando em como odiava o fato de que ela e John haviam forçado as pessoas de seu círculo social a escolherem um lado, e frequentemente se perguntava se ele também havia sentido falta das meninas e de Fergus como ela sentia de Dottie e dos Hunter.

John pigarreou quando as duas se afastaram.

— Peço desculpas por termos vindo tão cedo — ele disse. Era estranho vê-lo soando tão formal, como se eles fossem estranhos. Bem... estranhos era uma palavra para descrever o que eles haviam se tornado. — Dorothea achou que fosse uma boa ideia — acrescentou em seguida.

Vocês vão ter que fingir que ainda moram juntos, é bom que deem um jeito de se resolverem — Dottie cruzou os braços como se fosse a única a ter razão naquele apartamento. — Além do mais, precisamos montar as decorações e cozinhar as comidas!

Apenas quando Dottie disse isso que Brianna reparou nas sacolas grandes que John carregava nos braços.

— Ah, meu Deus. Eu esqueci completamente de colocar decorações esse ano. — Brianna gesticulou para que ele se apressasse em direção à cozinha. Era estranho ter que dar permissão para alguém que literalmente tinha morado ali a um tempo atrás. — O que eu devo fazer?

— Vocês dois podem preparar a ceia — disse Dottie, dando de ombros como se não tivesse orquestrado o momento desconfortável em que os dois teriam que fazer companhia um para o outro —  Sou péssima na cozinha, mas ótima com decoração.

Eles fingiram que acreditaram na desculpa esfarrapada enquanto Dottie colocou sua playlist de Natal para tocar com o argumento de que as músicas os ajudariam a entrar no clima festivo.

A loira era, definitivamente, a única pessoa no apartamento que parecia animada. John e Brianna se moviam quase que roboticamente de um lado para o outro na cozinha, alternando as vezes de usar a pia para lavar os alimentos e preparando-os lado a lado na bancada como se estivessem manuseando uma bomba prestes a explodir. Em nenhuma das diversas vezes em que ela havia imaginado o momento do reencontro deles Brianna havia previsto o quão tensa ela ficaria, mas essa não era a pior parte. Ela realmente achou que, mais cedo ou mais tarde, especialmente depois das coisas terríveis que ele havia dito na última discussão, ela iria parar de amá-lo e aquilo se tornaria menos doloroso.

Como ela estava enganada.

— Então... — John começou, tomando conta dos pratos principais enquanto ela preparava a torta de maçã que seria uma das sobremesas — Qual vai ser a nossa história?

— "Nossa história"? — ela repetiu, ignorando a dor irritante no peito que sentiu ao ouvi-lo falar. Eu o amo. Ele disse que nunca poderia me amar. Grande coisa.

— Bem, precisamos ter uma explicação do porquê moramos juntos — explicou, e Brianna olhou para ele de soslaio, percebendo quando as pontas das orelhas dele ficaram num tom escuro de cor de rosa — Para chegar nesse nível, pessoas normais têm de estar pelo menos em um relacionamento sério há um tempo.

Brianna engoliu em seco, sentindo um gosto amargo na boca com a expressão "pessoas normais". Ele estava certo, obviamente, mas ser chamada de louca nunca se tornava divertido.

Sem ter a intenção de fazê-lo, ela desviou o olhar para a mão dele enquanto ele cortava os vegetais que colocaria no recheio do peru. John ainda estava usando a aliança. Brianna se perguntou se ele apenas tinha a colocado de volta pela narrativa ou se, diferente dela, ele não havia tirado em momento algum.

— Seria tão difícil assim para eles acreditarem que nós somos apenas melhores amigos que dividem um apartamento? — perguntou ela — Afinal, você nunca namorou sério com Denny. Ele tem bom gosto demais para isso.

John riu suavemente. Ela sentiu como se uma mão invisível tivesse enfiado uma faca em seu coração e girado.

Touché — respondeu ele — Faz sentido. O que fizer você se sentir mais confortável está bom para mim.

Ele parecia estar dificultando bastante para ela a tarefa de odiá-lo.

John tentou jogar conversa fora, mas percebeu que ela estava irredutível. Era estranho demais tentar agir como se eles fossem só amigos depois de terem seguido por um caminho sem volta – pelo menos parecia não ter volta, não enquanto apenas estar na presença dele parecia causar dor nela. Não era exatamente assim que Brianna havia imaginado se sentir quando vivesse seu primeiro amor, ainda mais com o constante lembrete da humilhação que ela havia sentido na madrugada após seu aniversário. Não era como se as coisas ficassem mais fáceis ao som de Jingle Bell Rock.

Horas de trabalho mais tarde, quando a torta, os biscoitos de gengibre e o purê de batatas estavam prontos e o peru e os legumes assavam no forno, Brianna ficou boquiaberta ao ver o resultado final da obra de Dottie. Ela havia dado um jeito de fazer com que até a pequena e velha árvore de Natal de plástico que Bree tinha ficasse linda, e o apartamento estava cheio de luzes pisca-pisca, guirlandas, enfeites em forma de bengalinhas doces e até mesmo duas meias decoradas como se duas pessoas realmente morassem ali.

Ela prendeu a respiração, tentando evitar que os pensamentos que causavam um aperto em seu coração e dor em seu estômago voltassem. E se John nunca tivesse ido embora? E se eles tivessem, de fato, decorado o apartamento juntos para o Natal? Eles teriam criado uma nova tradição para o feriado, ou comprado um pinheiro de verdade para colocar os enfeites?

Como era possível sentir falta de algo que ela jamais havia tido?

— Uau, Dottie — Brianna murmurou, controlando-se para não parecer emotiva demais — Você realmente é muito boa nisso.

John pareceu ficar meio verde quando recebeu a notificação da mensagem de sua mãe avisando que eles haviam chegado em Nova York, e Brianna avisou que continuaria de olho na comida para ter certeza de que nada iria queimar enquanto ele e Dottie iriam se arrumar em suas casas para o jantar. Dottie se despediu dela com um abraço antes de sair, e os segundos que se passaram em seguida quando Brianna e John se encararam foram tão desconfortáveis que ela precisou desviar o rosto antes de dar um pequeno aceno e um sorriso amarelo.

Depois de tomar um banho, Brianna abriu o guarda-roupa se perguntando qual seria a roupa mais apropriada para conhecer os pais do cara com quem ela supostamente estava morando. Ela iria, é claro, escolher exatamente o oposto do que quer que isso fosse.

Ela poderia optar por aquele vestido vermelho se não tivesse decidido que não o usaria de novo tão cedo, pelo menos não até que ela tivesse superado John completamente. Havia um outro vestido, elegante demais para ser considerado vulgar, que ela achava que poderia dar conta: num tom de verde oliva, o vestido possuía mangas longas e seu comprimento era até os joelhos, mas tinha um decote generoso que descia em um V quase um palmo abaixo dos seios dela e era tão colado que suas roupas íntimas ficariam marcadas, se ela estivesse usando alguma. Ela não colocou muita maquiagem, como de costume, e nem muitos acessórios – o único que precisava era a aliança cor de rosa que havia continuado sobre a cômoda desde o dia que ela havia a retirado de seu dedo anelar.

Após John avisar que estava chegando, ela se decepcionou ao abrir a porta e encontrá-lo sozinho no corredor. Brianna bufou e revirou os olhos enquanto ele parecia ter tido um AVC ao olhar para ela.

— O quê? — Brianna perguntou, irritada — Onde estão seus pais?

John piscou algumas vezes até que seus olhos não estivessem mais arregalados e pareceu se lembrar de como falar depois de engasgar na primeira tentativa.

— Eu... — começou ele, com os olhos fixos no decote dela antes de erguer a cabeça para encará-la face a face — Quero dizer, eles estão no hotel. Dottie irá encontrá-los lá... acho que faria mais sentido eu já estar aqui já que...

— Você mora aqui — completou ela, com cara de desgosto. Queria ter surpreendido todos os Grey de uma vez. — Faz sentido. Vai me ajudar a arrumar as coisas?

Ele balançou a cabeça para concordar, com uma cara de assustado como se Brianna tivesse acabado de gritar com ele.

O silêncio no apartamento dessa vez não pareceu tão constrangedor quanto na manhã, porque Brianna sabia que ela estava no controle: uma boa peça de roupa poderia fazer maravilhas pela autoestima de uma mulher. A mesa estava posta, as luzes natalinas estavam acesas e piscando e as músicas natalinas estavam tocando. O cheiro da comida estava incrível. O que poderia dar errado?

— Está na hora — John suspirou quando a campainha tocou. Ele parecia estar tão nervoso que Bree quase se sentiu culpada.

Ela segurou o braço dele como se fosse um gesto corriqueiro ao acompanhá-lo para receber os visitantes. Até mesmo tocá-lo daquela forma fez com que Brianna sentisse que pontas de seus dedos estavam queimando e, ao perceber a hesitação mínima de John antes de abrir a porta, ela não pôde deixar de ponderar se ele havia sentido o mesmo.

— Mãe, pai — John os cumprimentou, com um sorriso genuíno, apesar de tenso.

Brianna o soltou para que ele abraçasse os pais. Era impressionante como o sr. Grey parecia ser uma versão trinta anos mais velho de John em quase todos os aspectos, com exceção dos olhos e do sorriso. Esses ele definitivamente havia herdado da mãe.

Depois que eles terminaram de se cumprimentar, John estendeu a mão para indicar Brianna, embora fosse impossível que ela passasse despercebida até mesmo em uma multidão.

— Bree, esses são Gerard e Benedicta, meus pais.

Ela ofereceu aos convidados o sorriso mais doce e encantador o possível.

— Sr. e sra. Grey, é um prazer finalmente conhecê-los — disse ela, estendendo a mão na qual a aliança brilhava — Sou Brianna Fraser, esposa de John.

Certo, ela precisava admitir: assistir aos quatro Grey (incluindo Dottie, que estava atrás dos tios vestida como uma versão moderna da Mamãe Noel) arfarem e arregalarem os olhos ao mesmo tempo foi mais prazeroso do que ela tinha pensado.

— Perdão? — Gerard perguntou, mas o olhar de Benedicta foi direto à aliança de Brianna e, em seguida, à de John. Talvez ele tivesse esquecido de tirá-la, exatamente como Brianna havia previsto.

Brianna soltou uma risada melodiosa, como se o homem tivesse acabado de contar uma piada interna.

— Qual é, amor? — ela deu um empurrãozinho em John, que estava pálido como um fantasma — Você pediu para seus pais fingirem que não sabiam sobre mim?

— Do que ela está falando, John? — Benedicta exigiu saber, erguendo o tom de voz.

John e Dottie começaram a tentar acalmá-la ao mesmo tempo:

— Mãe...

— Tia Benny...

— Espera — Brianna franziu a testa, em um momento de atuação que teria deixado Lizzie orgulhosa — Você realmente não contou sobre mim? Então você mentiu?

Gerard colocou a mão sobre o rosto, como se estivesse desapontado mas não surpreso. Benedicta parecia perplexa demais para raciocinar.

— É complicado, amor — John respondeu entredentes, lançando um olhar cheio de raiva para ela junto com a última palavra — Mãe, pai, por que vocês não sentam para que eu possa... hm... explicar tudo?

Brianna já sabia que John a odiaria por isso e não era com ele que ela estava preocupada. Seu real medo era de que Dottie assumisse o lado do primo e se virasse contra ela também, mas Dorothea apenas comprimiu os lábios para segurar o riso enquanto seu olhar alternava entre Brianna e John como se estivesse assistindo a uma novela mexicana.

Eles haviam acabado de tomar seus lugares quando Gerard falou:

— Estamos esperando pela explicação, John.

Na cadeira ao lado dela, John se remexeu desconfortavelmente. Antes que ele pudesse abrir a boca para falar, Brianna colocou a mão sobre a dele em um gesto protetor e assumiu as rédeas.

— Sinto muito que vocês tenham descoberto dessa forma — ela começou — É tudo muito recente para nós também. Faz apenas um mês...

— Um mês? — Benedicta arregalou os olhos azuis. John ficava mais parecido com ela quando fazia aquela cara de pavor. — Vocês estão casados há um mês e nós não soubemos de nada? Ou vocês se conhecem há um mês?

— Estamos casados há um mês — John explicou.

— Acho que eu preferia a outra opção — a mulher retrucou e se virou para encarar Dottie — Dorothea, você sabia sobre isso?

Dottie, que estava aproveitando o momento apenas como uma espectadora, deu um sobressalto na cadeira. Ela olhou para John, parecendo apavorada. Ele apenas gesticulou, como se dissesse vá em frente.

— Sim, tia Benny.

— Céus! — Benedicta levou uma das mãos ao pescoço, e Brianna começou a temer que talvez sua vingança tivesse ido um pouco longe demais.

— Sra. Grey... — ela retomou, com a voz suave. — Por favor, não fique magoada. Tudo aconteceu muito rápido, eu também contei para meus pais há apenas alguns dias. Nós sabemos que não é algo convencional, mas nós não somos imprudentes. Não teríamos feito isso se não tivéssemos certeza. — Brianna entrelaçou os dedos aos de John, tentando agir o mais naturalmente o possível sabendo que ele provavelmente estava pensando em dezenas de formas diferentes de matá-la — John disse que eu sou o amor da vida dele — disse ela, utilizando todas as suas forças para segurar uma risada irônica — E eu sinto o mesmo.

Benedicta Grey parecia estar prestes a desmaiar.

— Bem, isso definitivamente não estava na lista de coisas que eu achei que precisaríamos conversar sobre — Gerard disse, como se estivesse falando com duas crianças — Mas eu não sei porquê ainda me surpreendo com a sua habilidade de tomar decisões estúpidas.

— Pai...

— Casamento! — o homem bradou — No que você estava pensando? Você acha que esse tipo de compromisso é brincadeira?

— Ele nunca pensou nisso como uma brincadeira — Brianna interviu, dessa vez séria — Se algum de nós levou esse relacionamento com seriedade desde que ele era apenas uma ideia mirabolante, esse alguém foi John.

Gerard balançou a cabeça, exasperado.

— Com todo o respeito, mocinha, mas eu não estava falando com você...

— E você não vai falar com ela desse jeito — John o interrompeu, secamente — Essa é a casa de Brianna. Mostre respeito.

O casal pareceu ter levado um tapa, ao mesmo tempo em que Dottie abriu um sorriso orgulhoso.

— Como eu estava dizendo... — Brianna voltou a falar, soando mais cautelosa dessa vez — Nós não contamos para nossos pais imediatamente porque sabíamos que seria difícil explicar, mas não teríamos feito isso se não tivéssemos certeza do que nós temos.

Uau, pensou ela, orgulhosa. Quase tinha convencido a si mesma de que o que havia acabado de dizer era real.

— Ah, meu Deus — Benedicta murmurou. O choque e mágoa pareciam ter sido substituídos pela decepção. — Eu sei que quando vocês jovens se apaixonam tudo parece muito intenso, mas um relacionamento não sobrevive apenas de paixão!

Ela não estava esperando sentir como se um balde de água gelada tivesse sido derramado sobre ela, mas os flashbacks da discussão com John surgiram em sua mente de forma tão realista que Brianna soltou a mão dele e abraçou o próprio corpo.

— Nós sabemos disso, mãe — John respondeu, soando cansado.

Brianna imediatamente se arrependeu de ter montado aquele show de horrores. Ele não merecia isso.

Ela queria odiá-lo, mas isso não mudava o fato de que ela ainda o amava e queria protegê-lo. Fazê-lo sofrer só faria com que ela mesma sofresse junto.

— Dorothea, por que você não tentou impedi-lo? — a mulher mais velha olhou para Dottie novamente, parecendo exasperada — Por que você não me contou nada?

Bree estava prestes a intervir quando Dottie ergueu o queixo, em uma postura confiante, e respondeu à tia:

— Porque John tem direito de tomar as próprias escolhas, tia. Ele já tem feito isso há algum tempo, mas parece que vocês ainda não se acostumaram. Bem, já não era sem tempo — ela encolheu os ombros — E, honestamente, casar com Brianna foi a coisa mais inteligente que John já fez. Eu a amo, e sei que vocês também a amariam se a conhecessem. Ela é inteligente, engraçada, incrivelmente forte e protetora das pessoas que ama. Ele seria um idiota se a deixasse escapar.

Mesmo sabendo que boa parte daquela fala havia sido exagerada para contribuir com a narrativa, Brianna não pôde deixar de se sentir um pouco emotiva com as palavras de Dottie. Ela sorriu para a loira, que piscou para ela enquanto sorria de volta.

— Espere — Gerard falou, como se tivesse acabado de perceber algo que estava diante dele o tempo todo — Você é americana.

— Sim — respondeu Brianna, em vez do comentário sarcástico que estava na ponta de sua língua. Parabéns por constatar o óbvio.

Gerard abriu um sorriso aliviado, balançando a cabeça com orgulho.

— Excelente! — ele olhou para John, e Brianna franziu o cenho. Por que o pai dele parecia tão satisfeito? — Você já conseguiu o green card, então?

Foi a vez de Brianna de ficar verdadeiramente chocada.

O quê? — John rosnou — Você realmente acha que...

— Não estou dizendo que você se casou apenas para conseguir a cidadania americana, garoto, não seja dramático — Gerard o cortou. Brianna teve calafrios e sentiu os cabelos grudando na nuca e no pescoço quando ela começou a suar frio. — No entanto, é muito mais fácil abrir uma empresa nesse país com o green card. Podemos começar a planejar abrir uma filial aqui ano que vem... começar em Nova York, imagine só!

— Eu não acredito que você esteja de fato sugerindo isso — John o interrompeu mais uma vez. — Quer saber, pai? Apenas coma o jantar e mantenha a boca ocupada enquanto você tenta se acostumar com a ideia de que eu não quero ter nada a ver com a empresa. Digo, você já deveria ter se acostumado, fazem sete anos. Pelo menos vocês sabem que há algo muito mais importante na minha vida do que uma empresa de papel, ou até mesmo do que a minha carreira.

Ele colocou um braço ao redor dos ombros de Brianna. Ela não tinha certeza se aquela era a forma dele de se vingar de volta – brincando com os sentimentos dela na frente de uma plateia, destroçando-os completamente com uma mentira.

Bem, ela não podia contestar. Eles estavam quites agora.

Pai e filho se encararam em silêncio por vários minutos dolorosamente desconfortáveis. Em todas as vezes que haviam conversado sobre a família dele, John nunca havia mencionado algum momento tão tenso quanto aquele. Não era difícil entender que aquela havia sido uma das poucas vezes que John havia confrontado o pai depois de tanto tempo sentindo-se como uma decepção para eles.

Brianna se sentiu péssima. Mais do que isso, ela se sentiu a pior pessoa do mundo. A que custo ela o havia colocado naquela situação – apenas para tentar fazer com que John se sentisse tão mal quanto ele havia feito ela sentir? Não era um motivo bom o suficiente.

Ela não o julgaria se ele nunca mais a perdoasse.

— Céus, eu estou morrendo de fome — Dottie interrompeu o silêncio mortal em um tom animado — Será que podemos começar a comer ou eu vou ter que esperar o Natal do ano que vem?


...



O restante da ceia, surpreendentemente, não foi um desastre. Os créditos, é claro, eram todos de Dottie por criar conversas com os assuntos mais aleatórios. O clima continuou tenso, mas depois de algum tempo – e de alguns drinks – os Grey pareceram fazer as pazes silenciosamente, e Gerard e Benedicta pararam de olhar para Brianna como se ela fosse um alienígena. Antes de irem embora, Benedicta até mesmo a abraçou e sussurrou no ouvido dela um "bem-vinda à família" que partiu seu coração.

Brianna se perguntou qual seria a desculpa que John daria no futuro para explicar para seus pais o porquê de eles terem se divorciado. Provavelmente o bom e velho não estava mais funcionando. Em parte, era verdade.

John pediu para que Dottie acompanhasse os tios até o hotel e Brianna tinha certeza de que o motivo para ele querer ficar sozinho com ela não era nada bonito. Ela imaginou que, dessa vez, a briga seria um monólogo. Ela simplesmente deixaria que ele a destruísse, se fosse o que ele queria. Ela merecia.

Sentada no sofá, Brianna esperou por ele enquanto John se despedia da família. Ele trancou a porta e a visão fez o coração dela acelerar, antecipando a desgraça que viria a seguir. John caminhou até o sofá e se sentou ao lado dela. Sua linguagem corporal gritava desconforto.

— Isso foi... — começou ele, lentamente, parecendo querer escolher a palavra mais apropriada. — divertido.

Brianna arqueou as sobrancelhas. Ela havia escutado direito?

— Essa vai ser a história que eles vão contar para o resto da vida. "John casou escondido" — ele riu — De um jeito ou de outro, eu sempre dou um jeito de ser a pauta principal da família. Bem, dessa vez você merece os créditos, mas ainda assim.

— Espera — ela perguntou, completamente perplexa — Você não me odeia?

John riu, assustando-a. Ela ficou ainda mais chocada quando a risada se transformou em uma gargalhada – ele parecia um lunático, e talvez fosse mesmo.

— Brianna — disse ele, recuperando o ar. Seu rosto estava vermelho e seus olhos estavam marejados de tanto rir — Eu nunca poderia odiar você. Como você pôde sequer pensar nisso?

Você está falando sério?

— Certo, é claro que você tentou destruir a minha vida — ele apontou — Esse seria um bom motivo para odiá-la. Mas não, eu não odeio você. Foi engraçado, até.

— Tudo bem — disse ela, suavemente — Você tem sérios problemas.

Ele provavelmente a conhecia bem o suficiente para saber que aquela frase era um obrigada disfarçado.

Era estranho estar ali, no mesmo sofá onde o último momento bom do relacionamento deles havia acontecido antes de Claire Fraser chegar como um meteoro. Brianna subitamente se lembrou de seu presente de aniversário, o CD que estava guardado no fundo de sua gaveta como um constante lembrete de tudo que ela havia tido e perdido num espaço de tempo tão curto.

Ela não precisou olhar para ele para ver que John havia mexido a mão, pois o contato da pele dele contra a dela pareceu enviar um choque por toda a extensão de seu braço.

— Eu senti sua falta — ele confessou em um sussurro.

Brianna apertou os olhos com força.

— John — ela sussurrou também, sem poder esconder a dor na voz. — Apenas... não. Não faça isso.

De nada adiantou.

Ela não abriu os olhos quando John se levantou, mas sim quando ele se ajoelhou na frente dela. Brianna prendeu a respiração quando ele segurou a mão dela, sem forças e nem vontade de soltá-lo ou impedi-lo. Ele aproximou a mão dela do rosto e pressionou os lábios na aliança, sem desviar os olhos do dela. Havia um oceano de coisas não ditas naqueles olhos azuis e ela sentiu como se pudesse se afogar neles.

— Eu nunca poderia odiar você — repetiu ele, ainda segurando a mão dela próximo à boca. Ela podia sentir a respiração dele em sua pele, causando-lhe arrepios — Mas você estaria certa em me odiar depois de tudo que eu disse. Agora eu estou aqui, literalmente de joelhos, pedindo pelo seu perdão.

Brianna não tinha certeza se lembrava mais de como respirar.

— Você pode me perdoar? — pediu ele novamente — Acha que podemos... ser amigos de novo?

De volta ao começo, mas nada jamais poderia ser o mesmo.

— Não seja melodramático — respondeu ela — Apenas se levante logo daí.

Um esboço de sorriso surgiu nos lábios de John enquanto ele se levantava, sem soltar a mão dela por nenhum instante. Ele se sentou no sofá novamente e Brianna conseguia sentir a intensidade do olhar dele sobre si, cheio de expectativa, esperando que ela cedesse.

— Eu sei que você nunca quis me machucar — Brianna falou, escolhendo as palavras com cautela — Eu entendo isso. Não o culpo.

John se manteve em silêncio e seu aperto se tornou um pouco mais firme.

— Mas não tenho certeza se podemos ser amigos de novo — ela confessou. — Desculpe.

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