Definitivamente não gosto de ficar desempregada.
Eu sou uma pessoa que já teve inúmeros empregos, já passei por vários cursos e tenho mil e uma utilidades, não sou o tipo de pessoa que fica parada por muito tempo.
Foi com esse pensamento que eu comecei uma caça aos empregos, e se isso inclui consertar a privada da vizinha, eu não hesitarei.
— Aqui, querida, o pagamento.
Ela me estendeu algumas notas e eu neguei com a cabeça, lançando um sorriso contido.
O problema não era dinheiro, de forma alguma. O problema era realmente não ter um emprego. Talvez isso soe como alguém viciado em trabalhar, mas eu não sou viciada... Sou?
Acho que vou deixar para pensar nisso em outra hora.
— Não precisa!
Corri dali antes que ela insistisse.
Foi consertando privadas, arrumando o telhado e fazendo uma mini faxina nas casas que eu cumprimentei meus novos vizinhos. A "mudança" para a nova casa já havia terminado - a casa já tinha móveis então tivemos que levar roupas e alguns bens -, hoje seria a primeira noite que eu dormiria nela. Dessa vez eu compartilharia uma cama com Sasuke, como noivos.
Só de pensar nisso eu fico nervosa, não acredito que vou casar com aquele gostoso...
Sakura, se contenha!
Entrei de fininho na sala, olhando bem ao redor para ver se Sasuke estava por ali. Como não o vi, corri para as escadas e subi como se minha vida dependesse daquilo, entrei no quarto, depois no banheiro e fechei a porta rápido, trancando.
— Ufa. — Respirei fundo.
— "Ufa" o quê?
Soltei um grito esganiçado pelo susto, me jogando contra a porta e olhando diretamente para quem me fez ter esse ataque cardíaco.
Sasuke me olhava com um sorriso divertido e eu tive vontade de jogar a cabeça dele contra a parede, mas não o fiz pois amo esse abestado.
— Quer me matar?!
— Você invade o banheiro parecendo uma criminosa e eu que quero te matar?
Irritada, olho para ele tentando mostrar minha raiva. Qual é, levar um susto é uma das maiores frustrações da vida.
— Desculpa, 'tá bom? — Ele bufou. — Não fica assim, eu não queria te assustar, amor. — Ele se aproximou me abraçando.
Minha feição amenizou e minha raiva se dissipou na hora. Foi nesse momento que eu percebi que estava na palma da mão dele.
— E então? Estava fugindo da polícia ou o quê?
— Eu não estava fugindo de ninguém.
— Se não estava fugindo, estava se escondendo?
Olhei para ele com os olhos levemente arregalados, como ele sabia?
— Na mosca. — Sasuke riu, me soltando.
— Também não estava me escondendo... — Disse um pouco chateada por ele ter se afastado.
Só então percebi que ele estava sem camisa, fiquei encarando aquele corpo escultural dele até ouvir sua voz.
— Se você estava se escondendo, e só nós dois moramos aqui... Significa que estava se escondendo de mim, certo?
— O que? C-claro que não, oras!
— O que você fez dessa fez?
Droga, não tinha como esconder nada dele!
— Nada demais, só estava consertando a privada da vizinha...
Ele arqueou as sobrancelhas, e logo me olhou como se eu fosse maluca.
— Não me olhe assim! Ela estava me contando que o encanador da vizinhança não fazia bem o trabalho dele!
— Já estava fofocando com as vizinhas?
Minha boca se abriu, droga, eu estava me tornando uma vizinha fofoqueira?
— Sakura, você sabe o que eu penso disso.
— Da fofoca?
— Não, de fazer favores aos vizinhos. — Ele suspirou, me dando as costas e pegando a camisa dele em cima de um armário pequeno de banheiro. — Não tem nada demais em ajudar, mas se continuar assim eles vão ficar mimados.
— Mimados..?
— Você vai virar carrasca deles. Qualquer problema que surgir você vai ter que resolver quando eles chamarem, porque eu sei que você não vai conseguir negar.
Já vestido, ele ficou de frente ao espelho bagunçando o cabelo molhado.
— Merda, você tem razão. — Choraminguei.
— Da próxima vez que eles reclamarem, finja que não está ouvindo.
— Certo...
Espere, isso não é meio rude?
— Dê as costas enquanto eles ainda estão falando e não olhe para trás.
Isso é definitivamente rude.
— Sasuke! Eu não vou faze isso.
Ele riu, me olhando pelo reflexo do espelho. Meu coração disparou quando nossos olhos se encontraram, me sinto insana quando isso acontece.
Sasuke tem um efeito adrenalina em mim.
— A organizadora do casamento vai vir hoje.
— Que?
Não acredito, por que ele não me disse antes? Eu tenho que preparar chá para recebê-la, talvez alguns biscoitos e tenho que tomar um banho e...
— Ei, não precisa ficar ansiosa assim.
— Como não? Você devia ter me avisado antes!
— Estou avisando agora.
Olhei para ele mais irritada ainda, Sasuke sabe ser chato quando quer.
— Você fica tão linda brava assim que eu não consigo me conter.
E lá estava eu, bem na palma da mão dele.
— Camélias?
A organizadora era uma mulher incrivelmente linda, o cabelo longo e ruivo caía em frente aos seus olhos, que agora me olhavam em indagação. Eu estava me sentindo até um pouco julgada, mas o que eu posso fazer se gosto de camélias?
— Sim, camélias brancas.
— É a primeira vez que me falam de camélias brancas em um casamento.
Antes que eu abrisse a boca para falar alguma coisa, um barulho alto me interrompeu. Sasuke, que estava do meu lado no sofá, levantou pegando o celular e olhando a tela.
— É do trabalho, tenho que atender. — Ele depositou um casto beijo em minha testa e se virou para sair, mas antes disso, olhou para a organizadora. — Mei, se ela quer camélias, serão camélias.
E saiu, deixando nós duas num silêncio desconfortável.
Ela pegou a xícara de chá e lentamente levou aos lábios, me olhando.
— Eu ainda não acredito que Sasuke vai se casar.
Arqueei as sobrancelhas pelo assunto iniciado. Eu apreciava a coragem dela de falar sobre isso com a pessoa que Sasuke vai se casar.
— Ele sempre foi tão... — Ela suspirou. — Enfim, eu não engulo o fato de que ele deixou alguém entrar na vida dele assim.
Ela estava me provocando, eu sabia disso. Mas eu estava cansada desse tipo de coisa.
— Não se trata de ele ter deixado alguém entrar na vida dele, esse é um pensamento azedo, senhorita Mei. A senhorita já se apaixonou alguma vez? Você não permite a entrada de ninguém, as pessoa somente chega e toma conta do lugar para você, cuida e você deixa ficar.
Ela agora estava com os olhos arregalados, a xícara em sua mão estava vazia, mas ela ainda segurava como se tivesse algo dentro.
— Sasuke cuidou tanto de mim, e agora eu só espero retribuir o que ele fez.
Ficamos em silêncio novamente, ela estava encarando o fundo da xícara e eu a observava.
— Voltei. — Sasuke apareceu com sua face neutra de sempre, sentou ao meu lado e passou um braço por volta de meus ombros. — Camélias, então?
Mei olhou para nós, ela tinha um sorriso em seus lábios, mas tinha algo a mais em seus olhos quando nos olhou.
— Camélias ficarão lindas. — Ela disse com a voz falha.
— Você vai convidar sua família?
Hinata perguntou com cuidado enquanto olhava Naruto competir com uma pessoa aleatória no meio da praça de alimentação do shopping.
Eu chamei ela, Ino, Temari e Tenten para me acompanhar e escolher o tecido dos vestidos das madrinhas. No caso, elas.
Também pedi que Hinata chamasse Naruto pois eu já estava com saudades dele, agora nós estávamos esperando ele terminar a competição de quem come mais.
Eu gostaria que Sasuke tivesse vindo também, mas ele anda muito ocupado com o trabalho e não tem tido tempo para decidir as coisas comigo. O pensamento me fez dar um suspiro triste, mas logo dei um sorriso para responder a pergunta de Hinata.
— Minha família são vocês.
— Ooownt! — Ino me abraçou desajeitadamente.
— Você não vai me fazer chorar antes do casamento! — Temari disse se juntando ao abraço junto de Hinata.
— Eu amo você também, Sakura. — Tenten logo se apressou em entrar no abraço grupal.
— Ai que lindinhas! — Sentimos braços mais fortes e maiores se juntarem.
Naruto havia nos abraçado com as mãos sujas de hambúrguer, fazendo todas se afastarem na hora.
— Eca, Naruto! Sai daqui!
Se afastando delas com um sorriso enorme, Naruto me abraçou forte, me tirando do chão e me fazendo gargalhar.
— Sakura-chan, eu sei que andamos afastados, mas isso não mudou nada em nossa amizade, tô certo!
Eu acenei com a cabeça, sentindo meus olhos lacrimejaram.
— Para mim você ainda é a pequena Sakura-chan que me batia, e ver você noiva me fez ver como o tempo passa rápido. Acho que 'tô ficando velho.
— Seu bobo, você não está ficando velho, você ainda é o mesmo para mim!
Segurando minhas lágrimas, sorri feliz. Sim, minha família estava ali, eu não precisava de mais ninguém.
Naquele momento eu não vi, mas de longe, um par de olhos nos observava, e eu agradeço por não ter percebido na hora e não ter estragado a felicidade que sentia.