Entre Damas e Espadas

By LilyLinx

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Feéricos governam o reino de Awen, mas esse poder vem a custa de muito sangue, tramas e mentiras. Talvez o ma... More

Glossário
Prólogo
Capítulo 1: Lance perigoso
Capítulo 2 Faca cega
Capítulo 3: Corvos das montanhas
Capítulo 4 Limiar da Morte
Capítulo 6: Urzais (Parte 2)
Capítulo 7: Pântano
Capítulo 8 : Correntes e Serpentes
Capítulo 9 - Quase jantar Caterida
Capítulo 10 - Tinto de Sangue
Capítulo 11 - Fora do Baralho
Capítulo 12: Ás de Espadas
Capítulo 13 - Jogos de Azar
Capítulo 14 - Animais feridos
Capítulo 15 - Mortalha Pálida
Capítulo 15 - Mortalha (Parte 2)
Capítulo 16 - A morte inebria seus sentidos
Capítulo 17: Castelos e ruinas
Segunda Rodada: O Carvalho e a Daninha
Capítulo 18: Nas Montanhas
Capítulo 19: Picanço
Capítulo 20: Limiar do Outono
Capítulo 21: Lâmina Sutil

Capítulo 5 : Urzais (Parte 1)

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By LilyLinx


     Dor brilhante se derramava dos olhos do tengu.

     Sorel o observava encostado contra um álamo negro, enquanto improvisavam uma tala para sua asa. Pelo horror com que Eirmi evitava olhar para ruína ensanguentada que tinha nas costas, parecia completamente esquecido da orelha que faltava. Um espesso filete vermelho tingia suas roupas, na medida que ele ficava mais pálido e entorpecido pela dor. O guerreiro ferido tinha a mente distante quando Carter o segurou junto com o graveto de máscara rachada e Lohkar posicionou o membro emplumado no lugar. Eirmi chorou, mordendo os lábios para abafar o grito. Ainda inflamava de raiva.

     A beleza pueril de seu rosto fino estava deformada, tão moribundo quanto parecia. Que Cernudos o leve. Seria uma questão a menos para se preocupar e a banshee receberia a alma que esperava. Sorel se aproximou dele em passos calculados. Era alta e magra, sem muito para se ater nos traços que considerava bem mundanos, mas seu cabelo contornava sua face com delicadeza e esta, trazia uma insinuação de preocupação no rosto.

– Você vai ficar bem? – perguntou com a gentileza de um sorriso terno.

– Adoraria que eu morresse – disparou o tengu. As palavras vinham tão ríspidas e arranhadas quanto ele gostaria.

– Não me conhece – retrucou com ainda mais doçura. Já se sentia enjoada.

– Todas as cadelas feéricas são iguais. – Sua garganta estava seca e os olhos úmidos.

      Dessa vez Sorel dependeu da garganta uma baixa risada genuína. O encarou demoradamente com certo fascínio. Era quase tão intrigante quanto a fracassada regicida, porém menos irritante. Olhou em volta ainda de lábios arqueados. Repulsa escorria sem pudor da face dele e a feérica debruçou-se para falar ao seu ouvido bom:

– Somos mais parecidos do imagina.

      Teria enterrado a unha no ferimento dele se Lohkar e o outro tengu não estivessem olhando com cautela seus movimentos. Limitou-se a manear a cabeça inofensiva e bater os cílios longos. Finos olhos de amêndoa incapazes de disfarçar sua natureza, cortantes e afiados devolvendo ao moribundo seu desprezo. Assumido sua habitual expressão, Sorel se afastou para deixá-lo com sua dor e pensamentos. Ele teria dias agonizantes pela frente.

      Diferente dela, Carter parecia confortável ao lado dos tengus, com um metro e meio ela conseguia ser menor que eles, todavia, Eirmi ainda a encarava como a uma ameaça. Após muita insistência, ela virou o conteúdo de um frasco na boca do rapaz e ofertou ao outro guerreiro alado que recusou com um aceno – sua máscara partida ameaçava se desprender a qualquer momento.  Em seguida, a humana tamborilou com sua mochila pesada até Sorel.

       A feérica não deu atenção a tristeza amuada da humana quando esta balançou a cabeça negativamente para o estado dos feridos do outro grupo.

– A asa está perdida... talvez até mais.

– Que lástima – pronunciou Sorel, desprovida de emoção. Minha renda de Sneah está arruinada.

      Com a barra salpicada de negro, a feérica não via salvação para seu vestido depois que a égua se enfiou, assustada, no regato. Lama fétida e finos ramos de álamo haviam se prendido ao delicado tecido. Carter confidenciava em tom baixo, não que a feérica tivesse a par do que dizia. Sorel estava a todo ouvidos a conversa reservada de Elawan.

      O único tengu que ainda se mantinha de pé de maneira decente conversava com o lorde feérico sobre a posse da fugitiva. Como dois vizinhos que decidiam a quem pertencia os frutos caídos da árvore, eles argumentavam. Elawan havia chegado até ali, em parte para fugir de casa, principalmente para irritar o príncipe Sõjo ao não entregar a assassina a ele. 

      Sorel encarou a fugitiva com azedume. Nidaly estava cercada pelas cadelas e, ainda assim, pouco antes, havia atacado Lohkar quando este lhe atou as correntes. A traidora havia se oferecido para ajudar Eirmi, com palavras em forma de sussurros que mal deixaram seus lábios, se perdendo junto com sua ousadia diante da visão do rapaz caído. Agora estava amuada num canto, onde a branah podia ver a confusão em seus olhos sempre que cedia a tentação de conferir o estado do guerreiro ferido, para depois deixar seu olhar cair por terra.

     Ao fim de um quarto de hora, Elawan já havia contornado a teimosia dos guardas da patrulha e ordenado que seu grupo se preparasse para partir. Ao que constava a Sorel, também havia se oferecido para cuidar dos feridos em Liffey, o que de fato encerrou a discussão. O homem alado recusou de imediato com bastante decoro e foi incapaz de contrariar o lorde após a oferta de hospitalidade. "Não seria do agrado do meu rei, tampouco do meu príncipe", ele dissera. E Elawan fingiu relutar em aceitar sua decisão, após o que, declarou que como a fugitiva fora capturada em seu território e por seus cães, cabia a ele a posse da prisioneira, "por hora", garantiu.

      Carter cedeu meia dúzia de sachês de ervas e casca de salgueiro-branco, além de frascos de láudano preparados por ela, ao grupo alado que desapareceu na mata da mesma forma que surgiu, agora carregando um aleijado que em breve, torceu Sorel, estaria morto. A humana, contudo, parecia angustiada com a presença da tengu remanescente.

– Por que está assim? – indagou Elawan enquanto preparava a montaria para a jornada de volta.

– Há duas noites sonhei com olhos dourados, grandes e selvagens, como os dela. Olhos de lobo, e seus dentes afiados; eram a última coisa que via.

      Elawan maneou a cabeça ponderando as palavras da humana.

– O que a garota tem de mais assustador são aqueles olhos de tigre demoníaco – interferiu Lohkar, com certo deboche. Embora seus ferimentos dissessem o contrário.

– Ou de lobo – insistiu Carter

– Tigre ou lobo... o tempo dirá. – Elawan pareceu saborear sua ideia. 

      O cinza sedento cobria o pântano e seus urzais.

      Nidaly observava a paisagem do chão com certo descontentamento. Era uma planície lúgubre, mas não sem vida. Pintassilgos aproveitavam alegres o desjejum, alçando voo conforme deles o grupo se aproximava. Talvez fosse isso que a incomodava naquela manhã fria, a impossibilidade fazer o mesmo naquele instante.

      Seus passos eram pesados. Cada um deles era como pisar sobre pedras pontiagudas e o som dos grilhões em seus pulsos junto a marcha dos cavalos, produziam uma cacofonia ranheta aos ouvidos. Ninguém falava, mas vez ou outra trocavam confissões em silêncio, com olhares e gestos que a cativa não podia decifrar. Por isso, Nidaly gostaria de incendiar aquela planície e aqueles homens no processo.

      Um de seus captores emparelhou seu cavalo com a guerreira e, para Nidaly não havia um bom jeito de pensar sobre isso, ela morria de medo do bicho, o de quatro patas. A situação se invertia na perspectiva do cavaleiro que fora ferido no ombro por ela – indiretamente. O macho ruivo a encarava de forma grosseira, meio desdenhosa. A guerreira que agora era prisioneira achava aquilo um exagero, afinal, ele era feérico, estava se curando muito bem, notou. Ela só havia só havia usado o cabo da lança contra a ferida de seu ombro mais cedo quando tentou amarrá-la. Enfim, tremendo exagero o que ele fez a seguir: Alguém, a prisioneira não sabia quem, sugeriu atar os grilhões em seus pulsos a um cavalo para que ela não pudesse alçar voo. Naquele instante, porém, o feérico de olhos verdes atiçou o animal.

     Foi uma arrancada brusca. Nidaly não teve escolha senão apressar o passo a uma corrida desajeitada atrás do bicho, tropeçando, vez em seus próprios pés, vez na barra de sua calça que outrora fora vermelha. Por duas vezes quase beijou o chão nos poucos metros que o animal percorreu até se aproximar dos cães.

     Os demais riram.

    Nidaly resmungou: Maldita sorte, tudo isso é uma obra de tengu. Que Niníve se afogue.

     A presença do corcel afetava mais Nidaly do que os cães que os acompanhavam. Poderiam ser confundidos com lobos, mas eram maiores e com a língua roxa que exibiam com orgulho para o dono a frente da comitiva. A cativa via pouco mais que sua cabeça adornada por cabelos cor de mel a frente deles ditando a marcha; e era uma marcha lenta. Por isso não podia amaldiçoar Elawan, seus pés protestavam a cada passo.

     Contudo, dentre muitas outras coisas, Nidaly não deixaria de lado o insulto que ele lhe fizera horas antes. "Asas de pardal"? Se não fosse por Sõjobõ, Delilah, Sakebi e Eirmi, nunca havia sido tão insultada por alguém.

      Depois de finalmente se recompor, mantendo tanta distância do cavalo quanto era possível com suas correntes, uma das moças se aproximou. Ela cheirava a álcool e suor, Nidaly pode notar, seus cabelos beijados pelo fogo estavam contidos em uma trança já meia desfeita, mas apesar das roupas de couro e a besta que trazia atada a sela, fora ela que auxiliara os tengus feridos. Mas antes ela havia tentado matar Nidaly com uma flecha. A humana estava inquieta na sua presença, respiração irregular, pele pálida salientando suas sardas que pareciam preencher todo o seu corpo basto de seios grandes demais. Graças a eles seus ombros eram contraídos lhe rendendo um aspecto tímido e inofensivo. A tengu decidiu naquele instante que não confiava nela. Cobras venenosas também são bonitas, vibrantes, e se Elawan a mantém por perto, decerto é bem pior que elas. Nidaly lhe exibiu os dentes e ela recuou para junto do lanceiro feérico.

      O macho riu, estava entediado, compreendeu. contudo, Nidaly não planejava ser o atrativo. Ela também compartilhava do desagrado dos companheiros de viagem.

      Teria continuado seu voo naquela aurora gélida, teria continuado mesmo com suas costas ardendo loucamente a cada bater pesaroso de suas asas. Mas Nidaly não via cem metros à frente com o nevoeiro no sopé da montanha e sabia que uma patrulha estava por perto. Foi quando viu um brilho azul tremeluzindo em meio às brumas.

      Fogo-fátuo, pensou.

       Mas quando pousou, nenhum espírito indicando o caminho para a guerreira, era um pântano a beira de uma pouco usada, estrada de terra batida. Nenhum fogo encantado, apenas seu cansaço. Era a segunda vez que Nidaly era ludibriada a seguir supostos espíritos e isso lhe irritava quase tanto quanto dava lhe vontade de rir. Mas sua face castigada pelo vento constante de dias, resistia à ideia com firmeza.

      Uma garoa serena se pôs a cair e o coaxar de sapos era um insulto aos ouvidos que só não era maior que o tinir das correntes. Um mosquito roliço de sangue pousou em seu antebraço e se pôs ao trabalho. Nidaly o observou com cautela e esperou até que ele estivesse distraído com a iguaria das montanhas para deferir um tapa que só não foi mais barulhento do que a reação de seus captores.

      O som das correntes fez todos da comitiva se deterem em suas montarias para olhar para a prisioneira, mãos postas em armas.

– Qual o problema dela?! – comentou a moça ranzinza do vestido verde.

– Deve ter a mente afetada – debochou homem com olhos de cobra. – Nunca ouvi falar de mulheres tengus.

– Idiota, como eles iam se reproduzir?!

      Nem todos os seus captores eram feéricos, a que falara por último era a humana. Era mais jovem e baixinha do grupo, mas nem por isso menos esperta. Devia ter por volta dos vinte anos, talvez menos, e Nidaly teria arriscado que a outra moça também o tinha, se não fosse ela uma feérica. Quanto ao lanceiro ruivo, esse aparentava ser o mais velho do grupo, se aproximando da casa dos quarenta anos humanos, e a tengu se perguntava o que isso significava em escala feérica.

– Ainda assusta, viu como ela lutou no pé da montanha?! – perguntou este último. – Está mais para um demônio, vi os olhos, tenho certeza.

     Que ironia, não é mesmo?! Cogitou dizer.

      De fato, seus olhos de tigre ardiam quando lutava e fora ele o infeliz que tentara prender as correntes nela. Ainda teve a falta de cortesia de trazer uma montaria consigo, o cavalo ficou agitado com a presença dela e afastou os cães. Depois disso, Nidaly o espetou no ombro com o que sobrara de sua lança, berrando que não seria colocada sobre um animal daqueles, porém as cadelas – as de quatro patas – a cercaram novamente e por fim estava ali. O feérico ruivo por outro lado parecia querer empalá-la apenas com os olhos tão logo fosse possível e ainda assim, estava rígido no cavalo.

       Ele me teme, debochou, e faz bem nisso. Fora demais, Nidaly precisava rir de suas caras desconfiadas.

       Foi uma gargalhada profunda que lhe doía a face, mas valeu a pena, era o que Sõjo teria feito, rir até ficar tonto ou levar um tapa, o que viesse primeiro.

       Pensar no príncipe a deixou agridoce e logo lhe ocorreu as palavras de Du Naao.

   Você não é mais uma de nós!

   Mas...

    Não havia o que dizer àquilo.

     Uma última olhada de relance por sobre o ombro, para o contorno nublado das montanhas. Os humanos chamavam os picos que estava deixando para trás de "Reino do vai-não-torna", para Nidaly fazia sentido agora. E por algum motivo, era uma sensação desconfortável em seu peito, tão... fria, quebradiça.

     Não! É passado e o passado são águas das quais não se pode beber.

     Berrou em sua mente.

     Não iria retornar, principalmente depois de mutilar Eirmi. A visão de suas penas grudentas pelo sangue que se acumulava e a carne exposta sob elas lhe alcançou, junto a lembrança do canto da banshee, com a ideia que ele logo pertenceria a ela. Uma ação perdia seu peso quando não era ela o propósito? Do contrário, Eirmi estava certo, não havia honra naquilo. Honra é uma mentira que não veio a tona, Sõjobõ lhe dissera. E como se tordos se empoleirassem em sua mente, as palavras dele ecoaram.

      Gritou em sua cabeça por silêncio, queria calar os próprios pensamentos; eles pesavam. Mas no instante que se aquietaram veio um vazio ainda pior. Algo dentro de Nidaly se revirava. Se era raiva ou culpa, não sabia dizer. Sentia-se oca, com uma coisa se remexendo naquele vazio. Ainda podia sentir as mãos do rei tentando afastar as suas, ainda podia sentir a força que fez para mantê-lo embaixo d'água. Sentia, e só naquele momento, vergonha ao lembrar do desprezo nos olhos de seus colegas mais cedo naquela manhã. Seu ferimento no braço ardia como um lembrete de sua traição. Se perguntou se havia feito a coisa certa, mas afastou esse pensamento balançando a cabeça com um meio rosnado, mais para si do que para os feéricos ao seu lado. Estava protegendo o que importava...

      Suspirou pesadamente se perguntando se isso era mesmo verdade.

      Um quarto de hora e uma curva na estrada se passou, até que foi alcançada pelo aroma de cravinas crescendo no antigo limiar da planície. Havia naquela umidade floral um triste lamento que por não mais que instinto, saboreou no ar, até se deparar com o olhar estreitado que seguia atrás dela. A feérica lhe lançava uma ira fria na mais completa frustração, conforme caminhavam pelos charcos. Era uma figura esguia essa nobre feérica – pois claramente era uma nobre – , mas não tinha senso de humor, era notável. Ela desconhecia a brincadeira e, se o mundo era divido entre predadores e presas, aquela era a caçadora. Nidaly se sentiu atacada por uma flecha afiada. Ela queria entrar em sua mente novamente.

       A guerreira lhe lançou um sorriso de esguelha, mas se encolheu com a dor que percorreu seu corpo.  Tudo o que queria era algumas horas de descanso, mas não podia se dar ao luxo. Os tengus e agora os feéricos pareciam determinados a atrasá-la ainda que não soubessem que faziam isso.

– Ouvi dizer que tengus são mestres em mistérios da mente, deve ser alguma magia, minha senhora... – segredou o macho ruivo para a mulher que seguia atrás da prisioneira. – Sorel – acrescentou rápido, seu rosto ficou escarlate. Não fora uma piada, mas Nidaly podia jurar que o nobre a frente da comitiva tinha um riso segregado e caloroso nos lábios.

       Sorel... testou o nome em sua mente. Lembraria dele, decerto.

       Não era a feérica que intimidava Nidaly e a fazia ponderar cada movimento, muito embora a presença dela a incomodasse. Não era pelo vestido verde que usava em uma cavalgada numa estrada de terra no meio de um pântano com mosquitos que estavam devorando Nidaly viva, mas não a tocavam; ou por seu cabelo volumoso que parecia um trançado de metais preciosos que faziam o seu preto de Nidaly, maltratado pelos dias de fuga parecerem palha seca; e sim, porque a bastarda era uma branah e ficava a cada oportunidade tentando invadir a mente de Nidaly. Se ela conseguisse, a prisioneira seria morta sem cerimônia. Isso, porém, não assustava a guerreira alada tanto assim.

       Era o macho que liderava o grupo que fazia os ossos de Nidaly gelarem. Quando, nas Montanhas, contavam como Elawan destruiu toda a uma tropa feérica que acompanhava o então príncipe de Awen, Cardiff, e fez Sõjobõ baixar armas sem enfrentá-lo, ela esperava um demônio, mas ele era apenas um homem. A tengu concluiu que ele devia ser ambos, algo em seus olhos astutos indicava isso, mas essa ideia não a assustava tanto quanto deveria. Delilah lhe dizia que tinha problemas por não sentir medo das coisas certas.

      Então Nidaly lembrou-se da máscara da patrulha.

      Eirmi estava sobre os joelhos, aparando o sangue da orelha parcialmente decepada. Caída no chão ao seu lado estava a máscara vermelha da patrulha, rosto retorcido e nariz protuberante. Servia apenas para assustar.

     Estava com medo.

     Não de Eirmi ou dos outros guerreiros, nem tanto da máscara, mas do que ela representava. Ao lembrar disso, uma massa se fechou sua garganta e Nidaly insistiu consigo que era apenas cansaço da jornada, que não seria, prometeu para si, em vão. Mas e se for...?

     Seus joelhos lhe traíram com a lembrança, vacilando. Toda a musculatura de sua perna iniciou uma série de contrações involuntárias que levaram Nidaly ao chão. Caiu pesadamente sobre a estrada de terra. Suas mãos apararam a queda que teria levado sua cara ao encontro de uma poça escura. Os grilhões foram seu acompanhamento sonoro e Nidaly encarou seus olhos na lama.

     Eram apenas vozes silenciosas que sussurravam no sabor das lágrimas não derramadas. Então finalmente Nidaly ouviu suas palavras.

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