Ninguém mencionara as coisas ditas na festa de sexta. A menção da palavra “lobisomem” deixou todos nervosos. Para a sorte de Remus, aparentemente haviam também esquecido sobre o que dissera de Luna.
No domingo, dia 03 de novembro, a real data do aniversário de Sirius Black, os amigos se reuniram no pátio para uma comemoração oficial.
Era um piquenique simples, com algumas frutas e bolinhos feitos pelos elfos. Estavam todos em um círculo, o mais próximo possível um do outro. Nevava muito e o frio escocês deixava o nariz de Luna vermelho.
- Ei, morena! – James disparou para a menina. – Você tá parecendo uma rena de Papai Noel, sabia?
Luna tentou sorrir, mas suas lembranças a levaram para o ultimo dia que esteve na Espanha com seu tio, antes de iniciar os estudos em Hogwarts. Ele fizera a mesma comparação.
- Tá tudo bem, Luna? – Remus estava ao seu lado e se inclinou para falar com a mais baixa.
- Ei, Lulu! – James começou – Me desculpa se te ofendi.
Luna sorriu fraco e disse que estava tudo bem.
- Se serve de consolo – Black se esticou e apertou as bochechas da menina – Você é a renazinha mais fofinha do mundo todinho!
- Sai, Black! – Luna tentou, mas não conseguiu segurar a risada.
- A gente não vai sair do seu lado até a Rommy voltar, tá bem? Fica tranquila! – Ava pegou a mão da amiga. Romina havia partido no dia anterior, logo cedinho. A mãe havia sido diagnosticada com Varíola de Dragão, o que agravou ainda mais sua condição que já era delicada.
- É! A Lily pode ser sua melhor amiga ruiva até lá! – James apontou com o dedão para a Grifinória.
- Evans para você, Potter. – Lilian girou os olhos. – Mas ele tem razão, Lu. Eu estou aqui. – Lily sorriu com os grandes olhos verdes sendo espremidos pelas bochechas coradas. Ela estava especialmente bonita hoje. Luna amava a amiga. Desde que se conheceram, ela sempre fora gentil e doce. Não era surpresa que Potter tivesse desenvolvido uma paixão platônica pela ruiva.
Cristal não dissera muitas palavras ali. Estava quieta desde a festa e todos sabiam o porquê. Luna não conseguia sentir raiva de ninguém, muito menos de Cris. A amiga sempre fora tão paciente e próxima. Sempre a ouvira e consolara enquanto ela chorava de saudades de casa. Um pequeno deslize não acabaria com a amizade das duas. Certo?
- CARALHO! EU TÔ MUITO ANSIOSO! – James gritou e colocou as mãos na cara puxando suas bochechas para baixo, deixando seus olhos engraçados.
- Não grita, seu idiota! – Ava o chutou, estava em seu lado e o berro de Potter fora bem na direção de seu tímpano.
- Ele fica assim quando tem jogo se aproximando, dá um desconto. – Sirius defendeu o amigo com a boca cheia de bolinho de limão.
- A taça já é nossa! – Peter ergueu os braços para cima, deixando cair alguns farelos de bolo de baunilha no cabelo de Remus.
- Ei! – Remus empurrou levemente o amigo e bateu as mãos em seu ombro para tirar alguns farelos.
- Seu cabelo.... – Luna ergueu o a mão para limpar, mas se segurou. Ele tentou bater a mão, mas não estava sendo muito eficiente. – Deixa te ajudar. – Ela riu e ele se abaixou.
- OU! Isso não é hora para cafuné e nhenhenhém! Eu estou SOFRENDO aqui! – James gritou e riu em seguida, recebendo outro chute de Ava.
- Seu sofrimento não é necessário, Potter. Corvinal vai acabar vocês. – Ava riu e deu um beijo em seu próprio ombro. Ela era uma batedora do time de sua casa. – Aceite e siga em frente.
- Veremos, MacMillan, veremos. – Potter era a pessoa mais competitiva que Luna já conhecera.
O primeiro jogo era no dia seguinte. O que estava preocupando todos os jogadores pela forte nevasca que se aproximava. Havia risco de o jogo ser adiado, mas os alunos estavam fazendo de tudo para que não o fizessem.
- Tá tudo bem, Cris? – Lily notara o baixo astral da menina.
- Hã... tá, tá sim. Eu só tô um pouco cansada. – Ela riu fraco.
- Vou azarar o ranhoso, isso vai me acalmar. – James se levantou. Ele sequer comera um grãozinho dos deliciosos bolinhos que estavam ali, estava seguindo uma dieta (feita por ele mesmo) para garantir melhor desempenho no jogo.
- Tô dentro! – Sirius se levantou e seguiu o amigo. – Vocês vêm?
Apenas Peter se levantou, Remus balançou a cabeça negativamente.
- VOCÊS NÃO V... – Lily se virou, mas os três já estavam longe.
- Eu vou ver o que posso fazer. – Remus se levantou e foi em direção aos três cabisbaixo e com as mãos dos bolsos.
- AVAAA! Você pode pagar sua promessa de verdade ou desafio agora. – Sirius disse alto e Ava se limitou a erguer um dedo do meio. Se perguntou como ele conseguia lembrar de algo estando tão bêbado como aparentava estar.
- É legal você ainda o defender depois de... – Ava começou. – Você sabe.
Havia, poucos dias desde o rompimento da amizade de Lily e Severo. Ele havia a chamado de sangue-ruim e dito que não precisava dela. Aquilo magoara Lily profundamente. Das cinco, ela só perdia para Romina no quesito sensibilidade.
- Ele tá... mexendo com coisas erradas, gente. Eu não sei o que fazer. Ele... já estava diferente muito antes de dizer... aquilo. – Lily brincava com as mãos.
- Se você pode ser minha amiga ruiva, eu posso ser a sua... morena. Meu cabelo e o dele têm quase o mesmo comprimento mesmo! – As quatro riram quando Luna falara.
- A diferença é que você lava! – Ava disse e todas riram, até mesmo Lily.
- O que aconteceu ontem depois que eu saí?
Cristal ficou tensa e encarou as mãos. Ava foi quem respondeu.
- O Remus admitiu que tá caidinho pela Luna. Agora só falta a Luna ir lá e dar uns beijos nele. Ele claramente é tímido demais pra isso. – ela riu e jogou uma uva na boca.
- O QUE? – Lily sorriu abertamente e colocou as mãos na boca.
- Ele... ele só disse que me achava bonita. James perguntou no verdade ou desafio.
- James perguntou quem era a mais bonita da escola TODA! – Ava se debruçou e falou em um tom extremamente animado para Lily. As duas soltavam gritinhos histéricos.
- Luna isso TEM que acontecer! – Lily disse
- Gente! – Luna disse – E-eu... ele pode nem gostar de mim desse jeito.
- Ili pide nim gostir de mim dessi jeiti – Ava imitou a amiga fazendo uma careta.
- Chama ele pro baile! – Lily disse e bateu palminhas – Isso é perfeito, Luna! Chama ele!
Cristal sorria para as três amigas, mas nada dizia.
- Você não acha que ela deveria chamar, Cris? – Lily perguntou.
- E-eu acho que sim. Seria maravilhoso se vocês fossem juntos, Lu... – ela respondeu cabisbaixa.
- Ainda nem foi anunciada a data do baile, gente...
- Quando for, você convida, senhorita Santiago. – Ava disse mandona. – Agora calem a boca que os babacas e o Remus estão voltando.
- Ele fugiu. – James se sentou encostando-se na parede, bufando irritado. – Remus o chamou, ele ouviu e saiu correndo. Você é um otário, sabia? – ele se dirigiu a Remus que só sorriu irônico para o amigo.
- E nós estamos indo. – Ava se levantou e foi seguida pelas amigas.
Lilian fora para sua comunal após despedir-se das três corvinas. As três estavam no grande pátio da Corvinal. Luna pegara um romance para ler na biblioteca particular que tinham. Ava estava escrevendo uma carta na pequena mesinha de canto e Cris estava olhando para Luna, criando coragem para se desculpar.
- Lu... Desculpa atrapalhar sua leitura, eu...
- Cris... Tá tudo bem. De verdade.... eu acho que os meninos nem suspeitaram. E... além do mais, você tava bêbada.
- Eu juro que não fiz por mal eu... eu sinto muitíssimo mesmo. Por favor, me perdoe, Luna! – Os olhos de Cristal se alagaram.
- Claro que eu te perdoo, Cris... – Luna riu fraco e abraçou a amiga. – Só toma cuidado com essa bebedeira! – ela riu carinhosa.
- Ai, eu não aguentava mais o Peter falando aquelas coisas no meu ouvido, Cris! E... O James com aquela coisa exagerada com a Lily o tempo todo... – Luna gargalhou. – Eu achei que o Peter fosse... tomar alguma iniciativa, mas tudo que ele fez foi ficar falando daquele jogo e dos meninos.
- A bebedeira está justificada. – Luna continuava rindo.
- Mas... tirando essa grande... merda que eu fiz. A noite foi boa, não é, menina mais bonita de toda Hogwarts? – Cris sorriu de lado, Luna não conseguiu não rir. – Convida ele, Lu! Deixa de ser medrosa!
- Quem tá na casa do leão corajoso é ele... – Ava resmungou do outro lado sem desviar sua atenção da carta. – Mas a gente já viu que ele não é tomar muita iniciativa, vai ver ele é gay ou pior, frouxo.
As três amigas riram e foram ocupar o tempo restante que estava livre.
Luna relera a última carta que o tio a mandara. Ele contara que havia conhecido uma mulher. Linda. E que estavam sendo amigos que ela era filha do dono de um pub irlandês do bairro que eles moravam e o chamava para tocar lá algumas noites. Ele estava feliz. Radiante. Luna apertou a carta contra o peito. Escreveu outra carta perguntando como ele estava, porque não enviava mais cartas e contando algumas coisas que aconteceram na escola. Ela sentia tanta saudade...
Também escreveu uma carta a Romina, perguntando como ela e a família estavam. Disse que estava torcendo pela melhora de sua mãe e que esperava ver todos em breve. Logo o cansaço a derrubou em um sono pesado e sem sonhos.