QUINZE
S.M.
Haviam se passado dois dias desde o incidente com o puma na escola, e as coisas não pareciam bem desde então. Minha mãe estava bem severa comigo, o que eu entendia perfeitamente, Allison estava um pouco abalada ainda, mas era a pessoa que estava mais normal comigo, e então, tinha a Stiles. Stiles não estava nada feliz comigo, recebi tratamento de silêncio por esses dois dias.
Eu não conseguia culpar ela, ignorei ela o dia todo e seu pai acabou machucado no dia do puma. E ao que tudo indica ela tinha visto Derek recentemente, pelo menos era o que o seu cheiro dizia, mesmo ela não falando comigo, eu conseguia ouvir o jeito que seu coração bateu rápido quando perguntei se ela tinha visto ele, mas nenhuma resposta veio quando ela ignorou e entrou na próxima aula daquele dia.
Mesmo assim, permaneci firme, tentando ao máximo conversar com ela. Hoje tirei o dia para fazer as compras das coisas que precisavam em casa, minha mãe não tinha muito tempo com todos os turnos prolongados do hospital, então, eu tento fazer para ela, não deu muito certo quando eu sou atacado indo até o carro.
No final de tudo, quando pensei ter escapado usando os alarmes de um dos carros, meu celular toca, mostrando uma ligação de Allison. Me desespero escondido atrás do carro, tentando desligar o mais rápido possível, fico em silêncio por um tempo, quando sou puxado para cima e depois sendo pressionado com força no capo do carro. Meu coração estava acelerado, e eu estava com medo de ser o Alpha, mas não posso negar que senti muito alívio quando percebi que era Derek.
— Você tá morto. — Ele diz recuperando sua respiração, ele parecia exausto, assim como eu, essa perseguição de gato e rato foi apenas um teste? Vejo Derek me largar, andando para a saída, me levanto rapidamente o seguindo.
— O que foi isso? — Praticamente grito, assim que consigo o alcançar.
— Falei que ia te ensinar, mas não disse quando. — Eu não conseguia acreditar que era apenas isso, eu sentia raiva, até quando esses treinamentos em horários aleatórios iam acontecer?
— Você quase me matou de susto. — Quando ele me responde com "ainda não", eu o olho confuso, iria piorar. — Eu fui rápido, não fui?
— Não o suficiente.
— Mas os alarmes dos carros foi esperto, né? — Ainda estávamos andando, e Derek não parecia querer olhar para mim.
— Seu telefone tocou.
— Certo, mas isso... Quero dizer... — Eu paro de andar vendo o mesmo continuar, isso me tira do sério. — Poderia parar? Por favor? — Ele me olha devagar, e eu consigo notar que sua jaqueta tem o cheiro de Stiles, tento ignorar um pouco focando nas coisas que tinham acontecido. — O que aconteceu na outra noite, quando o pai da Stiles se machucou, aquilo foi minha culpa. Eu devia ter feito alguma coisa. — Ele me olha, como se questionasse minha afirmação, respiro fundo, vendo que ele não ia me responder tão cedo. — Preciso que me ensine como controlar isso.
— Olha, eu sou assim desde que nasci. Você foi mordido. — Olho pra ele confuso, tentando juntar tudo. — Ensinar alguém que foi mordido leva tempo. E eu não sei se posso te ensinar.
— O que eu tenho que fazer?
— Se livrar das distrações. — Ele pega meu celular, mostrando a mensagem de ligação perdida da Allison. — Tá vendo isso? Foi por isso que eu te peguei. Você quer que eu te ensine? Se livra dela. — Fecho a cara com o seu comentário, respiro fundo, olhando para ele.
— O quê? Por causa da família dela? — Derek olhou para mim, segurando meu celular na altura da minha visão, se virando e jogando ele com força na parede do estacionamento, mesmo tentando o impedir, isso acontece.
— Tá com raiva? Essa é a sua primeira lição. — Ele me olha, tentando se manter firme. — Se quer controlar isso, a mudança, controle a raiva. Expondo a raiva de um animal primitivo. Mas você não pode fazer isso com ela por perto.
— Posso ficar com raiva. — Ele discorda com a cabeça.
— Não o suficiente. — Derek diz forte, fazendo com que sua voz ecoasse pelo estacionamento. — Esse é o único modo que posso te ensinar. Agora, você pode ficar longe dela? — Ele desvia o olhar, voltando ele a mim alguns segundos depois. — Pelo menos, até depois da lua cheia?
— Se for necessário.
— Você quer sobreviver? — Ele pergunta, me surpreendendo. — Quer proteger os seus amigos? Sim ou não?
— Sim. — Digo, logo pensando em um possível acordo. — Se me ensinar, eu posso ficar longe dela. — Isso não deu muito certo quando a próxima coisa que fiz foi ver a Allison.
O que levou nela me escondendo em seu armário quando sua tia entrou. Allison disfarçou dizendo que estava fazendo um projeto de história, que realmente existia, era sobre nossas famílias, e do armário ouvi ela e sua tia conversando sobre uma antiga lenda, que estava relacionada com a família Argent, la bete du gevaudan.
Depois que saí de sua casa, entrei no meu carro e a próxima coisa que vi, foi o Alpha se aproximando do meu carro. Senti que ali seria meu fim, sentia raiva emanando dele, e no final, ele apenas fez uma espiral com as garras na janela do meu carro, e foi embora. Não tive dúvidas quando corri para casa assustado, apenas para ser recebido por Derek sentado em meu quarto, o que acaba me assustando novamente.
— É sério, você precisa parar com isso. — Ele me olha com cara de poucos amigos, e casualmente começa a conversa.
— O que aconteceu? Ele falou com você? — Nessa altura, eu já tinha cansado de me perguntar como ele sabia de todas as coisas que aconteciam.
— Sim. Tivemos uma boa conversa sobre o clima. — Se Stiles estivesse aqui, ela sentiria orgulho, mas obviamente, ela não estava aqui, muito menos falando comigo. — Não, ele não falou nada.
— Conseguiu algo dele? Uma impressão?
— O que você quer dizer? — Ele bufa se levantando.
— Lembra que os seus outros sentidos estão melhores. — Ele tinha razão, muitas vezes eu conseguia sentir suas emoções, como no dia que prendemos ele pela metade corpo do corpo, ele se sentiu traído, com raiva. — A comunicação não precisa ser falada. Que sentimento teve perto dele?
— Raiva.
— Raiva? Focada em você? — Ele me pergunta, parecendo confuso, acho que nenhum dos dois entendiam ao certo as intenções do Alpha.
— Não. Não em mim. Mas definitivamente foi raiva. Eu podia sentir. — Ele me olha concordando com a cabeça. — Do mesmo jeito que eu posso sentir o cheiro da Stiles em você. — Ele me olha, ficando em silêncio, eu não sabia ao certo o que ele queria com ela, e porque os dois tinham o cheiro um do outro muitas vezes. — Era raiva, principalmente quando ele desenhou a espiral.
— Espera, o quê? — Olho para ele confuso, ele respira forte, parecendo nervoso demais. — O que você falou?
— Ele desenhou uma espiral, na janela do meu carro. — Ele fica em silêncio, pensando em alguma coisa, definitivamente, agora ele sabia alguma coisa. — O quê? Parece que você sabe o que significa.
— Não é nada. — Ele começa a andar até a porta do meu quarto, seguro seu braço, fazendo o mesmo olhar para mim.
— Espera um segundo. Não pode fazer isso. — Eu nego com a cabeça, soltando seu braço. — Não pode pedir para confiar em você e guardar segredos.
— Não significa nada.
— Stiles me disse que notou o formato que a corda com Wolfsbane foi posta, Derek. — Ele me olha, engolindo em seco. — Você enterrou sua irmã debaixo de uma espiral. O que significa? — Ele fica em silêncio, abrindo a porta e colocando a mão em meu ombro.
— Você não quer saber. — Ele saiu do meu quarto, e eu fico tranquilo sabendo que minha mãe não estava em casa, e sim no hospital. Respiro fundo, precisava ficar longe da Allison, principalmente porque eu precisava da ajuda de Derek.
Não é porque eu me decidi que ficaria longe dela, que seria fácil. No dia seguinte, andando pelos corredores da escola, mantendo em mente que deveria ficar longe dela, a primeira coisa que fiz, foi cruzar com ela nas escadas, me viro rapidamente, andando para o lado oposto dali, onde vi Jackson saindo da aula de química, respiro fundo, mantendo em mente que ficaria longe de Jackson também.
Isso era extremamente mais difícil de ser feito sem a Stiles. Ela sempre saberia pra onde ir para evitá-los. Caminhando para a minha próxima aula, a próxima que eu encontro é Lydia, e sinceramente, essa foi a gota d'água, entro rapidamente na sala, encontrando os olhos de Stiles olhando pra mim, a mesma desvia o olhar revirando os olhos, sorrio fraco, caminhando até a fileira que a mesma se sentava, sentando na última cadeira, atrás dela.
— Ainda não tá falando comigo? — Pergunto me inclinando um pouco. Ela permanece em silêncio, sem esboçar reação, ou virar para trás para conversar comigo. — Pode pelo menos me dizer se seu pai tá bem? Digo, é apenas um machucado, né? Uma lesão superficial? — Ela se ajeita na cadeira, ignorando ainda. — Sabe que me sinto muito mal sobre isso, né? — Ela permanece imóvel, vendo o professor entrar. — Certo. E se eu disser que tô tentando entender essa coisa toda, e... Fui ao Derek pedir ajuda? — Ela se mexe na cadeira, bufando, e é quando eu finalmente escuto sua voz.
— Se eu estivesse falando com você, iria provavelmente dizer que é idiota por confiar nele. — Ela fica um tempo quieta, continuando depois. — Mas acho que todos nós confiamos em um ponto... — Isso sai quase como um sussurro, se não fosse pela audição melhorada, talvez eu nem tivesse escutado isso. — Mas, obviamente eu não tô falando com você. — O sinal toca, estendo minha mão para a minha mochila, pegando minhas coisas, ela se inclina para frente, ficando assim por um tempo, me sinto aliviado quando vejo a mesma virar e me olhar, finalmente. — O que ele disse? — Sorrio com isso, eu realmente senti falta, nós nos conhecemos desde pequenos, e a única vez que ela ficou tão brava, foi quando falei o nome verdadeiro dela na escola.
Conto para ela tudo que aconteceu até agora. Tudo que ela não sabia, enquanto conversávamos, ela me falou que se encontrou com Derek por causa da jaqueta dele, e que viu dois caçadores e Kate Argent saírem da casa dele, eles conversaram depois sobre isso, e ela perguntou sobre o incêndio da casa dele. Ele não disse muito para ela, mas foi o suficiente para esclarecer suas dúvidas, o incêndio não foi um problema técnico da casa, e sim, intencional.
Quando saímos da aula, ela finalmente andava ao meu lado. Os dois últimos dias foram fáceis de aturar, porque eu estava quase o tempo todo com Allison, mas era realmente difícil olhar para as costas dela e ela não soltar nenhuma palavra. Era bom estar com ela novamente, mesmo que ela ainda parecesse irritada.
— Ele quer que você se transforme e fique nervoso? — Ela me pergunta enquanto andávamos pelo corredor, era almoço agora, então tínhamos bastante tempo para discutir sobre isso.
— Sim.
— Me corrija se eu estiver errada, mas sempre que você faz isso, você tenta matar alguém. — Ela aponta pra si mesma. — E é sempre eu.
— Eu sei. Por isso ele não sabe se pode me ensinar. — Stiles arruma sua camiseta, suspirando pesadamente. — Tenho que ser capaz de controlar.
— E como ele vai te ensinar isso?
— Não sei. Acho que ele não sabe. — Ela revira os olhos, perdendo a paciência.
— Quando ele vai te ver de novo? — Eu não tinha ideia, ele disse que eu precisava ficar longe dela, e não chamar atenção.
— Ele me disse pra não falar disso, e agir normalmente hoje. — Stiles para, batendo a mão em meu peitoral.
— Quando?
— Ele vai me pegar na clínica depois do trabalho. — Ela concorda com a cabeça, esboçando um sorriso no rosto.
— Depois do trabalho... Tenho o resto do dia então. — Olho para ela confuso, do que ela tava falando?
— Pra fazer o quê?
— Ensinar você. — Ela continua andando para o refeitório, acelero o passo para acompanhar ela.
S.S.
No refeitório, Scott parecia mais nervoso que tudo. O motivo era Allison Argent sentada na mesa na frente da que consegui pegar para sentarmos, eu não sei como ele achava que o meu livro de história ia proteger ele de ser visto, já que só deixava mais óbvio, já que o mesmo sentava comigo. Olho para o lado, vendo Lydia saindo do refeitório, seguro a maçã em minha mão esquerda, e com a direita puxo o livro um pouco para baixo para que ele possa me ver.
— Acho que o livro tá deixando mais óbvio. — Olho para trás, vendo a menina de cabelos escuros lendo o livro em suas mãos, que besteira. — E ela tá lendo agora. — Ele disfarça com o livro, ainda mantendo o livro em seu rosto.
— Pensou em um plano? — Olho para ele, mordendo a maçã e respondendo ele comendo.
— Acho que sim. — Ele me olha nervoso, anoto umas coisas sobre a aula que não tinha anotado ainda, vendo o mesmo passar a me olhar curioso e não nervoso.
— Não me odeia mais? — Olho pra ele negando com a cabeça.
— Não. — Não, mas de algum jeito eu me sinto responsável pelas coisas que acontecem com você. — Mas seus problemas viraram meus, então, agora eu tenho que fazer algo a respeito. — E eu conseguiria te ajudar melhor que o cara que mandou você viver sua vida normal e daí ele talvez te ajudaria. — E eu sou um Yoda melhor do que o Derek, okay?
— Okay, então você me ensina.
— Vou ser seu Yoda. — Digo com um sorriso de canto no rosto, continuando a anotar as coisas depois de dar mais uma mordida da maçã.
— Sim, vai ser meu Yoda.
— Seu Yoda eu serei. — Respondo com um sorriso bobo, dando uma risada de leve. — Eu disse de trás pra frente.
— Sim, eu sei. — Scott dá um sorriso de lado, olhando por cima do livro.
— Certo, quer saber? — Fecho meu caderno, juntando minhas coisas, me levanto puxando o meu livro de história de suas mãos, fechando o mesmo rapidamente. — Definitivamente eu ainda te odeio. — Saio da mesa mordendo a maçã, indo em direção à saída do refeitório.