Gabriella abriu a porta para mim e eu entrei correndo, com ela no colo.
Haviam algumas pessoas sentadas e todas elas olharam para nós. Alguns não se mexeram, outros gritaram por ajuda.
-Por favor, chamem alguém!
Linz disse firme ao meu lado.
-O que houve, o que aconteceu?
Duas moças de branco vieram até nós, seus olhos fixos sobre Lauren.
-Eu não... Ela.. Eu acho que ela está sem comer ou beber a um tempo e está desacordada...
Eu me embaralhava no que queria falar. O que eu poderia falar? Como eu poderia explicar?
-Certo, ela está desacordada, venha aqui.
Elas me guiaram à frente e uma maca surgia da porta.
-Coloque ela aqui.
Obedeci o médico que se fez presente. Flexionei os joelhos e deitei Lauren bem devagar sobre a superfície dura. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, eles já a empurravam para o corredor que eu não tinha acesso.
-Emergência!
Era o que gritavam antes de sumirem completamente de vista. Acontecia tão rápido que eu não sabia se sentia alívio ou preocupação.
Me virei e olhei através da porta de vidro, procurei por paparazzis ou qualquer coisa do tipo.
-Ninguém vai te encontrar, fique tranquilo.
Gabriella falou gentil, como se pudesse ler meus pensamentos, fazendo movimentos de vai e vem com uma das mãos em meu ombro.
-O mais difícil já passou.
Concordei com a cabeça, tentando sorrir.
-Senhor, com licença, você poderia nos dar informações da paciente?
-Sim, claro.
Respondi.
-Vamos lá, nome?
-Lauren.
-Idade?
-Vinte e dois.
-Daqui mesmo?
-Não, não. Boston, Massachusetts.
-Certo. -digitou-
-Você é parente dela? Poderia me informar o nome dos pais?
-Am... -gaguejei- Cecília...
-E o seu nome, senhor?
Olhei para a senhora que estava me atendendo e respirei fundo, hesitando mesmo que por dois segundos.
-Harry... -respirei- Styles.
Ela continuou digitando sem nem piscar.
-Pronto, fique tranquilo, ok? Te aconselho a se sentar ou descansar um pouco.
Passei a mão no meu cabelo e senti minha cabeça latejar de dor. Era tarde da noite e eu estava preocupado. Agradeci à moça e me afastei do balcão, me sentando por fim nas cadeiras de espera ao lado das meninas.
-Alguma de vocês pode ligar para a Mary e dizer onde estamos? Vou ligar para a mãe da Lauren agora.
Digo soltando o ar que antes era pesado em mim. Eu não sei se elas já entendiam ou se já se acostumaram, mas estar comigo poderia ser considerado bem agitado.
Então, naquela situação, era interessante que pessoas de confiança soubessem onde estávamos. Elas se levantaram para fora do hospital e eu sabia que era o espaço de que precisava.
-Alô?
-Oi Dona Ceci, é o Harry!
-Harry, graças a Deus!
Sorri aliviado.
-Me desculpa por ligar essa hora, a senhora provavelmente estava dormindo.
-Não! Eu não estava, fale!
-Dona Cecília, eu a encontrei.
Digo com o peito em chamas e um sorriso grande no rosto. Cobri meus olhos com uma das mãos e abaixei a cabeça, tentando falar baixo.
-Eu a trouxe até o hospital, estão cuidando de sua filha.
-Oh, meu Deus! Como ela está? O que aconteceu?
-Ela estava um pouco fraca, mas vou me certificar de que fique bem o mais rápido possível.
Eu dizia enquanto a escutava chorar e me agradecer do outro lado.
-Eu gostaria de te explicar melhor, pessoalmente. Se for tudo bem para a senhora, faça as suas malas e a do Dudu. Vocês podem ir ao aeroporto agora mesmo!
-Mas, Harry, nós não...
-Não se preocupe, eu pago e a presença de vocês aqui é fundamental para ela. Não sabemos o que houve, ela precisa de amor.
Ela tentou não aceitar por um momento, mas eu não poderia fazer diferente. Cecília me agradecia incontáveis vezes e eu me sentia mais mais leve agora.
Minha vontade era ir até o balcão novamente e pedir por respostas. Ao invés disso, apenas encostei a cabeça contra a parede e fechei os olhos.
-H, está com fome?
Abri os olhos devagar e me assustei pelo cochilo. Olhei o relógio em meu pulso e cheguei à conclusão de que tinham se passado quarenta minutos. Parecia melhor do que nada.
Olhei em volta, ainda atordoado e continuava da mesma forma, a única diferença era que Mary estava à poucas cadeiras de nós.
-Eu sei que não são horas para comer, mas... Sabe como é, apertou aqui.
Linz disse apontando para a barriga, me fazendo soltar um riso abafado.
-Você costuma comer às... -levantei o pulso esquerdo- Às duas da manhã?
Sorri, a fazendo rir também.
-É sério, tem uma lanchonete logo ali. Eu chamaria a Gabriella também, mas...
Linz virou a cabeça e eu a acompanhei, tendo uma visão da Gabriella deitada em duas cadeiras ao dormir profundamente. Ela riu.
Por mais que eu estivesse exausto, eu não conseguiria dormir sem notícias dela.
...
-Senhora, com licença, já se passaram três horas. Você poderia, por favor ,chamar alguém para me dizer o que houve?
-Senhor, nós não...
-Moça, eu estou preocupado, eu preciso saber o que está acontecendo.
-Tudo bem, espere aqui.
Ela se levantou e eu dei graças a Deus por alguém enfim fazer alguma coisa.
-Você precisa manter a calma, não adianta pressionar.
Mary me repreendeu, eu não conseguiria ter calma. Virei para a porta de vidro e cruzei os braços, Ceci deveria estar chegando.
-Algum responsável pela Lauren?
-Eu!
Me virei antes que alguém respondesse. Encarei as meninas e segui em frente, fazendo sinal com a cabeça. O médico apertava a minha mão e me conduzia para um espaço mais reservado. Eu sentia meu coração falhar em suas batidas.
-Harry, nós levamos Lauren para a sala de emergência. Foi relatado que ela estava sem comer, glicose muito baixa, muito abaixo do normal.
As palavras eram como socos em minha barriga, doíam como o inferno.
-Constatamos também que as vias respiratórias estavam comprometidas, quase como uma asma, fazendo as batidas do coração dela desacelerarem hora por hora.
Arregalei os olhos.
-A ligamos no soro e nos aparelhos respiratórios. O soro na veia vai ajudá-la a recompor tudo o que ficou em falta, desde ao alimento ao líquido. Consequentemente, a dará forças de novo.
-Oh, graças a Deus. -sussurrei- Ela está acordada, então? Está bem?
Ele raspava a garganta e eu me preocupava, de novo.
-Por essa série de fatores, ela está com a imunidade baixa, suscetível a qualquer bactéria, ainda está dormindo. Seu corpo precisa de um tempo, acreditamos que em poucas horas ela consiga acordar.
-Obrigado, muito obrigado.
-Sem problemas, gostaria de visitá-la?
-Sim, por favor!
Respondi imediatamente, quase implorando. O médico buscou álcool em gel para que eu passasse nas mãos e nos braços, me fazendo usar luvas e uma máscara.
Ele fechou a porta e o meu coração terminou de se quebrar. Lauren dormia, mas haviam incontáveis fios em sua volta.
Me sentei meio sem jeito na ponta de sua cama, sem jeito de saber como agir, ou do que dizer.
-Você nem imagina o quanto é ruim te ver assim...
Quebrei o silêncio. Levantei a cabeça e enfim consegui olhá-la. Sua pele era pálida, seus lábios sem cor. A única coisa que eu escutava era o barulho da sua respiração por entre os aparelhos.
Levei meus olhos até suas mãos e sorri largo ao ver que suas unhas estavam pintadas em rosa suave. Sorri e no mesmo instante me engasguei para não chorar.
-Eu sinto a sua falta.
Silêncio.
-Eu nem sei o que dizer. Tanta coisa aconteceu nos últimos dois dias, e eu só pensava em você. Quando você me pediu ajuda... -sorri fraco- Acho que eu só consegui dormir de novo hoje.
Fiquei em silêncio de novo, aquilo estava me matando. Levei minha mão até uma das mãos dela e me espantei no quão geladas estavam. Fiz movimentos circulares com o polegar, bem de leve.
-Eu me sinto tão culpado por tudo isso... Quero dizer, se eu não tivesse te dito aquelas coisas você ainda estaria comigo e protegida por mim. Eu sei que sou super protetor até demais, mas olha o que deixei acontecer...
Respirei fundo, algumas lágrimas estavam vindo.
-Mas eu espero que me perdoe um dia, e que se perdoe também. Eu espero que a gente possa conversar, porque... Porque eu não sei não amar você. E eu prometo, quero dizer, vou te prometer que estarei sempre aqui. Que nunca te deixarei pensar que não é amada e que, no seus piores momentos, vou segurar sua mão da mesma forma que estou fazendo agora. Eu não sei o que aconteceu, mas vou ajudá-la a juntar os pedacinhos quebrados.
Limpei o rosto. Respirei fundo.
-Porque eu te amo muito para te perder.
Me levantei lentamente e pressionei meus lábios em sua mão, me sentando novamente.
-Não foi culpa sua. Por favor, se lembre que não foi culpa sua.
Sussurrei ao ouvir batidas na porta. Apenas segui com os olhos.
-Licença, senhor? Está na hora de...
-Filha?
Uma voz conhecida disse por trás da porta. Me levantei, ajeitando minha camiseta e a vi passar por mim, caindo aos prantos nos braços de Lauren.
Me dirigi ao canto da porta e a observei bem rapidamente.
-Eu não sei nem por onde começar... Muito obrigada!
Ela tirava a máscara, virando-se para mim.
-Eu fiz o que qualquer pessoa teria feito, ela vai ficar bem!
Eu sorri e a mãe dela abriu os braços, me envolvendo nos mesmos.
-Obrigada, de verdade! O Eduardo me fez mil perguntas, eu não sei como dizer que...
-Posso falar com ele? Eu dou um jeito, fique aqui com ela.
Eu segurava suas mãos. Cecília me abraçou apertado mais uma vez e eu as deixei sozinhas, rezando aos céus para que Lauren acordasse e nos abençoasse com a sua presença de novo.
Atravessei o corredor largo e o vi sentado no chão, agasalhado, brincando com alguns carrinhos pequenos, perto de Mary.
-Por acaso você é o Dudu?
Brinquei, ele sorriu.