Minhas mãos suavam e minhas pernas falhavam consideravelmente, mas não tinha qualquer importância. O sentimento de adrenalina me inundava, eu não conseguiria parar.
Ela abriu a porta do carro e eu segui com Lauren adormecida nas costas, flexionando meus joelhos e inclinando meu corpo para senta-la no banco passageiro. Eu podia sentir Bianca aterrorizada logo atrás de nós.
-Se acalme, Jesus!
Murmurei irritado. Limpei mais uma vez o suor frio em minha testa e inclinei meu corpo para dentro, puxando o cinto de segurança. Passei pelo corpo dela e respirei fundo ao ouvir o estalo que fez.
Peguei seu cabelo gigante e o passei todo para o lado, para não a machucar.
-Certo, agora...
Digo fechando a porta e observando Lauren sumir completamente por conta da película escura.
-David, espera!
Sua voz era trêmula. Bianca segurou em meu braço e eu senti o choque de suas mãos geladas contra meu sangue fervente.
-Você não acha que isso é demais? Quero dizer... Deixe ela voltar, podemos pensar em outra coisa e...
-Sem medo, ok? Está tudo sobre controle.
Olhei em volta.
-Mas eu não posso ficar aqui.
-Não, por favor, eles vão procurar por ela... Se acharem...
-Pare, ok? Apenas pare!
-Olhe para você! -cochichou em desespero- Está suando, seus olhos estão vermelhos e sua testa...
-Eu sei!
-O que você usou?
Passei as mãos na testa pela milésima vez. Desci meus olhos até a gola de minha camisa e percebi que estavam visivelmente molhada.
-Pensa bem...
-Eu não quero pensar, eu quero que eles sintam.
Cheguei mais perto, atordoado.
-Agora, por favor, faça a sua parte e finja que nunca me viu aqui. Se cuida.
Corri para o meu lado da porta. Lancei um último olhar à ela, por cima do carro, e outro em volta.
-Não faça nenhuma loucura...
Foi o que ela disse antes de sair correndo. Bati a porta e coloquei o cinto, notando o quanto minhas mãos tremiam.
Olhei para Lauren ao meu lado e coloquei o dedo indicador por baixo do seu nariz delicadamente.
-Está viva, isso é bom.
Dei partida no carro e percorri os cones e as barreiras de segurança até enfim sair.
Estava escuro e o celular dela estava no meu bolso. Não me pergunte como Bianca descobriu a senha dela, mas seria divertido.
Lauren estava imóvel, gelada, totalmente adormecida. Coloquei o pé no acelerador e sorri ao ver os vultos das luzes daquela cidade, eu mal sabia para onde estava indo.
Levei algumas buzinadas mas nada que tirasse a alegria de ter ela ao meu lado. Meus olhos estavam fixos na estrada, apesar de eu não enxergar meio palmo à minha frente.
-Você deveria olhar, princesa, está perdendo as luzes!
Digo sozinho, sorrindo para ela.
-Olhe Lauren, olhe!
Comecei a rir alto e descontroladamente.
-Estão buzinando para nós, nós somos o centro das atenções agora!
Eu ria. Desci o vidro e coloquei a cabeça para fora.
-Uhul!!
Gritei ao passar por um carro, fechando o vidro de novo.
-Nunca pensei que sair com você fosse tão divertido assim. Mas é melhor eu diminuir, não queremos que a polícia acabe com o nosso passeio romântico.
Estiquei meu braço para pegar em sua mão mas tive a atenção roubada pelo brilho da tela do celular dela.
Meu corpo gelou, meus olhos não estavam na estrada mais.
LI: Amiga? Faltam dez minutos, estão perguntando por você!
Sorri.
Pov Linz
-Ela não me responde! Devo me preocupar?
Perguntei, suando.
-Cinco minutos, alguém tem notícias da Lauren? Precisamos dela aqui!
Mary passou.
-Chame alguém para substituí-la.
Ela disse de novo e meus olhos foram até o Harry. Ele estava próximo às escadas que davam acesso ao palco.
Quieto, calado, quase imóvel, mas era notável a sua preocupação. Seus olhos fitavam o chão enquanto ele lutava contra aqueles enormes fios dos fones especiais.
-Ela não está em lugar nenhum.
Gabriella disse ofegante, tirando meus olhos dele. Nossas atenções foram à ela.
-Olhei nos banheiros e em todos os camarins, em todas as salas desse lugar. Ela não está aqui.
De repente, o silêncio tomava conta do ambiente. Nos entreolharmos. Se fosse uma brincadeira, não estávamos achando graça.
-Vocês precisam subir assim mesmo, por favor.
Nos entreolhamos até que alguém teve coragem de falar. Este era o momento em que o medo começava a tomar nossa mente, em que a preocupação corroía tua alma.
-Ela não me responde também.
Alguém disse lá do canto.
-Gabriella..
Harry murmurou, chegando mais perto. Seus olhos estavam bem abertos.
-O que está acontecendo? Ela não desapareceria sem avisar alguém.
Sua voz era baixa, quase como um sussurro.
-Você não viu nada suspeito?
Ele chegou ainda mais perto.
-Bianca?
-Não, Harry. Ela estava normal da última vez que a vi.
Um susto e..
-Ela respondeu! Ela respondeu!
Gritei e no mesmo instante a roda que se formava em frente ao palco foi formada à minha volta.
Desbloqueei o celular quase que num ato de desespero e li em voz alta.
L: Linz, estou passando um pouco mal. Vou tentar subir, mas não me esperem. Ok?
-Beleza, Steve, por favor! Ao palco.
Mary falou com o rádio. Era estranho. Meu primeiro impulso seria ir atrás dela, mas nós já estávamos atrasados.
-Harry?
Perguntei, eu queria fazer alguma coisa.
-Temos que ir, quando acabar falamos com ela e nos certificamos de que está tudo bem.
Ele disse subindo as escadas. Olhei para Gabriella, que hesitava também. O cara chamado Steve passou correndo por nós e subiu as escadas em um pulo, nos chamando atenção.
-Estou preocupada.
-Tenho certeza que está tudo bem, pode ter sido algo que ela comeu.
-E onde está a Bianca?
A procuramos.
-Vamos garotas, procurarei por Lauren e a trarei para o palco. Se estiver bem, claro.
Mary disse novamente e era a coragem pela qual precisávamos. Respirei fundo e prendi meu cabelo rapidamente, subindo.
...
Pov David
Respondi a mensagem com uma mão e permaneci com a outra no volante, o guardando no bolso.
Olhei para Lauren pela milésima vez e ela não tinha sequer se mexido, o que era bom. Desci o vidro do carro e dirigi com a cabeça para fora, eu sabia que estava chegando.
Passamos por uma estrada de terra repleta por buracos até enfim poder localizar o que eu tanto queria.
-Aí está!
O lugar que eu precisava. Dei a volta com o carro e o parei num portão discreto e velho.
Dirigi por cerca de trinta minutos, eu havia alugado um buraco e esperava não me arrepender. A casa tinha potencial para ter sido muito bonita um dia, mas não hoje.
Estava escuro e havia grama por todo o telhado, grama seca. Descendo os olhos, as paredes eram de madeira. A casa era de madeira. Se você apertasse bem olhos, conseguiria ver algumas falhas por toda sua extensão. Uma janela e uma porta caindo aos pedaços, e eu as queria trancar pelo tempo que fosse necessário.
Não tínhamos comida, ou mesmo água. Eu só tinha ela, e era o que eu queria até morrer. Até morrermos, por amor.
-Eu te falei que seria romântico.
Suspirei. Abri a porta do carro e corri até a dela, fazendo o mesmo. Tirei o seu cinto e passei um braço por debaixo de suas pernas e outro em suas costas.
Antes que eu fizesse qualquer esforço, notei o quão próximo estávamos e o quão cheirosa ela era.
Encostei meu nariz em seu pescoço e, com os olhos fechados, fiz questão de memorizar seu cheiro doce.
-Espero que você goste do meu também.
A ergui em meu colo e fechei a porta com o pé, indo em direção à porta da casa que mais se parecia uma assombração viva.
Concentrei minhas forças em um braço e tirei as chaves com o outro, a enfiando de qualquer jeito na fechadura.
Girei duas vezes e a porta chiou, entregando para qualquer um que estávamos ali.
-Maldita!
Cuspi. Empurrei com o pé novamente e a tranquei de imediato.
-Onde está... Onde está...
Murmurei enquanto passava uma das mãos pela parede até encontrar o interruptor de luz.
Não fazia tanta diferença, iluminou apenas um terço de todo o lugar. A primeira visão que tive era de uma mesa de quarto lugares, também de madeira, com alguns objetos abandonados por cima.
-Você está segura comigo.
Beijei seu ombro. Caminhei bem devagar por aquele piso e encontrei outro interruptor de luz, me dando a visão que eu precisava.
Havia uma cama, duas cadeiras próximas à uma mesinha, algumas prateleiras vazias e uma janela trancada.
A deitei com muito cuidado e dei dois passos para trás ao vê-la se mexer pela primeira vez.
Lauren respirou fundo e virou para o lado esquerdo, quase me fazendo vomitar de nervoso. Continuei dando passos para trás, com um olho nela e outro no relógio.
-Já era para ter acordado.
Pensei em voz alta. Desliguei o meu celular e tirei o dela do bolso, me sentando na cadeira de frente para a cama.
Eu mantinha os olhos fechados até ouvir um estalo que me despertou de onde quer que eu estivesse. Ela estava acordada.
Um sorriso cresceu em meu rosto a medida que ela se sentava na cama e olhava em volta, sem me ver.
-Olá...
Eu disse primeiro. Como em câmera lenta, seus olhos seguiram minha voz e o pulo que ela deu foi capaz de me assustar.
-Bom dia, flor do dia, pensei que me deixaria sozinho para sempre.
Minha testa suava outra vez, Lauren estava pálida, fraca. Era visível.
-O que... O que é isso aqui? Como que eu... O show! Estava na hora do show, quantas horas são?
-Shh... Para quê tantas perguntas?
Interrompi.
-O que é isso aqui? Onde eu estou? Cadê... Onde está o meu celular?
Ela dizia sem pausas, se levantando e tocando os bolsos da calça. Sua voz era firme. Estiquei meu braço bem devagar e o trouxe para perto de mim.
-Esse?
Ela viu e seus olhos se arregalaram. Lauren ficava mais pálida do que já estava.
-O que você...
Eu levantei, ela caminhou para trás. Eu podia ouvir meu coração bater em meu cérebro.
-Eu quero ir embora. Eu quero ir embora agora, idiota!
Ela aumentou o tom de voz. Lauren começou a surtar e eu apenas a observei, no mesmo lugar.
Ela corria até a janela e batia com toda a sua força, em vão.
-Me tira daqui! Eu preciso ir para o show!
Ela corria pelo quarto, passou por mim e chutou a porta enquanto gritava desesperadamente.
-Socorro! Por favor! Alguém abre essa porta, onde eu estou?
Era alto, admito. Ela voltou até mim e se aproximou da mesinha, pegando o celular.
-Eu vou ligar para a polícia agora mesmo e você...
-Você o quê?
A olhei curioso, atraindo toda a sua atenção para minhas mãos. Ela decidia ficar em silêncio então, ao ver minha mão acariciar um revólver devidamente carregado.
Lauren devolveu o celular até a mesa bem lentamente, sem tirar os olhos do quê eu segurava.