-Ok pessoal, esse foi Harry Styles, te vemos a noite!
-Foi um prazer.
Me levantei, apertando as mãos dele primeiro. Eles sorriram e as luzes vermelhas escritas "ao vivo" foram apagadas.
Cumprimentei cada um presente e fui rapidamente até Mary.
-Senti saudades, filho de outra mãe!
Ela dizia doce e eu apenas a abracei, apertado. Era de fato minha segunda mãe, anos me acompanhando na estrada. A confiança era mútua.
Ela me abraçou de volta e eu, mesmo com os olhos fechados, os senti marejarem.
Eu me sentia incrivelmente péssimo por ter falado que não tínhamos nada, nós tínhamos. Era tudo tão ruim naquele momento. Eu não a vi ainda e, sinceramente, não saberia dizer como seria quando nos encontrarmos de novo.
Mary perguntava se estava tudo bem e eu apenas confirmava com a cabeça, não havia porquê dizer. Saímos do estúdio e o prédio estava lotado de fãs.
Estiquei meus olhos até mais à frente e a rua do hotel também. Eles pararam em um círculo enquanto decidiam o que fazer. Enquanto decidiam qual seria a melhor saída.
Mary, Bianca e alguns seguranças gigantes.
Olhei para o lado e as vi esticando as mãos para falar comigo. Virei novamente para eles, quase que pedindo permissão, mas eu não obedeceria de qualquer forma.
Caminhei até uma das grades e os gritos foram imediatos.
-Shh! Shh!
Eu pedia silêncio com as mãos, com carinho e educação, e o mais legal era ver que elas tentavam.
Senti meu braço ser duramente puxado por uma delas, me afastei rapidamente. Um dos seguranças me puxou para trás.
-Está tudo bem, pode deixar.
Afirmei. Ele se afastou apenas o suficiente e eu me aproximei novamente.
-Harry! Você poderia assinar para minha irmã também? Ela vai morrer quando ver!
Eu adorava estar em contato com elas. Elas falavam tão animadas, com tanto brilho nos olhos, eu me divertia. Sorri para ela, que tirou algumas fotos, e peguei a caneta permanente e o álbum em suas mãos.
-Qual o nome de vocês?
-Britany e Laura.
A olhei no mesmo segundo. A garota sorriu e eu... Bom, sorri de volta.
-Com todo o meu amor, para Britany e Laura, H. Aqui está!
Entreguei, me afastando. Assinei mais alguns álbuns até ter a atenção roubada. Fiquei na ponta dos pés para ver melhor e pude vê-la caindo.
-Ei, ei!
Um dos seguranças que estava conosco veio imediatamente.
-Acho que tem uma garota passando mal, por favor, abram espaço, está tudo bem, a deixem respirar.
O cara assobiou para o outro colega de trabalho. Eles se inclinaram na grade enquanto tentavam chegar até ela.
Não foi tão simples assim. Enquanto eles tentavam passar, outras tentavam passar por cima apenas para se aproximarem.
-Por favor, calma...
Tentei dizer, mas foi baixo demais. Elas começaram a empurrar e eu dei um passo para trás.
-Vamos Harry, hora de ir. Vamos!
Mary me segurou pelo braço. Eu precisava passar, mas não queria machucar ninguém.
Coloquei meus óculos escuros novamente, vendo a garota ser erguida, e um cara veio para a minha frente e outro atrás, seguidos por mais três.
Os da frente gritavam e pediam passagem, passando de qualquer jeito. Os que estavam entre mim impediam que alguém se aproximasse demais ou me machucasse, o que era necessário.
Elas gritavam o meu nome e eu me sentia cada vez menor no meio daquilo tudo. A paz já havia ido embora, era uma confusão completa.
A cada dois passos difíceis, celulares e mais celulares em meu rosto. Levamos cerca de cinco minutos apenas para sair do local, atravessar a rua e chegar em outro.
Eles me empurraram para entrar enquanto as afastavam das proximidades do local. Respirei fundo e acenei rapidamente. Uma moça gentil me dava boas vindas.
Caminhamos pelo hotel luxuoso até um grande corredor, seguido por uma porta branca e totalmente aberta.
-Bom apetite, tenha um bom dia!
-Muito obrigado.
Sorri.
Algumas pessoas me olharam, outras até acenaram. Cheguei mais perto das mesas e sorri ao ver Lucas, Pedro e Diego tomando um bom café da manhã. Segui os olhos e sorri ao ver Linz enchendo o prato em outra mesa.
Ela estava lá também.
Linz seguiu até a mesa e meus olhos também. Lauren estava sentada e o mundo todo, apenas por um milésimo de segundo, pareceu entorpecer.
Todos os sons de repente foram sugados para fora da atmosfera. Tudo o que eu podia escutar eram os meus sapatos deslizando na pedra abaixo.
O sangue pulsava através das minhas orelhas como uma bateria no meio de uma guerra, apenas porque eu tinha a visto.
Eu tentei fazer alguma coisa, mas ela me empurrou para longe mais uma vez. Lauren abaixou a cabeça e eu desviei rapidamente.
Dois estranhos. Dois fantasmas.
Ela abaixou a cabeça e colocou uma das mãos no rosto, não queria que eu a olhasse. Olhei para o prato em minhas mãos e para ela de novo e... Não comeria.
O deixei de volta no lugar e saí l o mais rápido que eu pude. Atravessei o corredor infinito em busca de um elevador.
Me irritava tanto o fato de eu olhar para ela e querer chorar. Eu, que nunca havia me sentido assim. Era como se ela me deixasse exposto à todo tipo de sentimento.
Era como uma avalanche que me empurrava e eu não conseguiria sequer colocar os pés no chão.
...
Pov Lauren
-E lá se vai ele, mais uma vez.
Bufei, sem ânimo. Gabi e Linz se entreolharam e voltaram a atenção para mim em seguida.
-Amiga...
Respirei fundo.
-Você não acha que pode ter agido por impulso?
A olhei.
-Eu não sei explicar, mas... Lauren, eu o vi chorando mais de duas vezes. Ele dizia coisas como "eu preciso conversar, eu não a mereço"...
-Mas Gabriella, ele não contou. Como eu posso confiar?
Ela abaixou a cabeça também. Deixei o garfo no prato e fechei os olhos, não adiantaria.
-Por favor... Não chore.
Linz colocou sua mão sobre a minha.
-Não é da nossa conta, mas talvez tenha faltado um diálogo. Os dois estavam nervosos, os dois não quiseram ouvir o que o outro tinha para dizer.
-É mais do que isso... -chorei-
-Então diz, queremos ajudar.
-Eu pensava que o conhecia como a palma da minha mão e de repente era como se... Era como se ele fosse outra pessoa. Eu sei que foi ela quem beijou, mas ele esconderia isso de mim para sempre.
Percebi que os meninos nos olhavam, limpei as lágrimas rapidamente.
-Lauren, eu adoro você e eu também adoro ele, mas vocês dois são orgulhosos e egoístas. Veja como você está, veja como ele saiu daqui!
Gabriella me repreendeu. Eu começava a me irritar.
-Você não vai conseguir evitar, você sabe disso. E eu digo porque me importo. Ele entrou na sua vida e você já não pode fazer nada. Não tenha dúvidas de que ele sinta o mesmo, é visível. Vocês são duas almas tão jovens...
Ela dizia e eu já nem podia olhar mais, as lágrimas rolavam pelas minhas bochechas, uma a uma, e os oceanos cresciam. Eu era um oceano mais uma vez.
E estava paralisada. Você poderia sentir a dor girando e girando em seu peito. Seu corpo inteiro apertando.
E não havia absolutamente nada que você pudesse fazer.
O pior tipo de choro não era o tipo em que você aperta a sua barriga numa tentativa falha de engolir. O pior, o mais triste e doloroso choro, era o tipo em que a dor era tão grande que ecoaria através dos seus ossos e escaparia através da sua boca.
O tipo em que seu nariz ficaria tão bloqueado que você precisaria respirar pela boca em busca de algum ar. O tipo em que as lágrimas não parariam de cair. Aquele era o mais triste.
Eu tinha as mãos na boca até ser conduzida a levantar.
-Está tudo bem em não estar bem, nós estamos aqui.
Foi a última coisa que ouvi até cair aos pedaços em uma cama grande, gelada e solitária.
- - -
Pov David
Oito da noite marcava o meu relógio de pulso. A gritaria era tremenda e aquilo fazia a minha cabeça doer mais a cada minuto que se passava.
Eu estava na lateral da primeira fila, quase fora de vista, esperando pelo sinal de Bianca.
Meu coração batia desesperado por vários motivos e meus olhos estavam fixos num único lugar, a porta pela qual ela sairia. Apenas eu sabia daquilo.
Ela precisava me entregar um crachá "vip", me conduzir até os camarins e se afastar. Era só isso. Tudo antes do show se iniciar, enquanto todos os olhos estivessem para fora. E não para dentro.
Alguns minutos distraído até enfim notar ela saindo pela porta. Sempre com papéis em mãos.
Olhei para trás e caminhei rapidamente até ela que, sem nem olhar ou sequer parar, liderou o caminho para a entrada mais próxima.
-Oi, eu...
-Shh!
Foi a única coisa que ela disse.
Bianca esticou um dos braços para trás, me entregando um crachá como o dela. Não tinha meu nome e nem foto, a ideia era que ninguém percebesse nada estranho.
O passei pelo pescoço e continuei a seguindo pelos corredores. Entramos por outra porta e dei de cara com um homem gigante, que passou os olhos pelos crachás.
O barulho do salto alto dela era a única coisa naquele corredor. Esfreguei minhas mãos umas nas outras, numa tentativa falha de me acalmar.
-Segue o corredor e vire à esquerda, pelo amor de Deus, não me faça perder o emprego.
Ela disse rápido, acenti com a cabeça e a vi desaparecer complemente.
Dois passos curtos e um susto ao ver três pessoas apressadas passarem por mim. Eu sabia que o que eu estava fazendo era errado, e eu estava aterrorizado por isso. Porém focado.
-Quinze minutos! A cortina desceu, quinze minutos!!
Alguém gritou mais à frente, o que me fez perceber o quão perto eu estava.
Me encostei numa pilastra cinza e fria e estiquei a cabeça para tentar ver se alguém sairia. Pude ver os nomes de cada um deles nas portas.
"Lauren" estava na terceira porta. Meu coração bateu fora de ritmo.
-Pegaremos os fones e voltaremos para deixar as coisas aqui, então.
Uma voz familiar disse. Me esquivei um pouco mais enquanto Gabriella e Linz saíram distraídas. Estavam arrumadas, por um momento me lembrei do que poderia ser estar no palco.
-Acho que devíamos avisar o Pedro também, não?
Foi o que disseram até sumir também. Voltei para a pilastra e fechei os olhos por dois segundos, mentalizando tudo o que eu perdi, tudo o que me foi arrancado à força, toda a injustiça.
Senti meu peito se agitar e minha respiração pesar. Eu iria fazer o que haviam feito comigo. Eu tiraria algo à força, assim como fizeram comigo.
Respirei fundo, tomando coragem, e saí rumo a porta.
-Opa, posso saber onde vai tão depressa?
-Am... É...
Eu gaguejei, falhei. Esbarrei direto em outro maldito segurança. O cara tinha as mãos nos meus ombros e os olhos em meu crachá.
-Está em branco.
Com certeza a minha pressão caía diante dele. O cara disse soltando o crachá, fazendo ele bater e voltar em meu peito, se enrolando por um momento.
-Eu... Eu só... Eu só queria ver o Harry. Eu vi a porta aberta por descuido e...
Pensei rápido.
-E agi por impulso. Perdão.
Forcei um sorriso, abaixando a cabeça. Minhas mãos tremiam e meu corpo suava.
-Desculpe, não é permitido.
-Eu...
-Por favor, saia e assista ao show como todas as outras pessoas. Lá fora.
O olhei perdido. Desviei os olhos até as portas atrás, eu não poderia acreditar.
-Por gentileza.
-Eu vou, eu vou!
Respondi com certa ignorância, tirando as mãos dele de mim. Caminhei à passos largos com ele logo atrás.
Meu sangue antes gelado agora fervia à alta temperatura. Tentei olhar mais uma vez mas já era tarde. A porta estava fechada bem na minha cara.