-Está tudo bem, você pode falar.
Ela disse, seu semblante era preocupado.
-Quero que saiba disso por mim, não por outra pessoa. Eles contrataram o David. Eu não sei como, não sei como Mary ou eu não vimos antes, mas aconteceu.
Ela arregalou os olhos.
-Eu o vi e só pude pensar em você.
Silêncio.
-O deixei lá, deixei Bianca, liguei para Mary, argumentei tudo o que pude e só poderemos ter outra pessoa mês que vem.
Falei sem pausas, Lauren tinha olhos bem abertos agora.
-Eu não concordei, deixei isso claro, mas algumas coisas não cabem à mim as vezes. -respirei- Eu disse à ela, ele não chegará perto de nós. Você tem a minha palavra quanto a isso. Me desculpe.
Respirei fundo.
-Eu nem sei o que dizer... Mas... Sei que não foi culpa sua. Não peça desculpas.
Ela inclinou o corpo para mim, me faxendo ver apenas os seus olhos.
-Eu só queria que ele nos deixasse em paz...
Mal deixei ela terminar de falar. A puxei para perto e a segurei forte em meus braços. Lauren afundou seu rosto em meu ombro e eu pude senti-la tremer em mim.
A garota que eu amava estava chorando.
-Não baby, não chore, shh...
Cochichei contra seu cabelo.
Lauren me apertava ainda contra ela.
-Enquanto estiver comigo, farei tudo ao meu alcance para protegê-la. Por favor, não chore.
-Está tudo bem... Não teremos que vê-lo, certo?
-Certo.
Ela me olhou então, rosto vermelho e lábios tímidos.
-Porque você é sempre tão gentil?
-Pergunta fácil, porque você é importante para mim. Vamos?
-Espere, ele falou alguma coisa sobre mim?
-Oh não, eu sequer deixei ele falar.
Ela sorriu.
-Quem te vê falando assim nem imagina...
Lauren riu, provocando-me.
-É só não se envolverem com a minha garota.
Sorriu.
-E a Bianca?
Corei um pouco ao lembrar do momento constrangedor de mais cedo.
-Acho que ela tem interesse, mas eu não.
Dei de ombros. Dirigi até os ônibus e, por pura sorte, chegávamos com antecedência.
Pov Lauren
-Quem está aí?
Perguntei puxando a cortina, me levantando. Eu poderia jurar que havia escutado alguém chamar.
Abri a cortina do Harry e a cama estava arrumada, a de Gabriella também.
-Eu poderia jurar que...
Me virei de volta para cama e inclinei meu corpo, procurando meu celular. Chacoalhei a coberta, o travesseiro, nada.
-Lauren?
A voz me paralisou. Meu corpo se endureceu no mesmo instante, eu não poderia virar.
Um arrepio passou por toda a minha extensão, meu queixo batia, tremia.
-Sou eu...
Me virei muito devagar, como se não quisesse que alguém me visse. Meus olhos tremeram no mesmo instante, a vista embaçou. O coração pulou.
Ele sorria tão grande, estava tão limpinho. Nenhum machucado em seu rosto, nenhuma ferida em seus braços.
-P..pai?
Ele não me escutava, minha voz saía como um sussurro. Levei uma das mãos à cabeça e assim eu percebia o quanto tremia, o quão tonta eu estava. Eu não conseguia sair do lugar.
-Vem aqui, estou com saudades.
Ele disse com voz doce, calma e, de olhos fechados, sentindo, eu caminhei até ele.
O choque de nossos corpos se batendo foi o suficiente para que eu desabasse. Ele me segurava com proteção e eu... Só poderia sentir. O que estava acontecendo?
-Você não é real, não é?
Afundei meu rosto em sua camisa azul clara, cheirava casa.
Suas mãos acariciavam o meu cabelo e parecia tão real, tão vivo.
-Mamãe sente tanto a sua falta... O Dudu? Meu deus... Nem vai acreditar.
Digo o apertando, sorrindo.
-Estou aqui! Ninguém vai lhe fazer mal! Podemos voltar, eu aprendi a fazer aquela receita que você gostava.
Sua voz entrava na minha alma e ficava, deixando tudo quentinho. Ele colocou uma das mãos sobre minha perna, exatamente onde eu havia sofrido um trauma, e então pude sentir aquele lugar limpo de novo. Meu de novo.
-Por favor, me diz que você é real...
Digo limpando o rosto, o soltando e o olhando.
-Por favor!
Seu rosto era bonito. Seus olhos misturavam entre o castanho claro e escuro. Seus dentes tão brancos, seu semblante tão renovado.
Levei meu olhar até as suas mãos, a segurava forte. Ele usava aliança, minha mãe ficaria tão feliz.
-Como você está?
Falei, tremendo.
-Sua mãe te ama muito, não deixe de ligar.
Fechei meus olhos.
-Você vai ficar? Eu posso preparar alguma coisa... Posso te apresentar para o meu namorado...
Toquei suas mãos novamente mas, daquela vez, não as sentia mais. Me virei rapidamente para onde ele estava, era apenas eu.
-Pai?
O chamei, procurando pelas camas.
-Não pai, por favor. Por favor!
Não havia ninguém.
-Por favor...
Caí de joelhos em frente a minha cama. O choro entalado, doído, eu o perdia de novo.
-Lauren? Você está bem?
Mãos suaves me tocaram, me fazendo voltar brutalmente à realidade.
Abri os olhos desesperados e vi Gabriella do lado de fora da cama.
-Eu...
Me sentei, confusa, mexida.
-Eu a ouvi chamar por alguém, vim ver se era comigo. Está bem?
-Acho que eu estava sonhando... -olhei em volta, tomando consciência- Sim, um sonho.
Abaixei a cabeça.
-Quer que eu chame alguém?
A olhei, meu coração estava quebrado.
-Sobe aqui.
Ela me obedeceu, puxando a cortina.
-Harry ainda está vendo filme?
-Está sim, o que aconteceu?
-Eu tive um sonho, depois de tanto tempo, eu consegui sonhar com o meu pai.
Sorri.
-Ele... Ele sorria, sabe? Estava feliz.
Digo intercalando meu olhar entre minhas mãos e ela. Minha voz soava fraca mais uma vez.
Lágrimas queimavam minhas bochechas e tocavam meus lábios sorridentes.
-Eu sinto falta dele.
Gabriella me segurava. Às vezes eu não tinha forças para chorar, mas em outras era só o que eu poderia fazer. Eu me sentia vulnerável, com todo o meu oceano à tona.
-Eu sei que às vezes parece que não vamos aguentar, mas sempre aguentamos. Me deixe chamar o Harry, ele saberá o que fazer.
-Oh não, por favor, não.
Limpei as lágrimas, ela estranhou.
-Ele sempre fica triste também, deixe-o ter paz por algum momento.
Ela permaneceu em silêncio, respeitando minha decisão.
-Tenho medo dele se cansar e não aguentar mais.
-Nunca aconteceria, vai por mim.
A olhei.
-Quando ele não está com você, está falando sobre você.
Sorri, escondendo o rosto. Lentamente voltando ao normal.
Sem que percebêssemos, ele sempre acabava amenizando as dores que eu carregava.