Miguel das Asas

By Helenaldo

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Você já viu um homem com asas? Se não hoje será a primeira vez, acompanhe a saga de Miguel, um homem com essa... More

Capitulo único

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By Helenaldo


Miguel das asas
Por Helenaldo Silva

Dizem que o sonho do ser humano é voar igual aos pássaros, alcançar as estrelas, fugir dos problemas, ser livre... Bem pelo menos Miguel imagina que seja isso, ele nasceu com asas mas voar, ah isso sim é um problema.

– Quando vai voar pra valer Miguel? – questionou um cliente.

– No dia que o criador me der essa graça, nasci com asas mas sou um homem como outro qualquer – respondeu ele.

Miguel é dono de um armazém que herdou dos pais, nunca se importou com riqueza, para ele só o fato de ter como se manter já era o bastante, nascer com asas nunca foi um problema, sua estranha condição sempre foi bem aceita pelas pessoas, o que intriga apenas é porque ele nunca conseguiu voar?!

– Vai fechar cedo hoje Miguel? – questionou um homem que passava pela rua.

– Não deu muito movimento hoje, vou para casa quero descansar – respondeu ele.

Ao voltar para casa Miguel observa os pássaros, tentava entender como a natureza pregava suas peças, as aves o dom de voar, a ele asas que não serviam para nada.

– A vida é injusta as vezes, porque as aves no céu podem voar e eu que tenho asas sou renegado a viver como um homem normal – pensou ele enquanto fazia seu trajeto.

Desde a morte dos pais, Miguel passou a morar sozinho, nunca se apaixonou e jamais se imaginava nessa situação, mas um dia isso mudou, quando estava indo abrir o armazém, Miguel encontrou uma mulher desmaiada, sua beleza era tanta que ele ficou um bom tempo admirando antes de ajuda-la, percebendo que estava com febre a tomou nos braços e levou para sua casa que ficava mais perto do que a cidade.

– De onde será que surgiu essa moça? – disse ele olhando fixamente para ela.

Ele não pode ir trabalhar neste dia, ficou cuidando dela até acordar, ao final daquele dia, ela finalmente despertou, sem entender como havia parado ali, logo ficou assustada.

– O que aconteceu comigo? Como parei aqui? Quem é você? – perguntou ela desesperada.

– Calma, você havia desmaiado na estrada, eu trouxe você para minha casa – respondeu ele.

– Quem é você? – questionou ela.

– Me chamo Miguel das Asas, mas pode me chamar apenas de Miguel – disse ele.

– Agora que fiquei confusa mesmo, desmaio na estrada e sou salva por um homem pássaro – respondeu ela atordoada.

– Sou apenas um homem normal, as asas não servem para nada, aliás como se chama? – perguntou ele.

– Perdão, com essa confusão toda nem me apresentei, me chamo Dinah – respondeu ela.

Miguel estava tão encantado com ela que mal conseguia disfarçar seu interesse.

– Porque me olha dessa maneira? – perguntou ela

– Você tem um olhar tão profundo que por um momento esqueci de tudo ao meu redor, não sei como te explicar isso, mas você me atrai mesmo te conhecendo só hoje – disse ele.

– Fico lisonjeada com o seu sentimento, mas como disse nos conhecemos hoje, não sei nada sobre você, apenas que me salvou – respondeu ela.

– Dinah de onde você veio? Nunca te vi na cidade? – questionou ele.

– Eu moro na vila que fica fora da cidade, não tenho costume de sair de lá, hoje foi diferente eu não sei explicar, mas algo dentro de mim gritava para sair, andar, eu estava precisando disso, depois não me lembro de mais nada e acordei aqui – disse ela.

– Talvez tenha sido o destino não acha? – perguntou ele.

– Acredita mesmo nisso? – respondeu ela.

– Tirando o fato de que eu não posso voar o resto eu acredito, nada é por acaso, tudo tem sua justificativa – disse ele.

– Você diz que não pode voar, como pode ter tanta certeza disso? – questionou ela.

– Cresci assim, meus pais sempre aparavam minhas asas, eles diziam que o fato de ter nascido com elas não queria dizer que eu poderia voar, então nunca tentei – respondeu ele.

– Deveria, acho que você consegue, afinal de contas suas penas estão grandes de novo – reparou ela.

– Talvez um dia, mas hoje não, é melhor você descansar, assim vai melhorar mais rápido – disse ele.

O tempo passou e os dois engataram um romance, Miguel estava feliz pois havia encontrado uma companhia para alegrar os seus dias, a Dinah nem tanto assim, por mais que ela gostasse dele, o fato dele sempre fugir da tentativa de voar a incomodava bastante.

– Miguel quando vai deixar o medo de lado e tentar voar? Eu adoraria ver esse momento, voa o mais alto que puder, usa as asas que nasceram com você, faz isso por mim – pediu ela.

– Um dia eu faço isso, prometo mas hoje não – respondeu ele.

– Quando Miguel? – perguntou ela.

– Um dia apenas, não coloco datas, apenas um dia – concluiu ele.

Miguel nunca falou a Dinah, mas tinha medo de tentar voar, para ele isso era impossível, a ideia de que ele era um homem normal estava enraizada na sua cabeça, não havia ninguém que o convencesse do contrário.

Passou um tempo e chega a cidade um bandido que havia fugido da mesma anos atrás, seu nome era Lezaza, ele era temido pela população mais velha da cidade que temia pelas suas vidas, ao chegar na cidade, ele logo observa o armazém, e lá resolve entrar quem estava na hora era Dinah.

– O que o senhor deseja? – perguntou ela.

– Um pouco de pólvora e fumo – respondeu ele.

– O fumo tem, mas a pólvora não – disse ela.

Lezaza não prestou atenção ao que ela dizia, a beleza de Dinah também o havia cativado.

– Perdão, o que a moça havia dito mesmo? – perguntou ele.

– Não tem a pólvora, mas temos o fumo – falou ela.

– Tudo bem, vou levar, me responda como uma moça tão linda como você desperdiça sua beleza neste armazém? – questionou ele.

– O armazém e do meu namorado, só dou uma ajuda ele, ficou agradecida pela parte da beleza, mas tenho que ressaltar, não desperdiço nada ficando aqui, pelo contrário eu adoro isso tudo – concluiu ela.

Ao sair do armazém, Lezaza foi caminhando até a estrada que levava a casa de Miguel, por lá ele encontrou o próprio observando os pássaros, ao notar suas asas ficou surpreso e logo se dirigiu a ele.

– É a primeira vez que vejo um homem com asas – disse ele.

– Elas te assustam? – perguntou Miguel

– Não, já vi a morte de perto tantas vezes que um homem com asas não é nada, me diga porque não voa como os pássaros que observa? – perguntou ele.

– Porque as asas que eu tenho não servem para voar – respondeu Miguel.

– Não acredito – disse ele.

– Pode acreditar, eu adoraria voar mas não posso – respondeu Miguel.

– Você ao menos tentou? – perguntou ele.

– Não, por isso que eu não posso, eu tenho medo – respondeu Miguel.

– Um dia terá que perder o medo não acha? – disse ele.

– Talvez, até lá vou levando essa história desse jeito mesmo, minha namorada insiste para que eu tente voar, mas sempre adio o dia – disse Miguel que foi embora logo em seguida.

– Um cara desses não merece a namorada que tem, como pode oferecer segurança a alguém se tem medo de algo que nasceu com ele – pensou Lezaza.

Um tempo depois, Lezaza ainda continuava a observar Dinah no armazém, nesse período ele já havia descoberto que ela era namorada de Miguel e tentava entender porque uma mulher tão bonita havia escolhido um homem tão fraco.

– Um dia a Dinah será minha, ela merece um homem de verdade e não um fracassado – pensou ele.

Um dia Miguel e Dinah estavam voltando pra casa e Lezaza surgiu com uma arma na frente deles.

– Ninguém se mexe! Eu não quero dinheiro, eu só quero ela! – gritou ele.

– Miguel faça alguma coisa, eu não quero ir com ele – suplicou ela.

– Ele não vai fazer nada, veja a cara de criança amedrontada dele, Miguel não é digno de você, venha comigo que eu sim sou valente – disse ele.

Miguel assistiu à cena sem esboçar uma reação sequer, Lezaza então debochou mais ainda.

– Como é que fica homem de asas? Perdeu a língua também, fala alguma coisa rapaz! – disse ele rindo.

– Não leve a Dinah, eu te dou o que quiser! – disse Miguel.

– Não é dinheiro que me interessa, é ela meu caro, desde o dia que eu pisei no seu armazém, aceite que ela não é pra você, uma mulher bonita dessas merece alguém que não tem medo da vida – disse ele.

– Você não vai ganhar o amor dela assim desse jeito – disse Miguel.

– Hum interessante... Vamos deixar que ela decida! – disse ele.

De um lado Miguel, do outro Lezaza e Dinah ao meio, ela tinha que escolher entre um dos dois.

– E então? Quem você escolhe Dinah? – gritou Lezaza.

– Eu escolho... – disse Dinah com medo.

Dinah apesar do medo não teve dúvidas da escolha e quis ficar com Miguel, ao notar ela ir em direção a seu amor, Lezaza então atirou nela pelas costas.

– Dinah não! – gritou Miguel desesperado.

– Realmente ela era uma mulher formidável, corajosa até para morrer – disse Lezaza.

– Porque você fez isso seu desgraçado? – perguntou Miguel com ódio nos olhos.

– É simples, porque a morte só escolhe os corajosos, eu poderia ter te matado e ficado com ela, mas nem a sua alma é digna da bala do meu revólver – disse ele.

– Porque eu não sou digno da bala de sua arma? Você matou a mulher que eu amava, quero morrer também – disse Miguel chorando.

– Você se recusou a voar por medo, viu seu amor ir embora e não fez nada me diga porque acha que a morte te quer? Eu disse rapaz ela só aceita corajosos, sua namorada ao te escolher ignorou o fato de eu estar com um revólver na mão, foi corajosa em sua escolha, é disso que a morte gosta, de pessoas valentes – disse Lezaza que concluiu – De homens como você a morte desdenha, pois a vida lhe dará o castigo que merece.

Ele foi embora logo após o crime, Miguel muito abalado ainda, teve forças para enterrar o corpo de sua amada, lembrando sempre das últimas palavras de Lezaza.

Os anos passaram, as penas das asas de Miguel haviam caído, ele jamais voou e nunca encontrou outro amor, ele então finalmente compreendeu o que Lezaza havia dito no passado.

– A morte realmente gosta dos fortes, por isso que nunca me levou, fui tão fraco que nunca acreditei que podia voar, não lutei para salvar o amor da minha vida e ainda vi o seu algoz ir embora como se nada tivesse acontecido, realmente a morte só aprecia os corajosos, os fracos como eu, a vida castigou dessa maneira, sozinho e com a sensação de que joguei toda uma história fora – concluiu Miguel.

FIM

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