While It's Still Summer

Door YOUGOT7JAMS

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Quando sua mãe disse que passaria as férias em um parque aquático, não era bem assim que Kyungsoo havia imagi... Meer

Notas iniciais
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Notas finais

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Door YOUGOT7JAMS

— Ele está tramando alguma — Kyungsoo diz para a tela do notebook. O garoto está equilibrando o computador sobre as pernas dobradas, segurando uma caneca de Stranger Things em uma mão e, na outra, apontando um Pepero de Choco Cookie de modo acusador para Baekhyun, do outro lado da câmera.

— Ele não está tramando coisa nenhuma.

Kyungsoo dá uma mordida em seu palitinho de chocolate.

— Ele está tramando — repete.

O rosto sorridente de Jongdae aparece na tela, tirando Baekhyun de cena. Os dois iniciam uma batalha rápida de empurrar, disputando por um lugarzinho na imagem da webcam, e então Jongdae vence. Kyungsoo ainda consegue ver a orelha do Byun no canto direito enquanto ele empurra o amigo com a cabeça, ainda querendo aparecer. Ele imediatamente franze as sobrancelhas quando o tenor do coral da escola começa a gargalhar alto. Tão alto que ele precisa afastar seus fones do ouvido. Maldito Kim Jongdae e sua incrível (e assustadoramente irritante) potência vocal.

— Cara, essa é a coisa mais improvável que podia acontecer na vida! — ele diz, ainda rindo. Ele faz uma pausa para secar uma lágrima que nasce no canto do olho. — Quer dizer, quais as chances de você e Kim Jongin estarem trabalhando no mesmo lugar durante as férias de verão?

— Se parar pra pensar — a voz de Baekhyun ecoa em seus ouvidos —, o Jongin faz natação, né? Meio que faz sentido ele trabalhar em um lugar cheio de água. E de piscinas. E pessoas nadando. Mas que é uma baita coincidência os dois...

Kyungsoo corta o barato dele, afundando o corpo contra os travesseiros apoiados na cabeceira da cama.

— Ha-ha-ha. É, isso é ótimo, pessoal. Realmente incrível, totalmente inesperado. Muito improvável. Uma enorme coincidência. Eu já saquei. Podemos pular para a parte em que vocês param de me zoar, me dão bons conselhos e me ajudam a sair dessa?

Os dois Beagles ignoram a pergunta de Kyungsoo. Em vez disso, Baekhyun aparece na tela de novo, animado, as orelhas alertas como as de um cachorrinho.

— Ele disse alguma gracinha pra você?

Não.

— Tem certeza?

Um suspiro.

— Tenho.

— Mas você queria que ele dissesse?

Outro suspiro.

— Baekhyun, pelo amor de Deus. Isso é sério. Você não vê a gravidade da situação?

— Deixa de ser dramático, Soo. Quão grave isso pode ser, hein? Vocês ficaram na oitava série e depois nunca mais se falaram, e agora você fica aí fingindo que não se importa, mesmo ele ainda sendo o responsável pelas suas ereções inesperadas nas aulas de Inglês.

— Isso foi só uma vez! — o rapaz resmunga alto, fazendo o áudio chiar. Baekhyun dá risada e cobre as orelhas com as mãos. — E não teve nada a ver com ele!

Puberdade. Tempos difíceis. Longa história.

— ...e agora, por uma incrível coincidência do destino, vocês dois estão trabalhando no mesmo lugar, o que também significa que vocês vão precisar se aturar por um tempo — Baekhyun continua. — Como seu amigo, vou te dar um conselho infalível: é só ser profissional, Soo. Vai dar tudo certo. Contanto que você mantenha as mãos longe do pescoço dele...

— E não tente afogar o Jongin na piscina — Jongdae sugere.

— ...e também longe das calças dele, vai ficar tudo bem.

Kyungsoo encara a tela do notebook por cinco segundos, em silêncio, tão expressivo quanto Plank, aquela placa de madeira do desenho Du, Dudu e Edu que ele assistia quando era mais novo.

— Ai meu Deus, vocês são horríveis — ele solta, por fim. No fundo, Jongdae está dizendo "A gente também te ama", mas o garoto finge não ouvir. — Falando sério, eu só não tiro vocês do cargo de melhores amigos porque não tenho ninguém pra colocar no lugar. E se quer saber, Baek, esse foi um conselho de merda, cara. Não era bem o que eu esperava ouvir, mas valeu. Eu acho.

Eles encaram um ao outro através da webcam.

— Boa sorte tentando achar um melhor amigo mais bonito e adorável do que eu — o Byun diz, fingindo tristeza.

— Vai se ferrar.

You're doing amazing, sweetie! — Jongdae completa, com seu meme americano tirado da deep web.

Kyungsoo suspira como se estivesse esgotado. Francamente, ele está um pouco aliviado de ver e conversar com os amigos, embora nunca vá admitir. É bom ouvir a voz deles e perceber que pelo menos uma coisa na sua vida não está de cabeça para baixo. Não é um pesadelo completo, afinal. Só uma parte dele.

Antes de abaixar a tela do notebook e afundar na cama, ele diz:

— Eu odeio vocês.

Porque aquele é apenas seu jeitinho amigável de dizer "boa noite".

☀ ☀ ☀

Ele evita olhar para Kim Jongin na reunião matinal do dia seguinte.

Com uma camada grossa de protetor solar cobrindo suas bochechas, braços e pernas, ele repete para si mesmo que aquela rápida conversa no vestiário no dia anterior não significou nada. Mas algo não parece certo. É como se Jongin tivesse alterado o movimento de rotação da Terra quando quebrou o silêncio de três anos entre eles. Era apenas questão de tempo até agentes especiais da Nasa aparecerem ali para interrogar o filho da mãe.

Ele estava tramando alguma. Kyungsoo sabia.

— Hoje é o seu dia de sorte! — Wendy comemora, chacoalhando-o pelos ombros quando ele para em frente ao mural de avisos. Desconfiado, Kyungsoo procura na nova escala de divisão de equipes e vê seu nome ao lado do Jet Slide, o toboágua mais alto do parque. — A menos que você tenha medo de altura. Aí não seria nada legal.

Kyungsoo não tem medo de altura. Uma vez, ele marcou um encontro com um cara de 1,90 m pelo Grindr. Ele amarelou assim que descobriu que o dito-cujo não gostava de The Prince of Tennis. Não teve nada a ver com a imagem terrível que sua cabeça criou do sujeito com as pernas arreganhadas só para poder alcançá-lo. Claro que não.

A garota loira aponta outro nome na folha de papel.

— Tcharãn! Você vai trabalhar comigo! Não é incrível? E não precisa se preocupar. Lá não bate tanto sol. Seus dias como Hellboy estão contados.

Kyungsoo faz uma careta.

— Eu nunca mais vou pegar sol sem protetor solar.

Os dois atravessam o parque juntos, passando em frente a um quiosque de comida e seguindo até o Wild Surfing, uma piscina dupla de ondas artificiais e intensas para a prática de surf. Duas meninas escorregam deitadas na prancha, mas o próximo garoto tenta se equilibrar e descer de pé. Não dá muito certo, e o coitado acaba caindo de bunda na metade. Wendy ri e puxa Kyungsoo até uma ponte pequena que dá acesso à área dos toboáguas.

O Jet Slide tem 24 metros de altura e três tipos de escorregadores. O brinquedo fica ao lado do Racing Slide, separados apenas por uma pequena cerca. Enquanto caminham, a garota aponta para as atrações e explica cada uma delas em mais detalhes. Ele aprende muito mais com ela do que com os panfletos do parque. Wendy diz que apesar de o Jet Slide ser mais alto, o Water Coaster e o Aqua Drop são mais legais.

Kyungsoo se sente um pouco triste de precisar trabalhar quando todo mundo está se divertindo.

— As regras são basicamente as mesmas pra todas as atrações. Nada de grávidas, gente idosa ou babacas alcoolizados. Acredite, as regras existem por um motivo. Você não vai querer limpar vômito da piscina depois. Falo por experiência própria. — Ela afaga os próprios braços, agita a cabeça e mostra os dentes, como se sentisse calafrios. — Ainda tenho pesadelos com aquele dia.

— Obrigado por me poupar dos detalhes.

Eles sobem as escadas até o topo do toboágua. Kyungsoo sente o sol tocar suas costas por cima da camiseta do uniforme. A subida de quase vinte e cinco metros é mais longa do que parece, e o garoto já está quase sem ar quando chega no fim. Wendy está plena como se estivesse feito apenas uma caminhada de cinco passos da cama até o banheiro. Ela estende a mão e o ajuda a terminar o último degrau.

— Bom dia, Michael Phelps — ela diz para um de seus colegas.

A garota parece ser maníaca por apelidos, ele percebe.

Kyungsoo segue atrás dela, ainda sem coragem de olhar para baixo. O rapaz já esteve na N Seoul Tower quando tinha doze anos, mas ele não se lembra de ter sequer chegado tão perto da borda. Ele definitivamente não tem medo de altura, mas não quer arriscar. É a sua primeira vez em um lugar tão alto desde que ele viu aquela infinidade de cadeados coloridos numa noite estrelada na torre de Namsam.

Ele se apoia na grade de segurança, mas olha para a frente, dando de cara com as costas de um de seus colegas de trabalho. Kyungsoo vê os músculos marcados na camiseta, os ombros largos e, apenas por um milésimo de segundo, seu olhar para antes de descer até a bermuda. Ele engole em seco, olha para cima outra vez e pisca sem parar. Esse é um dos motivos pelos quais Kyungsoo não durou nem seis meses no time de futebol da escola.

O rapaz — Michael Phelps, ele presume — se vira de repente, o indício de um sorriso marcando sua bochecha.

— Bom dia... — ele começa, mas o tom animado perde força quando ele gira o tronco, apenas olhando sob o ombro, e vê o olhar fixo de Kyungsoo na sua nuca. Os dois rapidamente olham em direções opostas, de modo discreto. Jongin se recupera do choque, abre outro sorriso e diz: — Wendy! Oi. Achei que a gente nunca mais fosse trabalhar juntos de novo.

Ele não parece nada nervoso. Kyungsoo tem um pouco de inveja, já que agora não consegue tirar os olhos das montanhas e prédios que quase desaparecem no horizonte ao redor do parque.

— "Wendy, oi?" — ela imita, antes de dar um peteleco na testa dele. — É assim que você trata a sua sunbae, moleque? — Jongin grunhe com o gesto, mas solta uma risada. Kyungsoo tira os olhos da paisagem e volta até eles, sentindo o ar faltar. É a primeira vez que ele vê o atleta sorrindo tão de perto. — Se você pensa que vou te comprar cerveja de novo nesse verão, pode esquecer.

— Ano que vem eu vou fazer dezenove, e aí eu te pago todas as cervejas de volta. Eu prometo.

— Tanto faz, pivete — ela diz, mesmo só tendo cinco anos de diferença entre eles. — Agora vamos trabalhar.

Wendy aponta para baixo, na direção das escadas. Uma fila já está se formando.

Horas mais tarde, Kyungsoo descobre que trabalhar no Jet Slide é muito mais legal do que vigiar uma piscina infantil. Ao todo, são cinco funcionários: três guiam e orientam as pessoas pelos três tipos diferentes de escorregadores. O quarto funcionário, Minho, fica lá embaixo, ajudando os clientes a saírem da piscina antes que o próximo desça. Kyungsoo fica responsável pela fila, liberando-a de três em três pessoas, mas ele assume a posição de Ten, o garoto tailandês de nome quilométrico, quando ele vai almoçar. É divertido.

Secretamente, ele às vezes espia Jongin, sempre sorridente enquanto dá instruções aos clientes antes de descerem pelo escorregador. Ele se pergunta se o garoto planeja falar sobre o que aconteceu lá no vestiário, nem que seja para pedir o protetor solar de volta.

As horas passam. Kyungsoo almoça iscas de peixe no BoraBora.

Ele volta, e aquela inquietação começa de novo. Jongin fala alto, ri e conversa com todas as pessoas de modo simpático, mas nunca olha para ele. Nem sequer uma vez. Ele espera que, ao menos até o fim do dia, o garoto diga alguma coisa.

As horas passam de novo, mas Jongin não diz nada, nem mesmo quando eles descem juntos a escada.

Kyungsoo não sabe por quê, mas ele se sente um pouco triste.

☀ ☀ ☀

— As garotas são loucas por ele — Wendy conta no dia seguinte, enquanto os dois se sentam para almoçar.

O movimento está fraco porque caiu uma chuva ligeira pela manhã, e agora o céu está encoberto por nuvens escuras. O rosto de Kyungsoo já não está mais tão vermelho, mas a pele está descascando no alto da testa.

Como de costume, a garota loira não consegue fechar a matraca nem mesmo quando está mastigando um sanduíche. Ela fala de Jongin pela terceira vez no dia, mesmo sem Kyungsoo ter perguntado nada.

— Ele é um garoto bonito e gente boa, sabe. Eu entendo. Se eu tivesse a idade delas, também seria louquinha por ele — ela continua. Kyungsoo enfia uma colherada de arroz na boca, mastigando furiosamente para não ter que responder. Já é quase a terceira vez que ele engasga com a comida. Aparentemente, ninguém ali além dele sabe que Jongin é gay. — Mas ele nunca dá bola pra elas. Parece ser do tipo exigente.

Kyungsoo engole a comida.

— Ele não é grande coisa — ele solta, sem querer. O garoto espera não ter denunciado nada em seu tom de voz.

Wendy suspira, tira uma selfie com seu sanduíche pela metade, e só então responde.

— Claro que você não vai achar grande coisa. Você é um garoto também. Quer saber? Eu realmente preciso de novas colegas mulheres pra fofocar. Vocês homens nunca vão entender.

E então Kyungsoo percebe. Ninguém ali sabe que ele também é gay.

Seria tão ruim se ele quisesse que continuasse assim?

Ali não é como sua escola. Aquele é um lugar livre de rótulos. Um lugar onde ele não é o "garoto gay" que saiu do armário na oitava série. Talvez Kim Jongin pense do mesmo jeito. Afinal, esse é um lugar onde Jongin e Kyungsoo são apenas Jongin e Kyungsoo.

Talvez seja uma coisa boa.

☀ ☀ ☀

A melhor parte de trabalhar no Lotte Water Park com certeza é o almoço grátis. Kyungsoo experimenta uma coisa nova do cardápio todos os dias, mas as iscas de peixe são suas preferidas até agora. Às vezes, ele come com algum colega de trabalho. Outras vezes, ele come sozinho, conversando com os amigos no grupo que eles apelidaram de "Melhores amigos e Park Chanyeol", enviando foto dos pratos e recebendo outras fotos em troca. É quase como se estivessem almoçando juntos.

Hoje, Baekhyun envia um de seus áudios de insuportáveis três minutos. Ele aperta play e deixa a voz do Byun soando baixinho enquanto ele come. A notícia bombástica da semana é que Oh Sehun disse que Lee Taemin contou para ele que Kim Jisoo, a prima de Kim Junmyeon, viu o treinador Choi transando com a diretora Kang no auditório de palestras. Tem foto e tudo.

Jongdae responde com três fileiras de emojis. Chanyeol manda uma infinidade de memes e figurinhas. Kyungsoo prefere não abrir a foto, por segurança própria. Ele não sabe qual é a probabilidade de regurgitar as iscas de peixe se ele vir a bundinha flácida do treinador Choi na tela do celular. No fim, ele só responde com mensagens curtas e em letras maiúsculas. E com muitas exclamações. Isso deve bastar.

Quando Kyungsoo volta, saindo da sombra do guarda-sol, ele coloca sobre os ombros a camiseta extra que pegou da sua mala essa manhã. Mesmo usando protetor solar durante os últimos dias, a pele dos seus braços ainda está avermelhada e ardida. Ele usa a camiseta como uma espécie de chale onde o uniforme não cobre, fazendo seu percurso de volta até seu posto de trabalho e torcendo para não vomitar as iscas de peixe na subida até o Jet Slide.

Antes que ele possa subir os degraus, no entanto, ele sente um aperto em sua perna e olha para baixo. Ele sequer tem tempo de cogitar a possibilidade de ser uma assombração quando vê um menininho agarrado à sua bermuda, fungando baixinho. A criança está vestindo uma camiseta azul do Super-Homem e uma sunguinha vermelha. Ele para, surpreso. Kyungsoo pensa que provavelmente ele o confundiu com algum parente, mas então ele faz uma busca rápida ao redor, percebendo que ele está sozinho.

— Você tá perdido? — ele pergunta, o que provavelmente não foi uma boa ideia, porque o garotinho se afasta e cai no choro, cerrando as mãos em punho em frente aos olhos. — Ei, espera. Não chora, não. Você...

Ele tenta dar tapinhas de leve na cabeça do menino, mas parece que tudo que Kyungsoo faz é piorar as coisas cada vez mais. A criança, que deve ter por volta de quatro anos de idade, agora abre o berreiro e chora a ponto de soluçar alto. E, de repente, todos no parque estão olhando para eles.

Kyungsoo está aterrorizado, para dizer o mínimo. Ele não tem ideia do que fazer, então pergunta a algumas pessoas que passam "Ele é seu?", mas elas apenas balançam a cabeça e continuam sua caminhada. Os pais dele não parecem estar perto dali, e nenhum daqueles estranhos parece a fim de ajudar.

Claro, porque é ele quem trabalha ali. Ele deveria saber o protocolo para lidar com uma situação como essa, mas ninguém nunca o ensinou o que fazer ao encontrar crianças perdidas, e ele está morrendo de medo de deixar o garotinho ainda mais assustado. Seu coração parece acelerar a cada grito angustiado do menino. Eu preciso fazer alguma coisa, ele diz a si mesmo, mas está paralisado.

E quando a aflição de Kyungsoo aumenta e ele se desespera, quase a ponto de começar a berrar junto com o moleque, outro funcionário se aproxima.

Ele respira, aliviado, vendo Jongin agachar em frente ao garoto. Kyungsoo provavelmente nunca se sentiu tão feliz ao ver Kim Jongin em toda a sua vida, nem mesmo quando ele se sentou ao seu lado no terraço da casa de Yixing na oitava série.

— Oi, amigão! — Jongin diz, sorridente. E tem alguma coisa sobre o sorriso dele. Algo no modo como um dos cantos repuxa mais do que o outro, rendendo-lhe um sorrisinho quase ladino.

O menino continua chorando, mas olha na direção dele. Jongin faz um carinho rápido e divertido no seu cabelo, e então ganha atenção total do pequeno fã do Super-Homem.

— Meu nome é Jongin. — Ele sorri de novo e estende a mão para o garoto apertar. — Qual é o seu nome? — O menininho aperta sua mão, segurando apenas dois de seus dedos, mas ainda está soluçando demais para responder. Jongin olha para Kyungsoo e depois novamente para a camiseta da criança, parecendo ter uma ideia. — Ei, amigão. Você quer saber um segredo? É uma informação ultrassecreta, então, se eu te contar, você precisa prometer não contar pra ninguém.

O garotinho esfrega os olhos úmidos com as mãos fechadas, mas ele funga corajosamente e balança a cabeça.

— Tá vendo esse cara do meu lado? — O menino ergue os olhos vermelhos para Kyungsoo, ostentando um biquinho trêmulo. Jongin levanta e leva suas mãos até o pescoço de Kyungsoo, que, por sorte, está ainda congelado demais para sequer pensar em se afastar do toque. As mãos dele ajeitam a camiseta que descansa sobre seus ombros e puxam as mangas do tecido juntas, amarrando-as sobre seu pescoço. O toque sutil dos dedos provoca arrepios leves na sua pele. Mas tudo isso desaparece quando ele se agacha novamente, aponta para a camiseta recém-amarrada e sussurra exageradamente alto: — Ele é um super-herói disfarçado. Tá vendo a capa dele?

O menino responde pela primeira vez, agora mais calmo.

— Um super-herói?

— Isso.

— Tipo o Super-Homem?

— Sim, só que sem a sunga por cima das calças.

A postura do menininho muda completamente. Agora ele analisa Kyungsoo de modo desconfiado, estreitando os olhos para a camiseta presa aos seus ombros como uma capa.

— Quer saber qual é o superpoder dele? — A criança faz que sim com a cabeça. — Ele consegue fazer sorvete apenas com um estalar de dedos. Você gosta de sorvete?

— Gosto.

— Qual é o seu sabor preferido?

— Hm... Eu acho que... Morango.

— É mesmo? Eu também amo sorvete de morango. Dá a mão aqui pro tio Jongin. A gente vai tomar sorvete e depois vamos procurar os seus pais, ok? Não precisa chorar. — Ele levanta de novo, faz carinho no cabelo castanho-escuro do garotinho, que ainda segura a mão dele pela ponta dos dedos, e então inclina o corpo para perto de Kyungsoo. — Tem um posto de ajuda em frente à sorveteria. Pede pra eles anunciarem o garotinho perdido pelos alto-falantes.

Kyungsoo demora alguns segundos para processar a informação e sair do transe. Ele vê o quiosque de sorvetes a alguns metros deles e olha na direção oposta, localizando um pequeno stand de informações.

— Ah... Ok. Certo. — Ele chacoalha a cabeça exageradamente. — Vou fazer isso.

Ele solicita o anúncio de criança perdida a um dos funcionários e, segundos depois, está junto com Jongin e o garotinho na fila da sorveteria. Kyungsoo estala os dedos quando o pedido deles finalmente fica pronto, mostrando seu superpoder incrível de fazer aparecer sorvetes. O menininho não parece muito impressionado, mas fica satisfeito com o sorvete de morango mesmo assim. Por sorte, não demora muito até que uma mãe aflita apareça.

Antes de ir embora, o pequeno fã do Super-Homem dá um puxão na bermuda de Kyungsoo e diz que vai manter o segredo dele em sigilo, fazendo "Sshhh" enquanto apoia o dedo indicador na boca melada de sorvete. Ele sorri, aliviado, quando vê a mãe e o filho caminhando para longe de mãos dadas.

Kyungsoo desaba ao lado de Jongin sobre uma mureta, finalmente respirando de novo.

— Como você fez isso?

Jongin apenas dá de ombros, como se não fosse nada de especial.

— Eu tenho dois sobrinhos pequenos.

— Crianças são meio assustadoras...

— Na verdade — ele diz, mordendo a beirada da casquinha de seu sorvete e sorrindo de leve —, eu estava mais preocupado com você do que com ele. Você parecia prestes a ter um colapso. É um milagre você não ter se afogado no seu primeiro dia.

— Você... — Ele olha para Jongin, mordiscando a casquinha vazia. — Você tá mesmo me zoando agora?

— É muita gentileza sua notar.

Ele ri, dessa vez de verdade, e Kyungsoo repara no pequeno vinco em sua bochecha. Oh, Jongin ainda tem as mesmas covinhas de três anos atrás, ele percebe. Kyungsoo se lembra vagamente — ou talvez nem tão vagamente assim — de ter ido dormir algumas noites durante a oitava série pensando nelas.

O garoto desvia o olhar para baixo, fingindo interesse na ponta dos próprios dedos melados, resquícios do sorvete de pistache que Jongin comprou pra ele. Era o seu sabor favorito no ensino fundamental. Jongin provavelmente se lembra. Suas memórias são um pouco turvas, mas ele ainda se recorda de ter feito um jogo de perguntas e respostas no terraço da festa, quando ele se apaixonou de verdade pela primeira e última vez.

Sorvete de flocos ou pistache?

Batman ou Super-Homem?

Livros ou quadrinhos?

Meninos ou meninas?

Naquela noite, Kyungsoo respondeu: "meninos". E Jongin se aproximou. Tão corajoso, tão jovem e tão confuso. E o beijou, e beijou, e beijou com as mãos segurando seu rosto. Se fechar os olhos e forçar as lembranças, Kyungsoo ainda pode sentir os dedos dele tremendo nas suas bochechas.

— Eu tenho que trabalhar — ele murmura, de repente, quase se atrapalhando com as palavras. Ele tenta afastar a memória do beijo para longe, bem longe. Jongin está prestes a levantar junto com ele, mas Kyungsoo se apressa, limpa as mãos desajeitadamente no uniforme e dá um passo para trás, prestes a fugir. — Enfim, obrigado pela ajuda hoje.

Seus olhos estão fixos na ponta de seus tênis quando ele se curva levemente em agradecimento e se afasta. Ele anda tão rápido que acha que pode tropeçar a qualquer momento, mas não olha para trás. A sensação do beijo volta, como se tivesse ficado gravada na ponta dos seus dedos durante todos esses anos, então ele força a lembrança para longe outra vez. E de novo, e de novo e de novo. Mas ela não vai embora.

Enquanto ele praticamente corre de volta para o Jet Slide, Kyungsoo é assombrado por beijos atrapalhados no terraço e pela sensação calorosa do corpo de Jongin sob seus dedos.



☀ ☀ ☀

É o seu primeiro dia de folga. Kyungsoo passa a manhã organizando suas roupas no pequeno armário com três gavetas no canto oposto à sua cama, espalhando todo o conteúdo da sua mala em cima do colchão. Ele escuta uma música do The Black Skirts enquanto limpa seu quarto e, mais tarde, come seu macarrão instantâneo picante enquanto assiste Irmão Urso pela terceira vez.

É mais quente do que ele imaginou dentro do apartamento na parte da tarde. Ele está quase derretendo dentro de sua camiseta cinza e a calça de moletom do pijama quando alguém toca a campainha, interrompendo-o bem no meio do refrão de Espíritos Ancestrais. Ele imediatamente para de cantar, limpa a garganta e tenta não corar até as orelhas por ter sido pego no flagra. Quando olha no olho mágico, Kyungsoo vê o rosto exageradamente sorridente de Wendy e uma sacola com bebidas chacoalhando no seu pulso.

Ele abre a porta, franzindo as sobrancelhas.

— Eu ainda tenho dezoito anos.

— Cruzes, Kyungsoo. Em primeiro lugar, eu nunca disse que trouxe isso pra você. Em segundo lugar... — Ela tira uma embalagem de leite de banana da sacola e segura perto do rosto, como se fosse uma atriz em um comercial brega de TV. — Tcharãn! Também trouxe bebidas recomendadas para menores de dezenove anos. É o seu dia de sorte.

Kyungsoo solta uma risada soprada, ainda segurando a porta. Seus dedos tamborilam na madeira, inquietos.

— Então... alguma razão especial pra você aparecer na minha porta, me oferecer leite de banana e interromper meu The Voice particular?

— Pois é, eu notei que você estava tendo um momento e tanto aí dentro, mas achei que seria legal vir aqui e te chamar pra fazer alguma coisa. Você sabe, antes que a polícia bata na sua porta amanhã de manhã e encontre você estirado no chão da cozinha, o corpo igual a um boneco de cera derretido. Ainda preciso de você vivo para me ajudar no Rapid River amanhã.

Os dedos param de tamborilar e o rapaz ajeita a postura.

— Espera. Você quis dizer Jet Slide?

— Não, não. Esquece o Jet Slide. Longa história.

— Isso significa que não vamos mais trabalhar lá?

— Isso! — a garota comemora. Os brincos dela tilintam quando ela se move. — E também não vamos mais precisar subir aqueles malditos degraus todos os dias. Não é incrível?

Kyungsoo deveria estar feliz. Isso é ótimo. Ele pouparia o cansaço nas pernas e ficaria longe de Kim Jongin outra vez. Mas, ironicamente, não é assim que ele se sente. O garoto engole em seco, tentando empurrar para baixo aquela estranha pontada de tristeza em seu peito.

— É... Incrível.

Wendy se apoia no batente da porta, erguendo uma sobrancelha.

— Isso significa que você aceita dar um rolê comigo? — ela devolve a pergunta, erguendo a sacola de novo. — Eu tenho bebidas geladas! — Ela atira a embalagem de leite de banana contra ele, e Kyungsoo agarra a pequena garrafinha quando ela bate em seu peito. — Além disso, eu conheço um lugar ótimo para dias quentes assim.

Derrotado pelos argumentos infalíveis, Kyungsoo fecha a porta, pega seu celular e reaparece usando bermudas e um boné. Ele não consegue pensar em nada melhor do que passar a sua folga em outro lugar que não esteja quente como o inferno.

Além disso, como alguém poderia dizer não a leite de banana?

☀ ☀ ☀

Eles sobem as escadas do prédio — Wendy quase aos pulinhos, Kyungsoo quase se arrastando — e param dois andares acima de onde o rapaz mora. A garota mora no oitavo andar, mas aparentemente ele não é o único convidado para esse passeio.

Kyungsoo quase se arrepende quando eles tocam a campainha do apartamento 5B, e depois se arrepende pra valer quando Kim Jongin abre a porta, vestindo uma camiseta preta e um casaco azul-marinho listrado jogado sobre um dos ombros. O garoto parece ter acabado de acordar. Seus olhos estão sonolentos e o cabelo está uma bagunça. Pelo visto, Wendy não é muito boa em marcar compromissos com antecedência.

Por instinto, Kyungsoo se afasta, dando um pequeno e sutil passo para o lado e deixando que a amiga seja a única em frente à porta. Em apenas um segundo, seu coração passa a bater tão rápido e tão forte que ele sente seu corpo todo pulsar. Se ele pudesse voltar atrás, com certeza teria decidido ficar em casa e derreter na cozinha. Mas agora é tarde, e as coisas ficariam muito estranhas se ele decidisse inventar uma desculpa.

Wendy dá um pequeno puxão no casaco de Jongin.

— Pra que esse casaco, criatura? A gente vai voltar cedo.

Ele ajeita o casaco sobre os ombros de novo, como se quisesse protegê-los das garras da amiga.

— É isso que você sempre diz quando a gente volta pra casa de madrugada.

— Que absurdo! Isso é... — Ela bate o pé, indignada, procurando a palavra certa. Mas a palavra certa não aparece, e então sua expressão muda. — ... totalmente verdade, eu sei, mas dessa vez é sério. Eu prometo. Vamos voltar antes de anoitecer, tudo bem? Até porque eu não quero tomar tanto tempo da primeira folga do Kyungsoo e... Ah, eu esqueci. — Wendy gesticula na direção do garoto, que está quase se fundindo com a parede. — Esse é o Kyungsoo. Você conhece o Kyungsoo, né, Jongin? Ele trabalha com a gente. É um dos novos funcionários.

Os olhos sonolentos de Jongin ficam despertos à menção de Kyungsoo. Ele olha para o lado, notando a presença do garoto pela primeira vez. Kyungsoo consegue dizer que ele foi pego desprevenido também. Jongin parece tão surpreso quanto ele, a boca ligeiramente entreaberta enquanto busca pelas palavras.

— Eu... Ah, sim, nós... — "Nós estudamos juntos na mesma escola", ele espera pela sequência, mas, graças a Deus, Jongin decide manter a vida pessoal deles em sigilo. — Ele trabalha na fila do Jet Slide.

Kyungsoo força um sorriso sem mostrar os dentes, e Jongin retribui com uma cópia um pouco mais charmosa do gesto. Wendy imediatamente se vira e segue marchando pelo corredor, rumo às escadas.

— Sigam-me, cavalheiros! — ela chama. — Vamos nos divertir!

Kyungsoo não tem muita certeza sobre isso. Na verdade, ele não tem nenhuma certeza. Mas ele força o seu coração a se acalmar, respirando fundo.

E os três seguem escada abaixo.

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